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domingo, 14 de setembro de 2014

4ª Edição do Cinecoa – Encera hoje com a “Arte da Luz”, do realizador João Botelho, Ante-estreia às 19:00,no Auditório Municipal de Vila Nova de Foz Côa. - Um hino de louvor à Arte da Luz e aos que lutaram em defesa do mais valioso património rupestre da história da Humanidade, a Céu Aberto!




Depois de quatro dias de filmes, palestas, exposições, eventos distribuídos entre o Porto e Foz Côa, chegou ao fim o programa da 4ª edição do Festival do CineCoa, culminando com a antestreia mundial da “Arte da Luz Tem 20.000 Anos" - 

Média-metragem, de 55 minutos, do realizador João Botelho,  no auditório municipal

Embora estando longe, acompanhei de perto toda a informação disponível do CineCoa e troquei impressões pelo telefone com quem lá esteve.

Com muita pena, não me foi possível dar um salto de Lisboa a Foz Côa - Tenciono  ir à minha aldeia, agora para coordenar a celebração do equinócio do Outono - Pois  as distãncias, ainda  não podem ser  transpostas à velocidade do pensamento – Talvez um dia, seja possível, quando o homem dobrar a barreira da luz e poder visitar outros mundos e civilizações extraterrestres. Por agora, vamo-nos conformando com a mitologia dos ovnis e as suas fantasias cinematográficas. 

“BENDITOS SEJAM OS QUE LUTARAM” EM  DEFESA DAS GRAVURAS E DO VALE – Pela salvaguarda do “maior tesouro artístico que existe em Portugal” - Todavia, também não se devem excomungar os que tiveram opinião diferente.

 

Muitos foram os esforços e boas-vontades, cientificas, académicas, estudantis e políticas, jornais, e até Movimentos, Associações e empresas, caso da extinta Adega Cooperativa, Escola Secundária Adão Carrapatoso e da Casa Ramos Pinto, que em uníssino se uniram para salvaguarda do mais vasto património paleolítico a céu aberto,  em todo o Mundo: sim, não apenas por parte de alguns arqueológos, que nunca se deram por vencidos - pois outros houve que se posicionaram ao lado dos que defendiam as duas coisas: a  barragem e as gravuras. Conformavam-se com o estudo e, como não sabiam nadar, vai de  as deixarem afogar, lá para os fundos dos lodos. Não é que as pedras apodrecessem mas perdia-se uma das mais surpreendentes paisagens e a riqueza natural e agrícola, justamente a mais rica e produtiva, existente no rio côa.
Em todo ocaso, há que reconhecer que a água também é um bem precioso, que não deve ser desperdiçado e que, as teses dos defensores das albufeiras, desde que bem intencionadas, também poderão não ser as mais disparatadas - Contudo, mesmo assim, associo-me com alegria às glórias e aos ossanas  aos que estiveram nas primeiras linhas para que a Arte milenar do Côa, não fosse afundada.

"FOZ CÔA: UM SANTUÁRIO NATURAL"

Num dia em que é apresentada a antestreia da Arte da Luz, parece-me adequado recordar as palavras  do Prof. José Mattoso, atual Presidente do Conselho Científico das Ciências Sociais e Humanidades da Fundação para a Ciência e a Tecnologia., que tomei a liberdade de extrair de um interessante artigo  da revista PROJECTO PATRIMÓNIO – Da Associação de Carácter Científico e Cultural, publicado em julho de 1995.

Depois de ter enquadrado, o santuário do vale do Côa, nos locais “onde a paisagem reveste formas extraordinárias e espetaculares, sublinhando que, “o espectáculo da natureza tem, em certos locais, uma força tal que o homem parece ai sentir-se a regressar às origens do Universo ou tomar contacto com o tempo puro da sua própria criação”, disse o seguinte:

"O santuário de Foz: Côa deve ser compreendido desta maneira. O que o torna único não são tanto as gravuras, mas o poder avassalador da natureza que nele se revela. O vale do rio e dos seus afluentes entre Cidadelhe e o curso do Douro, sobretudo depois de abandonar a zona granítica para penetrar nas reentrâncias do xisto, forma aí uma espécie de concha que envolve os visitantes como uma caixa de misteriosas ressonâncias. Ai penetra-se num mundo diferente, regido por forças impalpãve1s. Entre a tem, a água e o céu, as paredes lisas dos enormes painéis xistosos aparecem como superfícies cortadas por incomensuráveis gigantes, como se a natureza aí se divertisse a modelar a rocha das formas mais inesperadas e fantasiosas.

Dir-se-ia, então, que se regressa ao momento original e puro da criação das fornas, quando tudo era ainda possível. Por baixo das rochas, o rio corre mansamente, em contraste com o atormentado da paisagem, como que para pacificar a profusão da fantasia criadora . Mas tudo – rio, terra e céu – tem dimensões esmagadoras. O homem é completamente dominado por uma natureza que nada lhe deve.



É por isso que à atracção da paisagem corresponde a resposta do homem. De espectador transforma-se em actor. Descobrindo-se como protagonista de uma experiência única, sente a sua própria diferença e torna-se capaz de dialogar com a própria natureza como se esta se identificasse com forças vivas. A fantasia criadora das formas naturais como que o contagia e o convida a imitá-la. Não resiste ao convite que as paredes lisas do xisto lhe fazem, para nelas deixar o testemunho das representações que lhe vão na mente: obviamente as do mundo vivo no qual está mais imediatamente inserido, ou seja as dos animais à sua escala (bois, cavalos e cabras), de que se alimenta e que como ele se reproduzem. O que o santuário de Foz Côa tem de único é o facto de as representações gráficas que suscitou serem das mais antigas manifestações culturais do homem europeu e de, por isso mesmo, representarem de maneira tão singular a emergência da mente humana que assim se diferencia da animalidade. Não é menos extraordinário que o fascínio do local continuasse a exercer-se, independentemente de um culto determinado, até aos dias de hoje. O convite das paredes de xisto é permanente: oferece- se ao visitante de todas as épocas, e tem tido renovadas respostas desde os tempos irnemorais do Paleolítico até há poucos anos. 

