A antiga Quinta de Santa Maria, que, depois de
vendida, foi batizada de Ervamoira, nome de uma planta daninha existente nesta área
– e que no Brasil é conhecida por mata-cavalos. – pois, mas, por cá, só noutro tempo, quando as suas encostas eram lavradas com o arado. Agora,
só existem vinhas e é tudo mecanizado – Sim, mas mesmo a sorrir, de cara alegre, debruçada ou levantada, veja bem o trabalho que dá...
Todas as manhãs, de segunda a Sábado, ainda os raios solares mal
despontam pelas ladeiras, já uma extensa fila de carrinhas da empresa (e
outras alugadas), que partiram de vários pontos dos concelhos vizinhos,
Meda, Trancoso e Penedono, serpenteiam estradas e caminhos, dirigindo-se numa
autêntica caravana em direção à mais famosa quinta do Vale do Côa. - Para, depois das quatro da
tarde, a abandonarem deixando atrás das rodeiras uma onda de poeira branca
Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
As imagens, aqui publicadas, foram
registadas em meados de Agosto, na Ervamoira e documentam as primeiras vindimas do Douro - Lamento não as valorizar com
outra dimensão mas correria o risco de tornar demasiado denso este post
Encontrava-me a passar uns dias pela minha aldeia e não quis perder a oportunidade
de peregrinar até à quinta, a que me ligam laços paternos muito profundos- Inicialmente com o objetivo de uma
reportagem para o quinzenário OFOZCOENSE,
publicada na sua última edição. Agora,
com novas fotos e texto mais extenso
para vida-e-tempos.
Na verdade, a partir de meados de Agosto, e muito antes de
se falarem em vindimas no Douro e noutras regiões vinícolas, já se colhem uvas
na Quinta da Ervamoira (Muxagata) e nalgumas ladeiras de Chãs, dirigidas pela
Casa Ramos Pinto – É o culminar de um longo rosário de trabalhos e
canseiras, de entrega, amor e de muitos sacrifícios.
CONCELHO DE FOZ CÔA – NA
LINHA DA FRENTE DAS VINDIMAS E DOS VINHOS MAIS FAMOSOS DO MUNDO
Foz Côa faz parte da
sub-região do Douro Superior, concelho onde se produzem os vinhos mas afamados
de Portugal, e, porventura, do mundo: desde o emblemático Barca Velha e Duas
Quintas, a outras marcas, que já conquistaram o mercado e prestígio nacional e internacional.
Além disso, é aqui que se iniciam as primeiras vindimas.
A DEPENDÊNCIA DA ETERNA METEREOLOGIA
Os calores dos dois primeiros
dias de Setembro foram de rachar, quando era suposto serem mais amenos mas o
Outono aproxima-se e o tempo tenderá, inevitavelmente, a refrescar
- Por isso, aí estão as chuvas, em força. Se bem que já custe a compreender quando acaba uma estação e termina a outra – Esteja o tempo que estiver, chegou o tempo da vindima – Nas zonas vinícolas, mais frescas, é lá mais para o fim do mês ou mesmo em Outubro, porém, em certas zonas da chamada terra quente, a vindima começa mais cedo.
- Por isso, aí estão as chuvas, em força. Se bem que já custe a compreender quando acaba uma estação e termina a outra – Esteja o tempo que estiver, chegou o tempo da vindima – Nas zonas vinícolas, mais frescas, é lá mais para o fim do mês ou mesmo em Outubro, porém, em certas zonas da chamada terra quente, a vindima começa mais cedo.
Se, entretanto, são Pedro não nos pregar nenhuma partida, a nossa maior riqueza natural, até nem é tão pouca quanto isso, e de boa qualidade – Vamos, pois, confiar que
os agricultores não continuem ser as eternas vítimas das inconstâncias ou
calamidades meteorológicas.
Apesar do ano, ser mais fresco e chuvoso que
nos anos anteriores, pois os calores tardaram a vir, e, ao que parece, as
maiores temperaturas, só agora se registaram nos primeiros dias de Setembro,
observam-se boas uvas e,
certamente, que também deverá haver bom vinho. Pelo menos, a maturação não foi
retardada nesta zona. Não obstou que a tradição deixasse de se cumprir, com um
rancho que, nalguns dias, chegou a
aproximar-se de quase uma centena de pessoas,
liderado pelos encarregados, o Sr. Cândido, de Freixo de Numão e o Sr. José
Manuel, de Chãs.
