Ontem,
dia 8 de Março, passou o dia Internacional da mulher, com que se pretende
lembrar a luta das mulheres que trabalhavam em fábricas nos
Estados Unidos e em alguns países da Europa
e que ainda hoje é aproveitada para .reivindicar a igualdade
do género e dos direitos sociais, que não são respeitados em muitos países do
mundo. Mas, independentemente das mulheres
operárias, existiram outras que trabalhavam nos campos de sol a sol, sem
quaisquer direitos, auferindo metade do que ganhava o homem, também ele mal
pago. Isso sucedia na minha adolescência e, a bem dizer, só depois da revolução
de Abril é que as mentalidades começaram a mudar
Aproveito
para aqui editar algumas fotos dessas sacrificadas mulheres da minha aldeia,
com a voz de Carlos Mendes e a letra
de António Geadão, Calçada da Carriche –
E um texto que extrai do blog da nossa
rádio RDP
Luísa
sobe,
sobe
a calçada,
sobe
e não pode
que
vai cansada.
Sobe,
Luísa,
Luísa
sobe,
sobe
que sobe,
sobe
a calçada.
Saiu
de casa
de
madrugada;
regressa
a casa
é
já noite fechada.
Na
mão grosseira,
de
pele queimada,
leva
a lancheira
desengonçada.
Anda
Luísa,
Luísa
sobe,
sobe
que sobe,
sobe
a calçada.
Excerto
"Mulheres que além das
lides domésticas exerciam actividades manuais remuneradas para proverem ao seu
sustento e ao da família sempre existiram. Refira-se, a título de exemplo, as
trabalhadoras rurais (nos trabalhos de sementeiras, mondas, ceifas, colheitas,
vindimas, apanha da azeitona), as tecedeiras, as costureiras, as lavadeiras, as
varinas, as carvoeiras. O fenómeno do operariado fabril feminino, porém, e
exceptuando as duas conflagrações bélicas mundiais pois os maridos estavam a
combater e as fábricas não podiam parar, só se incrementou após a Segunda
Grande Guerra. Aconteceu sobretudo no chamado primeiro mundo – Europa, América
do Norte e Japão –, e Portugal não foi excepção, porque havia que aproveitar os
dinheiros do Plano Marshall, apesar de Salazar ser avesso à industrialização do
país. Assim, e principalmente nos subúrbios de Lisboa, Porto e Setúbal, surgiu
um novo tipo de mulher trabalhadora: a que labora nas fábricas ou em trabalhos
indiferenciados do sector terciário, mas que continua a arcar com todo o
serviço doméstico e as obrigações próprias de uma esposa e mãe. Dessa lufa-lufa
quotidiana, rotineira, mecânica e desgastante, que não deixa tempo para o ócio
indispensável ao equilíbrio emocional e à fruição cultural, trata o poema
"Calçada de Carriche" saído do punho de António Gedeão, pseudónimo
literário do professor de Ciências Físico-Químicas Rómulo de Carvalho, e
publicado primeiramente em 1958, no livro "Teatro do Mundo", e
republicado nas posteriores edições da poesia reunida que dão pelos títulos de
"Poesias Completas" (Portugália Editora), "Poesia Completa"
(Edições João Sá da Costa) e "Obra Completa" (Relógio d'Água), bem
como no volume "Poemas Escolhidos: Antologia Organizada pelo Autor"
(Edições João Sá da Costa, 1997). Foi de uma edição das "Poesias
Completas", com chancela da Portugália Editora, que José Niza retirou
aquele e os demais dez poemas que achou por bem musicar para serem cantados por
Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha, com orquestração de José
Calvário, e constituírem o álbum "Fala do Homem Nascido", publicado
em 1972.
É pois com o poema
musicado "Calçada de Carriche", magnificamente interpretado por
Carlos Mendes, que neste Dia Internacional da Mulher homenageamos essas
mulheres sobrecarregadas de trabalho, quase escravas, que são autênticas
heroínas anónimas, pois, quais robustas cariátides, suportam na cabeça a
arquitrave económica familiar e, por extensão, a nacional.
E o que fez a rádio
pública neste dia dedicado à mulher? Nada nos constou, andando a fazer
'zapping' entre aqueles dois canais (mau grado o incómodo e fugindo logo para
Antena 2 ou para a nossa fonoteca). E não se está a pedir algo dispendioso nem
que requeira muito trabalho: bastaria que a oferta musical ao longo do dia
fosse ora interpretada por artistas femininas ora de homenagem à mulher,
independentemente do sexo do intérprete. Nada fazer é puro desleixo e só serve
para dar argumentos àqueles que contestam o financiamento público de canais de
rádio que se comportam como os privados (e até pior, nalguns aspectos).
https://nossaradio.blogspot.com/2020/03/carlos-mendes-calcada-de-carriche.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário