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sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Escritor Vergílio Ferreira, se fosse vivo, hoje completaria 106 anos – Video do excerto do romance lido pelo autor em dia de aniversário.

Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador


Romance “Para Sempre”, de Vergílio Ferreira, lido pelo autor, que nasceu há 106 anos – Excerto de um capítulo que me leu em sua casa em 28-01-89, no dia em que completava, 73 anos, que ironizava: "faço 37 aos 70" - 

Depois de o ter entrevistado, pedi-lhe para que me lesse algumas passagens, tendo , escolhido um excerto do antepenúltimo capítulo, referente ao nascimento da filha da Sandra e do narrador, que é  a Alexandra, apelidada de  Xana, que foi morrendo no abismo da droga.

Leitura acompanhada de oferta de livro e autógrafo -  Além de outras entrevistas que já me havia concedido,  para o meu pequeno gravador de reportagem da Rádio Comercial-RDP

Vergílio Ferreira não era apenas o grande escritor, mas o existencialista, o pensador. Deu-me o prazer de me receber várias vezes em sua casa – Algumas das quais no próprio dia do seu aniversário. Data que dificilmente me poderá passar despercebida

Romance Para Sempre – Excerto do capítulo XXXIII, do seu romance livro “Para Sempre”  em 28-01-89

Trata-se de uma das mais notáveis obras da autoria de Vergílio Ferreira,  que publicou ao longo de mais de 50 anos de vida literária — A sua vasta obra, geralmente dividida em ficção (romance, conto), ensaio e diário, costuma ser agrupada em dois períodos literários: o Neo-Realismo e o Existencialismo. Considera-se que Mudança é a obra que marca a transição entre os dois períodos.

“Para Sempre é um livro de mágoas; um livro pessimista, negro, macabro; um livro sobre a vida, sobre a necessidade de a pensar mesmo que no fim dos tempos, no momento em que nada mais o pensamento poderá mudar.

Mas é também um livro sobre a morte como redenção; como o remédio único e fatal para o sofrimento; para a culpa e a podridão; para a vida. A morte como o fim desse sofrimento prolongado a que Paulo chama vida.

(---) Vergílio Ferreira é talvez o escritor contemporâneo que melhor utilizava a língua portuguesa de forma a transmitir todo o sentimento ao leitor (---) Um livro duro de ler, mas sem dúvida um grande livro, de um dos melhores escritores do século XX em Portugal – Excerto do Blogue dos Meus Livros   http://aminhaestante.blogspot.com/2011/02/para-sempre-vergilio-ferreira.html

Vergílio Ferreira,  o académico e precursor do existencialismo na literatura português, teria completado, nesta sexta-feira, dia 28, 106 anos, se fosse vivo – Quis o destino que a sua partida para a eternidade, aos 80 anos, no dia 1 de Março de 1896- Deu-me o prazer de me conceder várias entrevistas, recebendo-me em sua casa  e até me citar num dos seus diários – Algumas das vezes no próprio dia do seu aniversário

Vergílio Ferreira, natural de Melo,  do concelho de Gouveia, onde há  uma biblioteca com o seu nome,  bem como uma escola em Lisboa, a Escola Secundária de Vergílio Ferreira (Quinta dos Inglesinhos, rua do Seminário  Professor liceal na Beira Alta, nasceu a meio da tarde do dia 28 de janeiro de 1916, tendo como fundo a Serra da Estrela, ambiente e paisagem que iria moldar a sua personalidade e influenciar a sua vasta obra - Faleceu na sua casa de campo, em Fontanelas, no dia  1 de Março de 1996, pouco depois da hora do lanche. Quando a sua esposa (Regina Kasprzykowski) entrou na sala para ir buscar a chávena e bule, encontrou-o estendido de costas sobre o tapete no chão e com rosto voltado para a janela. Ele, que tanto interrogara a morte, pelos vistos, respondeu ao seu apelo da forma mais pacífica e tranquila.

