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sábado, 12 de setembro de 2020

Chãs – Foz Côa - Arado primitivo – Durante os períodos mesolítico e neolítico, 10.000 a 2.300 anos de Cristo, eram usadas varas de madeira pontiagudas para lavrar as terras - Um desses arados foi encontrado, na década de 90, nos arredores da minha aldeia pelo Sr. Herculano Leal, no Chão das Canadas


Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador


Página da enciclopédia da Verbo




A freguesia de Chãs, tal como o nome indica, deriva de chã, povoado plano  situado  no topo de um monte - E assim terá sido esta a localização  das primeiras casas que lhe deram o nome,  erguidas nos pontos de confluência de vários caminhos romanos, que, surgindo, em pequenas quintas dispersas pelas partes mais férteis dos vales e áreas mais planas dos vários requebros e quebradas, onde se vai perder um dos extremos da meseta ibérica, com o decorrer do tempo se foram aglutinando e aproximando, formando um único povoado, denominado Chãs.

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Calçada romana
Sim, repartido por sítios onde ainda persistem, além das antigas calçadas romanas, outros vestígios do período da  romanização  na península - Desde a existência de fontes, a colunas em granito, objetos em ferro e abundantes fragmentos de  cerâmica e tégula - Isto apenas no que diz respeito à área do seu núcleo habitacional, porque, nos arredores e no seu termo, os vestígios vão até ao longínquo paleolítico




PEDRA CIRCULAR EM QUARTZITO - QUE É SUPOSTO TER ALGUNS MILÉNIOS - Ou pedra de pau de escavar, de moagem ou de olaria? - São algumas das hipóteses.

Trata-se de uma pedra cilíndrica, de quartzito ferruginoso, furada ao centro,  que poderá ter sido usada na pré-história.

Se comparada com outra - até da mesma cor , formato e característica mineral  - que figura numa enciclopédia da Verbo, sobre rochas  e minerais, poder-se-ia pensar tratar-se de  uma pedra de pau de escavar, no centro da qual era introduzida uma vara de madeira pontiaguda por forma a aumentar a carga exercida sobre o solo e facilitar a sua eficiência - Referem estudos, que, esse tipo de alfaias, destinado a enterrar as sementes em terra arável, embora muito generalizado  nos primórdios da agricultura desde o mesolítico ao neolítico, persistem, no entanto, raríssimos  exemplares - E, de facto, esta pedra até foi encontrada num dos melhores terrenos da aldeia, o que poderia supor ter tido justamente esse o seu uso.


AUTOR DA DESCOBERTA - O SR. HERCULANO





Achado do autor deste site
Castro do Curral da Pedra
A descoberta da referida pedra circular,  não é recente - Fotografei-a há talvez mais de 25 anos - E no próprio dia em que foi achada pelo Sr. Herculano Leal, no Chão das Canadas, junto a um antigo poço, mas não a tenho comigo - Sim, foi em meados da década de 90, quando este meu conterrâneo, ao cumprimentar-me, me passa para as mãos, uma pedra, que mais me fazia lembrar um disco voador, pesada e muito lisinha, com um orifício ao centro_ -  Apanhei-a, esta manhã, nas Canadas, e, sabendo que gostas das pedras, trouxe-a para ta  oferecer. Fica com ela, que eu não a quero para nada.

Agradeci-lhe o amável  gesto mas entendi que ele é que devia ficar com o achado. Pedi-lhe que apenas me acompanhasse ao local (área dos solos mais húmidos e férteis, do lado norte da aldeia)  para ali o  fotografar e conhecer o sítio  – Eu não aceitei a oferta mas quem a não recusou foi o meu primo, Joaquim Trabulo –  Nunca me falou do assunto mas eu já lha vi, entre outros achados, em sua casa -  Está também em boas mãos mas justifica que não fique anónima entre os demais objetos que ele próprio, também já encontrou. 



