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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Fernando Assis Pacheco - O poeta e jornalista, morreu, há 26 anos, em 30-11-95, à porta da livraria Bucholz, em Lisboa, um mês depois de ter erguido os braços num dos altares dos Templos do Sol, aldeia de Chãs, de Foz Côa

JORGE TRABULO MARQUES - Jornalista 

 

Fernando Assis Pacheco, morreu há 26 anos, em 30-11-95  - O poeta, jornalista, crítico, tradutor e escritor, amante de livros e da vida, morreu aos 58 anos, à porta da “Livraria Buchholz”,  em Lisboa, com um saco de livros na mão, acabados de comprar, um mês depois de ter erguido os braços num dos altares dos Templos do Sol, maciço dos Tambores, aldeia de Chãs, de Foz Côa, após ter ido fazer uma reportagem ao núcleo das gravuras do Côa, na Canada do Inferno, para a revista Visão, a que deu o titulo de A Canada do Tesouro, tendo como guia, o nosso amigo fozcoense, Adriano Ferreira, a quem também se deve a descoberta de algumas das importantes gravuras, cuja fotografia viria a figurar numa das páginas, daquela que seria a última grande reportagem de Fernando Assis Pacheco

Pelo que se depreende, tendo ali se despedido da vida, num gesto, porventura, premonitório da sua partida para a eternidade, creio de reconhecimento a Deus aos deuses por ter tido a oportunidade de contemplar estes abençoados e maravilhosos espaços, que, nossos antepassados, de outros tempos, ali cultuaram., celebrando os ciclos das Estações, evocando os seus ídolos.

É uma das pedras, que faz parte das nossas peregrinações poéticas, nas festividades dos Equinócios e solstícios, nos calendários solares, pré-históricos, ali existentes – Em 2006, já depois de o termos feito em 2005, prestámos-lhe ali uma singela homenagem, com a presença do filho, João Ruella Ramos Assis Pacheco e da filha, Rosa Ruella Ramos Assis Pacheco, que acendeu ali uma vela – E de sua esposa, Maria do Rosário Pinto Ruella Ramos, que, embora tendo acompanhado os filhos, até à aldeia, optou para li ficar aguardando o fim de cerimónia, não se deslocando ao local, dizendo que o sítio a iria emocionar muito. E, de facto, foram momentos brilhantes mas muito calorosos e emotivos

Em 2005, começamos a depositar, no centro daquele altar, coroas de flores, lendo poemas de vários poetas, e também dele, tendo o actor e músico, João Canto e Castro, acompanhado por Gonçalo Barata e Jorge de Carvalho, o pai do jovem que perdeu o filho numa expedição com João Garcia, nos Himalaias, lido ali alguns poemas e tocado uns acordes de violino, na presença dos dois filhos do poeta, jornalista escritor. A sua filha acendeu lá uma vela no centro dessa mesma pedra.

Encontrei-me com o Fernando Assis Pacheco,  num bar em Foz Côa, em Outubro daquele ano, em 1995.  Ao vermo-nos, como já nos conhecíamos das lides jornalísticas, cumprimentámo-nos calorosamente, tendo-o convidado a visitar aqueles lugares da minha aldeia, que já haviam merecido a atenção de Adriano Vasco Rodrigues, antigo Prof da Universidade Portucalense, em Gaia, que, num estudo publicado em 1982, sobre a História Remota da Mêda, classificando a Pedra da Cabeleira de Nª Sra., que tem a forma de um gigantesco crânio, encimada no altar de um recinto amuralhado, onde parece desafiar as leis da gravidade, como um local de sacrifícios, integrado cronologicamente na revolução neolítica - Se bem que, só, em 2001, por um feliz casso, eu pudesse constatar que os raios solares do nascer do sol, atravessavam a sua graciosa gruta, em forma semicircular, no primeiro dia do Equinócio da Primavera e do Outono.

E foi, então, quase ao fim da tarde daquele dia, que, acedendo, amavelmente, ao meu convite, acompanhado pelo repórter fotográfico, José Oliveira, se deslocou ao santuário Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nª Srª, bem como a outros locais da área, que o deixariam verdadeiramente encantado, tendo prometido ali voltar - E, naturalmente, ainda longe de se saber, que existiam os tais calendários solares, que mais tarde, haveria eu de descobrir - E muito menos de se imaginar que esta seria a sua última despedida para sempre, deste local

- Rosa Ruella - Filha  de Fernando Assis Pacheco 

Sim, ele adorou. Ficou muito contente por ver aquelas pedras. Tendo chegado a perguntar-me, se o poeta Miguel Torga, também já ali havia estado.. Respondi-lhe que desconhecia; no entanto, anos depois, vim a saber, que até andou por ali à caça. segundo me confessou outro grande e saudoso poeta, Manuel Daniel, natural de Meda, que também ali se descolou a esta pedra a prestar-lhe a sua homenagem, que nos deixou em Janeiro passado – Natural da cidade da Mêda, onde  nasceu em 18 de Novembro de 1934.  Faleceu em 21 de Janeiro 2021, vitima da Covid 19 - Já depois de alguns anos de penosa situação de invisual, sem, no entanto, abdicar da sua verve poética

