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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Na aldeia de Chãs, no primeiro dia do Outono, o sol brilhou no portal de calendário pré-histórico mas aldeia esteve de luto - Profesto, antigo soldado da GNR, escalado no dia da fuga de Álvaro Cunhal, do Forte de Peniche, foi hoje a enterrar - Pessoa muito estimada e admirada no seu torrão natal e no concelho, onde serviu largos anos no posto local, o seu funeral, constituiu uma grande manifestação de pesar



(post ainda a editar - sobre a celebração do Equinócio do Outono)



 Há muito que, na aldeia de Chás, não havia um funeral, com tanta gente, tão participado – Se não fosse a presença do carro funerário, com as suas grinaldas de flores, as lágrimas e os silêncios, que, nestes momentos de dor e de luto, não deixam de fazer-se sentir, assim como a ausência de andores e da banda filarmónica, dir-se-ia tratar-se da grande procissão de 15 de Agosto, em honra de Nª Sra- da Assunção, a padroeira da paróquia, celebração essa a que, o falecido soldado da GNR, não deixava de acompanhar – Só que agora era o seu corpo, que era acompanhado por várias centenas de pessoas: por familiares, amigos, aldeia em peso, elementos da GNR, Comandante do Posto Territorial da GNR de Vila Nova de Foz Côa, além do Presidente do Município, Gustavo Duarte, entre outras entidades.

Foi realmente uma grande manifestação de luto e pesar, como há muito ali  não  se via, aquela  que se associou ao cortejo fúnebre, desde a missa do corpo presente, na igreja paroquial, até ao cemitério, onde se encontravam perfilados vários soldados da GNR para lhe prestarem as honras militares e as salva de tiros, que lhe eram devidas    



NA VIDA DE CADA SER HUMANO HÁ SEMPRE UM CAIR DA FOLHA NUM QUALQUER OUTONO 

A manhã do primeiro dia do outono, nasceu algo cinzenta (se bem que depois se pusesse quente e muito ensolarada, quase ainda  a fazer lembrar  a temperatura escaldante do pico do Estio ) mas ainda assim  muito triste para uma família, que até tem sido a principal colaboradora das tradicionais celebrações, que têm tido lugar nos Templos do Sol, arredores da aldeia de Chãs - 

Celebrámo-la de manhã, à hora prevista, ao nascer do sol, junto à Pedra da Cabeleira de Nª Sra (a cuja cerimónia me refiro noutro espaço); como sempre, longe de qualquer bulício ou interferência, sim,  de forma pacífica e singela, todavia, não sem um certo trago de ausência e de vazio;  sem  a mesma alegria e o encantamento, habituais, pois a aldeia estava se luto  pela morte de Profesto Augusto Fernandes. Mas, sobretudo o lar de de Maria Amélia e António Lourenço, que tão generosos, dedicados tem sido para a realização destes eventos.


 OS SINOS DOBRARAM  DOLENTES E TRISTES  

Quando os sinos dobraram na aldeia de Chãs, concelho de Vila Nova de Foz Côa, na manhã de ontem, perguntava-se: quem morreu?... 

Ninguém ainda sabia, senão a filha do falecido, D. Amélia Lourenço, os seus filhos, a sua mãe e o seu marido, António Lourenço, ex-autarca e atual Presidente dos BV de V.N de Foz Côa, que, ontem, ao telefonarem para o Hospital da Guarda para se inteirarem do seu estado de saúde, recebiam a triste noticia do seu falecimento – Porém, não tardaria a que, ao  eco do dobrar triste dos sinos, ecoassem nos corações estas palavras: Olha, Morreu o Profesto! 

