Peregrinando
pelos amáveis caminhos que me viram nascer, em demanda de um raio de luz: “celebro
o solar aroma da vida”
Em demanda de um astro com asas de silêncio e de luz
e
adormeço na luz alvoreço na luz
no
interior de uma sombra
de
intima pobreza
de
onde quero partir
para
um oásis de sossego e de cálidas alamedas
Vacilo
sem saber pousar
na
palma solar do dia
porque
estou sempre na raiz do tremor
o
corpo desatado
em
fragmentos indecisos
sem
saber de que palavra poderei nascer
perante
o bafo absoluto da noite
Sou
um filho do sol e do mar
mas
também escuto a maresia do silêncio
desta
casa de sílex materno
entre
as espáduas de água do olvido
Às
vezes sinto a pulsação do peito de um arroio
e
a extrema doçura de uma ilha de veias
E
então vejo as anémonas dos olhos
a
quietude azul dos tesouros domésticos
a
graciosa leveza dos pequenos instrumentos
sobre
um fundo de carícias anónimas
Não
imagino nada recebo apenas a carícia de um hálito
de
uma ânfora quebrada
pela
turbulência do obscuro
mas
tranquilamente sedenta
na
sua dádiva mineral"
Neste
momento estou silenciosamente nu
e
dir-se-ia que vejo as pupilas do mundo
as
coisas limpas e novas no seu alvor de espuma
De
súbito ouço-te cantar ou rir
como
quem liberta o sangue prisioneiro
nos
cristais de uma voz primaveril
e
através da luz e das sombras da argila
celebro
o solar aroma da vida"
António
Ramos Rosa – Do Teu Rosto
Eis-me num sossego transparente e azul perante um Deus que nos ensina o caminho e a luz
A
FACE DE UMA SOMBRA
Há
uma face que não sei,
que
não sou.
E
o que sou é a face de uma sombra.
Escrever
para essa sombra sem face
Sou
uma sombra sem face
na
sombra da rua.
Escrevo
nesse intervalo,
nessa
sombra onde ninguém suspira,
onde
ninguém passa,
onde
ninguém me vê passar,
onde
não passo
onde
vou passar.
António
Ramos Rosa
Do
Livro “Respirar a sombra viva”
l
Qual é o fim de tudo? a vida ou a tumba?
A onda que nos sustém? ou a que nos
afunda?
Qual a longínqua meta de tanto passo cruzado?
É o berço que embala o homem ou é o seu fado?
Seremos aqui na terra, nas alegrias, nos ais,
Reis predestinados ou simples presas fatais?
Qual a longínqua meta de tanto passo cruzado?
É o berço que embala o homem ou é o seu fado?
Seremos aqui na terra, nas alegrias, nos ais,
Reis predestinados ou simples presas fatais?
Ó Senhor, responde,
responde-nos, ó Deus forte,
Se condenaste o homem apenas à sua sorte,
Se já no presépio o calvário se anuncia
E se os ninhos sedosos, dourados pela manhã fria,
Onde as crias vêm ao mundo por entre flores,
São feitos para as aves ou para os seus predadores.
Se condenaste o homem apenas à sua sorte,
Se já no presépio o calvário se anuncia
E se os ninhos sedosos, dourados pela manhã fria,
Onde as crias vêm ao mundo por entre flores,
São feitos para as aves ou para os seus predadores.
Victor
Hugo
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