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sábado, 24 de julho de 2021

Cidade de Meda, homenageia, domingo 25, a memória do poeta Manuel Pires Daniel, um dos filhos distintos das terras da Luz da Beira, distrito da Guarda



Jorge Trabulo Marques - Jornalista

A cerimónia, tem início com apresentação da reedição conjunta e ampliada da obra “Caminhada Imperfeita” – Com intervenções do Presidente do Município, Avelino Sousa e do Presidente do Município de V.N de Foz Côa, Gustavo Duarte

Seguir-se-ão, depois, outras palavras elogiosas ao autor e à sua obra: por Carlos Proença, Jorge Maximino e Jorge Saraiva, após o que serão declamados, alguns dos seus poemas por João Jorge Lourenço, Presidente da Assembleia Municipal da Meda, bem como a exibição de poemas musicados por Carlos Pedro

Por fim, seguir-se-á o descerramento do busto do saudoso e distinto filho medense, no Parque Municipal e uma visita a uma exposição 16 Bibliotecas e 16 Autores

O POETA MANUEL DANIEL – DESPEDIU-SE 4 MESES ANTES DA SUA MORTE DOS TEMPLOS DO SOL - “Este, meus amigos, é um ato de iminente cultura popular! - Um distinto filho da nossa região, falecido em Janeiro passado, vitima da Covi-19, e que, nos deu o prazer e honra de estar presente em várias das celebrações dos Equinócios e Solstício, a última das quais, em 21 de Setembro, do ano passado, quatro meses antes da sua morte - No Santuário Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nº Sra, em Chãs - V. N. de Foz Côa, na celebração do Equinócio do Outono 

PALAVRAS DE PROFUNDA REFLEXÃO - "Este, meus amigos, é um ato de iminente cultura popular! Isto é um modo de sentir, aquilo que, de mais vivo e mais puro existe na Terra e pode ser compreendido por todos os homens! “ – Começou por sublinhar, Manuel Daniel - Poeta, dramaturgo, jornalista e advogado, homem culto e humanista, talento multifacetado e de rara sensibilidade, autor de uma vasta obra literária, natural de Meda, concelho limítrofe do termo desta aldeia, figura muito querida e prestigiada na nossa região, invisual nos últimos anos da sua vida, residindo em V.N. de Foz Côa, onde casou, exerceu advocacia e continuou a dedicar-se à causa pública.Profundo estudioso, um homem de cultura, tendo dedicado muitos anos da sua vida à função pública e à vida autárquica, cujos olhos, desde há alguns anos, tinham deixado de ver a luz do dia, despediu-se da vida,–aos 86 anos - Faleceu no Hospital da Guarda, onde havia sido internado, há cerca de 15 dias, donde partirá, esta amanhã, diretamente para o cemitério de Vila Nova de Foz Côa, cujo funeral está previsto para as 11 horas. O meu abraço solidário e amigo à sua esposa, filhos e netos -

Uma vida intensa e multifacetada, pautada pela dedicação mas também pela descrição. Desde, há alguns anos, vinha debatendo-se com extremas limitações da sua vista, por ter ficado completamente cego, no entanto, nem por isso, dentro do que lhe era possível e com apoio amigo da família, lá ia compondo os seus versos e editando livros. Em cujos poemas perpassa o que de melhor têm a poesia portuguesa - Dominando com mestria os mais diversos géneros poéticos e neles se expressando, a par de um profundo sentimento de religiosidade, o amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos, suas inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida e o destino do Homem

Na poesia de Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavras que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra.

Um coração de poeta, muito admirado e querido, cuja sua obra intelectual, se estende em todos os géneros literários, perfeitas maravilhas de naturalidade , de graça, finura e sensibilidade, que encanta, sorri e toca profundamente quem glosa a sua poesia ou a sua prosa.