Há uma voz obscura no homem, mas essa voz é a sua. Há um apelo ao máximo, mas vem do máximo que ele é. Há o limite impossível, mas é do excesso que é o próprio homem.” Vergílio Ferreira (Espaço do Invisível 1)


Ao autor " Espaço do Invisível - Entre o espaço visível o mistério do além


Vergílio Ferreira não era apenas o grande escritor, mas o existencialista, o pensador. . 
Ao longo de mais de 50 anos de vida literária — com dezenas de romances e ensaios — Vergílio Ferreira, precursor do existencialismo na literatura portuguesa, nunca foi homem de reunir consensos à sua volta e nunca gozou da admiração que o seu talento e a singularidade da sua obra poderiam indicar. Muito embora o seu isolamento fosse, em parte, alimentado por si mesmo: sentia-se sempre inseguro nos ambientes sociais, odiava eventos mundanos, procurava em cada amizade uma lealdade que poucos lhe souberam dar. Mas sobretudo foi um homem sempre posicionado contra o sistema: viveu mal com o antigo regime, viveu mal com os neo-realistas e com o comunismo, viveu mal com o regabofe revolucionário, viveu mal com as perversidades do capitalismo. O preço que pagou foi um isolamento e uma falta de reconhecimento público que ele estoicamente aguentou mas que o fazia sofrer duramente – Diz Joana Emídio Marques, num interessante artigo publicado em 28 de Janeiro de 2016 -no Observador  https://observador.pt/especiais/vergilio-ferreira-um-escritor-corrente/

“Depois da morte não há nada... Já estive à beira da morte duas vezes (…)o facto de  me eu preocupar com a morte, não significa que a morte me assuste!... Uma coisa é o medo da morte, outra coisa é a intriga que a morte nos causa!.- Autor do “Espaço do Invisível”, “Cântico Final", “Manhã Submersa”  “Para Sempre” – Entre mais de meia centenas de obras: ficção, ensaio e diários – Recebeu-me várias vezes em sua casa.

Numa das entrevistas, que me concedeu, perguntei-lhe o que pensava da vida para além da morte, e da morte em si, visto ser um tema muito recorrente na sua obra,,
Eu já pensei que a morte era a passagem para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno, haveria um purgatório, etc

O facto de me eu preocupar com a morte, não significa que a morte me assuste!... As pessoas tendem a confundir essas duas coisas: uma coisa é o medo da morte, outra coisa é a intriga que a norte nos causa!.. - -   Ouça a entrevista no vídeo, mais à frente




  Recordando um dos maiores vultos da literatura portuguesa, que me deu a honra e o prazer de me receber várias vezes em sua casa e de me conceder várias entrevistas -  A que a hoje aqui recordo, teve como tema principal a questão da morte 

JTM - Acredita que há vida para além da morte?

V.F. - "Eu já pensei, evidentemente, que a morte era a passagem para o além, para uma vida que se seguiria a esta…Aliás, quando pensei, tinha toda a aparelhagem para isso, nesse mesmo além… Haveria um céu, haveria um inferno, haveria um purgatório, etc... Hoje estou convencido que a morte é um fim de tudo... Se não estivesse convencido,naturalmente, que a vida,  no seu absurdo, não se me imporia tanto...

Evidentemente que estas certezas não se baseiam em nada... Baseiam-se num equilíbrio interior que diz que é assim ou não é assim... Aliás, é em função desse equilibro interior que nós aderimos ou não aderimos  a muita coisa na vida: desde  a mulher que se ama,  a política que se segue, o clube de futebol a que se adere, etc. 

  Portanto, eu não tenho razão absolutamente nenhuma para afirmar que depois desta vida não há mais nada.... A única razão é esse tal equilíbrio interior... Portanto, não vou discutir com ninguém que acredito no além...Não vou discutir com ele para lhe demonstrar que ele não tem razão e quem tem razão sou eu.. Essas coisas vivem-se no íntimo de nós   sem que, no fim de contas para aí metamos entrego ou estopa, como se consuma dizer...
É naturalmente um fruto de mil acidentes, que nós vamos tendo na vida!... Mil encontros!... Mil livros que se leram, ideias que se tiveram, etc. Desse magma, desse conjunto de circunstâncias, resulta, naturalmente, uma determinada orientação, um determinado sentido... Essa orientação, impõem-se-nos!...  Não somos nós que a deliberamos... E é o que se passa, comigo,  nesse aspeto

“Homem de diversas facetas, a de filósofo e a de escritor, a de ensaísta, a de romancista e a de professor. Contudo, foi na escrita que mais se destacou, sendo dos intelectuais contemporâneos mais representativos. Toda a sua obra está impregnada de uma profunda preocupação ensaística. Vergílio Ferreira

Literariamente, começou por ser neo-realista (anos 40), com "Vagão Jota" (1946), "Mudança" (1949), etc. Mas, a partir da publicação de "Manhã Submersa" (1954) e, sobretudo, de "Aparição" (1959), Vergílio Ferreira adere a preocupações de natureza metafísica e existencialista. A sua prosa, que entronca na tradição queirosiana, é uma das mais inovadoras dos ficcionistas deste século.

