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sábado, 20 de setembro de 2014

Celebrar Equinócio do Outono 2014, dia 23, às 08.00, no altar sacrificial de Calendário Pré-histórico, dos “Tambores” e “ Mancheia” - Num dos Sagrados Templos do Sol , ao som de violino e guitarra de dueto ALE&OLE, com poemas de Maria da Assunção Carqueja para agradecer à Mãe-Natureza os frutos, evocando ritos ancestrais dos povos sobranceiros ao Vale Maravilha da Ribeira Centeeira e Piscos

(atualização)  Com a presença do Prof. Adriano Vasco Rodrigues


Não deixe de também consultar o post anterior Dia 23 - Celebramos o Equinócio do Outono 2014
Pedra do Sol Cabeleira de Nª Srª 40º 59´ 39.94" N - 7º 10´ 35-46" W

"Não foi sem razão que os antigos Persas edificaram/as aras nos mais elevados lugares, no cume/das montanhas que contemplam a terra, e assim escolhem/um templo verdadeiro e sem muros, onde encontram/o Espírito para quem tão pequeno é o valor dos santuários erguidos pelas nossas mãos. /Vinde então comparar colunas e altares de ídolos, góticos ou gregos,/com os lugares sagrados da Natureza, a terra e o ar,/e não vos confineis a templos que limitam as vossas preces.”  Byron

O maciço  dos Tambores, a curta distância da aldeia de Chãs, é uma vez mais o cenário mítico para assinalar a entrada das estações do ano – Eventos que já se impuseram, naturalmente, nas celebrações dos calendários pré-históricos mundiais,   pela sua visível ligação ao passado histórico antiquíssimo destes mesmos lugares.

"Em 2014 o Equinócio de Outono ocorre no dia 23 de Setembro às 03h29m. Este instante marca o início do Outono no Hemisfério Norte. Esta estação prolonga-se por 89,815 dias até ao próximo Solstício que ocorre no dia 21 de Dezembro às 23h03m. Equinócio de Outono 2014 - Universidade de Lisboa


JÁ É POSSÍVEL VER O ALINHAMENTO SAGRADO AS MANHÃS POR AQUI TEM BRILHADO 



Vídeo gravado às 08.00 da manhã de hoje, com os raios solares já a  atravessarem a cripta  (em semi-arco) do Santuário Rupestre da  Pedra da Cabeleira de Nª Sra  - Ainda ligeiramente não junto ao centro do seu eixo mas a diferença já é mínima.


Por estas bandas, onde termina o granito da  Meseta Ibérica e se abrem as  ladeiras xistosas e vinhateiras do Douro Maravilhoso,)  a manhã raiou sob um céu limpo e banhado de sol – A partir do meio dia, turvou-se de nuvens, porém, desde hoje,  já nos deu a oportunidade de contemplar a entrada do raios solares matinais através da graciosa gruta da Pedra da Cabeleira de Nº Senhora  

O alinhamento perfeito só atravessará o eixo deste antiquíssimo Calendário Solar, justamente na manhã do próximo dia 23, Terça-feira, contudo, dois a três dias antes ou depois, é possível observar o auspicioso alinhamento solar equinocial. Todavia, . Independentemente das contingências do tempo,  não deixaremos de o celebrar

DIA 23 ÀS 08.00 DA MANHÃ



O inicio do Outono vai  ser celebrado no próximo  dia 23, às 08.00 horas, aos sons de violino e de guitarra pelo dueto ALE&OLE, de forma simples mas  de expressivo simbolismo e profundo pendor místico e alcance histórico, com a leitura de poemas de Maria da Assunção Carqueja, 8 anos depois de ali ter estado com o seu esposo, Prof. Adriano Vasco Rodrigues  - Natural de Felgar, concelho de Moncorvo, falecida em 9 de Setembro do ano passado, e  que, nos últimos anos da sua vida, buscou na poesia o seu conforto espiritual, como forma de atenuar a doença que atormentava.