Solstício do Verão - Ainda seus olhos podiam ver a luz do sol
Os seus belos versos faziam parte das tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol , onde tivemos a alegria e o prazer de contar com a sua amável presença, por várias vezes, sendo a última no Equinócio do Outono, dia 22 de Setembro 2020, onde foram lidos poemas de sua autoria e o homenageámos. - Ele que também, até, já havia participado na homenagem, que prestámos, na Pedra dos Poetas, Fernando Assis Pacheco, cuja imagem aqui recordamos - Justamente no mesmo local, onde o então jornalista e poeta, erguera os braços, um mês antes da sua morte, aquando de uma reportagem no Vale do Côa.

Manuel J. Pires Daniel, nasceu em Vila de Meda (hoje cidade) em 18 de Novembro de 1934. Sem dúvida, um admirável exemplo de labor e de tenacidade, de apaixonado pelas letras e de sentido e dedicação ao bem comum – Nos seus livros, perpassam prefácios elogiosos, tanto pelo Presidente da Câmara de Meda, a sua terra, como de Vila Nova de Foz Côa, onde foi Presidente da Assembleia Geral, entre outras altas funções.




 Os seus belos versos fazem parte das tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol   - São indispensáveis.


O paisagista inspirado, por genuíno temperamento de artista, que soube conservar e realçar todo o encanto da graça virginal da alma campesina e do realismo forte destas terras; o panteísta nato que extasia e enche de ternura, de empolgante enlevo e emocionante saudade, o espírito de quem o lê, sulcado por emoções, lavradas por suave harmonia e o doce e inebriante perfume de terra virgem, plena de misticismo e de mistérios sedutores e fecundos

Na Pedra dos Poetas - Em 2003 - Na altura em que ainda podia andar e ver

O autor dos maravilhosos espectáculos rurais e da natureza envolvente, que mais terão impressionado a retina dos seus olhos, enquanto a mesma não foi toldada pelas trevas do fatalismo cruel da cegueira, com a qual tem agora de conviver as 24 horas do dia, valendo-se da memória, mas que, mesmo assim, tão minuciosamente continua a descrever, entremeando-os de episódios encantadores e de uma saudável originalidades bem genuína

Em boa verdade, Manuel Daniel, conquanto não tenha almejado a notoriedade do filho mais ilustre de São Martinho de Anta, inveterado calcorreador e peregrino por vales profundos, montes de vertigem, de perfis e recortes alcantilados e xistosos ou de natureza rochosa, trepando por penedias graníticas deslavadas e cinzentas, sim, levado por irresistível curiosidade de descoberta, imbuída por irrecusáveis amores e tentadoras paixões cinegéticas, sim, embora mais dado a uma outra contemplação mais serena e menos aventurosa, do que a do inconformista e viajante por brasis e distantes paragens, há, no entanto, entre ambos os poetas, grandes afinidades humanistas e de inquietude sociais nos mesmos palcos agrestes das terras beirãs e transmontanas, na cosmologia geográfica e transcendental de um mundo rural de injustiça e dureza, mas também de encanto, de misticismo e sublimidade 





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Assim Deus o pensou. E assim marcado
 ficou o meu destino certo dia.
Neste recanto sobre tudo amado,
neste vale de lágrimas gerado,
a luz forte da vida me sorria.

E docemente os olhos se me abriram
 e amorosamente os mais sentidos,
de tudo se apossando, descobriram
as mesmas maravilhas que outros viram
nesta terra de heróis desconhecidos

Terra de homens da terra, de grandezas
feitas de mil virtudes amassadas,
vivem comigo as suas incertezas,
as suas alegrias e tristezas
e a beleza das suas madrugadas.

Vive nas minhas veias o seu mundo
 feito de luta a cada hora incerta
e pressinto o seu querer forte e profundo,
mar de vontade firme em que me fundo
numa nova e continua descoberta.

Gente feita de sangue e nervo e aço.
Alma feita de sonho e de luar.
A semente é um gesto do seu braço,
como o sonho é o germe do espaço
que se há-de possuir e cultivar.

Mais alto do que a dor sobe a esperança.
 Mais alto do que a Morte sobe a Vida.
É por isso que a alma se nos lança
na aventura maior e se abalança
à conquista da terra prometida.

