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quinta-feira, 20 de março de 2014

Equinócio da Primavera celebrado hoje ao nascer de um sol radioso no calendário pré-histórico da Pedra de Cabeleira de Nossa Senhora, aldeia de Chãs, com poemas de Herberto Hélder, Olinda Beja e Manuel Daniel




Portugal tem destas maravilhas astronómicas! - Erguidas por antigos povos, como que Divinas dádivas aos céus! Mas será que só continuemos a reconhecer como  interessante o que fala americano, japonês, inglês ou outra língua estranja?!




Equinócio da Primavera, celebrado hoje ao nascer do sol, no calendário pré-histórico da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, Maciço dos Tambores, aldeia de Chãs, com a leitura de poemas de Manuel Daniel, Herberto Hélder e Ondina Beja -  Lidos por António Lourenço, José Lebreiro e José Andrade




Foram tantas e tão calorosas as emoções que me faltam as palavras, que nem sei por onde começar – E quem é que, além de celebrar a Primavera, até brinca com o sol ou de levantar os braços em jeito de voo?! – Como nós ali fizemos! – Se tem dúvidas, veja o vídeo e as imagens que aqui editamos – Pena não as podermos mostrar todas. Veja o que fizemos com uma mão-cheia de gestas floridas de branco e a destreza como alguns de nós subiram até ao mais alto cume de altaneiros e misteriosos penedos, contemplando espaços, tão largos e aprazíveis, recebendo tais energias purificadoras e rejuvenescedoras, que até parecia que o corpo e a alma levantavam voo, em uníssono ou em sintonia, qual  Cristo Bíblico, levitando sobre as águas do Rio Jordão!


O dia nasceu limpo e radioso e prometia momentos esplendorosos. Pena que não pudesse ser compartilhado por mais pessoas. Sim, porque, tal como diz o poeta Friedrich Hölderlin, "Compartilhar tamanho bem causa alegria e comunicá-lo aos estranhos/ Enche de júbilo  - Já ali tivemos celebrações, muito concorridas, com algumas centenas de participantes, mas, como é muito cedo, é um esforço que nem toda a gente está disposta a fazer pelos mais belos momentos de deslumbramento e prazer - físico e espiritual. Não sabem o que perdem. Confesso, no entanto, que se se for para ali ir  com a ideia imbuída da  mera romaria, é puro engano, é melhor procurar outras coordenadas:  a aldeia está quase deserta, apenas há dois cafés abertos, nem sempre, e a linguagem e as formas das fragas, com o seu passado histórico,  é das tais maravilhas que nem todos entendem. 




Todavia, houve quem não se importasse do sacrifício: além de António Lourenço, da Comissão Organizadora, que nunca falta, os nosso amigos da Foz Côa Friends Associação José Lebreiro (de Foz Côa) e José Andrade (Mós), dois excelentes colaboradores, também já habituais e  entusiastas, em que igualmente se pode contar   - E também quem viesse de bem mais longe, foi o caso do jovem Nuno Mendes, um naturalista, que tem nos ensinamentos de Buda, um dos seus melhores guias e mestres.





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Saiu do Porto, às quatro da manhã e dava perfeitamente para chegar a tempo e horas, só que se desviou no itinerário e a celebração já tinha terminado. Mesmo assim ainda  lhe foi possível contemplar o sol a entrar junto ao altar – 

alinhamento é lá mais atrás, no seguimento  do antigo muro do recinto (a única parede que não é circular), sim, no enfiamento  da pedra piramidal  e dos dois marcos, ali cravados, as uns 30 metros, situados perpendicularmente ao eixo da graciosa cripta,  porém, à medida que o sol sobe, se nos aproximar-nos dos frontispício do Santuário, é possível continuarmos a  ver o feixe luminoso a  espalhar-se pela gruta que o atravessa e a espalhar os seus raios por todo o pórtico. E ele ainda pôde deslumbrar-se com essa maravilhosa imagem e associar-se à nossa peregrinação ao Altar da Pedra dos Poetas, Castro do Curral da Pedra, Pedra do Solstício, à Pedra do Phallus Impudicus, do Sete  Estrelo, Cova da Moura, Castelo velho (um pouco à distância) Portas do Sol e a outros lugares mágicos do Maciço dos Tambores – E, ainda, durante o resto da tarde, darmos um passeio até ao Côa – Foi realmente um dia fantástico.