Um coração de poeta, que, embora não tendo alcançado a fama que deveria merecer, privou com Miguel Torga e escreveu algumas letras lidas por João Vilarét - Homem muito admirado e querido, não só na sua terra natal, em todo o concelho, bem como em V. Nova de Foz Côa, onde passou grande parte da sua vida, dedicado à causa pública e cuja obra intelectual, se estende em todos os géneros literários, perfeitas maravilhas de naturalidade , de graça, finura e sensibilidade, que encanta, sorri e toca profundamente quem glosa a sua poesia ou a sua prosa

JÁ SE HAVIA POSTO O SOL QUANDO DALI SAÍAMOS  - E também já estava a fazer-se demasiado tarde para a longa viagem que tinham pela frente, até Lisboa. 

Naquela altura, como disse, ainda não tinha descoberto, que alguns daqueles monumentos megalíticos, eram verdadeiros calendários solares pré-históricos - Mas ele estava muito encantado com a panorâmica e com o lugar. Quando estávamos a regressar do Castro do Curral da Pedra, ao vê-lo tão contente, pedi-lhe para subir ao alto de uma pedra, em forma de um pequeno altar e ali dizer umas palavrinhas mágicas( que eu lhe sugeri) - "Grande Foco! Força Criadora! Vida do Universo! ! - em louvor aos deuses destes lugares.


Olha, Fernando! Já que vais tão contente, sobe para aquela pedra e agradece ali aos deuses que aqui foram adorados, pelos antigos povos; agradece-lhe a tua vinda aqui! E assim fez, irradiando uma enorme alegria, abrindo espontaneamente os braços aos céus, num largo e expressivo sorriso, voltando-se em várias posições para com os quadrantes da Terra e repetindo umas palavrinhas que, em jeito de evocação, eu lhe dissera. 

A última das quais foi com a mão esquerda estendida ao longo do corpo e a direita apontando para onde se havia posto o sol! – Hoje quando revejo essa imagem só penso numa coisa: que aquela direcção para onde ele então apontava, só poderia estar já a indicar-lhe o caminho da eternidade!... O caminho dos deuses! Como não tinha película na máquina, pedi um rolo emprestado ao José Oliveira. Ele foi ainda mais generoso, registou o momento e deu-me o negativo.


A MORTE UM MÊS DEPOIS - Um mês depois, e justamente quando dali regressava a casa, ao ligar o rádio, qual não é o meu espanto e a minha tristeza quando ouço a notícia da sua morte, que o surpreendeu com uma mão cheia de livros à saída da livraria Bucholz, em Lisboa.


Foi a 30 de Novembro, aos 58 anos .No dia seguinte dirigi-me à mesma pedra e, com ajuda de um pequeno cinzel, fixei, dentro de um pequeno triângulo, as iniciais do seu nome, como singela homenagem à sua memória. Depois disso, já por lá passei muitas vezes, e, sempre que por ali passo, não deixo de o imaginar lá, com a mesma postura e expressando aquele seu largo sorriso aberto, que, aliás, lhe era tão familiar e que os seus entes queridos e muitos amigos, dificilmente esquecerão


. Olá Fernando! ainda te vejo
Ali a sorrir e abrir os teus braços!

Sempre que por ali passo, não deixo de me lembrar de ti
e de olhar o centro da mesma pedra, o pequeno altar granítico
que emerge quase ao rés-vés com o distante horizonte a poente,
num dos pontos mais destacados do vasto planalto rochoso,
sulcado de morros e giestas! - E, ao deter-me junto a ele,
ao circunvagar tudo à minha volta, dificilmente
perco a oportunidade de contemplar
os mesmos espaços que tu abraçaste
num sorriso e num abraço, tão largo,
tão amplo e aberto, que dir-se-ia
quereres ao mesmo tempo respirar
aqueles puros ares e abraçares todo o Universo!...


Lembras-te, ó Fernando, como tudo aconteceu,
antes de te convidar a ires à minha aldeia? ....

