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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Escritora Lídia Jorge – “Desde 2008 tivemos que conceber a ideia de que íamos para o abismo”- Destaque de hoje na manchete do El País, a propósito do recente prémio FIL no México, do seu novo romance, 'Estuário'

                                  JORGE TRABULO MARQUES - JORNALISTA



Numa extensa e interessante entrevista, pelo telefone, a propósito da sua obra e de outras questões da atualidade, a escritora portuguesa,  natural de Boliqueime, Algarve, 74 anos, autora de uma vasta obra literária,  que “conheceu todos os tempos da desgraça, de Portugal, da Europa e do mundo, no século XX,” tendo tido  “a opor tunidade de ter pela frente os vestígios da ditadura, da violência e das guerras, questionada se o   “Estuário”  se refere às consequências da ruína, também ruína moral, que transforma em metáfora. começou por afirmar que “estamos vivendo momentos que nos escapam e que começam em 2008, quando o sistema financeiro e económico apodreceu. A partir daquele momento tivemos que enfrentar a ideia de que estávamos indo para o abismo. Foi difícil entender como as pessoas comuns conseguiriam lidar com essa ruína e acho que a cultura tem algumas respostas. Este livro é a iniciação de um jovem que quer salvar o mundo, mas entende que isso não é possível se cada um não salvar as pessoas mais próximas a ele. O livro é sobre aquela ruína melancólica que não vemos como uma guerra, mas que percebemos como uma estrutura que está tremendo. É como um terremoto lento, embora pela Europa haja outros terremotos que não são lentos, são muito graves e precisos, como os que ocorrem no Oriente Médio.

Q. E entre nós?

R. As pessoas que vêm e ficam encurraladas nos campos de concentração são a imagem do abismo europeu. No conjunto, é uma ameaça que está gerando um terremoto ontológico social e individual. Meu livro é, então, uma reflexão sobre um tempo que antecipou o que iria acontecer. Ele explodiu na selva, mas estava se formando no espaço público global.

P. No Estuario que é representado como naquela metáfora de O Estranho, de Camus: o mundo batia à porta do infortúnio ...

A. Exatamente. A ideia de querer salvar o mundo já é uma utopia impossível. Cada um tem que salvar o próximo quando o terremoto começar a ficar sério. É muito importante essa ideia do estranho que não entende o que está acontecendo, assim como a teoria gramsciana de que não é uma sensibilidade para o coletivo, mas abstrata, que o leva a sentir pena de si mesmo, a compartilhar a alegria ou o nojo de aqueles que estão próximos. Quando você deixa de ser estrangeiro, pode enfrentar as utopias que o esperam.

P. Essas feridas da ditadura, das guerras, que, como nós, atingiram Portugal, utiliza-as para interpretar o mundo de hoje?

R. Sinto-me muito próximo de Portugal, um país que na segunda parte do século XX teve uma estrutura medieval mais enraizada do que a Espanha. Entramos em uma guerra colonial quando éramos um país pobre que buscava uma esmola internacional e, no entanto, em nosso imaginário tínhamos a ideia de que éramos a cabeça de um magnífico, grande império. Essa distopia nos levou a 14 anos de guerra estúpida, completamente anacrônica, sem diálogo com os outros, sem um sentido histórico da temporalidade que vivemos. Portugal viveu momentos de grande angústia e incertezas.

P. Mas eles saíram de lá fazendo a revolução.

R. Sim e com todas as consequências da mudança. Foi muito difícil para Portugal porque passamos de uma situação muito atrasada para uma em que, de certa forma, nos tornamos modernos. Isso não é feito sem grande dor. Eu senti toda aquela mudança, aquela dobra sempre dramática. Sofremos ondas tremendas e isso abriu o entendimento dos portugueses para o sofrimento da Europa e, principalmente, para a dor dos países periféricos. Entendemos o que está acontecendo no Oriente Médio porque fomos imigrantes e pobres e tivemos uma diáspora difícil.

P. Esse é o assunto da sua escrita também ...

R. Como escritores, observamos este tempo furioso em que vivemos com medo de voltar. Os portugueses não perderam o medo da pobreza, sentem-na. Curzio Malaparte diz: “Os pobres não fazem grandes mudanças; primeiro eles devem ter comido o que é necessário para ter uma atitude revolucionária ”. E é verdade: os portugueses ainda têm medo de voltar à pobreza, à guerra. Temos uma memória que nos permite compreender o que se passa na Europa e todas as mudanças que se percebem no mundo. Os da nossa geração são mais velhos, mas temos uma visão do passado que também projetamos para a frente e por isso mantemos esse temor de que algo muito sério aconteça ainda em nosso tempo. Gosto de jovens que têm seios, mas não têm costas, que veem a vida com esperança. Temos esperança, talvez alegria,mas a memória, isto é, as costas, está nos dizendo para ter cuidado.

