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sábado, 21 de junho de 2014

Solstício do Verão é hoje, dia 21-06-2014 – aldeia de Chãs – “Feliz de quem deixa na terra a marca dos seus passos”: Guerra Junqueiro, poeta e escritor; José da Silva, uma vida inteira do sacerdócio – Homenageados no dia maior do ano ao som de violinos de gaiteiros e da “Oração à Luz”



Ontem esteve  um dia Lindo mas não se preocupe com o tempo - Esteja sol ou céu nublado - Saudamos o Verão e fazemos a nossa festa -Amanheceu torto - É verdade mas não seria a primeira vez ... De um modo ou outro, fazemos as homenagens e a festa de S. João.

Participe| - A beleza e as boas energias do local, compensam a visita.





 À cautela  - e com um belo dia de sol - lemos versos de Guerra Junqueiro e registámos o alinhamento solsticial - Estava era muito vento.... pelo que só ficou o gesto e a intenção





O Verão chega  hoje às às 11h51min. Instante que marca o início da estação mais quente do ano, no Hemisfério Norte, que termina no dia 23 de Setembro, às 02.29  E  é também a mais desejada. . Vai ser celebrado na Pedra do Sol, também conhecida como a Pedra do Solstício, com cortejo alegórico, cerimónia mística com gaiteiros e violinos, leitura de poemas de Guerra Junqueiro, homenageado com o sacerdote José da Silva, uma figura muito estimada no concelho de V. Nova de Foz Côa, recentemente falecido.

 E, pelos vistos,  assim teria ficado escrito nos caminhos do destino que, o anticlerical Guerra Junqueiro, mas não ateu, se cruzassem, mais tarde, na mesma homenagem no mesmo lugar e sob o mesmo céu






PROGRAMA




15.30 – Em  Foz Côa – Desfile do Grupo dos Gaiteiro Lua Nova – de Mogadouro, desde avenida até junto à Igreja Matriz – Para lembrar um dos habituais trajetos do Cónego José da Silva

17.00 Horas – Em Chãs - Arruada nas ruas da aldeia pelo mesmo grupo de gaiteiros- 18.30 – Partida do cortejo celta do adro da igreja 18.30 – Partida do cortejo celta do adro da igreja 19.00 – Homenagem na Pedra da Cabeleira de Nª Srª ao Cónego José da Silva
20.00 – 20.45 – Celebração do dia maior do ano na Pedra do Solstício, – Junto à qual os participantes na ação evocativa podem testemunhar a "passagem dos raios solares sobre o eixo de uma gigantesca esfera terrestre ou a esplendorosa configuração de um enorme globo solar – Proporcionando, a par da magnífica e ampla panorâmica, que dali se descobre, momentos de especial sublimidade e esplendor místico, poético e espiritual.




  HOMENAGENS
Em todas as nossas celebrações, quer nos equinócios do Outono ou da Primavera e  no  Solstício, temos procurado saudar os ciclos da natureza e ao mesmo tempo celebrar os poetas ou homenagear outras figuras que achemos que se enquadrem no espírito destes eventos.  E cujos nomes temos referido em anteriores trabalhos acerca desta celebração
 
"Feliz de quem deixa na terra a marca dos seus passos" - Palavras do Dr. Manuel Daniel  
 "Feliz daquele cujos passos ficam assinalados como marcas sagradas nos diversos caminhos dos homens" - Disse o poeta Manuel Daniel,  em 2010, a propósito da  sessão da homenagem ao Cónego José da Silva,  que teve lugar salão da Junta de freguesia de Vila Nova de Foz Côa, justamente no ano em que  completaram 25 anos de paroquialidade 

 - Pois estas palavras ajustam-se perfeitamente a ambos os nossos dois homenageados. E quem gostaria  de as voltar a proferir neste dia, estamos certos que era o próprio Dr. Manuel Daniel, que amavelmente nos comunicou a sua impossibilidade de estar presente - Por razões de saúde e também por no dia de hoje ser também um dia muito especial - o dia do casamento do Xano, seu afilhado do Crisma, que é filho de Amélia e António Lourenço, dois dos nossos mais dedicados colaboradores, e a quem desejamos as maiores felicidades.

Manuel Daniel não vai poder estar presente, como era seu desejo, mas as  palavras que proferiu, naquela sessão de homenagem e que foram objeto de um muito oportuno artigo publicado no jornal OFOSCONSE, no passado dia 1 de Maio,  vão servir-nos de fio condutor neste texto que  dedicamos às homenagens que hoje pretendemos prestar nos Templos do Sol

 
Diz-nos, o Dr. Manuel Daniel, depois de nos revelar a sua "dupla incapacidade para corresponder" ao nosso  convite para a festa do Solstício

 - "Com isto, compreenderá que me é impossível estar presente, na festa do Solstício, o que muito me entristece, sobretudo quando nela se homenageia o nosso querido e inesquecível amigo Sr. Cónego José.
O Sr. Cónego José merece tudo o que a gente possa dizer dele. Era a bondade em pessoa e tinha um coração onde todos cabiam. Agradeço, como amigo dele, o gesto lindo da homenagem que lhe presta.