 Num meio pequeno e da Província, tanto os momentos de alegria, como os  de luto, ainda são vividos com a mesma solidariedade e fraternidade de outros tempos.  Por aqui, os ventos do individualismo e do egoísmo, que atravessam a sociedade de consumo, ainda não se esbateram, tanto mais que as aldeias do interior se desertificam, quase não há renovação de nascimentos e, por isso, quando alguém parte, além do sentimento de perda e dor, é também o de um certo vazio que se agrava e percorre a aldeia, desde o  fundo do Povo, até ao seu aglomerado mais alto . Sobretudo, quando partem pessoas, que eram quase uma lenda da aldeia, alguém que foi um extraordinário exemplo de cidadão: de pai, de chefe de família, com relevantes  provas dadas  dos seus deveres cívicos e profissionais, tanto junto da comunidade onde nasceu, como com na profissão que exemplarmente desempenhou, durante largos anos, com especial dedicação, de sentido de entrega e de sacrifício,  até que se reformou


Profesto, nome pouco vulgar e que quase soa à palavra profeta – Por isso mesmo, não sendo muito comum, era assim pelo qual era conhecido, até porque, nunca ninguém o deixou de associar a um passado lendário, das muitas histórias, que ele recordava da sua vida profissional, nos vários sítios onde prestou serviço, desde o épico salto do emigrante para atravessar a fronteira com Espanha, com destino a França, quando andou por estas paragens (das queixas anónimas que chegavam aos postos da GNR por parte de alguns latifundiários, que temiam ficar sem braços para trabalhar na lavoura) à sua prestação como soldado da força de segurança do Forte de Peniche, da qual recorda a espetacular fuga de Álvaro Cunhal, a que já me referi neste site, mas que, mais adiante, aqui volto a descrever.

De facto, a vida de Profesto Augusto Fernandes, que faleceu três dias depois de completar 87 anos   (18-9-1929 – 21-9-2016, casado com Benvinda  Jesus  Félix,  dariam um interessante livro de histórias, que ele, por certo, também não teria  deixado de contar aos seus dois queridos netos, que, na hora de o verem partir, ali verteriam sentidas lágrimas emocionadas de luto e dor


Por outro lado, outro aspeto importante, que o tornou também muito admirado na sua aldeia, prende-se com o seu espírito de convivência, de comunicabilidade de interajuda com os seus conterrâneos, sempre pronto a dar os seus préstimos, fosse no campo ou onde fosse preciso – Qualidades estas que viriam a conferir-lhe ainda mais simpatia e admiração, visto já,  naquele tempo em que ele foi admitido na GNR, ter sido praticamente das raras promoções sociais, que infundiam poder e respeito.

Os ordenados dos soldados da GNR eram modestos, não ganhavam muito, tal como na maioria das profissões do Estado, mas sempre era  um ordenado garantido ao fim do mês – Embora de origem humilde mas foi desse modo que ele logrou educar a sua filha, a Prof. Maria Amélia Félix Fernandes, pô-la a estudar, transmitir-lhe as melhores qualidades e virtudes humanas, morais e cívicas, que haveriam de fazer dela, além da professora primária, dedicada e amada pelos seus alunos, que nunca a esqueceriam ao longo da vida, também a mãe extremosa para com os seus filhos, como ainda também um dos mais abnegados e admiráveis exemplos de entrega à comunidade e à causa pública, tanto onde nasceu, como no concelho e arredores - À família enlutada, uma vez mais a  expressão do nosso sentido pesar. 

 Revelações inéditas da fuga: Álvaro Cunhal - Centenário e a fuga do Forte de Peniche – O soldado da GNR, José Alves, que permitiu a fuga não estava escalado para esse dia. Fez a troca com o seu colega Profesto, da minha aldeia


Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista 



"COLABOREI, SEM SABER, NA FUGA DE CUNHAL"

A fuga de Álvaro Cunhal do forte de Peniche, com outros presos,  ficou  a dever-se, em grande parte, ao soldado da GNR, José  Alves, que estava de sentinela àquela hora – Mas não era, José Alves, que nesse dia devia estar de serviço mas o soldado Profesto Augusto Fernandes, agora com 84 anos, natural de Chãs, freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, que aceitou a troca. - E teve dissabores. Pois também foi chamado ao exaustivo e apertado inquérito dos Pides, que se seguiu,  mas confessa que não ficou chateado pela atitude do seu colega, que era um excelente profissional e  bom companheiro, mas que sentiu pena  e  deixou-o muito triste  ao  constar-se  das represálias que foram exercidas sobre a sua famíli