SAUDAR OUTONO COM A POETA QUE CELEBRA A VIDA E A TERRA ONDE NASCEU - MUITO PRÓXIMA DOS  MESMOS HORIZONTES DOS TEMPLOS DO SOL

Sim, vamos agradecer à Mãe-natureza, as colheitas da terra (nomeadamente as uvas, os figos, as amêndoas e o azeite  que  a entrada do Outono já amadureceu ou vai ainda amadurecer, lendo belos poemas de Maria Assunção Carqueja, que celebram a vida e “um novo dia”, cantam a “alma que nasceu lá entre montes/curvados no azul do infinito…./Bebeu água das fontes/que botam entre rochas de granito/Espreitou aves e ninhos/nas silvas e giestas dos caminhos” , a poeta “da amplitude do Mundo que reduz na sua esplêndida dimensão  humana, ao desejo de “trazer o Céu à Terra/ e de dar a cada Homem alegria”  A poeta de "O saber sonhar" e, fundamentalmente o amor que tem "luz e cintilação", o amor força, rumo, calor e refúgio

OPORTUNIDADE DE RARA BELEZA

Oportunidade de inexplicável brilho e magnificência que os participantes poderão observar, saudando e contemplando  os magníficos  raios do esplendoroso leão dos Céus, que nos anuncia - com o mesmo brilho de outras eras, tal como se mostrou  aos povos que ali cultuaram e veneraram a auspiciosa entrada do Outono.

- Justamente no  dia e a noite se reparte  de igual modo, entre a luz e as trevas  - Hora de júbilo e de  ascensão que saúda e brinda a generosa estação da colheitas, dos frutos que o sol do Verão ajudou a crescer e  que, agora o Outono amadurece,  como dádiva divina, tal o colorido nostálgico, os odores e os sabores, as fragrâncias,  os perfumes, o incomparável garrido das aguarelas  das suas folhas, com que nos são presenteados



Tom Graves, autor de Agulhas de Pedra - A Acupunctura da Terra , o famoso livro de investigação, sobre a influência da terra na alma e vida do ser humano, deslocou-se, em Outubro de 2008,  da Austrália aos Templos do Sol , para ali confirmar a sua teoria de que «Em toda a parte existe uma interação entre as pessoas e o lugar – e o lugar também tem as suas escolhas.»tom graves veio da austrália para estudar as pedras

LUGAR MÁGICO

É um local mágico, pleno de história e de misticismo, dos tais lugares da terra onde a beleza e o esplendor solar se podem repetir à mesma hora e com a mesma imagem contemplativa de há vários milénios pelos povos que habitaram a área. Que se espera venha a ocorrer se as condições atmosféricas o permitirem, durante os vários minutos em que a cripta do enorme penedo é atravessado pelos raios solares da manhã.

O enorme penedo, orientado no sentido nascente-poente, possui uma gruta em forma de semi-arco, com cerca da 4,5 metros de comprimento e sensivelmente a mesma altura, que é iluminada pelo seu eixo, no momento em que o Sol nasce. Admite-se ter sido erguido e cultuado por antigos povos que se fixaram no maciço granítico dos Tambores, Mancheia e Quebradas, aproveitando-se dos seus penhascos rochosos como defesa e abrigo natural e, como fonte de sobrevivência, as bagas e os frutos das  espécies  autóctones e das produzidas no  fertilíssimo vale da Ribeira Centeeira,  dos Picos, que lhes ficava sobranceira

STNOHENGE PORTUGUÊS

Estes megálitos, são conhecidos por alinhamentos sagrados, remontam ao período megalítico e existem em várias partes do mundo, mas sobretudo na Europa. Sendo o mais famoso o Stonehenge. Muitos destas gigantes estruturas estão em perfeito alinhamento com os corpos celestes, especialmente com os Equinócios e os Solstícios - Perpectuam memórias de verdadeiros calendários astronómicos, que antigas civilizações elegeram como especiais locais de culto – Vários estudiosos, que visitaram os templos megalíticos dos Tambores, em Chãs, conferem-lhes significado e importância e comparam-nos a alguns dos mais curiosos monumentos que ainda subsistem.

UM DOS PONTOS NODAIS DAS VEIAS TELÚRICAS DA TERRA

“Dirigir-se frequentemente a determinados lugares que tenham uma carga mística, ou, pelo menos, de vez em quando, a banhar-se um pouco naquele ambiente  é algo que alimenta a nossa alma. 