Por outro lado, o estro de Guerra Junqueiro e a sua pessoa como ilustre duriense, são outros justos motivos de  festa. O autor dos "Simples" foi um homem muito sensível, de grande humanidade. A Guerra Junqueiro, além do muito que se lhe deve, podemos também agradecer os esforços que fez junto dos ingleses em favor da abertura da Linha do Douro, embora depois ele mesmo beneficiado com a linha na outra margem do Douro, junto à  Quinta da Batoca."



 GUERRA JUNQUEIRO
Quase 91 anos da sua morte, relembramos Guerra Junqueiro.

Figura sobejameneete connhecida, autor de uma vasta obra - Mas, de forma resumida, diremos que,  valendo-nos de um apanhado que fomos pesquisar, "Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu em Freixo de Espada-à-Cinta em 17 de Setembro de 1850 e faleceu em Lisboa, em 7 de Julho de 1923. Era filho de José António Junqueiro Júnior, negociante e lavrador, e de sua mulher, Ana Maria do Sacramento Guerra. A família era tradicionalista e religiosa. Ficou órfão de mãe aos 3 anos de idade, o que deixou alguns sinais na sua poesia, como no célebre passo «Minha mãe, minha mãe, ai que saudade imensa…» de “Aos simples”, o poema inicial de A velhice do Padre Eterno.
Estudou os preparatórios em Bragança, matriculando-se em 1866 no curso de Teologia da Universidade de Coimbra. Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos depois transferiu-se para o curso de Direito. Terminou o curso em 1873. Entrando no funcionalismo público da época, foi secretário-geral do Governador Civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo. Em 1878, foi eleito deputado pelo círculo eleitoral de Macedo de Cavaleiros.
Homem de personalidade forte, perspicaz, alegre e com gosto pela vida, simples nos trajes, mas cuidadoso na aparência, com o seu bigode farto e olhar aquilino.
Guerra Junqueiro desde muito novo começou a manifestar notável talento poético, e já em 1868 o seu nome era incluído entre os dos mais esperançosos da nova geração de poetas portugueses. No mesmo ano, no opúsculo intitulado "O Aristarco português", apreciando-se o livro "Vozes sem eco", publicado em Coimbra em 1867 por Guerra Junqueiro, já se prognostica um futuro auspicioso ao seu autor.
Autor de uma vasta obra onde se incluem títulos tão conhecidos como, ‘Vozes sem Eco’ (1867), ‘Baptismo de Amor’, com prefácio de Camilo Castelo Branco (1868), ‘Victória da França’ (1870), ‘Espanha Livre’ (1873), ‘A Morte de D. João’ (1874), ‘A Velhice do Padre Eterno’ (1885), ‘Finis Patriae’, (1890), ‘A Pátria’ (1896), ‘Oração ao Pão’ (1902), ‘Oração à Luz’ (1903) e ‘Prosa dispersas’ (1920)



Dr. Manuel Pires Daniel - por ocasião da Homenagem a Fernando Assis Pacheco

HOMENAGEM AO CÓNEGO  JOSÉ DA SILVA  -  Figura muito estimada e querida do nosso concelho, que, por várias vezes, aceitou honrar-nos com a sua presença, prometendo-nos que, se a saúde não lhe faltasse,  tinha muito gosto em estar presente, na homenagem que, desde o ano passado, tencionávamos ali prestar-lhe. – Porém, a vida tem destas coisas: troca-nos as voltas quando menos se espera e ninguém escapa às suas leis inexoráveis. Ele,  na Pedra da cabeleira de Nossa Senhora, com uma singela cerimónia  antecedendo

o ato evocativo na Pedra do Solstício) e Guerra Junqueiro no altar dos poetas
.


Não quis ser outra coisa senão ser Padre e nunca se arrependeu de ter seguido a vida de sacerdote - . “Eu não procurei ser outra coisa. Procurei ser Padre. Procurei cumprir o meu dever. Quando me ordenei, eu tinha um primo, em Barcelos, que era director de um colégio e convidou-me para ir para lá como professor. Eu respondi-lhe: ordenei-me não para ser professor mas para ser padre. Agradeci-lhe por se ter lembrado de mim mas eu nasci para ser padre, não aceitei o convite

E Deus fez-lhe a vontade, durante  mais de seis décadas ao serviço da igreja. Filho  único mas de pais humildes. A mãe queria que ele fosse para o seminário, porém, seu pai, receando ficar sozinho na velhice, chegou a deslocar-se a pé a Lamego para  demovê-lo a voltar para casa. A mãe tinha opinião diferente do marido e ficou contente pela sua determinação.