Excertos de https://elpais.com/cultura/2020-09-27/lidia-jorge-desde-2008-debimos-concebir-la-idea-de-que-nos-ibamos-al-abismo.html

 

 

Por terras da Luz da Beira – Num belo passeio desde, os Templos dos Sol, em Chás, por Longroiva, Meda, Poço do Canto e Cancelos - Recordando uma emocionante peregrinação, de encanto e de convívio, de maravilhosas paisagens e com bons amigos, numa bela manhã de Maio de 1975, que vale a pena reviver


Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista 



Um grupo de amigos (de Cancelos, Poço do Canto (Meda), Foz Côa e Chãs, Freixo de Espada à Cinta, decidiu   deslocar-se numa visita aos Templos do Sol  e terminar o resto dia na  freguesia do Poço do Canto,  onde se celebrava  a festa, em honra do Divino Espírito Santo, que se realiza 7 semanas depois da Páscoa.  – O passeio foi a 24 de Maio; já lá vão cinco anos, mas que vale a pena recordar, tais foram as emoções vividas  nesses inesquecíveis horas de espanto e de convívio

 De todos esses amáveis  lugares por onde peregrinámos,  de lá foram contempladas, verdadeiras maravilhas,  guardadas memórias, que animaram o corpo e o espírito, sim, desses aqueles espantosos penhascos graníticos,  que albergam como que a sabedoria de antiquíssimas civilizações - No Maciço dos Tambores, há muito poucas árvores, predominam as giestas de flor branca, no entanto, para quem opte por associar  o passeio ao descanso, encontrará sempre maneira de o poder fazer: nem que seja numa gruta ou na caverna de uma fraga.






Dizia eu, neste blgue: Desses lugares, traz-se de lá muita energia no corpo e no espírito, de lugares e pedras que albergam como que a sabedoria de antiquíssimas civilizações, e, até, nos olhos, aquele  brilhozinho   das fantásticas e sublimes  penedias, o olhar deliciado, que só os homens iluminados compreendem, pois todo o bem, atrás dele tem outro bem.   Sentem-se emoções inexplicáveis,  mais da matriz do incognoscível, cujos espaços embriagam os sentidos    – Nestas situações, ou se enceta o regresso ou se opta por ficar sentado  à sombra de um carrasco, dos escassos sobreiros ou carrasqueiras, que ainda resistem  à praga dos incêndios. No Maciço dos Tambores, há muito poucas árvores, predominam as giestas de flor branca, no entanto, para quem opte por associar  o passeio ao descanso, encontrará sempre maneira de o poder fazer: nem que seja numa gruta ou a caverna de uma fraga.

Pois, mas neste caso, a opção previamente estipulada, era  mesmo a de se ir almoçar à freguesia do Poço do Canto:  mais propriamente ao afamado Restaurante do Cônsul: -  Para ali se saborear um delicioso cozido à portuguesa, bem regado com vinho de Meda, que o mesmo é dizer, das uvas que são colhidas nas vinhas daquela freguesia. Já que,  é justamente nas suas encostas, que se produz o apreciado “Poço do Canto” – Touriga Nacional, classificado pelos enólogos  com “notas minerais e alguns frutos do bosque, um traço vegetal, num aroma com pouca fruta mas bem envolvente. Focado, vivo e alegre na boca, com corpo médio, macio, taninos bem domados, um vinho dominado pela frescura”

UM DIA EM CHEIO!

Na verdade, foi realmente um dia fantástico, que começou  numa peregrinação aos Templos do Sol (Santuário da Pedra da Cabeleira, Pedra dos Poetas, Castro do Curral da Pedra e Pedra do Sol), com um périplo  por terras de Meda. Ao deixar-se a aldeia de Chãs, que, em tempos, também já pertenceu àquele concelho, desce-se  até ao cruzamento dos Areais para se apanhar a EN,  volvendo a montante ao longo do vale da Ribeira Centeeira. Logo a seguir passa-se pela Quinta da Veiga, e, eis-nos, um pouco mais à frente, a desviar-nos pela estrada municipal, subindo-a, desde aquele ramal a Longroiva e  Meda.

