Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Completam-se, 45 anos, na madrugada de 24 para 25, que se deu a Revolução dos Cravos – Tal como tem sido, em anteriores comemorações, do 25 de Abril as iniciativas recordando a importante efeméride, multiplicam-se por todo o país, com os mais diversos eventos.
A HONRA DE TER ENTREVISTADO UM HOMEM VALOROSO, GENEROSO E PACIFICO
Na
véspera dos 45 anos pós 25 de Abril, tenho pois a honra e o prazer de
editar o excerto de uma longa e interessante entrevista, que me
concedeu em sua casa, não obstante estar num período de convalescença,
por razões de saúde - "Sabe, que ainda ontem tive 40º graus de febre"
-Confessava-me
Morava na Av. João XXI, próximo do cruzamento da Av. de Roma, em Lisboa. Nessa tarde, que me recebeu, estava sozinho e, curiosamente, os móveis da sala, estavam todos cobertos com lençóis brancos, visto ir para obras, mais parecendo a enfermaria de um hospital. Mesmo assim, teve a gentileza de me receber, já que a entrevista havia sido marcada uns dias atrás e ele não quis faltar ao compromisso. -
Morava na Av. João XXI, próximo do cruzamento da Av. de Roma, em Lisboa. Nessa tarde, que me recebeu, estava sozinho e, curiosamente, os móveis da sala, estavam todos cobertos com lençóis brancos, visto ir para obras, mais parecendo a enfermaria de um hospital. Mesmo assim, teve a gentileza de me receber, já que a entrevista havia sido marcada uns dias atrás e ele não quis faltar ao compromisso. -
Além
de um excerto do registo sonoro, transcrevo também uma parte da extensa
e da muito esclarecedora e honrosa entrevista que me concedeu,
contado editar, igualmente, em vídeo, as restantes declarações, noutra
oportunidade
O PERÍODO QUENTE PÓS 25 DE ABRIL
JTM
- Outra questão que eu gostaria que o Sr. Marechal recordasse – alguns a
nos já volvidos sobre aquele período da revolução: um período,
naturalmente, muito confusão, como é que a esta distância, o Sr.
Marechal. Os recordaria?
A HONRA DE TER ENTREVISTADO UM HOMEM VALOROSO, GENEROSO E PACIFICO
Francisco da Costa Gomes - Chaves, 30 de Junho de 1914 — Lisboa, 31 de Julho de 2001
Marechal Francisco Costa Gomes - Uma das grandes personalidades, militares e cívicas, Membro da Junta de Salvação Nacional desde a madrugada de 26 de Abril, e, como chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas em 30 de Abril de 1974. O primeiro Presidente da República Portuguesa a discursar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas - Em Janeiro de 1975 está presente na assinatura do Acordo de Alvor, entre o governo e os movimentos de libertação angolanos, relativo à independência de Angola. Depois de dar posse ao IV Governo Provisório, também chefiado por Vasco Gonçalves (25 de Março de 1975), preside à assinatura, em 11 de Abril de 1975, do primeiro pacto MFA-Partidos.
Declarações
inéditas de Francisco Costa Gomes, uma vez que, da longa entrevista,
que honrosamente me concedeu, na qualidade de repórter da extinta Rádio
Comercial RDP, apenas escassos minutos foram transmitidos. O tema
principal da minha deslocação a sua casa, versava sobre questões
relacionadas com o armamento atómico e convencional das duas grandes
potências e o papel do Marechal na Conferência Mundial da Paz, que,
por agora, apenas reproduzo em texto .
E,
de facto, foi a propósito destes assuntos, num tempo em que pareciam
desanuviar-se algumas tensões, entre os dois blocos, que começaria por
fazer as primeiras perguntas. Contudo, outros temas acabariam por ser
abordados, nomeadamente, o que pensava do período quente pós 25 de Abril
e da prisão de Otelo Saraiva de Carvalho - Conteúdo editado em
vídeo. – Porém, é minha intenção, vir a editar, no Youtube, também
outra interessante entrevista, sobre este tema
“Francisco
da Costa Gomes toma posse como Presidente da República na sequência da
renúncia de António de Spínola, a 30 de Setembro de 1974. Em pleno
processo revolucionário terá de enfrentar situações de grande
complexidade.