NA ERVAMOIRA MANTEVE-SE A TRADIÇÃO
A Quinta da Ervamoira, propriedade administrada pela Casa Ramos
Pinto, fica situada na margem esquerda do Côa,
com perto de 200 hetares de vinha, distribuídos por suaves colinas, que
variam entre os 110 m e os
340 m de altitude por terrenos de Chãs e Muxagata, concelho de Vila Nova de Foz
Côa
A VINDIMA É UMA FESTA AO SOL DOURADO DO DOURO - MESMO COM
CALORES ACIMA DOS 30 GRAUS
A vindima é uma festa,
nas vozes vivas e alegres
que se ouvem por entre o verde fresco das
videiras, no colorido das vestes dos vindimeiros e vindimeiras, e,
sobretudo, no dourado
das uvas brancas ou no regro retinto de outras castas mais nobres que vão dar o inconfundível vinho generoso
ou de consumo Sem dúvida,
uma autêntica aventura dos
sentidos. Ainda a uva não foi exprimida, mantendo intactos o seu brilho, a sua
cor e os seus néctares, mas
já embriaga os olhos, o coração e o paladar. Cortar
o cacho para o cesto (que já não é de vime mas de plástico) e transportá-lo
para as tinas ou caixas, é como que um ritual ao mesmo tempo sacrílego,
religioso e pagão. – Termina-se um valado e logo outro se recomeça. Quase não
há paragens ou tempo de se erguerem as costas, senão para mudar de videira ou
de valado ou para o saciar
da sede das gargantas
ressequidas. O esforço é enorme e galvanizante mas ninguém o exprime
verbalmente, senão quando chega o momento de matar a sede – E, todavia, não há voz que
emudeça ou que se cale. Correm ditos, namoriscos e graças pelos ares.
Sim, a bem dizer, nas vindimas não há
tristeza mas há muito sacrifício, o trabalho é duro. Embora, o esforço exigido
seja constante pois vindimar, é isso mesmo: uma azáfama permanente, porém, numa
tal amálgama ou cavalgada de
quase entontecer ou de embriagar os sentidos, pois, em cada videira, há sempre
uma renovada surpresa, cachos e mais cachos, que são uma tentação, aos olhos,
ao paladar, aos dedos que
desunham de tesoura em riste, como dádiva sagrada que espera uma mão generosa
que os colha e lhe dê o merecido destino.
Já não é a vindima de outro tempo: das cestas
e dos cestos. E também dos cantares, que se ouviam por entre a folhagem ou depois da jeira
terminada.
Trabalhava-se de sol a sol e não sob o cronómetro apressado das oito horas. Mais esforço de que agora?!... Nem por isso. Agora, e sobretudo nas grandes quintas, quem não der o litro é dispensado: o rancho está sempre sob o olhar atento do capataz ou do encarregado.
Trabalhava-se de sol a sol e não sob o cronómetro apressado das oito horas. Mais esforço de que agora?!... Nem por isso. Agora, e sobretudo nas grandes quintas, quem não der o litro é dispensado: o rancho está sempre sob o olhar atento do capataz ou do encarregado.
Todavia, a vindima é bonita
de se ver – Para quem está de fora e também para quem a faz: mesmo à custa de muito suor, acaba por
gostar de a fazer ou, pelo menos, de adiar o sofrimento para o fim de cada
jornada, ao regressar a casa derreado e, depois da ceia, cair na cama como um
prego, a fim de recompor energias para a manhã seguinte.
AGUADEIRO DE SERVIÇO – O
HOMEM MAIS PROCURADO DE MANHÃ E DE TARDE –
Sem cerimónia, poucos se importam de
beber pela mesma caneca: mesmo pondo à disposição, três ou quatro para dezenas
de bocas, é muito pouco; há olhares e rostos impacientes; gargantas ressequidas
que quase desesperam pelo momento de levarem a água aos lábios.