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"Deu-lhes a liberdade! Pois que mal haviam feito aquelas pessoas?!.Ninguém ali estava por ter cometido qualquer roubo ou outro crime!.". - Por isso diz que não está arrependido de ter sido usado.  Tinha-me calhado ter ficado ali destacado. Não fui escolhido  por ser duro! Aconteceu!...  Preferia  ficar de sentinela, dias seguidos, no quartel da GNR, em Lisboa, donde nos mandavam para estas missões do que ir ali a fazer aquela vigilância!....Era um lugar frio, húmido e desagradávelOs presos sabiam que nós tínhamos uma arma e não nos viam como amigos. Os Pides olhavam-nos com desconfiança e eram arrogantes!.Eram ríspidos e desconfiados para connosco e com os carcereiros e, os  interrogatórios aos presos,  eram longos e desumanos. Tínhamos que os gramar quase todos os dias. Até nós tínhamos  medo deles!.. Nunca fui comunista mas se  visse hoje, aquele meu camarada, dava-lhe um abraço!... Não era qualquer um que se atrevia a correr os riscos que ele correu!...- Leia outros pormenores mais adiante


Revelações e coincidências na Crónica de um Centenário

Álvaro Cunhal nasceu a 10 de Novembro de 1913 e, se fosse vivo, completaria hoje 100 anos – Faleceu a 13 de Junho de 2005, no dia de Santo António, com quase 92 anos – Mesmo assim, uma bonita idade para quem teve uma vida intensa, durante vários anos foi privado da liberdade num dos presídios mais sinistros do regime Salazarista. 

Embora não perfilhando a ideologia marxista, era uma figura que me merecia todo o respeito e sempre associei o seu aniversário ao de minha mãe, que fazia anos no dia seguinte, no dia de São Martinho, faleceu com 52 anos, vítima de câncer - Era mais nova 2 anos. Meu pai nasceu em Janeiro do mesmo ano de Álvaro Cunhal, faleceu com 64.

ANTIGO SOLDADO DA GNR DA MINHA ALDEIA COLABOROU, SEM SABERNA FUGA DE ÁLVARO CUNHAL E DE OUTROS SEUS COMPANHEIROS -


Há factos, que, embora parecendo menos revelantes, se desconhecem sobre a fuga do Forte de Peniche, mas que nem por isso deixam de ter interesse no apuramento da verdade histórica.

É o que venho aqui revelar neste site, no dia em que estão previstas várias atividades, alusivas ao centenário do nascimento de Álvaro Cunhal  e um grande comício no Campo Pequeno, em homenagem à memória do mítico líder do Partido Comunista Português, onde se .espera a participação de milhares de pessoas.  "O evento terá momentos musicais, a partir das 15:00, através da banda Brigada Vítor Jara e de Luísa Basto, a intérprete da canção «Avante, Camarada», além de várias intervenções, designadamente de Jerónimo de Sousa, previsivelmente perto das 17:00, no dia em que, curiosamente, a Juventude Comunista Portuguesa também celebra 34 anos. Desfiles e comício marcam centenário do nascimento de Cunhal 
"HÁ SEMPRE  ALGUÉM QUE SEMEIA CANÇÕES NO VENTO QUE PASSA; HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE;HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO - FOI POR ISSO QUE UM VALENTE SOLDADO DA GNR ROMPEU COM O CERCO AO FORTE DE PENICHE



O Forte de Peniche era tido como uma das prisões de mais alta segurança do Estado Novo. Mas há pormenores que ainda se desconhecem – Nomeadamente, em relação ao soldado da GNR envolvido – De frisar, que, além dos carcereiros, que depois do fascismo vieram a dar lugar aos guardas prisionais e que agora vão passar a ter o mesmo   estatuto ao pessoal da PSP – tanto na tabela remuneratória, como nas demais regalias sociais”.Guarda prisional equiparado a PSP -– o reforço no Forte de Peniche era assegurado pela então guarda pretoriana do regime 

"COLABOREI, SEM SABER, NA FUGA DE CUNHAL" Mas confessa que não se sentiu traído mas pena dos problemas e represálias que sofreu a família do seu colega.