Nascido
em Chaves, no seio de uma família numerosa, a sua infância é marcada
pela morte do pai nas vésperas do seu 8.º aniversário. As dificuldades
económicas da família levam a que, terminada a instrução primária,
ingresse no Colégio Militar em Lisboa. A solução não lhe agrada,
sobretudo devido ao afastamento da família.
Adicionar legenda |
(…)Apesar da ambiguidade de que muitos o acusam, todos lhe reconhecem o mérito de ter conseguido evitar a guerra civil.
Ao
ocupar a cadeira presidencial, uma das suas primeiras preocupações
parece ser a de garantir a estabilidade, apesar da conjuntura
revolucionária que se vive. Demonstra-o, primeiro, ao reconduzir Vasco
Gonçalves para o cargo de chefe do governo (III Governo Provisório, em
1-10-1974). Depois, durante a viagem que efectua aos EUA onde procura
não só estabelecer contactos com vista à cooperação entre os dois
países, sobretudo económica, como também tranquilizar a comunidade
internacional quanto ao rumo da transição portuguesa” – Excerto de . Biografia completa - Museu da Presidência da República
COSTA GOMES - O MILITAR PACIFISTA
O
paladino da paz –.Um dos militares mais pacifistas, que, após deixar a
Presidência da Republica, não aceita ser chamado a desempenhar qualquer
cargo político, optando pelo Conselho Mundial da Paz, como terreno de
intervenção, seguindo, atentamente e com preocupação, o recrudescimento
das armas convencionais e atómicas das duas grandes potências, que, ao
invés de olharem mais para os problemas da saúde e das condições de vida
das populações, gastam milhões em armas atómicas e convencionais. –
RETIROU-SE DA POLITICA MILITAR PARA SE DEDICAR À PAZ MUNDIAL
JTM
- O Sr. Marechal Costa Gomes é um homem retirado da cena política? É um
homem que acompanha atentamente os problemas! Como vê a política: como
interveniente ou como observador?
F.C.G.
A política nacional vejo-a simplesmente como observador e um observador
muito atento, porque, como tenho dedicado a maior do meu tempo, às
questões internacionais, sobretudo àquelas que dependem da paz e do
desarmamento, e, como isso me leva, muitas vezes, a conferências para
fora do país e me obriga a um preparação, quando estou em Portugal, que
me faz alhear um pouco da política do dia a dia do nosso país, é claro
que eu estou mais a par daquilo que se julga que constitui hoje a
política internacional e a situação internacional de propriamente da
politica nacional.
JTM - Porquê essa preocupação?
F.C.G
- Bom, a preocupação deriva de várias coisas: em primeiro lugar do
facto de julgar que nós estamos realmente de baixo da uma ameaça
terrível que pode, de um momento para o outro destruir por completo a
vida sobre este belo planeta, que é a Terra. É isso. Pode-se dizer que
as pessoas mais lúcidas e aquelas que se têm dedicado mais a este
assunto, desde 54, desde o rebentamento da primeira bomba atómica,
começaram a prever esta situação. Mas, não há dúvida nenhuma, que,
durante as duas primeiras décadas, praticamente o assunto da era
atómica, foi completamente ignorado, as armas atómicas foram
completamente ignoradas! Ninguém sabia nada do que se passava,
espacialmente nos países onde a luta começava a ter um cariz de
competição muito forte, e, nos anos 70, o mundo começou a ser
surpreendido com a ideia de que, já havia nessa altura, armas
suficientes para destruir várias vezes a humanidade.
“MAIS DE METADE DOS CIENTISTAS DO MUNDO OCUPADOS EM APERFEIÇOAR MEIOS DE COMBATE” – Em vez de se empenharem com “os problema da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e da saúde
JTM – Acha que ainda há uma grande tensão entre os dois blocos?
F.C.G.
Eu julgo que ainda há uma grande tensão mais forte do que aquela que
devia existir, porque há uma desconfiança mútua, não só do ponto de
vista político, com sob o aspeto militar, que inibe e que faz com que
não se possam adiantar e definir determinados assuntos com a lógica, e,
sobretudo, com a necessidade que os mesmos impõem. Veja, por exemplo,
este facto que agora se deu, ultimamente, insólito: pois, estamos todos
à espera que, de um momento para o outro, se possa assinar o acordo
que elimine os mísseis intermediários e os mísseis táticos da europa.