Presumo que não seria difícil
distribuir um pequeno copo de plástico, tal como se distribuiu a tesoura de poda para cortar as uvas, sim,
porque a higiene no trabalho, é fundamental,
é sempre um aspeto a não descurar. Já lá vai o tempo das uvas serem pisadas e
dos pés se lavarem no próprio mosto.
Todavia, se a iniciativa não é patronal, há, no entanto, quem seja mais
cauteloso e jogue pelo seguro – não vá apanhar algum herpes labial – e leve a
sua garrafita de plástico, colocando-a, destramente, por baixo do garrafão do
aguadeiro. Contudo, a maioria não olha a cerimónias.
Há dias mais quentes e outros
um pouco mais frescos. Mas o que não falta é suor escorrendo da testa,
inundando os olhos de cada rosto, escorrendo pela face de homens e mulheres que se debruçam
sobre as videiras para cortarem as belas uvas do tinto ou do branco – E, pelo
que me foi dado constatar, numas tardes embraseadas de Agosto, não há água que
mate a sede, por mais que o aguadeiro de serviço a faça verter para os copos
dos braços que se estendem em seu redor, quase com a mesma avidez do suplicio
de Tântalo – Oh mas que martírio despendido para se obter o tão apetecido
vinho, que é também conhecido pela lágrima de Cristo!
EMPREITEIROS VINHATEIROS – A
NOVA ESCRAVATURA NO DOURO –SERVIDA POR DESEMPREGADOS(AS), ESTUDANTES E DOMÉSTICAS – MAS TAMBÉM A ROMENOS E OUTROS ESTRANGEIROS – QUE DIRIA, AGORA, MIGUEL TORGA?
“O
que é bonito neste mundo, e anima,/É ver que na vindima/De cada sonho/
Fica a cepa a sonhar outra aventura…/E que a doçura/Que se não prova/Se transfigura/Numa doçura/Muito mais pura/E muito mais nova…” Mas o que diria, agora, Miguel Torga, face ao egoísmo desmesurado e à persistente desumanização dos novos tempos?
Fica a cepa a sonhar outra aventura…/E que a doçura/Que se não prova/Se transfigura/Numa doçura/Muito mais pura/E muito mais nova…” Mas o que diria, agora, Miguel Torga, face ao egoísmo desmesurado e à persistente desumanização dos novos tempos?
As vindimas no Douro, que, com a entrada
de Setembro, também já começaram noutras zonas, oferecem-se como oportunidade de trabalho
para desempregados, estudantes ou domésticas
- e até estrangeiros - que se
dirigem às quintas na expetativa de
ganharem uns trocados. No entanto, é também uma ocasião para empreiteiros
agrícolas, sem escrúpulos – e até por parte de alguns gananciosos agrários – exploraram
a mão-de-obra barata – Referem as noticias que, este ano, “nas vinhas de
Lamego, o salário médio diário é de 25 euros para os que cortam as uvas, mas
atinge os 50 euros para quem carrega os cestos” “Um pouco mais acima, no
concelho de Murça, a diária está a ser paga a 30 euros para as mulheres, 35
homens e 45 para os que transportam os cestos de uvas."
Os explorados, são, sobretudo, os romenos
e de outros países do leste –Mas também há muita gente que, por não ter outra solução, seja presa
fácil dos tais empreiteiros agrícolas, que, tal como também já foi referido
pela imprensa, “lhes ficam com uma percentagem do salário mas sem nunca
assinarem qualquer contrato. anteciparam-se aos inspectores e retiraram os
romenos ilegais das vindimas, para evitar as consequentes multas.
"Vêm com a roupa do
corpo e entregam-se aos empreiteiros"
Desde 2007, que “as
estatísticas do INE mostram que os
romenos constituem a segunda maior comunidade de imigrantes em Portugal, logo a
seguir aos brasileiros. Num artigo, publicado pelo jornal PÚBLICO, em 2008, já então se dizia que, muitos desses
emigrantes, “chegam apenas com a roupa do corpo. Quase sempre
"chamados" por familiares ou por promessas vagas de emprego.
Agrupam-se em apartamentos cuja renda é inflacionada pela procura e que pagam
por cabeça. Não dominam a língua. E são postos a trabalhar nas vindimas, à
mercê de "empreiteiros agrícolas" que lhes ficam com uma percentagem
elevada do salário.