Em Longroiva, ao passarmos pelas antigas termas, fez-se uma curta passagem. - A lembrar o que já foram: num tempo em que o enorme casarão era povoado de morcegos, que pareciam vampiros a esvoaçarem nas noites mais invernias e escuras –  que é justamente a memória que guardo de criança, quando o meu pai, ali pernoitava para banhos das suas queixas reumáticas ) oh, e agora como estão!... Modernizadas, sem desfigurarem a paisagem! Com vários pequenos chalés de madeira, surgindo como um sedutor convite a quem ali queira tratar-se de certas enfermidades ósseas. 

Registadas algumas fotos,  retoma-se a marcha pelo interior da encosta da freguesia. Porém,  ao chegar-se à última curva, pouco antes de se perder a aldeia de vista, esta surge aos olhos do viajante, como se, realmente, ao seu lado direito, abandonasse um dos mais   graciosos e magníficos presépios, encimado por um castelo mediável dos templários. Obviamente que era irresistível  não apontar para lá a objetiva da máquina fotográfica. Pois, por mais que ali se passe,  dificilmente se deixa  de olhar  para aquele emblemático casario, qual postal ilustrado ou imagem de um conto de princesas e de fadas.

Meda,  elevada a Cidade em 26 de Janeiro de 2005, tem muito para oferecer ao visitante. Nomeadamente a hospitalidade das suas gente, e, entre outras coisas, uma igreja, que é um verdadeiro monumento arquitetónico. Contudo, o que há de singular para quem chegue ao adro e ao largo do pelourinho,  é o convite que impele o visitante a  subir  as escadas que o conduzem até a uma Torre do Relógio, erguida no cimo de um morro de enormes rochas  de granito, donde se avista a mais ampla e  deslumbrante panorâmica, cuja iluminação noturna faz quase o mesmo efeito dos faróis à entrada dos grandes portos  ou promontórios, estendendo o seu sinal luminoso  por  largas dezenas de quilómetros. Daí o título – Luz da beira – que ostentava uma extinto Jornal regional. Felizmente, a luz lá continua a brilhar, como sempre brilhou, desde que passou a existir iluminação pública, ainda no tempo do Estado novo. O  que  se apagou foi aquela tão popular voz informativa

Meda tem freguesias mais antigas que a sede do concelho Pois, dizem os historiadores que, Meda, durante a Idade Média, era um povoado de dimensão reduzida, contrastando com as vilas vizinhas que hoje integram este concelho: Marialva, Ranhados, Longroiva e Casteição. Esta localidade era um cenóbio beneditino, situado no sopé de um morro granítico que assinalava a presença cristã e o direito ao celeiroHistória - Município de Mêda

Em Meda, a paragem foi breve – E tanto havia para ver se o nosso propósito fosse o de fazer ali turismo. Mas,  esta cidade, já todos a conhecemos. Parámos, unicamente, para acedermos ao amável convite  de Armindo Janeiro, proprietário de Vinhos & Eventos, uma casa que é um autentico museu dos  vinhos mais afamados da região – Amigo este, que,  não tendo podido juntar-se ao nosso grupo, em Chãs, nos quis presentear, ao lado de sua esposa,   com um delicioso Vinho do Porto,  num brinde acompanhado por uns deliciosos  figos e amêndoas deste concelho. E, portanto, como o almoço já nos esperava no Poço do Canto, a visita tinha de ser apenas para responder a um amável gesto de simpatia

UMA FREGUESIA QUE NÃO FICA NUM POÇO MAS TEM CANTO NO NOME


Como é sabido, o tempo corre e não estica, pelo que, depois de agraciados por tão saboroso Vinho do Porto (oh, e que tentação de garrafas de Barca Velha e de outras famosas marcas,  que li se ostentavam nas prateleiras da casa de Armindo Janeiro!), impunha-se se continuar a marcha – e sem demora - com destino a Poço do Canto.

E lá fomos estrada fora por uma das vias rodoviárias, talvez das mais altas daquelas redondezas, onde, por altura do rigor dos  Invernos, os ares são mesmo de bater o dente – Mas não era o caso. Em pleno princípio de tarde, com o sol a pino, o dia só podia ser  quente e luminoso!