Pois bem, qual é a atitude que a Nato toma perante esta decisão? É que…
sim, senhora …vamos acabar com os mísseis mas temos que reforçar as
forças convencionais.
Ora,
eu acho que esta atitude é uma atitude absolutamente negativa! O que
nós precisamos não é de reforçar as forças convencionais é de reduzir
também as forças convencionais! Porque, um dos maiores problemas que
existem no Mundo – e sem a redução dos orçamentos militares, se não será
possível resolvê-lo – é o problema da fome, é o problema do
analfabetismo, é o problema do meio-ambiente, o da saúde, enfim, são uma
série de problemas que realmente fazem com que, a maioria da população
mundial, dia a dia, veja os seus problemas acrescidos, agudizados e não
sinta que há uma luz, que não há uma pequena ação solidária dos países
– que os têm, que, no fundo, os têm assegurado – para melhorar esta
esta situação.
Ora,
esta situação só pode ser melhorada, diminuindo drasticamente as
despesas militares, não só o que diz respeito aos orçamentos. Como
também no que diz respeito à investigação científica. Porque, hoje, mais
de metade dos cientistas no mundo, estão dedicadas a aperfeiçoar armas e
aperfeiçoar meios de combate, quando, realmente, a todas as pessoas
bem intencionadas, lhes parece que se deviam dedicar as era para o
bem-estar da Humanidade, e, portanto, pró melhoramento das condições
de vida de todos os Povos.
F.C.G.
- Acredito! Não porque as pessoas o queiram! Podemos dizer que 90% da
população mundial é contra um conflito à escalda mundial - Mas, com o
acumular de armas que existem no mundo e, com os pequenos conflitos
locais, que ainda não conseguimos debelar e, outros que se podem
desenvolver de um momento para o outro, como é, por exemplo, a situação
do Golfo Pérsico, pois, uma destas situações, pode, sem querer, levar a
um conflito mundial! E isso é extremamente perigoso, porque, as armas
que depois se possuem, são de tal maneira potentes e de tal maneira
poderosas, que, se elas forem empregues, durante muito tempo, será o
tempo suficiente para aniquilar a vida sobre a Terra.
“OTELO TEVE AS SUAS DEFICIÊNCIAS MAS, DE UMA MANEIRA GERAL, FOI UM ELEMENTO POSITIVO E A REVOLUÇÃO DE ABRIL DEVE-LHE MUITO.
Otelo Saraiva de Carvalho, detido a
20 de Junho de 1984 pela Polícia Judiciária, no âmbito deste processo.
Da FP, com uma pena de 18 anos .De recordar, que o principal operacional
do Movimento das Forças Armadas. nunca assumiu a criação das FP-25 nem a
militância no grupo. Do tempo total de pena cumpriu apenas cinco anos.
Em entrevista, concedida há Lusa, em 2010, Otelo confessou que, no
dia em que recebeu a notícia da criação deste partido revolucionário
armado, a encarou com "apreensão e perturbação com a ideia". Otelo: FP-25 foram "choque grande e um prejuízo tota
JTM
– Sr. Marechal. Uma das figuras muito conhecidas e, de grande
interveniência, na revolução, é Otelo Saraiva de Carvalho, atualmente
preso: como é que vê a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho?
F.C.G
– Eu, como tive ocasião de dizer no Tribunal, só conheço regularmente,
a ação do Tenente-Coronel Otelo, quando ele parte ou do Conselho da Revolução
,
em que me esteve diretamente subordinado. – No Concelho de Revolução,
porque eu era o Presidente do Concelho de Revolução; no COPCON COPCON –,
porque o COPOCON estava dependente do Chefe do Estado-Maior das Forças
Armadas e eu acumulava as funções de Presidente da República e de Chefe
do Estado-Maior das Forças Armadas. Ora, nesse tempo, eu posso
dizer-lhe que, Otelo teve as suas deficiências, mas, de uma maneira
geral, foi um elemento positivo e a Revolução de 25 de Abril, deve-lhe
muito.