Encontrei-te em Foz Côa! Acabavas de chegar do Vale Sagrado,

de mais um trabalho jornalístico – Fisicamente,
dizias que vinhas um bocado arrasado. Tinhas razão:
o Outono já ia avançado. O tempo ainda aquecia;
já não era o sol moreno e abrasivo do Verão,
mesmo assim, aquele dia de Outubro de 95, havia sido bem quente: “A vila
é bonitinha. O clima da região atira nesta época do ano para os trinta
graus à sombra.” Recordo o pormenor da tua reportagem
para a Revista Visão – Aquele que viria a ser
o teu último trabalho!
De facto, contornar aquelas ladeiras, dar um salto
à Quinta da Barca, fazer uma descida pelos trilhos
da íngreme Canada do Inferno,
visitar os diferentes núcleos de gravuras
ao fundo do rio, mesmo indo de jipe nalguns percursos,
descendo e subindo, com um calor daqueles,
é muito cansativo. A visita compensa mas é desgastante.
No entanto, a alegria que transparecia no teu rosto,
ocultava o teu cansaço.






.Pois, mal saías de uma aventura, não hesitaste
em meter-te noutra - Sinal
de que tinha valido a pena
aquelas tuas descidas
ao fundo do Côa, ao mais longínquo
fundo dos tempos?

Na verdade, sempre que por ali vagueio,

por aqueles ermos lugares da minha aldeia,
não deixo de me lembrar de ti,
como se estivesse
ainda a ver-te abrir os braços aos céus,
coroados por aquele teu largo sorriso,
que te era tão pessoal, tão genuíno e tão teu!

Olhando à volta, ainda lá vejo recortado
o teu vulto, como que projectado
na linha do sol posto,
recortado com um perfil humano
por todo o espaço!



Vejo-te ainda com uma das mãos,
estendida ao longo do corpo
e, com a outra, apontada ao crepúsculo
com aquele olhar compenetrado,
como se quisesses descortinar
o que haveria para lá da mancha doirada
e rosácea, que se estendia acima do horizonte,
ao longo da extensa cordilheira dos montes,
e no sentido de sul para norte,
muito para lá do vale e da sinuosa linha,
onde o sol, momentos antes, se havia despedido
daquele nostálgico fim de tarde outonal.
Ao qual tu agora te rendias, plantado
no centro daquela pedra,
num gesto tão aberto, num esgar
tão vigoroso e arrebatado!…
- Oh ímpetos incontrolados da alma!
Oh misteriosos delírios de luz!
Oh trágicos prenúncios, inesperados símbolos da vida! –
Não era quereres respirar a pureza daqueles largos ares
ou sentires a emoção da plenitude da sua beleza
- oh misteriosas alturas! - mas tocares,
bem de perto, com o teu peito, o teu coração
e as tuas mãos, os místicos confins do Cosmos,
as maravilhas, os enigmas do Infinito!

Como se já intuísses ou adivinhasses
através dos teus versos proféticos
- ó poeta do “OS ÚLTIMOS DESEJOS”,
cujo repto há muito havias lançado -
que o verdadeiro caminho que te esperava,
Era “ voar como os Anjos”
Seguires em frente, a poente - além
do vasto e esmorecido horizonte


.
.











E, talvez, tomasse então a via

onde o sol se havia escondido,

instantes antes, suave,
nostálgico, chamejante e triste….
Naquela direcção, entre os quatro pontos,
onde estendeste a mão e mais te fixaste,…
E que ali se abria, escancarava,
tão amplamente e tão misteriosa,
ao teu olhar rendido e emocionado,
como se, de facto, aquela via
fosse a grande estrada, premonitório,
que, ali, já previamente, traçavas
a caminho da indecifrável eternidade!




segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Sporting 2 – Tondela 0 - Golos de Sarabia e Paulino, deram garra ao violino leonino e acabaram por ajoelhar o arqueiro do Tondelense

JORGE TRABULO MARQUES - Texto e reportagem fotográfica

No Estádio de Alvalade, nneste último domingo à noite, a equipa leonina, venceu mas só na 2ª parte convenceu e pôs de Joelhos a equipa beirã  - O primeiro golo veio cedo, por. Sarabia, aos 10 minutos, e Paulinho, aos 50, selou  o 2º golo  da equipa de Rúben Amorim


O Sporting entrou, com garras de leão, em sucessivas avalanches ofensivas, parecendo levar a equipa visitante a vergar-se aos seus joelhos, mas o que se viu depois do primeiro golo , não foi bem isso: mas um Tondela a dar réplica no meio campo da área sportinguista, para algum desespero da bancada menos inconformada, que chegou atirar alguns objetos luminosos para o campo



Veio a segunda parte, e a corrente do jogo, voltou a assemelhar-se aos minutos iniciais da primeira parte, com um golo do Sporting, por Pedro Gonçalves, aos os 50 minutos,  só que quem passou a dominar a partida, foi de novo o Sporting, impondo o seu jogo – E, se mais golos, não apareceram, nomeadamente, os 60 minutos, tal mérito se deve ao excelente guarda-redes Trigueira, que  negou o terceiro golo aos leões por duas vezes consecutivas.