O vale de Foz Côa é, pois (foi sempre), um verdadeiro santuário. Tem todas as características de um lugar sagrado. Não sabemos exactamente o que representava em termos de ideias religiosas ou profanas para os seus frequentadores do Paleolítico e do Neolítico, mas há uma efectiva continuidade entre o que decerto foi para eles e que ainda hoje pode ser para o visitante sensível ao seu carácter epifânico.

É por isso que a perspectiva da construção da barragem corresponde a uma criminosa profanação. As soluções de preservar as gravuras, retirando-as do local, formando galerias para podem ser visitadas ou reproduzindo-as o mais fielmente possível, só podem resultar de uma obtusa incompreensão da relação entre elas e o santuário que lhes dá sentido e sem o qual perdem praticamente toda a sua capacidade evocativa da experiência que lhes deu origem. O que verdadeiramente está em causa é a destruição de um prodigioso santuário que suscitou a veneração de milhares de gerações de homens. O que se propõe, com o rótulo de desenvolvimento económico, é o retomo a uma animalidade tão bruta como a do homem que não era ainda capaz de sentir a experiência do sagrado." -José Mattoso Excerto da revista do PROJECTO PATRIMÓNIO  Nº 2 Julho 1955


PREVALECEU A ARTE E O BOM SENSO - Nos Jernónimos com a Heroina Mila Simões
 
Na verdade, tal como então escrevi, no jornal ÉCOA, felizmente que o bom senso acabou por prevalecer, e salvou-se a arte e o vinho – e, sendo assim, também uma paisagem  verdadeiramente ímpar, com as suas encostas, uma vezes mais suaves, outras mais abruptas ou íngremes, mas onde se destacam belos vinhedos, tais como os da Ervamoira, aos pomares de oliveiras e amendoeiras, que, ora surgem em frisos de impressionante esquadria, nomeadamente os olivais, ora,  desordenadamente, como que desafiando uma natureza e uma geografia agreste e hostil, emprestando ao leito do rio às suas marges, ao seu vale, um sortilégio algo mágico e encantatório, como se todo aquele ambiente, que ali nos envolve, não fosse deste mundo, mas de um outro mundo que nos recordasse as origens de todas as origens.


4ª EDIÇÃO CINECOA –  UMA PARECERIA BEM-SUCEDIDA - FOZ CÔA E PORTO

Sem dúvida, em jeito de balanço, dir-se-á ter sido uma parceria bem sucedida, entre as câmaras municipais de Foz Coa e Porto -  Assim o reconhece a organização ao afirmar não existir incompatibilidade em mostrar filmes de autor, exigentes e intensos num território sem grandes tradições cinematográficas e que estes não são só exclusivos dos grandes centros urbanos. A linha editorial do festival foca o seu ponto de interesse em cineastas do presente e cineastas do passado, a partir dos quais se convocam filmes de todas as épocas e géneros”.

Outra das atações cinematográficas, foi a exibição do filme “A Pantera Negra”, em homenagem aquele que foi considerado o melhor futebolista de todos os tempos,  acompanhada da inauguração de uma exposição, patente até 10 de Outubro, em Foz Côa.

ARTE DA LUZ – O FILME QUE SUBLIMA A ARTE RUPESTRE A CÉU ABERTO E OS QUE SE ESFORÇARAM PELA SUA DEFESA

João Botelho, o realizador, não poupa elogios aos que pugnaram pela defesa do Vale sagrado -

E bem-diz: "Benditos sejam os que lutaram contra os que queriam inundar e sepultar para sempre talvez o maior tesouro artístico que existe em Portugal. Benditos sejam os que nos livraram do pecado infecto da destruição irremediável do legado de artistas geniais que produziram a maior concentração da grande “Arte da Luz” que no mundo aconteceu! Há mais de 15 mil anos, há mais de 20.000 anos num pequeno e desgraçado território que há apenas 900 anos se passou a chamar Portugal!"
João Botelho, Agosto de 2014



AS GRAVURAS DO CÔA E  OS ENIGMAS QUE CONTINUARÃO A DESAFIAR A NOSSA IMAGINAÇÃO

Primeiras páginas do ÉCÕA - Reportages do autor deste site
 
Com efeito, sabe-se, hoje que os homens pré-históricos se instalavam frequentemente à beira dos rios, dos ribeiros e dos mares. As razões desta escolha, de resto, é simples: era ali que a natureza lhes poderia proporcionar, não só as pedras mais sólidas que poderiam servir-lhe de ferramentas, de utensílios e armas, como pesca abundante, frutos e caça para se alimentar. Esta, talvez, uma das explicações - a par, naturalmente, de aspetos de ordem climática - através da qual se possa mais facilmente compreender o porquê da fixação do homem, ao longo de milénios, no vale do Côa. Todavia, não obstante os avanços da ciência, as possibilidades oferecidas pela datação por carbono 14, creio que continuarão a existir perguntas a suscitar dúvidas e interrogações,  a desafiar os estudiosos e  investigações futuras.

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista  e investigador

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