Depois,
do 25 de Novembro, praticamente nunca mais tive contactos com Otelo,
mas, daquilo que eu conheço, a forma como eu pus o problema no
Tribunal, eu julgo que o caráter , a moral e a maneira de ser do
Otelo, não são de molde a admitir que ele, direta ou indiretamente,
tenha tomado parte em qualquer das ações terroristas.
Era
bom que se visse, que se estudasse bem, as ações terroristas, não só a
partir de 1974 mas que se vissem bem as ações terroristas, entre 1975 e
1976, porque, realmente, nessa data houve muito terrorismo em
Portugal! - Terrorismo absolutamente escusado! Terrorismo que que
visava, única e simplesmente, o regulamento do status quo, então
estabelecido, em que as pessoas, não hesitara em matar, em destruir, em
fazer ações, que realmente todo o mundo hoje as condena, porque,
felizmente, o terrorismo hoje está condenado internacionalmente de uma
forma absoluta.
JTM – Portanto, em sua opinião, acha injusta a prisão de Otelo?
F.G.C
– Não posso dizer que é injusta ou justa. Eu não sei as causas que
levaram à prisão de Otelo. Penso que – nisso acredito, acredito na
Justiça Portuguesa -, que o juiz que fez o inquérito e que promoveu a
sua detenção, tinha as suas razões. Podem não ser razões que não sejam
razões suficientemente fortes para justificar a prisão durante tanto
tempo de Otelo.
Não
há dúvida nenhuma é que, Otelo Saraiva de carvalho, tem, em toda a
Europa, uma data de pessoas importantes, sobretudo no campo jurídico,
que o apoiam, que o defendem e que estão constantemente a fazer
diligências para a sua libertação.
A
entrevista, que, honrosamente me concedeu, continuaria com ainda com
várias perguntas, desde a sua próxima deslocação a Tóquio, no âmbito das
conferências do Conselho Mundial da Paz, assim como de como recordava as funções que desempenhou, em Angola, 1970-72,
como comandante-chefe da Região Militar de Angola – Perguntei-lhe,
que, tendo também estado, como militar nesta ex-colónia, no meu
tempo (1966) se constava que havia quem, dentro do Quartel general,
passasse informações do MPLA – Costa Gomes, negou que, de sua parte,
alguma vez tivesse tomado essa atitude, não passando de calúnias e de
falsidades. Pena não puder reproduzir as suas palavras, visto, no dia
seguinte ter ido fazer uma entrevista ao Monsenhor Moreira das Neves, em
sua casa, e, inadvertidamente, ao usar a mesma cassete, apagado o
resto da entrevista. Contudo, ainda disponho de uma outra entrevista,
esta feita no torno de uma conferência, em que ele também participara,
que igualmente conto editar oportunamente em vídeo.
«A APRENDIZAGEM DA ARTE DA «PRUDÊNCIA»
“A
figura que sai das páginas de Luís Nuno Rodrigues é a de um general
renitente. Da obra ressalta, desde logo, que a carreira militar de Costa
Gomes deriva não tanto de um gosto pelas armas, mas sobretudo de uma
evolução imposta pelas necessidades materiais da família. Do Colégio
Militar à Academia Militar, o percurso de Costa Gomes resulta de uma
evolução natural imposta pelas condicionantes familiares. A carreira
militar não satisfazia em pleno Costa Gomes, que acabou por frequentar a
Universidade do Porto, aí concluindo a licenciatura em Ciências
Matemáticas (1939-1944). Este facto não o impediu de percorrer, ainda
jovem, um extraordinário caminho como militar, ganhando prestígio no
meio castrense, não deixando, contudo, de evidenciar uma renitência: a
renitência ao uso e ao abuso da violência. Para o futuro marechal Costa
Gomes, a violência (a força armada) só devia ser aplicada enquanto fosse
útil ao equilíbrio e à paz na sociedade. O uso excessivo da violência,
assim como a utilização da violência de forma inútil, eram-lhe
repugnantes.
Na
lógica do marechal Costa Gomes, cabia aos militares dosear o uso da
violência, tendo sempre como fim assegurar os objectivos de ordem e paz
social. – Excerto Relações Internacionais (R:I) - O general «renitente»
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