Vitória justa a coroar a do triunfo europeu frente ao Borussia Dortmund, com o Sporting de regresso aos jogos do campeonato na 12ª jornada da I Liga

 

Os tondelenses apresentaram-se sem quatro jogadores devido a testes positivos a Covid-19, além do seu treinador principal,     que, na ausência de  Pako Ayesterán foi o seu adjunto, Joshe Viela, a falar à Imprensa no final do jogo

 

 







 

domingo, 28 de novembro de 2021

Belenenses 0 Benfica 7 - Jogo prá História do futebol amputado

 Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Em noite fria do Jamor com reflexo do Covid 19 a pairar, dá goleada mas sem o brilho da glória dos grandes dérbis num duelo desigual e amputado da 2ª parte -

O Belenenses SAD, embora sendo o anfitrião mas a jogar fora do seu estádio e desfalcado com algumas das suas principais caravelas, com apenas nove jogadores em seu time titular, sendo dois deles goleiros, sofreu dura goleada por  via do surto pandêmico, que afetou 14 jogadores e três treinadores.


A equipa da luz, com o seu plantel em boa forma, não teve problemas em abrir o marcador logo no primeiro minuto, a que viriam a suceder-se mais seis, como que de enfiada


Veio o intervalo e este prologou-se, além dos minutos habituais, com apenas a equipa do Benfica no relvado, deixando, desde logo antever, que a equipa azul já não teria artilheiros suficientes para prosseguir a disputa – E foi realmente a decisão que veio a ser tomada pelo árbitro, logo aos três minutos, uma vez que o Belenenses SAD só tinha seis jogadores disponíveis, não podendo alinhar com os jogadores suficientes e prosseguir

Daí que, a 12.ª jornada, para estas duas equipas, que fez somar mais 3 pontos às águias, vai certamente dar muito que falar, não tanto pela avolumada goleada e das exibições mas pelo insólito episódio de ter terminado amputada da segunda contenda

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Mário Cesariny – deixou-nos há 15 anos, em, 2006 – Recordando o dia em que ergueu um cartaz à extinção do Cineteatro-Éden

Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

NO DIA EM QUE O POETA ERGUEU UM CARTAZ DE PROTESTO - À extinção do Cineteatro-Éden, que iria dar lugar a um Hotel

 Mário Cesariny, foi, sem dúvida, uma das mais singulares e surpreendentes figuras do surrealismo português, tanto na poesia como na pintura, Tive o prazer de ser seu amigo, de ter partilhado com ele varridíssimos e inesquecíveis momentos de agradável convívio.


Ele não quis embandeirar com “A Necrofilia do poder” que “vem aplaudir a próxima destruição do maior e melhor apetrechado teatro que se construi em Portugal - Sucedeu no dia em que, Sophia de Mello Breyner Andresen, foi apresentar um livro de poemas, no antigo Éden Cineteatro, nos Restauradores, em Lisboa, edifício desenhado pelo arquiteto Cassiano Branco, um dos mais conhecidos marcos da arquitetura de estilo art déco em Portugal, com plateia, balcão e capacidade para mais de 2000 espectadores, inaugurado a 25 de setembro de 1914, abrindo com a opereta "O Burro do Sr. Alcaide", da autoria de Gervásio Lobato e D. João da Câmara, e interpretações de José Ricardo, Palmira Bastos[10] e Joaquim Costa, encerrou a 31 de janeiro de 1989 com a última sessão de cinema do filme "Os Deuses Devem Estar Loucos II" –

Só não estava louco o militante do surrealismo português, o artista mais genuíno do Surrealismo em Portugal, desde pintura à poesia, tudo nele era a genuína expressão do sonho, do automatismo e da espontaneidade, embora tivesse passado por marginal, quando ali se plantara no hall do famoso Cineteatro, antes do consumado o já previsto encerramento, eis que ali está plantado, naquele dia especial um dos mais cotados poetas portuguesas, outra figura não menos relevante da poesia portuguesa.

E também apreciava os meus apontamentos insólitos de reportagens e entrevistas na extinta Rádio Comercial RDP - Um dia haveria de ser ele a substituir o repórter com a empregada de Natália Correia, deslindando segredos, de almoços e jantares, no lendário Botequim e em sua casa e outras revelações  - Quem haveria de imaginar tão inesperado acaso!

Sim, não podia deixar de acompanhar um velho amigo, com quem tantas vezes tive o prazer de conviver, quer em sua casa, quer nas esplanadas daquele avenida ou mesmo noite da boémia lisboeta e nos mais diversos sítios - Tendo até registado poemas acabados de criar: tal sucedeu, entre outras ocasiões, ao descer a Avenida, já noite tardia, de regresso daquela estação de rádio, e, como tinha geralmente comigo, um gravador para o que desse e viesse, ele, ao ver-me, perguntou-me: tens aí a maquineta?!... Então grava mais este poema” – E lá o debitava espontaneamente!

