Retrato a óleo, inédito, sobre tela, 80X100, de Augusto Gomes Martins, natural de Setúbal - Hoje quase esquecido, teve grande destaque internacional a partir de meados do século XX. - Refere a exposição, apresentada, em 24 de Março,na Casa da Baía, em Setúbal, por ocasião dos 90 anos do nascimento do artista.
Dizendo que " a recuperação da memória do artista deve-se aos
familiares, interessados em perpetuar na cidade onde nasceu Gomes Martins o
nome de um excelente pintor, cujos trabalhos ainda hoje são transacionados com
frequência no mercado internacional de arte" -
Sim, pena é, que, alguns leiloeiros, nem sempre saibam valorizar a arte, e toca a
despachar para logo arrecadar, sem demora, seja a que preço for, o que vem à
rede é peixe; mais das vezes aquém do merecido mérito da obra e do artista
Há uns anos, uma pessoa amiga, pediu-me para colocar no mercado, duas
dezenas de obras inéditas de Almada Negreiros e de Sara Afonso, mulher do
artista, que também era uma excelente pintora. À porta da entrada do leilão, observei vários olhos
fitos e a bichanarem uns com outros, contudo, só um deles é que licitou. -
Tudo, no seu conjunto, não foi além dos cinco mil contos, uma ninharia
É referido, também no mesmo texto daquela exposição, que, Augusto Gomes
Martins nasceu em Setúbal, cidade onde a família desenvolveu durante toda a
vida um negócio de distribuição alimentar. Cedo saiu da terra que o viu nascer
e partiu à descoberta do mundo. A sua curiosidade caracterizava-o. Irrequieto e
aventureiro, percorreu todos os locais que a sua necessidade de observação
exigiu.
Conviveu pouco com outros artistas – as constantes viagens não o permitiam
– mas manteve amizades, amigos de muitas conversas sobre as preocupações que as
telas em branco desferem nas consciências.
O mundo preencheu o seu tempo. Sentiu-se bem em todos os lugares que
visitou, sempre acompanhado por Maria Adelaide, sua companheira de todas as
incursões, conheceu galeristas, pintores e amigos de influências várias. Essas
convivências e a sua própria capacidade de relacionamento permitiram que
fizesse exposições em todo o mundo. Chegou a ficar temporadas a pintar em
paisagens distantes. As encomendas assim o exigiam. Retratou papas e mendigos.
Empresários influentes e pescadores. Amigos de família e desconhecidos. Gente a
quem conferia a importância de passar para a tela. Desenhava muito e muito bem.
Foi paisagista de mérito. Pintou retrato realista. Retratou com laivos
caricaturais. Experimentou com sucesso a abstração: alguns dos seus mais
interessantes trabalhos inscrevem-se neste registo.
Viveu intensamente e morreu discretamente, em Lisboa, em Janeiro de 1994"
No entanto, ainda persistem ruas e edificios, um património edificado bonito, que não foi desfigurado e vai dando rosto e identidade à cidade - Aos cerca de 120 mil habitantes, numa área que se estende por 170 km², composta, em grande parte, pela Reserva Natural da Serra da Arrábida
e voltada para uma belíssima costa marítima.
Os
brasileiros tecem rasgados elogios a esta cidade, nas páginas da internet, aconselhando os que desejavam "viver cercados pela natureza, em uma cidade tranquila e com ótima
qualidade de vida Dizendo que “a cidade é a 23ª maior do país, tem uma
excelente infraestrutura com hospitais e centros de saúde, diversas escolas do
pré ao ensino médio, instituições politécnicas, bancos, pequenas e grandes
empresas, e um comércio bem atrativo.
No entanto, também se constata, noutras pesquisas,
que, para quem dependa do ordenado mínimo, tem que saber gerir bem o seu
orçamento – isto porque se diz que um “Apartamento
(1 quarto) no Centro da Cidade 542,86
€; Apartamento (1 quarto) Fora do Centro 464,29
€; Apartamento (3 quartos) no Centro da Cidade 800,00
€
Por isso, longe vão os dias, das rendas vitalicias e em que as
fábricas setubalenses funcionavam e proporcionavam milhares de postos de
trabalho. Pagos a preços miseráveis, é certo, mas ao menos ainda
havia algo em que lançar a mão para sobreviver.