Como há  muito, não passava por estes lugares, é natural, que,  mesmo com a viatura em movimento, não deixasse de dar uma olhadela, lá para as distâncias a leste, do planalto onde termina a meseta Ibérica, donde havíamos partido e se situa a minha  aldeia, e, naturalmente, para as paisagens mais próximas,  que se estendiam de um lado e do outro da estrada: ora contemplando trechos paisagísticos ou avistando distâncias, que não se sabe bem se fazem parte da Baria Alta ou da Beira Transmontana: no Concelho de Meda, há panoramas com todas essas características.

 Antes de se  descer para a aldeia do Poço do  Canto, que  fica situada numa da encostas do Monte de Santa Colomba, é-se  impelido como que a abrandar a  marcha ou mesmo a parar  para se admirar um panorama, verdadeiramente soberbo, que não cansa o  olhar – Depois, tino nos travões e nas curvas, que a descida não é para destravados,  mas de condução calma e sem pressas.     Esta freguesia, com 16,22 km² de área e 443 habitantes, foi  integrada no concelho da Mêda desde 6 de Novembro de 1836, depois de ter feito parte do de Ranhados, extinto pela Revolução em favor do concelho da Mêda e  da qual dista cinco quilómetros. Dela fazem parte seis povoados: Cancelos de Baixo, Cancelos do Meio, Sequeiros e Vale de Porco.

Quando ali chegámos, junto ao Restaurante do Quinteiro do Cônsul, enquanto o nosso amigo e companheiro de viagem, Jorge Mesquita, se apeava para se dirigir à cozinha a fim de ajudar a esposa a distribuir as carnes, as batatas e o fumeiro pelos pratos do cozido à Portuguesa, que nos ia oferecer, alguns de nós ainda deram uma curta vista de olhos  pelo largo da igreja, aproveitando para trocarem  cumprimentos entre amigos – Mas, por pouco tempo: eram horas de almoço  e havia um enorme desejo de nos sentarmos à mesa, já que o apetite assim o aconselhava . Sim, e  que gostoso não estava o cozido à portuguesa!... Como só as gentes do interior o sabem confecionar –  Ainda par mais regado com um excelente vinho da terra.

Terminado o almoço, voltamos  ao adro da igreja para alguns momentos de agradável convívio, numa roda de outros amigos. Depois, o destino era rumar para Cancelos - Nem todos, porque houve quem tivesse  compromissos inadiáveis para o resto da tarde – Para lá nos deslocámos, eu e o Jorge Mesquita, no carro do Tomé Janeiro, acompanhados por sua esposa, Noémia Janeiro, que nos me iria receber, com a sua habitual simpatia, cortesia  e sorriso, tal como, de resto, o seu marido: são do mesmo signo de áries e até parece que já nasceram talhados um para o outro, tal a empatia que transmitem e os nobres ideais  que cultivam – Mas que casa de aldeia mais sóbria e encantadora!...  Quem havia de imaginar que na província se cultivava tão bom gosto. 

Sem dúvida, uma bonita surpresa! … Onde,  até os pigmentos do granito do interior da sala de jantar parecem contar misteriosas históricas, símbolos enigmáticos que são como um teste ou devaneio místico-iniciático à imaginação e à sensibilidade do visitante: não sendo, por o acaso, que, sobre a mesa  ao centro, existe um livro para registar as impressões .

Curiosamente, depois de lá também escrevermos o nosso comentário, mais propriamente a nossa interpretação, constatámos que nenhuma delas se assemelhava, quão díspares e insólitas elas eram umas das outras.  Creiam, que só aquele livro é digno de figurar num verdadeiro tratado de sociologia ou do foro iniciático ou cabalístico – Aliás, o mesmo se poderá dizer dos morais da sua vivenda, rodeada de pinheiros, bravos e mansos, algures nas redondezas de Coimbra, formando com os seus muros um verdadeiro triângulo mágico. – Naturalmente, que, só pessoas, com estas preocupações  e culto pelo sagrado ou coisas místicas, poderia ter-se apaixonado à primeira vista pelos Templos do Sol, sendo, por isso, desde a primeira vez que os visitaram, dos maiores entusiastas.

Mais um motivo para dizer, pena o tempo não esticar.  Após a amável receção,  é o próprio, Jorge Mesquita, a acompanhar-me pelas ruas da povoação, numa breve vista ao forno comunitário, obra que, enquanto autarca,  logrou recuperar do abandono em que se encontrava, o mesmo sucedendo a um velho fontenário, que traz água canalizada do monte, água potável que   a população  pode  vantajosamente aproveitar,  sem ser da rede pública.