Era, pois, o poeta Mário Cesariny, que não subiu as escadas com as demais individualidades e convidados. Tendo eu também preferido fazer-lhe companhia e registar as suas palavras para o gravador da reportagem, que ali ia fazer para a RDP-Rádio Comercial, já que, pelo que me apercebi, estava a ser tomado como um marginal por um agente policial, que o convidava a abandonar o Hall de entrada do referido teatro, pelo que me solidarizei com ele, acompanhando-o e apazigando-o, dado se se ter sentido muito humilhado, quando o forçaram a sair do local e a ser puxado ostensivamente para olho da rua.

E também apreciava os meus apontamentos insólitos de reportagens e entrevistas na extinta Rádio Comercial RDP - Um dia haveria de ser ele a substituir o repórter com a empregada de Natália Correia, deslindando segredos, de almoços e jantares, no lendário Botequim e em sua casa e outras revelações  - Quem haveria de imaginar tão inesperado acaso!









Mário Cesariny – Diálogo mais real do que surrealista, 1991  - com a criada cabo-verdiana, da poetiza Natália Correia, em noite das marchas de Santo António, 

A NEGA AZEDA À REPORTAGEM DE SOPHIA DE MELLO BRYNER, FEZ-ME ABANDONAR A CESSÃO

Foi por um feliz acaso que me apercebi da presença de Mário Cesariny, pois quando ele entrou, já eu tinha subido ao espaço do primeiro andar, onde ia decorrer a cerimónia do lançamento do livro. Mas acabei por me vir embora: afinal, ninguém se sentava e toda a gente rodeava, a conhecida poetiza, com muitas pessoas, mais propensas a darem nas vistas, a mostrar os seus fatos e gravatas, a exibir as suas toaletes, enfim, mais a idolatrá-la de que a querer ouvir falar – Foi, então, que, para minha surpresa, me apercebi daquele insólito protesto de Mário Cesariny e me solidarizei com o seu desencanto, procurando apaziguar-lhe a sua indignação.

Jorge Trabulo Marques - Mário Cesariny

O espaço estava a abarrotar de convidados, todos de pé, e, ao aproximar-me de Sophia, pedi-lhe umas breves palavras sobre o seu novo livro para editar numa noticia. E, naquela altura, não era como agora, com a panóplia de dezenas de rádios e vários canais de televisão, apesar de já ser famosa. Não me ocorre ter visto ali mais alguém com gravador. Mas escusou-se a responder. Pelos vistos, todo o tempo estava a ser tomado para corresponder aos muitos sorrisos e salamaleques, com que a olhavam, pelo que, ao meu muito pedido, correspondeu-me olhando-me, com um certo ar altivo e ríspido: em vez de me responder, atira-me com esta observação: “O que me quer perguntar?!...Não estou aqui para dar entrevistas!!! “ – Não ponho em causa o valor da sua obra, mas foi dos momentos que mais me dececionou, das muitas entrevistas que fiz na minha vida de repórter, às mais diversas personalidades, desde Azeredo Perdigão, a Costa Gomes, Adelino Palma Carlos, Vergilio Ferreira, Fernando Namora, Fernanda de Castro, Carlos Botelho, Jorge de Mello, Amália Rodrigues, a tantas e varridíssimas personalidades, nas mais diferentes áreas

UMA CENA, QUASE IDÊNTIFCA Na última Feira do Livro de Lisboa

Curiosamente, onde fui fotografar e entrevistar vários autores, pois, embora já há muito tenha deixado as lides profissionais, nem por isso deixo de fazer o gosto da fotografia e do jornalismo, sim, quando me aproximei de Miguel Sousa Tavares, pedindo-lhe autorização para o fotografar, ele vira-se para mim, quase com a mesma reação: pese ter-lhe mostrado a carteira profissional de jornalista, pergunta-me, com ar de incómodo: para que é que você me quer fotografar? 

Não faço a fotografia, como gostaria de fazer, senão logo a seguir ao escritor e poeta, José Luís Peixoto, que estava ali numa banca ao lado da mesma editora, igualmente numa sessão de autógrafos, e que, com sorriso amável e amigo, correspondeu ao meu pedido – Mas, enfim, se todos os feitios fossem iguais, talvez nem houvesse poetas e nem o colorido da poesia.