– Atualmente, são eles a maior força de mão-de-obra da lavoura, nomeadamente no distrito de Vila Real – Como alguém, já advertiu “não faz sentido que ganhem menos que os de cá", desabafa, desalentado, Francisco Ribeiro, no seu gabinete. "Andam sem contratos, não fazem descontos nem nada, estão à mercê desses empreiteiros que lhes pagam vinte euros ao dia e os vendem a trinta"
– Atualmente, são eles a maior força de mão-de-obra da lavoura, nomeadamente no distrito de Vila Real – Como alguém, já advertiu “não faz sentido que ganhem menos que os de cá", desabafa, desalentado, Francisco Ribeiro, no seu gabinete. "Andam sem contratos, não fazem descontos nem nada, estão à mercê desses empreiteiros que lhes pagam vinte euros ao dia e os vendem a trinta"
RAMOS PINTO – PAGA 35 EUROS E NÃO RECORRE
A EMPREITEIROS OPORTUNISTAS
A “Ramos Pinto” é uma das poucas empresas que tem a sua frota
própria, e, a que lhe falta, aluga-a, e, nalguns casos, com os motoristas donos das carrinhas ou
camionetas, enquanto, noutras quintas do Douro, o recrutamento é feito por
empreiteiros parasitas, que
ficam com uma parte do soldo da jeira do trabalhador, sistema já classificado
como a escravatura dos novos tempos
"O
Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se
desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza”
Falar do
Douro é também lembrar a poesia, os contos e os romances de Miguel Torga. Não
houve outro poeta que, como ele, exprimisse o seu o seu amor à terra, à sua
rudeza, à sua grandeza, onde “o povo que dela vive e aluga os braços em
ocasiões difíceis, para sobreviver”.
Miguel Torga, no prefácio que
fez numa das posteriores edições do romance As Vindimas, disse: "Querido
leitor: -Vais ler um livro que eu hoje teria escrito doutra maneira. Cingido à
realidade humana do momento, romanceei um Doiro atribulado, de classes,
injustiças, suor e miséria. E esse Doiro, felizmente, está em vias de mudar.
Não tanto como o querem fazer acreditar certas más consciências, num, enfim, em
muitos aspectos, e sensivelmente diferente do que descrevi. Desapareceram os
patrões tirânicos, as cardenhas degradantes, os salários de fome. As rogas
descem da Montanha de camioneta, a alimentação melhorou, o trabalho é menos
duro. Também o rio já não tem cachões, afogados em albufeiras de calmaria.” – Pois, mas o presente, em muitos
aspetos, é já pior que noutro tempos.
É
verdade, não há os “patrões tirânicos”, como antigamente, porque, muitos deles
delegaram noutros as suas responsabilidades, mas há empreiteiros que fazem
quase pior que os contratados que iam de Cabo Verde para S. Tomé – Por sinal,
no Douro, há mão-de-obra africana e de alguns países do leste, explorados
até à medula. Fomos encontrar uma jovem mãe cabo-verdiana, natural de Santiago,
que reside há quatro anos, em Trancoso, mas feliz por trabalhar no rancho da
Ramos Pinto. Pediu-nos para mandar um beijinho ao seu amado filhinho, através
de um vídeo que gravámos. Todavia, esse panorama parece ser bem
diferente, noutras quintas ou explorações agrícolas
ERVAMOIRA, A QUINTA QUE JÁ
FOI DE SANTA MARIA E PERTENCEU A DUAS FREGUESIAS – Chãs e Muxagata
Assim o explicam os
termos históricos, que não oferecem dúvidas a quem queira interessar-se pelo
passado rural e geográfico de ambas as aldeias – Estando, contudo, a maior área
incluída no termo de Chás, que passou a freguesia, por alturas de 1888, numa
das áreas do termo de Longroiva. Houve quem dissesse que o marco existente era
a cruz incrustada na casa da Quinta, nada disso:
De acordo com os documentos existentes na Torre do
Tombo, “a ribeira da Fonte do Junco,
serve de divisão e vai sempre meia água por entre duas fragas que faz a divisão
perpétua e daí deixando a ribeira da Fonte do Junco onde se ajunta com o Côa.