Naturalmente, uma consciência sujeita a este estado tem necessariamente de sofrer alguma alteração, uma transmutação tanto mais forte tanto o impacto sofrido pela compreensão que lhe foi “revelado”. Algo a tocou e a despertou  para um estado superior de compreensão, de uma experiência vivida. Estados destes são muito similares àqueles que nos são relatados  pelos grandes místicos da humanidade  como, por exemplo, S. João da Cruz e Santa Teresa de Ávila. A aquisição de tais conhecimentos  e experiências vividas  nesse “momento de revelação” são fruto de profundos estados de êxtase que, necessariamente, se deverão reflectir em acções.” – Escreveu Eduardo Amarante, em Lugares Mágicos






Albano Chaves, autor de descoberta do alinhamento das “Portas do Sol”, com o solstício do Inverno, num desenvolvido estudo que apresentou neste site, em
Março 2012 - vida-e-tempos, diz o seguinte, referidno-se à Pedra da Cabeleira de Nª Srª

O eminente historiador, arqueólogo, investigador e autor Dr. Adriano Vasco Rodrigues descreve assim esta pedra[1][1][1]: O penedo tem o seu assento sobre uma vasta superfície rochosa granítica. A face poente está desbastada como uma enorme testa. Na parte inferior rasga-se uma abertura com cerca de um metro de diâmetro, que dá entrada para uma espaçosa câmara com uma altura de um metro e meio. Este espaço comunica com o exterior por outra abertura rasgada na face oriental.

No tecto desta câmara notam-se manchas avermelhadas de sais de ferro parecendo resultarem de uma pintura destruída pela erosão produzida pela corrente de ar, estabelecida pelas duas entradas.

Na vasta câmara, rasga-se, à direita de quem entra pela face ocidental, um nicho onde se pode introduzir um homem. A cúpula desse nicho é arredondada, ajustando-se perfeitamente a uma cabeça humana e tendo desenhado de forma impressionante, como se houvesse sido escalpelada, uma cabeleira humana negra, longa e desgrenhada. O material da coloração é constituído por sais de manganésio, como revelou a análise.

Levei ali um geólogo, o Sr. Eng. Carlos Pires Lobato, visto ter dúvidas se devia considerar a "cabeleira" como o resultado dum capricho da natureza, ou uma intencional pintura humana. As dúvidas persistiram. De qualquer modo é evidente que a "cabeleira de Nossa Senhora" serve desde remotas eras uma tradição cultual.

No exterior, a curta distância da entrada poente, está uma pedra quadrangular com 1,50 m de lado por 15 cm de espessura, em forma de arco. Devia ter sido adaptada à entrada. No alto da enorme cabeça está uma tosca escultura simbolizando uma figura humana, com a cabeça do tipo triangular.

(…) O povo ligou uma lenda cristianizada àquele lugar. Assim, a Virgem Maria na sua caminhada para o Egipto, num dia de estio, à semelhança do que ainda agora fazem os pastores com os rebanhos, recolheu-se naquela lapa para repousar. Ao partir, os cabelos, que haviam tocado na rocha, focaram ali gravados para sempre...

Quanto ao período de utilização deste santuário, ele remontaria à revolução neolítica.
Diz ainda o Prof. Adriano Rodrigues[2][2][1]: Em 1957, tive oportunidade de estudar a fraga conhecida com o nome da Cabeleira de Nossa Senhora, que classifiquei como santuário pré-histórico, integrado cronologicamente na revolução neolítica. Pelas suas características sugere a existência de um culto ao crânio, característico, na Península Hispânica, da transição do Paleolítico para o Neolítico, segundo o Prof. Pericot. A identificação com uma entidade feminina, que sofreu consagração à Virgem Maria, acompanhada de lenda popular, sugere um culto inicial à Deusa Mãe, símbolo da fertilidade."

 Albano Chaves, no notável estudo que teve a amabilidade de nos oferecer, antes de apresentar a sua descoberta, tece estas palavras das pedras de Chãs:


"Um sono milenar está a chegar ao fim. Pedras, enormes umas, mais pequenas outras, emitem sons, balbuciam palavras continuamente desde há muito. Dez, quinze, vinte, cinquenta mil anos? Ninguém as ouvia, no entanto. Falam por si, entre si, estabelecem ligações. Formam figuras geométricas no terreno, que é preciso olhar, ver, identificar, ler, entender, integrar em expressões, frases, períodos, textos, crónicas.

"O Maciço das Lapas e das Quebradas, na freguesia de Chãs, concelho de Vila Nova de Foz Côa, onde a Meseta Ibérica se despede, despenhando-se para o Graben de Longroiva, acorda agora ao som de pétrea vozearia, que acorre a pétreo chamamento. 