 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Manuel Pires Daniel - O Poeta de Terras de MEDA, “Luz da Beira” - Completaria hoje o seu 87º aniversário, se Deus o não tivesse chamado para a Eternidade

 JORGE TRABULO MARQUES - Jornalista


Manuel J. Pires Daniel, nasceu em 18 de Novembro de 1934, em Vila de Meda, conhecida a sua torre cimeira, como o farol da Luz da Beira,. Faleceu em 21 de Janeiro 2021, vitima da Covid 19 - Já depois de alguns anos de penosa situação de invisual, sem, no entanto, abdicar da sua verve poética - As almas bondosas e iluminadas, não se perdem na eternidade - A dor é infinita dos que as perdem mas esse é o caminho que um dia todos levam, mais tarde ou mais cedo - Meu abraço solidário


Um coração de poeta, que, embora não tendo alcançado a fama que deveria merecer, privou com Miguel Torga e escreveu algumas letras lidas por João Vilarét - Homem muito admirado e querido, não só na sua terra natal, em todo o concelho, bem como em V. Nova de Foz Côa, onde passou grande parte da sua vida, dedicado à causa pública e cuja obra intelectual, se estende em todos os géneros literários, perfeitas maravilhas de naturalidade , de graça, finura e sensibilidade, que encanta, sorri e toca profundamente quem glosa a sua poesia ou a sua prosa

Recordo com saudade os bons momentos de diálogo, que tive o prazer de partilhar com a sua simpatia, sensibilidade e saber - Sem dúvida, um admirável exemplo de labor e de tenacidade, de apaixonado pelas letras e de sentido e dedicação ao bem comum –

- Autor de uma vasta obra - “Caminhada Imperfeita”; “Mar da Minha Terra” ; "Coração Acordado"; "A Porta do Labirinto"; Intermitências". "Auto da Juventude"; "Eram meninos como nós" (teatro); " "O Feriado Municipal de S. Martinho" - Entre outros livros - Com cerca de uma vintena de peças de teatro para crianças e jovens, algumas das quais, inéditas - Advogado, poeta, escritor, ensaísta, dramaturgo e jornalista na imprensa e na rádio

Na poesia de Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavras que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra.

Manuel Daniel e Marialice Daniel - Era um modelo exemplar de vida conjugal e profissional. Um casal tranquilo e feliz, a morte os separou - - Recordando um poeta da nossa terra, que dificilmente será esquecido - Deixou-nos em Janeiro passado, vitima da Covid 19 - Esta é uma das várias fotografias, que tive o prazer de lhes fazer em sua casa, em Agosto de 2019 - Além de me ter dado a oportunidade de lhe gravar alguns poemas e de o entrevistar., que não deixarei de recordar, sempre que me for possivel e achar oportuno.

Uma vida intensa e multifacetada, pautada pela dedicação mas também pela descrição. Desde, há alguns anos, vinha debatendo-se com extremas limitações da sua vista, por ter ficado completamente cego, no entanto, nem por isso, dentro do que lhe era possível e com apoio amigo da família, lá ia compondo os seus versos e editando livros. Em cujos poemas perpassa o que de melhor têm a poesia portuguesa - Dominando com mestria os mais diversos géneros poéticos e neles se expressando, a par de um profundo sentimento de religiosidade, o amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos, suas inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida e o destino do Homem

Na poesia de Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavras que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra. -O meu abraço de eterna saudade

Uma biografia rica e diversificada - Advogado, escritor, poeta, estudioso, um homem de cultura, tendo dedicado muitos anos da sua vida à função pública e à vida autárquica. A par de vários livros de poesia, colaborações de artigos e poemas na imprensa regional e nacional, bem como em jornais brasileiros, prefácios e a coordenação em várias obras, é também autor de 40 peças de teatro, nomeadamente para crianças, 20 das quais ainda inéditas. Muitos dos seus poemas foram lidos por Carmem Dolores e Manuel Lereno, aos microfones da extinta Emissora Nacional, em “ Música e Sonho”, de autoria de Miguel Trigueiros – Considerado, na época, o programa radiofónico mais prestigiado - Mesmo assim objeto de exame censório, tal como atestam os arquivos.

Mas não menos relevantes são as letras que vêm a ser musicadas e gravadas em discos e cassetes, Interpretadas por Ramiro Marques, em EP nas canções “Amor de Mãe” e “Amor de Pai”, pela Imavox, em 1974 – E, também, anos mais tarde, as letras para um “Missa da Paz” e coletâneas temáticas sobre “Natal e Avós” E, com música de Carlos Pedro, as “Bolas de Sabão”, “Ciganos”, “Silêncio” e outros pomas.

Indubitavelmente, se há homens que dedicam a sua vida à causa pública, com total entrega, honestidade, inteligência e dedicação, Manuel Daniel, é um desses raros exemplos – Sim, então num tempo em que vão escasseando exemplos dignos de referência: ele pode olhar para o seu passado, com orgulho e de cabeça erguida - Numa longa carreira, com desempenhos nas tesourarias e repartições de Finanças da Meda, Pombal, S. João da Pesqueira, Reguengos de Monsaraz, Vila Nova de Foz Côa e Guarda, culminando como dirigente superior da Direção Geral do Tesouro, no Ministério das Finanças, onde foi responsável pelos serviços técnicos e financeiros das Tesourarias da fazenda Pública.