Saindo dela contra o Poente com uma volta e marco contra sudoeste começando a
partir com o termo de Muxagata que fica para Norte do lado direito indo águas
vertentes até um cabeço e daí pela Eira dos Barreiros, indo em volta dessa
parte até à estrada onde se chama a Quinta do Mayo até ao cimo do vale" - . E a
descrição da linha limite do termo de Muxagata, também coincidente com a do
termo de Longroiva, vem ainda tomar mais clara essa mesma definição, ao referir que a
dita linha divisória segue pelas vertentes e Eiras até em estar na foz da
Ribeira da Fonte do Junco.
Eu, próprio, Jorge Trabulo Marques, e meu primo, Joaquim
Manuel Trabulo, em Outubro de 2000, apresentamos uma exposição acerca dos
limites territoriais da Freguesia de Chãs, ao Ministério do Ambiente e do
Ordenamento, que nos deu parecer favorável, só que, depois não houve vontade
política por parte da câmara municipal.
Porém, depois que foi
vendida, não se sabe bem por que razões, optou-se por beneficiar apenas uma
delas, Muxagata, sendo certo que o escoamento é feito praticamente pelos seus
caminhos e calçadas de Chãs – E bastaria só este fato para que, face à nova lei
do ordenamento do território, passasse a pertencer à freguesia para a qual tem a principal serventia. Contudo, por uma
questão de bom senso, bom era, que se retomasse a tradição: contentaria ambas
as freguesias e nenhuma delas ficaria prejudicada
QUINTAS DO CONCELHO, ARRECADAM
MILHÕES MAS IGNORAM A IMPRENSA LOCAL E OS EVENTOS CULTURAIS – CONTUDO, GASTAM
MILHARES EM ANÚNCIOS LÁ FORA
No concelho de Vila Nova de
Foz Côa, situam-se várias quintas e empresas de produção de vinho e de azeite,
mas são escassos os apoios a eventos
culturais – Nas festas religiosas e outras atividades festivas. Nem ao
menos um anúncio ou a publicação do seu
relatório de contas no jornal local.
Além de poderem contribuir para a sua manutenção, dariam a conhecer a
sua atividade. Não lhe concedem o menor apoio e importância.
Por altura da polémica das
gravuras-barragens, a firma Ramos Pinto, ainda chegou a conceder alguma
publicidade no extinto jornal “ECOA”, que então tomou a defesa do Vale do Côa.
DE QUINTA DE SANTA MARIA A
ERVAMOIRA ENCANTADA
Este é o vale na sua mais vasta e surpreendente beleza e abertura. Agora,
ali, aos meus pés, ante meus olhos, de novo maravilhados, com aquele belíssimo
vinhedo a estender-se, como hino de vida e de verdura, distribuindo-se como que
em numerosos quadros, tais são as muitas
parcelas em que, com impressionante alinhamento, e dividas por caminhos, se
encontram as ramadas ou talhões dos cerca de 200 hectares de videiras,
prefigurando um autêntico oásis, enquanto, nas encostas em frente, despontam escassas oliveiras ou amendoeiras e o solo se mostra como que torrado de secura.
Natural de Chãs, não podia
ficar indiferente ao início das vindimas numa das mais belas quintas do Douro - Além disso, a Ervamoira,
que, noutro tempo, dava pelo nome de Quinta de Santa Maria, num tempo em que apenas era aproveitada para cultivo de
cereais – de centeio, trigo e cevada e
pastorícia - mas que,
depois de vendida à Ramos Pinto (que já se desfizera e passara à condição de administradora, sendo
pertença de franceses), sim, tais íngremes encostas, situadas naquela espécie
de concha sagrada, que se abre na margem esquerda do Vale Sagrado, na verdade,
dizem- me muito; prendem-me a ela laços afetivos, muito profundos, desde
o meu bisavô paterno, vindo do Colmeal, o primeiro caseiro da família. Pois foi também ali que nasceu o seu filho, meu avô, e
também o meu pai e os seus irmãos, meus tios, que ali mourejaram, fazendo
daquele espaço a sua vida e o seu mundo.
