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sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Pintor Setubalense Gomes Martins - 1922-1994 – Tributo a um talentoso artista português, que não deve ser esquecido - Nascido na Cidade Raínha do Sado

Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Retrato a óleo, inédito, sobre tela, 80X100, de Augusto Gomes Martins, natural de Setúbal - Hoje quase esquecido, teve grande destaque internacional a partir de meados do século XX. - Refere a exposição, apresentada, em 24 de Março,na Casa da Baía, em Setúbal, por ocasião dos 90 anos do nascimento do artista.

Dizendo que " a recuperação da memória do artista deve-se aos familiares, interessados em perpetuar na cidade onde nasceu Gomes Martins o nome de um excelente pintor, cujos trabalhos ainda hoje são transacionados com frequência no mercado internacional de arte" -

Sim, pena é, que, alguns leiloeiros, nem sempre saibam valorizar a arte, e toca a despachar para logo arrecadar, sem demora, seja a que preço for, o que vem à rede é peixe; mais das vezes aquém do merecido mérito da obra e do artista

Há uns anos, uma pessoa amiga, pediu-me para colocar no mercado, duas dezenas de obras inéditas de Almada Negreiros e de Sara Afonso, mulher do artista, que também era uma excelente pintora. À porta da entrada do leilão, observei vários olhos fitos e a bichanarem uns com outros, contudo, só um deles é que licitou. - Tudo, no seu conjunto, não foi além dos cinco mil contos, uma ninharia

É referido, também no mesmo texto daquela exposição, que, Augusto Gomes Martins nasceu em Setúbal, cidade onde a família desenvolveu durante toda a vida um negócio de distribuição alimentar. Cedo saiu da terra que o viu nascer e partiu à descoberta do mundo. A sua curiosidade caracterizava-o. Irrequieto e aventureiro, percorreu todos os locais que a sua necessidade de observação exigiu.

Conviveu pouco com outros artistas – as constantes viagens não o permitiam – mas manteve amizades, amigos de muitas conversas sobre as preocupações que as telas em branco desferem nas consciências.

O mundo preencheu o seu tempo. Sentiu-se bem em todos os lugares que visitou, sempre acompanhado por Maria Adelaide, sua companheira de todas as incursões, conheceu galeristas, pintores e amigos de influências várias. Essas convivências e a sua própria capacidade de relacionamento permitiram que fizesse exposições em todo o mundo. Chegou a ficar temporadas a pintar em paisagens distantes. As encomendas assim o exigiam. Retratou papas e mendigos. Empresários influentes e pescadores. Amigos de família e desconhecidos. Gente a quem conferia a importância de passar para a tela. Desenhava muito e muito bem. Foi paisagista de mérito. Pintou retrato realista. Retratou com laivos caricaturais. Experimentou com sucesso a abstração: alguns dos seus mais interessantes trabalhos inscrevem-se neste registo.

Viveu intensamente e morreu discretamente, em Lisboa, em Janeiro de 1994"


CIDADE DE SETÚBAL -  LONGE VÃO OS TEMPOS ÁUREOS  DA PRINCESA DO SADO 

No entanto, ainda persistem ruas e edificios, um património edificado bonito, que não foi desfigurado e  vai dando rosto e identidade  à cidade  - Aos  cerca de 120 mil habitantes, numa área que se estende por 170 km², composta, em grande parte, pela Reserva Natural da Serra da Arrábida e voltada para uma belíssima costa marítima. 

Os brasileiros tecem rasgados elogios a esta cidade, nas páginas da internet, aconselhando os que desejavam "viver cercados pela natureza, em uma cidade tranquila e com ótima qualidade de vida Dizendo que “a cidade é a 23ª maior do país, tem uma excelente infraestrutura com hospitais e centros de saúde, diversas escolas do pré ao ensino médio, instituições politécnicas, bancos, pequenas e grandes empresas, e um comércio bem atrativo.