A par da sua vida profissional, foi ao mesmo tempo desenvolvendo o gosto pela literatura – Lendo as obras dos melhores autores, escrevendo poemas, contos e peças infantis e manifestando o seu apego ao jornalismo: iniciou a suas primeiras colaborações, em 1954, em “Luz da Beira”, jornal de Meda, a sua terra natal, que ajudaria também a fundar, colaboração que manteve durante 20 anos, creio que até à sua extinção. Nesse recuados anos, estendeu ainda o seu contributo jornalístico aos jornais a ”Palavra”, de Reguengos de Monsaraz – 1964-1968. Em Moura, colabora com a “Planície”- 1961- 1962. Posteriormente, já com residência em Foz Côa, publica vários artigos na “Coavisão” edição do município. Foi colaborador da “Capital”, na “Defesa” e na revista “Solidariedade” – Continuando a ser um dos mais considerados e ativos colaboradores do jornal “O Fozcoense”

Manuel Daniel, era casado com Alice Daniel, pai de dois filhos: do Dr. João Paulo Daniel, o guitarrista do extinto grupo Requiem Pelos Vivos, bem como Eng.Pedro Daniel, Eng.º Pedro Daniel, dinâmico Coordenador e Técnico da empresa Fozcôactiva, ambos ligados de coração e alma por Foz Côa, à semelhança dos seus pais." - Estas algumas de referências com que é enaltecida a sua vasta e notável biografia.

 

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Pintor Setubalense Gomes Martins - 1922-1994 – Tributo a um talentoso artista português, que não deve ser esquecido - Nascido na Cidade Raínha do Sado

Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Retrato a óleo, inédito, sobre tela, 80X100, de Augusto Gomes Martins, natural de Setúbal - Hoje quase esquecido, teve grande destaque internacional a partir de meados do século XX. - Refere a exposição, apresentada, em 24 de Março,na Casa da Baía, em Setúbal, por ocasião dos 90 anos do nascimento do artista.

Dizendo que " a recuperação da memória do artista deve-se aos familiares, interessados em perpetuar na cidade onde nasceu Gomes Martins o nome de um excelente pintor, cujos trabalhos ainda hoje são transacionados com frequência no mercado internacional de arte" -

Sim, pena é, que, alguns leiloeiros, nem sempre saibam valorizar a arte, e toca a despachar para logo arrecadar, sem demora, seja a que preço for, o que vem à rede é peixe; mais das vezes aquém do merecido mérito da obra e do artista

Há uns anos, uma pessoa amiga, pediu-me para colocar no mercado, duas dezenas de obras inéditas de Almada Negreiros e de Sara Afonso, mulher do artista, que também era uma excelente pintora. À porta da entrada do leilão, observei vários olhos fitos e a bichanarem uns com outros, contudo, só um deles é que licitou. - Tudo, no seu conjunto, não foi além dos cinco mil contos, uma ninharia

É referido, também no mesmo texto daquela exposição, que, Augusto Gomes Martins nasceu em Setúbal, cidade onde a família desenvolveu durante toda a vida um negócio de distribuição alimentar. Cedo saiu da terra que o viu nascer e partiu à descoberta do mundo. A sua curiosidade caracterizava-o. Irrequieto e aventureiro, percorreu todos os locais que a sua necessidade de observação exigiu.

Conviveu pouco com outros artistas – as constantes viagens não o permitiam – mas manteve amizades, amigos de muitas conversas sobre as preocupações que as telas em branco desferem nas consciências.

O mundo preencheu o seu tempo. Sentiu-se bem em todos os lugares que visitou, sempre acompanhado por Maria Adelaide, sua companheira de todas as incursões, conheceu galeristas, pintores e amigos de influências várias. Essas convivências e a sua própria capacidade de relacionamento permitiram que fizesse exposições em todo o mundo. Chegou a ficar temporadas a pintar em paisagens distantes. As encomendas assim o exigiam. Retratou papas e mendigos. Empresários influentes e pescadores. Amigos de família e desconhecidos. Gente a quem conferia a importância de passar para a tela. Desenhava muito e muito bem. Foi paisagista de mérito. Pintou retrato realista. Retratou com laivos caricaturais. Experimentou com sucesso a abstração: alguns dos seus mais interessantes trabalhos inscrevem-se neste registo.

Viveu intensamente e morreu discretamente, em Lisboa, em Janeiro de 1994"


CIDADE DE SETÚBAL -  LONGE VÃO OS TEMPOS ÁUREOS  DA PRINCESA DO SADO 

No entanto, ainda persistem ruas e edificios, um património edificado bonito, que não foi desfigurado e  vai dando rosto e identidade  à cidade  - Aos  cerca de 120 mil habitantes, numa área que se estende por 170 km², composta, em grande parte, pela Reserva Natural da Serra da Arrábida e voltada para uma belíssima costa marítima. 