A descoberta, mais recente, é a de duas pedras aparelhadas, que, embora não tendo inscrições, aparentam ser aras votivas romanas   - Denotando  ter estado colocadas lado a lado: ou à entrada de algum templo, habitação ou  cabeceira de alguma sepultura -  Foram encontradas pelo Sr. Jacinto, no quintal da sua   residência, na Rua do Cruzeiro -  Junto ao qual ainda se encontra  uma casa em granito com a data de 1776, mas também uma cisterna cavada no subsolo, que é suposto ter sido do período romano - Numa primeira análise, não se lhe reconhecem quaisquer inscrições, senão, apenas, em cada uma dois recortes e dois orifícios,  que poderão  configurar eventual  estilização de rosto humano - Essa é uma resposta que caberá, naturalmente, aos especialistas. 


 TROFÉU FUNERÁRIO  - DESTINADO A  PERPETUAR A MEMÓRIA DE VALENTES GUERREIROS

Achado pelo autor deste site
Achados pelo autor deste site
Espantoso achado, encontrado nos Tambores  – pelo autor deste site – Denota faltar-lhe uma parte e a ponta - J. Leite de Vasconcelos, em Religiões da Lusitânia, refere-se ao estudo de parecido, designado por  troféu

 A descoberta ocorreu há dois anos,  na manhã do Equinócio do Outono, em  Setembro de 2013, a escassos metros do Castro do Cural da Pedra. - Os incêndios, que, mais uma vez, durante o  Verão,  haviam feito desaparecer a já escassa vegetação existente, reduzindo  a paisagem  a cinzas e a pedras negras,  tal  ato criminoso, acabou por deixar a descoberto um valioso achado arqueológico.

Na altura supunha tratar-se de um punhal ou arma pré-histórica, porém,  confronto o objeto com o  estudo de um exemplar, quase idêntico, em Religiões da Lusitânia, de José Leite de Vasconcelos, sou levado a depreender que poderá. efetivamente, ser parte de um troféu neolítico usado na sepultura de um  guerreiro, simbolizando,  cada dente da pedra, um dos inimigos tombados pela sua valentia.

Sim, tal como é defendido  em estudos "a fortificação dos povoados foi poderosamente impulsionada  na idade do ferro inicial pelas guerras entre várias comunidades célticas, ibéricas e hídricas, intensificadas  de inicio pelos cartagineses, depois pelos romanos, ávidos de alargar a sua influência na Península, e os membros jovens de algumas tribos fizeram carreira como mercenários em guerras alheias, do século V em diante, Inicialmente, estas fortificações inspiraram-se  nas compactas aldeias amuralhadas construídas pelos Iberos e pelos seus antecessores perto das costas mediterrânicas, com uma só linha de defesas, entradas simples e fileiras de habitações oblongas construídas em adobe ou pedra vã, colocadas num anel quase continuo de encontro à face interna das defesas" - Refere H.N. Savory, num estudo sobre a Pré-história de Espanha e Portugal. "

Dizíamos  nós, na postagem de 21/09/2013, alusiva ao   Equinócio do Outono - Foi das tais surpresas que não esperávamos. Já ali encontramos muitos achados pré-históricos. Desde machados, percutores, mós de rolos, cerâmica, a um espantoso amuleto em osso, que se calcula ter  5000 anos. Mas não é nossa intenção recolhermos materiais líticos que poderão a vir a ser úteis a especialistas da arqueologia. 

Achado  pelo autor deste site
Somos de opinião  que a memória dos antigos povos que ali viveram e edificaram os seus Templos do Sol - locais de culto e de observação astronómica -  deve perdurar e não  ser  apagada, seja de que forma for - Pelo contrário – Por isso, não sendo prudente que se passe à pesquisa de vestígios, apenas por mera curiosidade e sem objetivos científicos,  que poderão constituir-se como autênticos livros abertos e de preciosa leitura aos entendidos. Claro, mas há objetos que, pela sua raridade, logo que achados, devem merecer atento estudo. E foi a preocupação que tivemos ao entregar o amuleto, com esse intuito,  que descobrimos, relativamente próximo da Pedra da Cabeleira,   a Carla Magalhães,  do Parque Arqueológico do Museu do Côa. 