No entanto, também se constata, noutras pesquisas, que, para quem dependa do ordenado mínimo, tem que saber gerir bem o seu orçamento – isto porque se diz  que um “Apartamento (1 quarto) no Centro da Cidade          542,86 €; Apartamento (1 quarto) Fora do Centro  464,29 €; Apartamento (3 quartos) no Centro da Cidade        800,00 €

Por isso, longe vão os dias, das rendas vitalicias e  em que  as fábricas setubalenses funcionavam e proporcionavam milhares de postos de trabalho. Pagos a preços miseráveis, é certo,  mas ao menos ainda havia algo em que lançar a mão para sobreviver. 

Agora, o que por lá se descobre, tal como por muitos pontos do país, são também os escombros das antigas unidades industriais. -  Por força da sua deslocalização para outras paragens e também das  cadeias de hipermercados, que vieram dar a grande  machadada em pequenos e médios comerciantes.

Mas há que procurar inovar ou desenrascar - Como é sabido, há sempre quem procure alternativas e não cruze os braços. - É o exemplo de que lhe venho recordar de Eduardo Silva, numa visita que fiz, em 2015, à Mercearia Confiança do Troino, uma das mais antigas de Setúbal, situada na Praça Machado dos Santos, antigo Largo da Fonte Nova, em Setúbal, fundada em 1926,  recuperada para museu e espaço cultural, desde o principio daquele ano

 A qual, pela  singularidade revelada,  sim, por documentar profusamente   uma certa época, já  atraiu 

uma equipa de filmagens para uma telenovela, com uma  cena que decorre no bairro da Fonte Nova, vizinha da  Troino, “cuja origem se atribui a indivíduos vindos de Tróia no século XIII, nas cercanias do Convento, onde estão instaladas as freiras da congregação de Madre Teresa de Calcutá”.


Espaço cultural este  que evoca costumes e traz à lembrança muitas estórias que os mais velhos gostam de reviver e os mais novos de ouvir contar – Pelo que se antevê, palco   de agradáveis momentos culturais e de convívio, tal como sucedeu  com a apresentação  "Do Mapa Cor de Rosa à Europa do Estado Novo// Diplomacias, macroeconomia.. e ainda o colonato judaico para Angola, de autoria do jornalista e escritor Álvaro Henriques do Vale, à roda de um grupo de amigos e curiosos., ao mesmo tempo que iam petiscando uns saborosos nacos de presento e um nutritivo pão, acompanhados de pastéis de nata e um vinho da região, a condizer, a que me referi neste blogue, em  https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2015/04/mercearia-em-museu-num-portugal-pobre.html 




Diz o herdeiro de uma dessas velhas mercearias, que o negócio agora já não tem viabilidade.


 
Os hábitos alteraram-se. Mas há um passado, com a sua história e que não deve ser esquecido, pelos mais novos.  – Sim, a figura do antigo merceeiro, não era só a do vendedor de géneros alimentícios  mas também o homem a quem competia aferir comportamentos sociais, das pessoas que tinham que ter um carimbo da mercearia para atestar o seu grau de idoneidade, nomeadamente para os contratos de rendas de casas, de água e eletricidade,  era praticamente uma instituição – E  é justamente esta e outras memórias que,  Eduardo Silva, antigo professor do liceu,  engenheiro químico-industrial aposentado da papeleira Inapa,  aos 75 “anos, decidiu  preservar. 

Ao  transformar uma antiga mercearia familiar num espaço cultural,  num lugar de tertúlia e de convívio de várias gerações.  Onde pais, filhos, a vós e netos, numa espécie de museu ao vivo, comercial e sociológico, de mostruário de utensílios (desde os pesos e balanças, às tulhas, talhas e caixa registadora), aos produtos e às embalagens, que os caracterizaram e deixaram de aparecer no mercado, ali possam convier e recordar os tempos que marcaram uma época. 


Este o louvável objetivo de Eduardo Silva, ao recuperar a típica do "Sr . César"”, como preito de homenagem ao seu pai, o Sr. César Figueiredo da Silva, (1904- 1998)– com a mesma imagem de como a conheceu na sua adolescência, e ao longo de muitos anos da sua vida, sem apoios oficiais mas com muito empenho, de modo muito carinhoso, afetivo, com fins  de carácter evocativo e pedagógico, especialmente às crianças e à população escolar.

 

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