Os brasileiros tecem rasgados elogios a esta cidade, nas páginas da internet, aconselhando os que desejavam "viver cercados pela natureza, em uma cidade tranquila e com ótima qualidade de vida Dizendo que “a cidade é a 23ª maior do país, tem uma excelente infraestrutura com hospitais e centros de saúde, diversas escolas do pré ao ensino médio, instituições politécnicas, bancos, pequenas e grandes empresas, e um comércio bem atrativo.

No entanto, também se constata, noutras pesquisas, que, para quem dependa do ordenado mínimo, tem que saber gerir bem o seu orçamento – isto porque se diz  que um “Apartamento (1 quarto) no Centro da Cidade          542,86 €; Apartamento (1 quarto) Fora do Centro  464,29 €; Apartamento (3 quartos) no Centro da Cidade        800,00 €

Por isso, longe vão os dias, das rendas vitalicias e  em que  as fábricas setubalenses funcionavam e proporcionavam milhares de postos de trabalho. Pagos a preços miseráveis, é certo,  mas ao menos ainda havia algo em que lançar a mão para sobreviver. 

Agora, o que por lá se descobre, tal como por muitos pontos do país, são também os escombros das antigas unidades industriais. -  Por força da sua deslocalização para outras paragens e também das  cadeias de hipermercados, que vieram dar a grande  machadada em pequenos e médios comerciantes.

Mas há que procurar inovar ou desenrascar - Como é sabido, há sempre quem procure alternativas e não cruze os braços. - É o exemplo de que lhe venho recordar de Eduardo Silva, numa visita que fiz, em 2015, à Mercearia Confiança do Troino, uma das mais antigas de Setúbal, situada na Praça Machado dos Santos, antigo Largo da Fonte Nova, em Setúbal, fundada em 1926,  recuperada para museu e espaço cultural, desde o principio daquele ano

 A qual, pela  singularidade revelada,  sim, por documentar profusamente   uma certa época, já  atraiu 

uma equipa de filmagens para uma telenovela, com uma  cena que decorre no bairro da Fonte Nova, vizinha da  Troino, “cuja origem se atribui a indivíduos vindos de Tróia no século XIII, nas cercanias do Convento, onde estão instaladas as freiras da congregação de Madre Teresa de Calcutá”.


Espaço cultural este  que evoca costumes e traz à lembrança muitas estórias que os mais velhos gostam de reviver e os mais novos de ouvir contar – Pelo que se antevê, palco   de agradáveis momentos culturais e de convívio, tal como sucedeu  com a apresentação  "Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo// Diplomacias, macroeconomia.. e ainda o colonato judaico para Angola, de autoria do jornalista e escritor Álvaro Henriques do Vale, à roda de um grupo de amigos e curiosos., ao mesmo tempo que iam petiscando uns saborosos nacos de presento e um nutritivo pão, acompanhados de pastéis de nata e um vinho da região, a condizer, a que me referi neste blogue, em  https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2015/04/mercearia-em-museu-num-portugal-pobre.html 




Diz o herdeiro de uma dessas velhas mercearias, que o negócio agora já não tem viabilidade.


 
Os hábitos alteraram-se. Mas há um passado, com a sua história e que não deve ser esquecido, pelos mais novos.  – Sim, a figura do antigo merceeiro, não era só a do vendedor de géneros alimentícios  mas também o homem a quem competia aferir comportamentos sociais, das pessoas que tinham que ter um carimbo da mercearia para atestar o seu grau de idoneidade, nomeadamente para os contratos de rendas de casas, de água e eletricidade,  era praticamente uma instituição – E  é justamente esta e outras memórias que,  Eduardo Silva, antigo professor do liceu,  engenheiro químico-industrial aposentado da papeleira Inapa,  aos 75 “anos, decidiu  preservar. 

Ao  transformar uma antiga mercearia familiar num espaço cultural,  num lugar de tertúlia e de convívio de várias gerações.  Onde pais, filhos, a vós e netos, numa espécie de museu ao vivo, comercial e sociológico, de mostruário de utensílios (desde os pesos e balanças, às tulhas, talhas e caixa registadora), aos produtos e às embalagens, que os caracterizaram e deixaram de aparecer no mercado, ali possam convier e recordar os tempos que marcaram uma época. 


Este o louvável objetivo de Eduardo Silva, ao recuperar a típica do "Sr . César"”, como preito de homenagem ao seu pai, o Sr. César Figueiredo da Silva, (1904- 1998)– com a mesma imagem de como a conheceu na sua adolescência, e ao longo de muitos anos da sua vida, sem apoios oficiais mas com muito empenho, de modo muito carinhoso, afetivo, com fins  de carácter evocativo e pedagógico, especialmente às crianças e à população escolar.