 
Cancelos é uma pequena povoação, que se estende num pequeno e aprazível vale, integrada   na Freguesia de Poço do  Canto, do concelho de Meda – Onde as casas se misturam com a verdura dos campos,  numa altura em que, o amarelo brilhante  das maias floridas,  ainda davam o seu toque de uma luminosa e acentuada aguarela. Voltada a  poente e a sudoeste, com horizontes a perderem-se de vista, repartindo-se por três núcleos habitacionais (Cancelos de Cima, Cancelos de Baixo, Cancelos do Meio), não é dos povoados que se deixou de todo desfigurar:  pois, muito do seu casario,  ainda consegue manter   o aspeto das tradicionais casas  de granito – Isto para já não falar de um antigo palácio senhorial, onde, até,  diz-se,  Guerra Junqueiro, poetizou e escreveu alguns tentos da sua magnifica  obra literária..

Chás, Longroiva, Meda, Poço do Canto a  Cancelos: Paisagens e Pessoas em Sol de Maio e de Maias Perfumadas e Floridas

Sim oh o  doce prazer gracioso de contemplar ridentes aldeias erguidas em agrestes penhascos, encimadas por vetustos castelos, suaves e verdes colinas, frescos e verdejantes prados ou vinhas, fontes e fontanários jorrando água para saciar a sede a quem passa, jardins ou sacadas floridas, entrar numa loja com as prateleiras atestadas de garrafas, saborear um delicioso vinho generoso, continuar a jornada até ao Poço do Canto (veja-se se não há poesia neste nome!), almoçar no Quinteiro do Cônsul um cozido à portuguesa, regado com Vinho de Meda, depois voltar a sair do Poço do Canto e descer aos Cancelos.

Ser recebido por um casal, que tem num nicho à porta uma sagrada família mas que faz do seu lar, um brinquedo de poesia, devaneio e misticismo. Além de um piano, pronto a verter sons de quem se sinta inspirado e talentoso, há mesmo até instrumentos pendurados nas camieiras do teto, garrafeiras que parecem verter sons de guitarra, poemas emoldurados a recordar momentos de júbilo e de alto significado “Tanto Lírio, tanta rosa!/ Tanta frescura e beleza./ Ontem, hoje e agora, / Sempre contigo à mesa./ O melhor manjar da vida, / É aquilo que mantemos. /As tradições da Família./ Que é o melhor que nós temos. - E quem dá o melhor que tem, dando-o de coração franqueado e generoso, nem é só graciosa dádiva mas gesto amoroso.

Depois, dali, imagine-se! Ainda íamos ser presenteados com os sorrisos ornados de roseiras perfumadas, numa casa, que, a bem dizer é mais um jardim, todo ele florido, desde a entrada até aos ramos de rosas em jarras nas salas, quartos e cozinha. Mas não só flores, verdura e rosas mas também muita arte! Exposta por todo o lado – Feita de cepas de videiras, de pedaços de ramos ou de troncos de árvores, nos quais se escavaram cadeiras, que servem para poses de sorrisos e espreguiçadeiras. Pedras entranhadas de minerais, ferros velhos, que em vez de se perderem abandonados nalguma sucata ou até sob as ervas do campo, acabam por prefigurar objetos artísticos.

Sem dúvida, recordações inolvidáveis de um dia em cheio! Como só são possíveis, quando se junta um grupo de bons amigos, numa porfiada caminhada – que até pode ser de pé e de carro – tendo apenas como único propósito: o prazer do convívio com as coisas boas da natureza: paisagens, frutos, O dia não podia ser mais belo – Céu limpo e azul, sol esplendoroso – Era um Maio já mais a lembrar que o Junho estava à porta, com um pé entre a Primavera e o Verão
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Obrigado amigos e um grande abraço de muita estima por me terdes propiciado uma manhã e uma tarde, tão maravilhosas! A Tomé Janeiro e Noémia, dinamizadores da romagem, Padre Filipe, José Lebreiro, Jorge Mesquita, José Valongo, João Lourenço, António Mata e Armindo Janeiro - Quem também vos esperava e saudava à vossa chegada em Chãs, a que me refiro noutro vídeo, foi António Lourenço, que não nos pode acompanhar por afazeres de Presidente do BV de Foz Côa.