O ensaio é outra das grandes vertentes da sua obra que, aliás, acaba por influenciar a sua criação romanesca. Temas como a morte, o mistério, o amor, o sentido do universo, o vazio de valores, a arte, são recorrentes na sua produção literária. Além disto, Vergílio Ferreira deixou-nos vários volumes do diário intitulado "Conta-Corrente". Das suas últimas obras destacam-se: "Espaço do Invisível", "Do Mundo Original" (ensaios), "Para Sempre" (1983), "Até ao Fim" (1997) e "Na tua Face" (1993). Recebeu o Prémio Camões em 1992. https://www.wook.pt/autor/vergilio-ferreira/17635


sábado, 22 de janeiro de 2022

Poeta Manuel Daniel - Faleceu há um ano vitima da covid 19 - Entrevista dois anos antes da sua morte do autor de “O Coração Acordado”, entre muitas outras obras literárias - Depois de alguns anos de tormentosa invisibilidade, sem todavia se deixar vergar a essa pesada fatalidade

Jorge Trabulo Marques Jornalista  

Entrevista em sua casa, no dia 24 de Agosto de 2019 - Um belo exemplo de resistência à invisibilidade que contraira nos últimos anos da sua vida   

Foi precisamente, há um ano, que faleceu o poeta Manuel Daniel, vitima  de COVID-19, no dia 22 de Janeiro de 2021 no Hospital Sousa Martins da Guarda.

Ao longo da sua vida, Manuel Daniel, escreveu e publicou inúmeros poemas, contos, crónicas, peças de teatro e textos sobre várias temáticas. Apesar de ter publicado uma grande parte da sua obra, com o decorrer dos anos alguns dos seus textos ficaram "esquecidos" no tempo.


 Natural de Meda, residente, desde há vários anos, em V.N. de Foz Côa - Advogado, escritor, jornalista, poeta, dramaturgo, autor de 40 peças de teatro, nomeadamente para crianças, 20 das quais ainda inéditas - Espírito solidário e associativo, de sensibilidade relevante, em associações de solidariedade social, nomeadamente no Lar da Santa Casa da Misericórdia e na Associação Humanitária dos bombeiros de Foz Côa na qual foi seu Presidente da Assembleia Geral, 20 anos, desde 1979 a 1999.

Profundo estudioso, um homem de cultura, tendo dedicado muitos anos da sua vida à função pública e à vida autárquica, cujos olhos, desde há alguns anos, tinham deixado de ver a luz do dia, despediu-se da vida,–aos 86 anos - Faleceu no Hospital da Guarda, onde havia sido internado, há cerca de 15 dias, donde partirá, esta amanhã, diretamente para o cemitério de Vila Nova de Foz Côa, cujo funeral está previsto para as 11 horas. O meu abraço solidário e amigo à sua esposa, filhos e netos -

Uma vida intensa e multifacetada, pautada pela dedicação mas também pela descrição. Desde, há alguns anos, vinha debatendo-se com extremas limitações da sua vista, por ter ficado completamente cego, no entanto, nem por isso, dentro do que lhe era possível e com apoio amigo da família, lá ia compondo os seus versos e editando livros. Em cujos poemas perpassa o que de melhor têm a poesia portuguesa - Dominando com mestria os mais diversos géneros poéticos e neles se expressando, a par de um profundo sentimento de religiosidade, o amor à terra, à natureza, aos espaços que lhe são queridos, suas inquietações e interrogações, sobre a efemeridade da vida e o destino do Homem

Na poesia de Manuel Pires Daniel, não há jogo de palavras mas palavras que vêm do coração, que brotam naturalmente, como água da melhor fonte, que corre das entranhas do xisto ou do granito da nossa terra.

Um coração de poeta, muito admirado e querido, cuja sua obra intelectual, se estende em todos os géneros literários, perfeitas maravilhas de naturalidade , de graça, finura e sensibilidade, que encanta, sorri e toca profundamente quem glosa a sua poesia ou a sua prosa.

