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segunda-feira, 15 de julho de 2013

“Bana - Canta Cu Alma Sem Ser Magoado” –Mas, ao vê-lo partir, quem o admirava sente que a alma foi magoada – Resta-nos o consolo das suas mornas e de nos ter legado o “Segredo De Nha Vida”



Bana já não está entre nós – Fisicamente já não faz parte do mundo dos vivos: morreu aos 81 anos, no hospital de Loures mas vai continuar viva a sua voz, as suas mornas inconfundíveis. E também a memória do seu carácter: Adriano Gonçalves mais conhecido por Bana, natural do Mindelo,  onde nasceu em 5 de Março de 1932.

 Bana começou a sua carreira quando Cabo Verde era um território colonial português, enquanto trabalhava como  guarda-costas e moço de recados do compositor e intérprete B. Leza."  Oriundo de famílias humildes, órfão dos pais aos 13 anos, cedo teve que começar a lutar pela vida, tendo trabalhado como estivador no Porto Grande do Mindelo. Aos 20 anos, a tropa dar-lhe-ia uma oportunidade de cantar no Rádio Clube do Mindelo. Os cabo-verdianos adoram e, desde então, tornou-se uma das vozes masculinas emblemáticas e mais admiradas do pais onde o MAR É A MORADA DA SAUDADE

Em 1959, é descoberto por elementos da Tuna Académica de Coimbra, entre os quais estava Manuel Alegre . Fixa-se, em Portugal, dez anos depois – E é,  aqui, que se torna um dos mais populares embaixadores da música da sua terra – E também o artista providencial para a reafirmação dos músicos e das mornas e coladeras  cabo-verdianas.


Conheci-o, em S.Tomé, creio que nos finais dos anos sessenta ou nos princípios da década 70, numa extraordinária atuação no Cinema império.  Depois, em Portugal, onde Bana viria fixar-se «Câ tem ôte moda Lisboa. Nôs Terra d’adoçon». («Não há outra igual à Lisboa. É nossa terra de adopção» - Entrevistei-o, por várias vezes para a Rádio Comercial - Sempre amável, despido de toda vaidade, falando da mesma maneira, fosse para quem fosse - Com o humanismo e a simpatia, que lhe era  própria, sem subviências mas também sem qualquer gesto de sobranceria. 


Bana trouxe os sons de Cabo-Verde e também os melhores músicos e a própria Cesária Évora. De facto, há vidas, verdadeiramente proféticas: se não existissem, tinham de ser inventadas. Mas encarregou-se o destino de no-las oferecer

“O contributo de Bana para a música de Cabo Verde não se fica apenas pelos discos. Por sua iniciativa, foram vários os músicos que saíram das ilhas para se instalar na capital portuguesa, abrindo assim novos horizontes e dando início a carreiras musicais notáveis.

Nomes como Paulino Vieira, Armando Tito, Leonel Almeida, Bebeto, Kabanga, nos anos setenta, e Toi Vieira, Tito Paris, Manuel Paris, Toy Paris, Vaiss, Cesária Évora, nos anos oitenta, chegaram a Lisboa por iniciativa de Bana.
Os primeiros vieram para acompanhar o cantor nas muitas digressões que na época fazia pela Europa, integrando a segunda fase do conjunto Voz de Cabo Verde.
"Na época fazíamos digressões para a Guiné e Holanda; tocávamos em Cascais, na antiga FIL (Feira das Indústrias de Lisboa), e certa vez tocámos para 15 mil pessoas no Palácio de Cristal, no Porto", recorda Leonel Almeida.
As fotos deste último espectáculo, em 1975, serviriam para ilustrar uma das capas dos discos de Bana. "Tínhamos estado em França, Luxemburgo, Holanda, Espanha, entrámos pela fronteira de Vilar Formoso e fomos para o Porto. Um espectáculo inesquecível!"
Em Lisboa, Bana actuava em restaurantes como o "Andaluz", propriedade de um santantonense de nome Cândido, passando depois para o "Novo Mundo", na Rua do Sol ao Rato, onde também passariam a tocar outros músicos e artistas cabo-verdianos.
Bar restaurante Monte-Cara

Este último restaurante dá lugar ao restaurante-dancing Monte Cara e Bana torna-se no gerente, ao mesmo tempo que funda uma editora com o mesmo nome, nos finais dos anos setenta. Aqui gravaria vários LP da sua carreira, abrindo também as portas da editora a outros artistas de Cabo Verde, como Dany Silva e Celina Pereira.
"O Monte Cara passou a ser uma espécie de quartel-general para os músicos cabo-verdianos", conta Leonel Almeida. A gastronomia da terra - numa época em que havia poucos restaurantes crioulos em Lisboa - e a música ao vivo, onde actuavam Tito Paris e os irmãos, Vaiss, Toi e Paulino Vieira, na cave, atrai cada vez mais admiradores cabo-verdianos e portugueses curiosos.
Nos anos oitenta, o local passou a ser mais conhecido como "Bana" e era o local de passagem para artistas portugueses como Rui Veloso, Janita Salomé, Vitorino, Marina Mota, e personalidades da televisão, do cinema e do teatro. Noites musicais memoráveis ficaram registados, como as actuações de Paulino Vieira, ao piano, e de músicos como Júlio Pereira, no restaurante.
A própria diva Cesária Évora fez parte deste último lote de artistas trazidos por Bana, chegando a actuar neste espaço, onde o empresário José "Djô" da Silva acabaria por a descobrir.
Artista e empreendedor



"Graças ao Bana, muitos portugueses tiveram o primeiro contacto com a cachupa e a música cabo-verdiana", diz o pintor António Firmino.
Por seu lado, Celina Pereira considera

o cantor "o maior empreendedor da música de Cabo Verde em Portugal, pelo seu trabalho e pelos músicos que trouxe para Lisboa."
"O Bana pertence a uma época diferente e é pena que não tenha podido beneficiar de um marketing que o levasse para 'outras galáxias'", afirma a cantora.
O espaço mítico da Rua do Sol ao Rato mudou de nome nos anos noventa, passando a chamar-se Africa's, Pilon 2 e, por fim, En'Clave. E no momento em que Bana celebra os seus 80 anos de vida, o histórico local encontra-se, infelizmente, encerrado por ordem da ASAE, por falta de condições de segurança.Extraído de Bana, 80 anos: De artista a maior divulgador da música crioula em ...