CADA DENTE NA PEDRA - PODERIA TER SIGNIFICADO A  MORTE DE UM ADVERSÁRIO  - VENCIDO POR UM VALOROSO GUERREIRO



 Nas páginas, 343, 344 e 345 -  De Religões da Lusitânia - de José Leite de Vasconcelos, lê-se o seguinte: 


Na anta da Cunha·Baixa (Mangualde), a que me referi a cima, Pág.71, encontrei um objecto de granito, com a conformação indicada na figura 73: o objecto tem de comprimento 1m,20 e de maior largura om,20, apresentando ao longo uma serie de sulcos feitos com toda a regularidade; estava deitado à entrada da camara. Não me parece fácil determinar precisamente o uso d'este objecto. Nunca vi outro igual, conquanto tenha encontrado dentro das antas pedras mais ou menos compridas e irregulares, que talvez lá não fossem postas sem especial intuito I. Num livro do sr. Jolys vem o desenho de um objecto que represento na fig. 74, o qual não deixa de ter alguma parecença com o de cima, embora  talvez seja muito menor, e de outra substância; o A. denomina-o registre-se de  comptes, Inclino-me a crer que o objecto Cunha-Baixa representa um troféu, designado os sulcos em número qualquer (de vitórias, de caçadas,etc): neste caso poderia comprar-se também, quanto ao uso, com os chamados bâtons de commandement, que o sr. Salomon Reinach considera exactamente como troféus. A hypothese que apresento é confirmada por um costume dos Bongos (África): “quando falece uno dos seus valientes guerreros, sus amigos levantan sobre su tumba un montón de piedras, lo cercan com una  pequeña valla de tosca madera y clavan sobre él un tronco  de árbol redondo y lleno de cortes tranversales que, al parecer, indican el número  de enemigos muertos por el defunto”. A diferença entre o costume de África e o nosso está em alli ficar o tropheu sobre a sepultura , e na Cunha-Baixa ter aparecido o objeto dentro do túmulo; todavia, isto depende de uma concepçao secundária: o facto mais importante está na semelhança da fórma dos objetos .

Neste ponto de fallar dos objetos industriaes collocados nas sepulturas, devo lembrar que, se torna crível, de accôrdo com os factos  que citei na página 377, que algumas vezes se deteriorassem, quebrassem ou queimassem, outras vezes, e muitíssimas até, depositavão-nos inteiros, ora já usados , ora perfeitamente novos, sem uso nenhum ainda , como hoje mesmo se faz. A civilização neolíthica não era uniforme; por isso que admira que numas localidades houvesse uns costumes, e noutras costumes diferentes?

Não consistirão só em objetos industriaes as oferendas feitas aos mortos. Tanto nas grutas, como nas sepulturas de pedra, se tem encontrado  com mais ou menos frequência  ossos de animaes.

CHÃS - UMA FREGUESIA DO CONCELHO DE FOZ CÔA, A  CARECER  DE MUITO ESTUDO AINDA MAIS VASTO E APROFUNDADO

A lendária Pedra Camilo - termo Chás
Achados pelo autor deste site
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A freguesia de Chãs, pertence ao concelho de Vila Nova de Foz Coa, de que dista 14 Km , mas  já pertenceu  a Longróiva, Concelho de Meda, até meados do século IXX - Assim o testemunham, os registos  "no Tombo da Comenda de Santa Maria de Longryoiva, de 1773,  é denominada  de Chanes e posteriormente Chans de longroiva  ou S. Caetano de chans de Longroiva", diz, Joaquim Trabulo, "Por Veredas do Vale do Côa - Roteiros de Chãs. Referindo, que,  "parte do seu território está implantado numa zona planáltica    e chá, dnde lhe vem o nome, e a parte restante é acidentada, o que lhe permite o cultivo de uma grande variedade de produtos agrícolas, pois beneficia de um microclima tipo ibero-mediterrânico."