Todos os
anos, por altura de Agosto, vou até lá numa
espécie de romagem de saudade, aproveitando para dar um mergulho nas águas
quentes do Côa, como que a recordar os recuados
tempos da minha adolescência, onde cheguei a pernoitar algumas vezes ou
acompanhar o mau pai,
quando ali ia tirar o mel
das suas colmeias – A paisagem é diferente mas não mudou a memória.
VINDIMAS NAS TRECADAS - CHÃS
Naturalmente que, ao deslocar-me numa manhã de Agosto à Ervamoira, ia também na
intenção de observar a vindima e fazer mais uns registos fotográficos. Porém, aconteceu que,
nesse dia, tinham ido vindimar para a Vinha do Silvério Droga – e foi também o
que fizeram no dia seguinte, na vinha do José Sobral, nas Trecadas, (a que já
pude assistir) uma vez que a Ervamoira, também faz as colheitas de alguns
agricultores. Todavia, mesmo
vindimando noutras propriedades, é lá que o
rancho vai almoçar.
MUSEU DE SÍTIO
MUSEU DE SÍTIO
O piso térreo da antiga
quinta, foi transformado num fantástico Museu de Sítio (concebido, graças às
escavações e ao trabalho laborioso do arqueológico, Gonçalves Guimarães),
permitindo visitas guiadas, mediante marcação prévia -
"Pretende retratar todos os aspectos
culturais da região. Assim, na primeira sala, podemos encontrar o Património
Natural, desde a Geologia à Biologia; na segunda sala é apresentada a estação
arqueológica da Quinta descoberta em 1985 e com ocupação romana e medieval; a
terceira sala apresenta os aspectos antropológicos e etnográficos da região,
desde os antigos meios de transporte e a olaria até à tradicional produção de
amêndoa, azeitona, figos e, naturalmente a vinha, para além de outras
actividades ancestrais corno a pastorícia, a mineração e a construção"
Ao lado da antiga casa da Quinta foram construídas novas instalações para serviço doméstico. E foi ali que tive o primeiro contato com muitos dos rostos do rancho, reunidos em pequenos grupos, com o seu farnel, num agradável convívio, retemperando forças de quem pega às sete da manhã e termina a jorna às quatro da tarde, com uma hora de intervalo da uma às duas para ganhar 35 euros. Gente simpática e comunicativa, jovem e mais velha. Até estudantes, um dos quais de engenharia ambiental, natural de Meda, que estava ali para ganhar uns cobres a fim de custear as despesas dos estudos.
Houve quem
nos dissesse (na vindima da vinha do José Sobral, o último caseiro histórico da
Quinta), quando lhe perguntámos se “vindimar era uma festa” e se “estava ali por gosto”, sim,
respondeu-nos que estava ali por necessidade: sobretudo para as pessoas
desempregadas, que perderam o seu emprego: a vindima não é uma festa mas
uma oportunidade de trabalho. Poderá ser para quem está mais habituado às lides
da lavoura. Comparada com a rudeza de outros trabalhos, há sempre um bago
a dois palmos da boca – Sim, e quão dulcíssimos e gostosos, não são estes bagos
do Douro Maravilhoso! Ou não fosse do seu mosto que se produz o famoso vinho do Porto!
De
frisar que, a vindima na Ervamoira, inicia-se com a colheita do moscatel
branco, e, segundo os seus técnicos, lentamente
com as castas brancas à espera da maturação. Além disso referem que , a“Ervamoira
foi a primeira Quinta do Douro a ser plantada totalmente ao alto e por talhões,
correspondendo a cada talhão uma casta
diferente, que permite um
melhor controle sobre a maturação das uvas, colhendo-as na altura ideal de
acordo com a altitude, a exposição solar e a casta, propiciando aos vinhos o
equilíbrio entre acidez e grande expressão aromática”
ERVA-MOIRA
– NOME DE PLANTA MATA CAVALOS
Ambas são plantas tóxicas mas os bagos da moira são os da direita - A
Quinta de Santa Maria, como em toda a
vida, lhe chamaram quatro gerações, ao ser vendida a José António Ramos Pinto Rosa, mudou de donos e de nome pelo facto de existir na região do Douro outra
quinta chamada Santa Maria.