Os seus belos versos faziam parte das tradicionais celebrações evocativas nos Templos do Sol , onde tivemos a alegria e o prazer de contar com a sua amável presença, por várias vezes, sendo a última no Equinócio do Outono, dia 22 de Setembro 2020, onde foram lidos poemas de sua autoria e o homenageámos. - Ele que também, até, já havia participado na homenagem, que prestámos, na Pedra dos Poetas, Fernando Assis Pacheco, cuja imagem aqui recordamos - Justamente no mesmo local, onde o então jornalista e poeta, erguera os braços, um mês antes da sua morte, aquando de uma reportagem no Vale do Côa.

Manuel Daniel, disse naquele  antiquíssimo e sagrado  altar: " Continuamos a ser perseguidores das preocupações que ocuparam os homens primitivos”: “E aqui estamos: a interrogarmo-nos a nós próprios, a saber quem somos, o que queremos! O que fazemos!...” Palavras do poeta invisual, jornalista, advogado e dramaturgo, Manuel Daniel, na sua expressiva alocução, em resposta ao poemas lidos e aos elogios preferidos na auspiciosa manhã do primeiro dia do Outono, no maciço granítico do planalto dos Tambores e Mancheia, onde termina a meseta ibérica, com os seus monumentais e majestosos penhascos e enigmáticos megalíticos, seus ancestrais postos de observação astronómica e locais de culto.




VIEMOS AQUI ESPREITAR A HISTÓRIA –


Este, meus amigos, é um ato de iminente cultura popular! Isto é um modo de sentir, aquilo que, de mais vivo e mais puro existe na Terra e pode ser compreendido por todos os homens! “ – Começou por sublinhar, Manuel Daniel - Poeta, dramaturgo, jornalista e advogado, homem culto e humanista, talento  multifacetado e de rara sensibilidade, autor de uma vasta obra literária, natural de Meda, concelho limítrofe  do termo desta aldeia, figura muito querida e prestigiada  na nossa região, atualmente invisual, residente em V.N. de Foz Côa, desde há vários anos, onde  casou, exerceu advocacia e continuou a dedicar-se à causa pública.

Viemos aqui espreitar a história! Viemos aqui procurar um contato com aqueles  que já viveram aqui a sua vida e gastaram  aqui as suas preocupações!... E, sobretudo, interrogaram-se, como ainda hoje nos interrogamos por quatro grandes pilares: o ESPAÇO, A  VIDA E O ALÉM!

O Espaço, continua a ser uma grande preocupação do homem de hoje!.... E logo nesta altura, nos alvores da inteligência, quando o homem começou a ter conhecimento de si próprio, nessa altura o espaço foi a sua grande preocupação: onde estava, nesse Universo, nesse bocado do Mundo!

O tempo!... Também o homem, dos primeiros tempos, dos primeiros alvores do mundo , teve a preocupação do tempo.

O que se está aqui a passar, como medidor do tempo e da história, é um aparelho da própria naturalidade de tudo o que existe!... É uma máquina de verificar o tempo!

O tempo, realmente, tem sido uma luta constante do homem através dos séculos!... Através dessa contagem, o homem consegue desvenda muitos dos seus mistérios, quer nas suas viagens interplanetárias!.... Nas suas relações com os astros, com tudo… com o tempo! 

O que é o tempo?!.... Nós somos uma fração do tempo ou somos uma partícula invisível  desse tempo?...~

A VIDA!... o Homem, teve sempre a preocupação do que é a vida!.. E o que é a vida?.....É aquilo que nós somos! Aquilo que nos foi dado e o além!

(...) 

Meus amigos:


Estamos aqui numa confraternização cultural, que é muito útil para   todos e que nem tem principio nem tem fim !

Por aqui passaram. Certamente, grandes homens através destes séculos!

Pergunta-me, às vezes, o amigo Jorge Trabulo Marques, se o Miguel Torga, terá passado por aqui?... Terá andado nestes fraguedos!....

Eu aposto que sim, porque, uma vez em conversa com ele, ele me dizia que conhecia Foz Côa, melhor do que eu!....

Como caçador de perdizes, ele percorria lugares aparentemente inóspitos, como este!... Mas este é um lugar muito especial!... Há aqui forças que  nós desconhecemos!

