Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Antigo navegador solitário em canoas santomenses
SOLITÁRIO À
FLOR DO MAR ESQUECIDO DE TODO O MUNDO - NESTES DIAS DE NAVEGAÇÃO INCERTA, SAIBA
CONVIVER COM A SOLIDÃO EM SUA CASA – Leia ou ouça música sacra e absorva menos
ruído televisivo – Recolha o essencial mas não absorva avalanche e a repetição
de todas as noticias. Porque, a solidão, quando bem aproveitada, purifica e
reanima – Há muito aprendi a conviver com o seu silêncio e a dar-me bem assim.
Pois veja o que é um homem perdido no mar dos tornados e dos tubarões, numa
frágil canoa, 38 dias e noites a fio, como eu vivi, reduzido ao espaço de um
esquife, com a vida suspensa a cada instante – Não desanime e tenha fé - O cabo
das tormentas, poderá demorar a ultrapassar alguns dias mas a bonança hã-de
chegar
a angústia
sentida desses cruciais instantes!...
Relembro-os
e perscruto-os de olhar triste e magoado,
como se
estivesse ainda a ver as cristas brancas
a ondularem
ao largo, a levantarem-se do fundo das sombras,
tão altas
que até quase tocavam as difusas estrelas,
e,
subitamente, a estrondearem e a desfazerem-se ao meu lado!
- E eu,
pobre de mim, vagueando, nesse horror alucinante!...
Rolando,
rolando, pela noite adiante, só e desamparado!
Errando,
errando, na pequena piroga, sem rumo e sem destino,
no meio do
tumulto avassalador, no centro rodopiante,
do turbilhão
fervente e ameaçador! - Transido
pela
humidade! Ensopado como um trapo. Mortificado
pela sede e
esfomeado!… Um verdadeiro farrapo!
Todavia,
lutando, resistindo,
não
resignado, não vencido!
e agrestes
dos trágicos naufrágios! - Ainda hoje
aos meus
ouvidos, vão ecoando, vão soando, repercutindo,
os ecos de
todos os estrondos, sílvios e ruídos
da vossa
portentosa orquestra! Ainda agora ouço o ressoar
de todos
esses sons! - No marulhar de vós, distingo - ó impiedosa
negridão! -,
por entre o rebentar e o estertor dos vossos rugidos,
o imenso
clamor dos gritos, os rumores dos milhentos gemidos,
choros e
súplicas, os ecos das imensas vozes aflitas,
perdidas, já
agonizantes, moribundas, das pobres almas
que foram
tragadas! - Sim, dos inumeráveis desgraçados
que se
perderam, que foram esquecidos, abandonados,
no louco
torvelinho das águas!
Ai de vós,
desventurados! - Foi horrível
o vosso
sofrimento - eu sei! Também experimentei
no corpo e
no espírito o mesmo drama!
Porém, se
estais em paz no outro mundo, continuai em paz
no mesmo
limbo! Esquecei o infortúnio que cedo vos levou!
Não o
choreis!... Ninguém mereceria as vossas lágrimas!
- Naqueles
momentos fatídicos, tudo permaneceu impassível!
Ninguém se
compadeceu com a vossa aflição e vos estendeu a mão!
Lá do alto,
um silêncio de morte, e em redor,
o mundo a
desabafar sobre vós, a sepultar-vos!
Tudo vos
abandonou e vos esqueceu!...
Veja
pormenores em
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