TEXTO E FOTOS - De Jorge Trabulo Marques - Jornalista
A bancada da equipa azul e branca foi quase sempre abafada pela ruidosa claque benfiquista - Bem mais barulhenta e expressiva - Mas, no final do jogo, embora poucos, os adeptos do Belenenses (não os putos na fotografia) foram os mais inconformados e a darem nas vistas - Não se conformavam com a anulação do golo e a sua ira e revolta ia inteiramente para o árbitro, com os palavrões mais indecorosos! - E, até, para com quem não tinha nada haver com a dita injustiça ou heresia: - deu logo para ver que, apontar para lá a objetiva da máquina fotográfica, era demasiado ousado, pelo que não arriscámos
Pois, mais uma vez foi o gosto da
fotografia voltou a levar-me a um estádio de futebol – ao do Restelo.
É o terceiro na mesma semana – A chuva é que não vinha nada a calhar. Os
profissionais que trabalham para as agências noticiosas e principais jornais,
dispõem de equipamento sofisticado e quase blindado a todas as intempéries. Eu
não me posso dar a esses luxos. Os meus compromissos são mais modestos. Vou ali
mais por amor à fotografia de que ao futebol. Mesmo assim arrisquei demasiado.
O mais sensato seria procurar abrigo e mandar o futebol às urtigas ou pôr-me a
vê-lo nas bancadas. . Bom, mas tenho que dizer alguma coisa para juntar às
fotos que aqui edito – As outras, que dou a pessoa amiga, ele lá se encarregará
de as enquadrar no seu jornal.
Dir-se-ia que a primeira parte, começou com um autêntico sufoco para os rapazes de Belém. Subitamente, não eram jogadores que andavam em campo mas autênticos diabos vermelhos. Daí que não tardasse a surgir o inevitável golo – Estava do lado oposto, fiz a fotografia mas naquela floresta de pernas frente à baliza, não me foi possível observar a proeza – “Um grande golo do argentino, que fez tudo. Adiantou a bola, isolou-se e chutou por cima de Matt Jones. Um lance executado com uma calma e precisão impressionantes” – Diz, Magda Magalhães, na sua crónica para a TVI Belenenses-Benfica, 0-1 (crónica)–
Depois desse golo, os rapazes da equipa de Belém reagiram e foram crescendo de ambição, nomeadamente na segunda parte, sobretudo muito em consequência das alterações do treinador Marco Paulo – E até marcaram, só que o árbitro ou estava a esfregar os olhos da chuva ou com eles embaciados e invalidou-o
A CHUVA NEM
SEQUER LARGA O FUTEBOL
Era um ¼ para
cinco da tarde, quando, sob chuva miudinha, subia as escadas do velhinho Estádio do
Belenenses. Até me parecia que estava a entrar num estádio de um qualquer clube
de província, se não fosse o facto de estar voltado para o Tejo, já que a maior
parte das ruas, envolventes, com os seus chalés residenciais, até lembram mais
uma vila qualquer do interior do país. As instalações são incomparavelmente
mais modestas que a do clube visitante – Em contrapartida, não há a rigidez da
máquina burocrática dos grandes clubes, anda-se mais à vontade e, por outro lado, até parece
que o público, que ali vai, partilha da mesma arena e sem distinções.
Pelos vistos,
este clube não foi dos privilegiados do grupo dos nove estádios que foram construídos para
o Euro 2004. Não há comparação possível com os estádios da Luz e de Alvalade. Tem sido, ao
longo dos tempos, um clube pobre, que vive graças à carolice dos seus dirigentes
e da sua massa associativa: - conquanto seja bem menor que a do Benfica ou do Sporting,
é-lhe muito devota e fiel. Talvez, como os antigos marinheiros, que juravam
fidelidade aos pilotos das antigas caravelas que partiram de Belém, Tejo a fora,
em demanda de mares nunca dantes navegados.
Sim, o Clube de Futebol "Os
Belenenses" Belenenses, é um dos
clubes históricos do futebol português, que geralmente é visto com simpatia pelos
seus maiores rivais, o Benfica e o Sporting. Enquanto estes dois clubes, cultivam
como que rivalidades e ódios ancestrais, já diferente postura têm com os “nativos”
do Restelo. Explica-se pelo facto de ser um clube mais modesto, com menores
recursos, com menos sócios e, também, de raramente, se afirmar como
embaraço aos principais títulos em
disputa.
Sim, há quantos anos não entrava no Estádio do Belenenses! Creio que foi aos meus 11 a 12 anos – Era marçano em Lisboa – Foi a primeira vez que vi futebol a sério. Mas, a bem dizer, eu não entrei lá dentro, trepei, com outros miúdos para cima de uma parede, donde se avistava todo o relvado, que, nessa altura, creio que nem sequer tinha qualquer cobertura.– Pois não dispunha de dinheiro para comprar o bilhete.~
Naquele tempo, os marçanos, sim, as crianças (que vinham da província) eram escravizadas para ir a levar as compras ao fregueses das mercearias, subindo pelas escadas de serviço, íngremes e complicadas escadas em caracol, que até causavam arrepios e vertigens, dado o enorme esforço despendido para levar o caixote das compras pelo ombro. Era um trabalho de escravidão: os merceeiros não remuneravam os marçanos, senão a troco de comida e dormida – alguns até exigiam uma parte das magras gorjetas, que o cliente quisesse dar. Um centavo ou dois centavos – Que nos eram dados, quase a título de esmola, de que propriamente com o sentido de gratificar a duríssima e arriscada estafa – Cheguei a dormir ao relento, quando o patrão me despediu, por não ter dinheiro para pagar um quarto numa pensão. Era Janeiro as noite eram enregeladas. òh Deus, como foi tão dura essa minha adolescência! Num tempo em que o trabalho infantil começava bem cedo a ser escravizado.
DE VOLTA AO ESTÁDIO DO
RESTELO – MAIS DE 50 ANOS DEPOIS.
Campo de Santana
- Anos 50 - Eu sou o miúdo na foto ao lado, junto ao meu irmão José -
Ainda não tinha doze anos. Era uma criança e já trabalhava em Lisboa. Foi por
essa altura que conheci o estádio do Restelo
Sim, há quantos anos não entrava no Estádio do Belenenses! Creio que foi aos meus 11 a 12 anos – Era marçano em Lisboa – Foi a primeira vez que vi futebol a sério. Mas, a bem dizer, eu não entrei lá dentro, trepei, com outros miúdos para cima de uma parede, donde se avistava todo o relvado, que, nessa altura, creio que nem sequer tinha qualquer cobertura.– Pois não dispunha de dinheiro para comprar o bilhete.~
Naquele tempo, os marçanos, sim, as crianças (que vinham da província) eram escravizadas para ir a levar as compras ao fregueses das mercearias, subindo pelas escadas de serviço, íngremes e complicadas escadas em caracol, que até causavam arrepios e vertigens, dado o enorme esforço despendido para levar o caixote das compras pelo ombro. Era um trabalho de escravidão: os merceeiros não remuneravam os marçanos, senão a troco de comida e dormida – alguns até exigiam uma parte das magras gorjetas, que o cliente quisesse dar. Um centavo ou dois centavos – Que nos eram dados, quase a título de esmola, de que propriamente com o sentido de gratificar a duríssima e arriscada estafa – Cheguei a dormir ao relento, quando o patrão me despediu, por não ter dinheiro para pagar um quarto numa pensão. Era Janeiro as noite eram enregeladas. òh Deus, como foi tão dura essa minha adolescência! Num tempo em que o trabalho infantil começava bem cedo a ser escravizado.
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