A fuga de Álvaro Cunhal do forte de Caxias, ficou pois a dever-se, em grande parte, ao soldado da GNR, José  Alves, que estava de sentinela àquela hora – Mas não era, José Alves, que nesse dia devia estar de serviço mas o soldado Profesto, natural da minha aldeia - Chãs, freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz CôaEle contou-me, há pouco tempo,  que colaborou, sem saber na fuga de Álvaro Cunhal . Pois, o seu colega, havia-lhe  pedido, na véspera,  para fazer a troca com ele, tendo aceite, alegando ter que tratar de uns assuntos  no dia seguinte.  


Alves, fica de serviço nesse dia, da programada fuga e o Profesto  passa a fazer o turno dele no dia imediato. Claro que, segundo me recordou, “aquilo causou ali uma grande bronca!” – Os Pides, que ali iam regularmente, não tardaram a aparecer, com os seus inevitáveis inquéritos –  “Eles eram desconfiados e duros, mesmo para com os soldados da GNR e carcereiros” – Recorda. “Quando ali entravam, com aquelas caras autoritárias, até parecia que o terror se espalhava por todo o Forte! Olhavam-nos com desprezo e autoritarismo” – Confessou-me este meu conterrâneo. Que diz se lembrar, muito bem, da figura de  Álvaro Cunhal. “bem apessoadosempre com ar sério, compenetrado  e a passaritar - para trás e para a frente” . Que passava muito tempo, a "andar de um lado para o outro", e, geralmente, com ar carrancudo, sempre com ar muito concentrado, não dialogando" com os carcereiros ou soldados da GNR" - Aliás, tanto os soldados da GNR como os carcereiros  também estavam proibidos de conversar com os presos. E, sobretudo, com "o perigoso comunista", como era então classificado-

De referir que, Profesto (sogro de António Lourenço, presidente Junta desta freguesia de 1976 a 2009) já não se lembra do nome do seu companheiro - O nome do corajoso soldado consta do historial da fuga.. Mas ainda se recorda de muitos pormenores do ambiente do presidium nos turnos que ali fez., no tempo em que o lendário líder do PCP, ali esteve  preso - E, nomeadamente, da tal troca de turno, que haveria de permitir a fuga para a liberdade a Cunhal e a vários camaradas do seu Partido. 

 O resto, já faz parte do registo histórico É sabido que, “no dia 3 de Janeiro de 1960 evadem-se do forte de Peniche: Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues, graças à cumplicidade do solado da GNR

No fim da tarde pára na vila de Peniche, em frente ao forte, um carro com o porta-bagagens aberto. Era o sinal de que do exterior estava tudo a postos. Quem deu o sinal foi o actor, já falecido, Rogério Paulo.

Dado e recebido o sinal, no interior do forte dá-se início à acção planeada. O carcereiro foi neutralizado com uma anestesia e com a ajuda de uma sentinela - José Alves - integrado na organização da fuga, os fugitivos passaram, sem serem notados, a parte mais exposta do percurso. Estando no piso superior, descem para o piso de baixo por uma árvore. Daí correm para a muralha exterior para descerem, um a um, através de uma corda feita de lençóis para o fosso exterior do forte. Tiveram ainda que saltar um muro para chegar à vila, onde estavam à espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a noite----Álvaro Cunhal: fuga de peniche


Frase do dia - O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu hoje que o projecto comunista está “bem vivo” e continua a “iluminar o caminho” dos que lutam pelas aspirações do povo, numa evocação da vida e obra de Álvaro CunhalJerónimo de Sousa diz que Cunhal tinha razão
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