O nome escolhido
adveio do titulo de um romance escrito pela
escritora francesa, Chantal, que se havia
lembrado desta quinta e de a associar ao
nome de Erva-moura – ou seja, de uma planta herbácea da família das
solanaceaes, originária da Eurásia, disseminada em várias parte do mundo, existente
nesta quinta mas com muito má fama para quem verdadeiramente a conhece, visto ser
considerada potencialmente tóxica, sendo popularmente conhecida nalgumas
regiões do Brasil como
"mata-cavalo" ou arrebenta cavalo
Curiosa coincidência, porque, pelo menos teve o condão de contribuir para a salvaguarda dos auroques rupestres, dado o empenhamento por esta quinta em defesa do património natural e arqueológico da quinta e do vale.
Curiosa coincidência, porque, pelo menos teve o condão de contribuir para a salvaguarda dos auroques rupestres, dado o empenhamento por esta quinta em defesa do património natural e arqueológico da quinta e do vale.
POR ESTA QUINTA PASSARAM – A avaliar pelas escavações, ali efetuadas (para já não falar dos homens do paleolítico, de há mais de 20 mil anos), nomeadamente “Ao longo de dois mil anos: soldados, carreteiros, mercadores, funcionários, almocreves,
sacerdotes ... romanos, visigodos, berberes, leoneses, portugueses ... Os que
iam permanecendo lavravam os campos, acendiam a forja, teciam a lã, semeavam
centeio, plantavam a vinha e a oliveira, vivendo dependentes das grandes
mudanças lá longe, mas cm convivência pacífica com a Natureza."
NOMES DOS ANTIGOS
DONOS DA QUINTA DE SANTA MARIA – ATUAL ERVAMOIRA
Albano Chaves, autor de dois interessantes ensaios (a que já me referi neste site), sobre origem medieval dos Dona-Boto, faz a cronologia dos nomes dos antigos proprietários aos quais pertenceu a Quinta de Santa Maria, atual Ervamoira
Albano Chaves, autor de dois interessantes ensaios (a que já me referi neste site), sobre origem medieval dos Dona-Boto, faz a cronologia dos nomes dos antigos proprietários aos quais pertenceu a Quinta de Santa Maria, atual Ervamoira
"O advogado Francisco António de Almeida e Sousa
Donas-Boto (Valongo dos Azeites,
São João da Pesqueira, 1851 – 1920), formado em Direito na Universidade de
Coimbra e casado em Valongo dos Azeites, em 1880, com sua prima Jerónima
Benedita de Almeida e Sousa Melo, senhora da Casa de Valongo dos Azeites, onde
nasceu em Outubro de 1859, herdou, por morte
de sua mãe, entre outras propriedades, a Quinta de Santa Maria, junto ao Rio
Côa, que hoje se chama Quinta da Ervamoira e pertence à firma Ramos
Pinto. A escritura de partilhas foi lavrada na Casa do Cruzeiro a 5.10.1891
pelo tabelião José Ribeiro da Cruz da Comarca de Foz Côa. Era filho de Francisco António Monteiro de
Sousa Donas-Boto, Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra,
nascido na Muxagata em 1819, e de sua mulher Ana
de Jesus Maria de Almeida e Sousa, nascida em 1819 em Valongo dos
Azeites, e falecida na Muxagata em 1890, filha do Cap. Francisco António de
Almeida e de sua mulher Maria Vitória de Sousa; neta paterna de Alexandre José
de Carvalho, de Chosendo (filho de Francisco Rodrigues e sua mulher Maria
Teresa de Carvalho, ambos de Chosendo), e de sua mulher Catarina Maria de
Almeida (viúva de Manuel Cabral, de Caria), de Valongo (filha de Jorge António
de Almeida, de Valongo, e de Rosa Maria de Sousa Pinto, da Quinta das Seixas,
freguesia de Valongo); neta materna de Francisco José de Sousa, de Sebadelhe, e
de sua mulher Maria Ramos, da Quinta de Vale Cheinho, freguesia de Chãs de
Longroiva, se bem que também apareça como Quinta de Vale Cerdeira, freguesia de
Muxagata
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