Punhal da Idade do Bronze - achado por Paulo Almeida
Achados pelo autor deste sit
Neste interessantíssimo estudo, Joaquim Trabulo, um dos filhos desta terra que mais se tem debruçado sobre as origens do torrão onde nasceu, recorda que, " povos antigos - desde o período Paleolítico  ao período romano - deixaram por cá rastos da sua presença , através de muitos vestígios arqueológicos dispersos pela freguesia: no actual povoado, nas Quintas, na Quinta da Barca, Quinta de Santa Maria ou da Ervamoira, Quebradas, Pedreiras, Pinhal do Esquife, Cabeleira de Nossa Senhora, Fragas, Castro do Muro, Castro do Gamboa, Castelo Velho, Tambores e Forninhos.

Mó (dormente)-  Pedra da Cabeleira
Achados pelo autor deste site
O subsolo tem algumas minas de certa importância, presentemente desactivadas, de estanho, volfrâmio e chumbo: minas da Carvalha  ou Graciaviais, Costa das Chãs, a que Plinto teria aludido, e das Estercadas ou Tercadas"

Todo o concelho de Vila Nova de Foz Cõa é possuidor de um importantíssimo património arqueológico e histórico, a começar pelas  gravuras rupestres do Vale do Côa - A  freguesia de Chãs, a que pertence, é um dos exemplos: tanto na área  xistosa da margem esquerda do Rio Côa, no termo do qual foi descoberto o fabuloso  núcleo das gravuras paleolíticas da Quinta da Barca, como na zona granítica, quer mesmo onde se situa a própria aldeia, como nalguns dos seus arredores, apresentam vestígios das várias civilizações pré-históricas."


De facto, tal como  temos  referido, a avaliar pelos vestígios 
arqueológicos,  já estudados, o maciço dos Tambores, mancheia e quebradas é um importantíssimo livro aberto da pré-história: sobranceiro a um dos mais belos e férteis vales da hidrografia do Vale do Côa,  ali se refugiaram povos muito antigos, nomeadamente do neolítico, calcolítico, da idade do ferro e do bronze, que, aproveitando os naturais abrigos, as cavernas abertas nos enormes megálitos, as concavidades e grutas dos encastelados afloramentos,  ali implantaram os seus  acampamentos, valendo-se de grotescas lascas e pedras soltas, de cujas construções ainda prevalecem  abundantes vestígios - 


Ali sepultaram os seus mortos, cultuaram os seus deuses, ergueram  sagrados altares, que tanto podiam servir como locais de culto e de sacrifícios, como de espantosos observatórios astronómicos.  - Assim o testemunham os vários alinhamentos sagradosjá descobertos - direcionados com fim e o inicio de cada estação do ano - Assim o testemunha o olhar maravilhado de todos aqueles que têm assistido às nossas festas e celebraçõesjunto desses mesmos altares.



Adriano Vasco Rodrigues
E, realmente, assim o  tem comprovado, a  especial atenção, dispensada por   vários investigadores e estudiosos: nomeadamente, Adriano Vasco Rodrigues, o primeiro investigador a debruçar-se sobre o estudo da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora; bem como  das monografias (Chãs - de Foz Côa e "Por Veredas do Vale do Côa), de Joaquim Manuel Trabulo)dos achados (punhal em bronze) do Eng. Paulo Almeida); dos valiosos contributos dos arqueólogos, Sá Coixão e Gonçalves Guimarães, que, igualmente, desde há vários anos, se têm debruçado sobre o estudo desta área - E, nomeadamente, por parte do Parque  Arqueológico do Vale do Côa, nas escavações levadas   a cabo nas Quebradas, a curta distância daquele santuário rupestre (ou seja na área geralmente definida de pedras dos Tambores), sob a orientação do arqueólogo António Faustino de Carvalho Carvalho, A. F. (1999) - Os sítios de Quebradas e de Quintas  Além de outros importantes contributos, a que já nos ferimos em anteriores postagens.

De interesse:  Economias neolíticas e megalitismo; ... Encontro de Arqueologia da Arrábida - Repositório da ...


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