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sábado, 21 de março de 2020

CORONAVIRUS não vai ser mais forte que a ciência - Seja prudente, saiba prevenir-se mas não se aflija: Defenda-se do excesso do ruído informativo de todo o mundo - Pense no exemplo dos que se perdem sozinhos no mar e sobreviveram!... Porque não perderam a confiança e aprenderam a conviver com o silêncio e a solidão.


Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Antigo navegador solitário em canoas santomenses




SOLITÁRIO À FLOR DO MAR ESQUECIDO DE TODO O MUNDO - NESTES DIAS DE NAVEGAÇÃO INCERTA, SAIBA CONVIVER COM A SOLIDÃO EM SUA CASA – Leia ou ouça música sacra e absorva menos ruído televisivo – Recolha o essencial mas não absorva avalanche e a repetição de todas as noticias. Porque, a solidão, quando bem aproveitada, purifica e reanima – Há muito aprendi a conviver com o seu silêncio e a dar-me bem assim. Pois veja o que é um homem perdido no mar dos tornados e dos tubarões, numa frágil canoa, 38 dias e noites a fio, como eu vivi, reduzido ao espaço de um esquife, com a vida suspensa a cada instante – Não desanime e tenha fé - O cabo das tormentas, poderá demorar a ultrapassar alguns dias mas a bonança hã-de chegar


Todavia, recordo e choro, às vezes, ainda o pesadelo,
a angústia sentida desses cruciais instantes!...
Relembro-os e perscruto-os de olhar triste e magoado,
como se estivesse ainda a ver as cristas brancas
a ondularem ao largo, a levantarem-se do fundo das sombras,
tão altas que até quase tocavam as difusas estrelas,
e, subitamente, a estrondearem e a desfazerem-se ao meu lado!
- E eu, pobre de mim, vagueando, nesse horror alucinante!...
Rolando, rolando, pela noite adiante, só e desamparado!
Errando, errando, na pequena piroga, sem rumo e sem destino,
no meio do tumulto avassalador, no centro rodopiante,
do turbilhão fervente e ameaçador! - Transido
pela humidade! Ensopado como um trapo. Mortificado
pela sede e esfomeado!… Um verdadeiro farrapo!
Todavia, lutando, resistindo,
não resignado, não vencido!
Ó ondas lívidas e soluçantes! Ondas lúgubres
e agrestes dos trágicos naufrágios! - Ainda hoje
aos meus ouvidos, vão ecoando, vão soando, repercutindo,
os ecos de todos os estrondos, sílvios e ruídos
da vossa portentosa orquestra! Ainda agora ouço o ressoar
de todos esses sons! - No marulhar de vós, distingo - ó impiedosa
negridão! -, por entre o rebentar e o estertor dos vossos rugidos,
o imenso clamor dos gritos, os rumores dos milhentos gemidos,
choros e súplicas, os ecos das imensas vozes aflitas,
perdidas, já agonizantes, moribundas, das pobres almas
que foram tragadas! - Sim, dos inumeráveis desgraçados
que se perderam, que foram esquecidos, abandonados,
no louco torvelinho das águas!

Ai de vós, ó pobres náufragos!
Ai de vós, desventurados! - Foi horrível
o vosso sofrimento - eu sei! Também experimentei
no corpo e no espírito o mesmo drama!
Porém, se estais em paz no outro mundo, continuai em paz
no mesmo limbo! Esquecei o infortúnio que cedo vos levou!
Não o choreis!... Ninguém mereceria as vossas lágrimas!
- Naqueles momentos fatídicos, tudo permaneceu impassível!
Ninguém se compadeceu com a vossa aflição e vos estendeu a mão!
Lá do alto, um silêncio de morte, e em redor,
o mundo a desabafar sobre vós, a sepultar-vos!
Tudo vos abandonou e vos esqueceu!...

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