Tinha que ser aqui. Tinha que ser.
A alma que possuo, grande e forte,
 tinha que se formar, que se fazer
à semelhança desta - de nascer
entre a força da Vida e a da Morte.


O Douro Maravilhoso e Agreste, que Miguel Torga poetizou e cantou, é também, a seu modo, o de Manuel Daniel, com quem tivemos o prazer de nos reencontrarmos, recentemente, no seu escritório em Foz Coa, no coração da cidade, junto ao largo do velho pelourinho, do edifício municipal e da igreja matriz, onde, durante vários anos exerceu o oficio de conceituado advogado, a par da sua devoção à causa pública, mas onde agora só vai, pela mão da esposa, filhos ou netos, mais por uma questão de quebrar a rotina e de não perder de todo os laços ou vínculos, com um espaço, onde deu o seu apoio jurídico a muitas pessoas, onde recebeu muitos amigos e onde, nos momentos mais disponíveis e inspirados, aproveitou para escrever alguns dos seus belos livros, sim, foi justamente a meio da tarde, dois dias depois de termos celebrado o equinócio da Primavera, nas tradicionais celebrações aos ciclos da natureza, nas quais também chegou a dar-nos o prazer de colaborar, sim, que amavelmente ali nos recebeu e nos recordou o fascínio que o Douro Maravilhoso, lhe transmitiu na sua vida e na sua poesia, da obra literária, que tem já no prelo, pestes a editar, assim como das recordações que guarda dos encontros que teve com Miguel Torga. -


MANUEL DANIEL - NUMA HOMENAGEM AO POETA FERNANDO ASSIS PACHECO - No Solstício do Verão de 2011 - Na Pedra dos Poetas - Nessa altura, seu olhos ainda podiam contemplar os  largos e belos espaços onde aqui ergueu a sua voz





O HOMEM PERANTE O UNIVERSO   - 23/06/2011  “No fundo, com tudo isto, nós queremos interrogar o Universo para saber quem somos e o que fazemos aqui. Em todo este esforço à volta da contemplação do sol, do fenómeno da vida e dos movimentos dos astros, em tudo isto há uma interrogação latente: que é o homem que se está a perguntar a si mesmo, quem é ele e o que faz sobre a terra. Queremos saber através destas celebrações, ainda que o não pensemos, a nossa total identidade” Palavras do Dr. Manuel Daniel, pronunciadas, há dois anos, na abertura do colóquio “Os Templos do Sol “ – É justamente com o objetivo de refletirmos nestas mesmas interrogações, que hoje aqui estamos de novo a celebrar o Solstício deste Verão e prestarmos justíssimas homenagens a quatro figuras admiradas no nosso concelho e na  nossa região – Obviamente, que há outras que mereciam igual destaque – Mas, se Deus assim o permitir, não deixaremos de o fazer em próximas celebrações.

OS OLHOS JÁ  NADA VÊEM MAS O CORAÇÃO CONTINUA ACORDADO   --

Pese o facto dos seus olhos já não poderem contemplar a luz e a beleza que o inspiraram a escrever os mais belos poemas, tendo como temas os costumes da terra e das suas gentes, mas também os valores pátrios, religiosos   e  de pendor universal, sim,  pensámos que os demais sentidos, reforçados pela sua fé e determinação inabalável pela paixão da escrita e pelo gosto  da vida, continuarão, certamente, ainda mais sensíveis, para poder ir ao fundo do baú da sua memória e poder continuar a brindar-nos  com os seus excecionais dotes literários, desde o teatro, à  poesia e à ficção  - Obviamente que uma tal tarefa, além de só ser possível com o amparo da esposa, dos filhos e netos, que nunca lhe negaram o indispensável carinho e apoio, naturalmente que exige um esforço hercúleo a quem contraia a cegueira adulto: a vida espiritual, por certo, se intensificará mas as limitações físicas, vão-se tornando num calvário que só Deus e quem leva essa pesada cruz,   compreenderá o drama na sua verdadeira extensão