Chãs, contrariamente ao que poderia parecer – terreno chão ou plano – provém do acádico shamsh [lê-se xâmexe], que significa o astro «sol», a divindade «sol» e também «relógio de sol», como diz o Prof. Moisés Espírito Santo, professor universitário, etnólogo, sociólogo, filólogo e linguista[1][1][1].

Que ouve Chãs?
Que vê Chãs?
Que sente Chãs?
Parece que ouve, mas nenhum som compete com ladrar de cão ou balir de ovelha.
Parece que vê, mas o que vê é apenas o que pensa ter visto sempre: pedras.
Parece que sente, mas o que parecia sentir esvaiu-se como sonho ao acordarmos.
Acorre gente de fora, trazida por alguém da terra.
Mede-se, perscruta-se, rodam varas de vedores, há quem use GPS. Porquê? Para quê?
Uma pedra começou a falar mais alto. Vamos ouvir o que tem para dizer."


Não perca o estudo, que foi também publicado em http://www.vida-e-tempos.com/2012_03_01_archive.html -Albano Chaves, natural de Leça de Palmeira mas que tem a ligação maternal ao concelho de Vila Nova de Foz Côa, através do apelido Donas-Boto - Tradutor e especialista de línguas germânicas . – É um investigador apaixonado pela Arqueoastronomia

O VERBO OPERA PRODÍGIOS - É APENAS UMA QUESTÃO DE SABER PRONUNCIAR A PALAVRA E ESCOLHER O LUGAR

“A luz resplandece nas trevas, e contra elas as trevas não prevaleceram. (..)Havia a verdadeira luz que, vinda ao mundo, alumia a todo o homem.” Palavras do apóstolo João, mas cujo eco repercute dos primórdios da Humanidade,  sob diversas formas, desde o paganismo às religiões instituídas.

 Assim as terão interpretado todos aqueles que, desde tempos imemoriais, celebraram, com os seus ritos o astro solar, harmonizavam as suas vidas com os ciclos das estações, viam nos seus raios,  a fonte da vida, a luz purificadora e regeneradora, agradeciam e celebravam as grandes dádivas da Mãe-natureza. - Acreditavam que «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. – O que divergiu não foi a intenção mas o meio ou a a imagem de imaginar Deus  – Entre os  que procuram o contato com o sagrado, o divino, nas igrejas ou catedrais ou aqueles que se recolhem nos lugares mágicos, nos lugares sagrados da Natureza É justamente na esteira dessas tradições esquecidas, que, mais uma vez, nos dirigimos aos Templos do Sol.

MARIA DE ASSUNÇÃO CARQUEJA – DA “MANHÃ É OUTRO DIA” – A OBRA E O PERFIL TRAÇADO POR MANUEL DANIEL



POUCO SEI E NADA SEI

O que sou no Universo?
como gota em vendaval
Ou grão perdido e disperso
na areia do areal?

Um mundo imenso e diverso
onde lutam Bem  e Mal
um mundo tão controverso
tem um destino…. mas qual?

A imensidão em que vivo
começou….porque motivo?
Quem lhe destino e lei?

No devir que vou vivendo
neste meu fugaz  ir sendo
pouco sou… e nada sei!

Maria da Assunção Carqueja

Na penúltima edição de OFOZCOENSE”, Manuel Pires Daniel (prestigiado advogado e distinto homem das letras, além dos relevantes serviços em prol do poder local) referindo-se ao último livro de poesia (edição póstuma), de Maria da Assunção Carqueja, começou por recordar  o seguinte:

"Descobri o seu nome pelos idos de 50, pela mão do meu querido amigo Prof. Adriano Vasco Rodrigues, que veio a ser o seu marido e que, então, coordenava no quinzenário "Luz da Beira'', da Meda, um suplemento literário que veio a inserir trabalhos de jovens como José Augusto Seabra, Eurico Consciência e outros.


Maria da Assunção Carqueja era já uma excelente poeta, natural do Felgar - Moncorvo e estudante da Universidade de Coimbra. Desde logo a fixei. Os seus versos fluíam, como água corredia, quase em surdina, mas dizendo muito. Poesia daquela que nos fala à alma e que se exprime tao bem que chega a dizer muito em muito pouco. 