Esta orografia é de uma riqueza maravilhosa!... Exemplar!... E nos cá estamos para contemplar neste pequeno espaço! Aquilo que o homem tem de melhor! … E, certamente, muitos mistérios, que nós adivinhamos! Certamente sentimentos mas não sabemos explicar!

Há aqui um mistério da Divindade!... Um mistério do Homem! E um mistério da vida!...

Pois bem, que a continuemos!...A  interrogação faz parte da nossa maneira de ser!...

Os poetas, serão, talvez, as pessoas que conseguirão examinar!.. Explicar!... Refletir!....

Como diz um escritor italiano, Giovanni Papin , os poetas são os felinos do futuro! Porque são dos tais que dão uns passos à frente dos seus irmãos!... Mas, eles conseguem, de facto, ser uma espécie de profetas, e, através dos eus pensamentos, fazer com que o mundo fque um pouco mais iluminado! E seja mais feliz  e os homens mais irmãos!

Muito obrigado


O paisagista inspirado, por genuíno temperamento de artista, que soube conservar e realçar todo o encanto da graça virginal da alma campesina e do realismo forte destas terras; o panteísta nato que extasia e enche de ternura, de empolgante enlevo e emocionante saudade, o espírito de quem o lê, sulcado por emoções, lavradas por suave harmonia e o doce e inebriante perfume de terra virgem, plena de misticismo e de mistérios sedutores e fecundos

O autor dos maravilhosos espectáculos rurais e da natureza envolvente, que mais terão impressionado a retina dos seus olhos, enquanto a mesma não foi toldada pelas trevas do fatalismo cruel da cegueira, mas que, mesmo assim, tão minuciosamente continuava a desenvolver, entremeando-os de episódios encantadores e de uma saudável originalidades bem genuína

Em boa verdade, Manuel Daniel, conquanto não tenha almejado a notoriedade de Miguel Torga, com quem privou, sim, com o filho mais ilustre de São Martinho de Anta, inveterado calcorreador e peregrino por vales profundos, montes de vertigem, de perfis e recortes alcantilados e xistosos ou de natureza rochosa, trepando por penedias graníticas deslavadas e cinzentas, sim, levado por irresistível curiosidade de descoberta, imbuída por irrecusáveis amores e tentadoras paixões cinegéticas, sim, embora mais dado a uma outra contemplação mais serena e menos aventurosa, do que a do inconformista e viajante por brasis e distantes paragens, há, no entanto, entre ambos os poetas, grandes afinidades humanistas e de inquietude sociais nos mesmos palcos agrestes das terras beirãs e transmontanas, na cosmologia geográfica e transcendental de um mundo rural de injustiça e dureza, mas também de encanto, de misticismo e sublimidade

Manuel J. Pires Daniel, nasceu em Vila de Meda (hoje cidade) em 18 de Novembro de 1934. Sem dúvida, um admirável exemplo de labor e de tenacidade, de apaixonado pelas letras e de sentido e dedicação ao bem comum. Mal concluiu a instrução primária, ei-lo a fazer-se à vida - Tinha então onze anos. Era ainda uma criança mas já tinha que começar a pensar no futuro. Tem sido uma vida intensa e preenchida.

A partir dos 20 anos de idade , propôs-se e fez os exames do ensino secundário e frequentou, como voluntário, o curso de 1973-1978 da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, por onde veio a ser licenciado.

A par de vários livros de poesia, colaborações de artigos e poemas na imprensa regional e nacional, bem como em jornais brasileiros, prefácios e a coordenação em várias obras, é também autor de 40 peças de teatro, nomeadamente para crianças, 20 das quais ainda inéditas. Muitos dos seus poemas foram lidos por Carmem Dolores e Manuel Lereno, aos microfones da extinta Emissora Nacional, em “ Música e Sonho”, de autoria de Miguel Trigueiros – Considerado, na época, o programa radiofónico mais prestigiado - Mesmo assim objeto de exame censório, tal como atestam os arquivos.

Mas não menos relevantes são as letras que vêm a ser musicadas e gravadas em discos e cassetes, Interpretadas por Ramiro Marques, em EP nas canções “Amor de Mãe” e “Amor de Pai”, pela Imavox, em 1974 – E, também, anos mais tarde, as letras para um “Missa da Paz” e coletâneas temáticas sobre “Natal e Avós” E, com música de Carlos Pedro, as “Bolas de Sabão”, “Ciganos”, “Silêncio” e outros pomas.

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