Agora, o que por lá se descobre, tal como por muitos pontos do país, são também
os escombros das antigas unidades industriais. - Por força da sua deslocalização para outras paragens e também
das cadeias de hipermercados, que vieram dar a grande machadada em
pequenos e médios comerciantes.
Mas há que procurar inovar ou desenrascar - Como é sabido, há sempre quem procure alternativas e não cruze os braços. - É o exemplo de que lhe venho recordar de Eduardo Silva, numa visita que fiz, em 2015, à Mercearia Confiança do Troino, uma das mais antigas de Setúbal, situada na Praça Machado dos Santos, antigo Largo da Fonte Nova, em Setúbal, fundada em 1926, recuperada para museu e espaço cultural, desde o principio daquele ano
A qual, pela singularidade revelada, sim, por documentar profusamente uma certa época, já atraiu
uma equipa de filmagens para uma telenovela, com uma cena que decorre no bairro da Fonte Nova, vizinha da Troino, “cuja origem se atribui a indivíduos vindos de Tróia no século XIII, nas cercanias do Convento, onde estão instaladas as freiras da congregação de Madre Teresa de Calcutá”.
Espaço
cultural este que evoca costumes e traz à lembrança muitas estórias
que os mais velhos gostam de reviver e os mais novos de ouvir contar – Pelo que
se antevê, palco de agradáveis momentos culturais e de
convívio, tal como sucedeu com a apresentação "Do Mapa
Cor de Rosa à Europa do Estado Novo// Diplomacias, macroeconomia.. e ainda o
colonato judaico para Angola, de autoria do jornalista e escritor Álvaro
Henriques do Vale, à roda de um grupo de amigos e curiosos., ao mesmo
tempo que iam petiscando uns saborosos nacos de presento e um nutritivo pão,
acompanhados de pastéis de nata e um vinho da região, a condizer, a que me
referi neste blogue, em https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2015/04/mercearia-em-museu-num-portugal-pobre.html
Diz o herdeiro de uma dessas velhas mercearias, que o negócio agora já não
tem viabilidade.
Os hábitos alteraram-se. Mas há um passado, com a sua história
e que não deve ser esquecido, pelos mais novos. – Sim, a figura do
antigo merceeiro, não era só a do vendedor de géneros
alimentícios mas também o homem a quem competia aferir
comportamentos sociais, das pessoas que tinham que ter um carimbo da mercearia
para atestar o seu grau de idoneidade, nomeadamente para os contratos de rendas
de casas, de água e eletricidade, era praticamente uma instituição –
E é justamente esta e outras memórias que, Eduardo Silva,
antigo professor do liceu, engenheiro químico-industrial aposentado da
papeleira Inapa, aos 75 “anos, decidiu preservar.
Ao transformar uma antiga mercearia familiar num espaço cultural, num lugar de tertúlia e de convívio de várias gerações. Onde pais, filhos, a vós e netos, numa espécie de museu ao vivo, comercial e sociológico, de mostruário de utensílios (desde os pesos e balanças, às tulhas, talhas e caixa registadora), aos produtos e às embalagens, que os caracterizaram e deixaram de aparecer no mercado, ali possam convier e recordar os tempos que marcaram uma época.
Este o louvável objetivo de Eduardo Silva, ao recuperar a típica do
"Sr . César"”, como preito de homenagem ao seu pai, o Sr. César
Figueiredo da Silva, (1904- 1998)– com a mesma imagem de como a conheceu na sua
adolescência, e ao longo de muitos anos da sua vida, sem apoios oficiais mas
com muito empenho, de modo muito carinhoso, afetivo, com fins de carácter
evocativo e pedagógico, especialmente às crianças e à população escolar.
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