Fui acompanhando as felizes aventuras do casal, vicissitudes à altura das suas reais capacidades, e, em contraponto, a poesia da Dr' Maria da Assunção Carqueja, impunha-se-me como uma das belas vertentes do casal. Com o avolumar dos currículos de cada um, ia-se avolumando igualmente o acervo de livros que o casal produzia, como se outros filhos fossem além dos sue quatro belos rebentos. 


Diria, à boa maneira da nossa gente, que Maria da Assunção Carqueja foi derramando muito da sua produção, mormente a poética, por uma boa mancheia de títulos: "Versos do meu Diário" (com pseudónimo Miriam, 1978; "Porquê, mais que nada", 2002, "Os tempos do Tempo". 2005, "Jardim da Alma", 2008, "Torre de Moncorvo" (história em verso) e "As nuvens passam ... " (edição póstuma), 2014. 


Deixando de parte toda a sua actividade académica, em Portugal, Angola e no coração da Europa, onde, com o seu marido, foram semeando cultura e saber, exercendo cargos brilhantes, participando em ilustrados congressos, importe-nos mais a sua actividade intelectual e espiritual, sobretudo esta, como expressão mais pura dos seus sentimentos. E, no caso da autora, o seu mundo criativo, esse "espaço moral que foi sempre uma descoberta em crescendo. Com um vocabulário simples, mas preciso na sua acepçao, os seus poemas como que lhe irrompiam do chão, em tudo sabendo ver um tema interessante: uma pedra, um passarito, o cansaço, as mãos dadas, a amizade, a dúvida, ou o amor em todas as suas dimensões, em especial, o amor conjugal, que deixava antever  como uma felicidade plena. que todavia receava perder, a ponto de pedir "não me deixes deixar-te ". É  uma poesia aparentemente simples, mas onde espreita a sua formação filosófica, todavia discreta, como que a presenciar de longe o fluxo criador, que livremente se desprende do seu mundo íntimo. Uma poesia translúcida, brincando aos improvisos entre as balizas da forma, sugerindo acasos que o não são, porque a poeta sabe muito bem por onde se encaminham os versos que o  papel guarda.



Com muita propriedade, a componente autora do Prefácio Prof. Adília Fernandes, da Universidade do Minho, sua conterrânea  e amiga aí assinalou (nas pags. 10 e 11 )algumas das suas singularidades: 


"Um tom de trágico existencial, que Jamais abandona, perpassa por alguns poemas, desenhando-os com urna singular e transcendente beleza. As preocupações decorrentes da finitude, contingências e limitações humanas são integradas num entrelaçar de estados de alma e paisagem, numa estreita identificação vivencial: 'As folhas secas que vejo aqui/lembram-me 1antosdiasquevivi"(Folh11sMortas!). 


A efemeridade das coisas e dos seres está condensada cm inquic1aç3cs acerca de um tempo que não se domina, que se dilui e “passa…passa tão veloz” (Tempo), tal como as nuvens . Fica a nostalgia de memória, que lembra como “uma quimera”, apenas (Mudanças) . A natureza percorre  a representação do sentir que assombra , porque traz “ondas traiçoeiras e gigantes/ feitas de pensamentos  e de mágoas”  (Maré Cheia) , vincula a vulnerabilidade: Essa pedra que vejo junto ao muro/Diz-me também do seu destino duro

Sujeita às pressões da Natureza!  (Pedra)



No poema Realidade e Sonho, traz-nos o desejo de libertação deste sentimentos angustiadores, reaproximando o plano cósmico do espiritual. Sonha “com praias brancas mesmo à beira do mar/ numa estrada de luz que não mais finda”. Quer crer que cairá maná  do céu e que vai acordar num mundo sem dor, “(…)  sonho louco/ que só quem sonha toma por real” (Fantasias)


Numa fase crítica da sua doença, o médico receitou-lhe a obrigação de escrever uma quadra por dia. Foi uma excelente prescrição, que a ajudou a suportar os padecimentos e que cumpriu, disciplinarmente, ao longo de um ano inteiro. Nessas quadras foi falando de si, da vida, dos sonhos e do amor, que lutava para sobreviver. 


Por isso, uma poesia assim é intemporal. Poeta que nos fala assim não morre nunca. O seu coração, revestido de palavras, pode deixar de pulsar, mas nos versos com que o revestiu, continua vivo pelos tempos sem Tempo, a conversar com quem tenha também um coração"



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