No maciço dos tambores há realmente muitas outras pedras  envoltas em segredos ou mistérios, cuja descodificação não é tarefa fácil. No entanto, elas  próprias  parecem falar a sua linguagem e chamarem-nos a atenção para que possamos ir ao seu encontro - O Prof. José Lebreiro é daqueles que, de facto, não hesita em contemplá-las e perscrutá-las, tal como o médico escuta o coração de um doente - Claro que a vida das pedras é outra vida e o ser humano não é senão uma partícula  ínfima da fusão do magma mais longínquo - Mas, talvez por isso mesmo, esteja nele o ser pensante de todos os minerais que a compõem e uma das vias da inteligência a transformar e de a interpretar como obras divinas


Breves são os dias! E ainda mais breve a vida será ( e menos rica)se não for imbuída pelo espírito das pedras, pelo espírito do Sol, quando ele projeta os esplendorosos raios nos sagrados templos - que elegeu  do seu mais antigo magma!
            Sim, perene é a vida da pedra! Passageira e mutável é a vida humana! - Eterno, só o Espírito Universal - E, o espírito humano, só o alcançará o superior estádio do conhecimento e da abstração, quando a pedra se voltar a fundir e, desse novo magma, outro Sol reacender - A Terra, não será, pois, a última morada do ser, mas a ínfima parcela do Grande Espírito da Luz, na sua evolutiva e imparável caminhada.
















O  Instituto Português do Mar e da Atmosfera previa nuvens até ao final da manhã no litoral oeste e, de tarde as nuvens,  admitindo que talvez a chuva regresasse ao interior norte e centro- De facto, a partir das quatro da tarde, por estas zonas, também o céu ficou mais nublado e chegaram a cair uns pingos, mas nada que pudesse estragar o primeiro dia da Primavera

Ainda segundo declarações à lusa,  Suzana Ferreira , daquele Instituto, excetuando quem vive na linha do equador, tudo muda a seguir. Se em Portugal os dias vão ficando maiores à razão de um minuto em cada 24 horas, naqueles locais a diferença é de 15 minutos diários. Quando chegar o verão de Portugal, Longyerbyen terá dias intermináveis e Ushuaia a noite mais longa. Equinócio da Primavera assinalado com google doodle a 20 de março, dia de mudança de estação










A UMA AMENDOEIRA











Porque hás-de ser teimosa, amendoeira,
cobrindo-te de flores, de branco e rosa,
se a nada nos conduz tanta canseira?
Vale a pena insistir e ser teimosa?!

Vê bem… O lavrador, desesperado,
não tem compensação para os produtos,
e já não te dá mais o seu cuidado,
nem retira dos ramos os seus frutos.

Pelos vistos, não tens qualquer valia.
P´la amêndoa que nos dás ninguém dá nada.
Se eu fosse a ti, para o ano nem floria…
Ficava muda, queda e ensimesmada…

E só tal não faria , se um sinal
nos desse alguma esperança renascida
que fizesse alegrar o amendoal
e te desse razões para estares florida.

- Extraído do Livro A PORTA DO LABIRINTO
Um livro de “poemas, textos e teatro”
De Manuel Daniel


Agora até as musas cantam a Primavera

















Onde aguardas por mim, espécie de ar transparente
para levantar as mãos? onde te pões sobre a minha palavra,
espécie de boca recolhida no começo?
E é tão certo o dia que se elabora.
Então eu beijo, de grau a degrau, a escadaria daquele corpo.
E não chames mais por mim,
pensamento agachado nas ogivas da noite.
É primavera. Arde além rodeada pelo sal,
por inúmeras laranjas.
Hoje descubro as grandes razões da loucura,
os dias que nunca se cortarão como hastes sazonadas.
Há lugares onde esperar a primavera
como tendo na alma o corpo todo nu.
Apagaram-se as luzes: é o tempo sôfrego
que principia. – É preciso cantar como se alguém
soubesse como cantar.


QUATRO ESTAÇÕES

O poema é nascente
e a foz da alma do poeta
grito dócil do vento sobre as casas
lembranças de sombras em cheias de abril

o poema é o aconchego da palavra
em lábios setembrinos
dança do fogo ao redor das abelhas
distância de azul no sangue do tempo
preia-mar de sonhos em cascata insonora
lua cheia de agosto
riacho
ulmeiro
andorinha de inverno

O poema é o repouso do poeta
nas margens do vento sul
Para reflexão:

"Jesus também alerta os homens para o facto de só reconhecerem que Ele é o Senhor não é suficiente para eles serem salvos e reconhecidos como os seus verdadeiros discípulos, mas sim, necessitando também de fazer verdadeiramente a vontade de Deus"


(atualização) 
PÚBLICO - "O poeta Herberto Helder morreu, aos 84 anos, na segunda-feira em Cascais. O poeta que nasceu em 1930 no Funchal morreu em casa. As causas da morte não foram reveladas. Era considerado o maior poeta português da segunda metade do século XX. A cerimónia funebre realiza-se na quarta-feira e vai ser reservada à família, segundo comunicado da Porto Editora.Morreu o poeta Herberto Helder


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