RELEMBRANDO O REV. CÓNEGO JOSÉ DA SILVA – POR MANUEL DANIEL

Vamos, pois, tomar a liberdade de transcrever quase na íntegra  as palavras do Dr. Manuel Daniel, proferidas, no dia 3 de Março de 2010, diata em que se completaram 25 anos de paroquialidade do Revº Cónego José da Silva. 



"Há duas maneiras de deixar marcas ao longo da vida: ou aqueles factos que a sociedade considera dignas da epigrafia e outras formas de registar a passagem do tempo, assinalando-as em lápides ou em esculturas, em livros ou em filmes, ou aquelas que indelevelmente se vão imprimindo nos recônditos do coração. Eu prefiro a segunda maneira, porque o que mais vale é que e deixem os passos gravados na memória: no coração dos que nos são mais queridos, porque foi o afecto que para aí conduziu as lembranças que porventura deixámos. 

 

Aqui e agora, sem prejuízo da memória escrita, que sejam os nossos corações a recordar e a reviver momentos que o nosso coração registou e não quer deixar olvidar.


Estamos aqui não apenas para recordarmos, mas também para manifestarmos o nosso agradecimento a quem já nos deu, com muita generosidade, uma boa parte da sua vida, parte essa que, na medida do tempo, acaba de completar um quarto de século.

Estamos, por isso, aqui para assinalarmos, jubilosamente, o decurso da linda conta de 25 anos, que tanto é o tempo que alguém já nos dedicou sem quebra de ânimo. Alguém que dá pelo nome prestigiado de José da Silva, um sacerdote que, graças a Deus, ainda se encontra à frente da nossa comunidade religiosa, co-paroquiando com outro zeloso sacerdote que é o Rev" Sr. Pe. Dr. António José Ferraz. 



Como elemento da comunidade paroquial, que a acompanha vai fazer 40 anos, agradeço e assumo a honra que me foi dada, de vir aqui testemunhar a nobreza das qualidades humanas e o fervor religioso do Rev" Sr. Cónego José da Silva, e 'aqui reportar, ainda que de forma sintética, o que tem sido a sua acção e o seu contributo na construção sempre renovada desta mesma comunidade. 


Nasceu  em 1927, em 12 de Fevereiro


Vamos situar-nos em 1927, ano em que ocorreu a chamada “Revolta do Reviralho”, acontecimento que teve início no Porto, em 3 de Fevereiro e depois a ser dominado cm Lisboa, a 7 do mesmo mês, acontecimento esse que tinha cm vista o derrube da ditadura saída do golpe de 28 de Maio e está na base da criação de uma Polícia de Informações, que veio a receber o nome de Pvide, depois Pide, mais tarde de Pide-Dgs. 


Foi nesse ano que se organizou a primeira Volta a Portugal cm bicicleta. Por essa mesma altura, o Prof. Egas Moniz realizava, com sucesso, numa pessoa viva, a sua primeira angiografia cerebral. Apareceu cm Coimbra a revista "Presença". Ribeiro da Conceição, emigrado e enriquecido no Brasil, oferecia a Lamego um teatro que foi considerado desmesurado para uma cidade tão pequena. Nasceram, entre outros, em Lamego, nesse ano de 1927, homens notáveis como o Dr. Eurico Lemos Pires e Félix Ribeiro. Nascia cm 16 de Abril o futuro Papa Bento XVI. O cinema mudo passava a ser posto de lado para reaparecer com som, surgindo filmes cm catadupa a partir da cidade americana de Holywood. A ponte ferroviária entre a Régua e Lamego era construída, em vão. A nível mundial festejava-se o aviador Charles Lindbcrg que conseguira efectuar c primeiro vôo sobre o Atlântico sem escala, fazendo a viagem entre Nova Iorque e Paris, ao longo de 33 horas e meia. 


O mundo em geral abria-se para a modernidade, onde a velocidade passou a ser o símbolo do progresso.


Penude – Lamego era a sua terra natal


Entretanto, e a cerca de uns 12 quilómetros da cidade de Lamego, na aprazível freguesia de4 Penude, nascia no dia 12 de Fevereiro de 1927, no seio de uma família honrada, modesta e temente a Deus, um menino que recebeu o nome de José. Sendo filho único, recebeu todo o afecto que brotava do coração dos seus progenitores. Em paz ali cresceu, ali frequentou a escola primária e recebeu a amizade e o interesse da sua professora quanto ao seu futuro. Defendia ela que aquele aluno deveria prosseguir estudos. Mas os seus pais sobreviviam com o produto do seu trabalho nas terras que possuíam, pelo que a continuação dos estudos, mesmo tendo só aquele filho, não estava no seu horizonte. Estava talhado para aprender um ofício. Mas Deus escreve direito por linhas tortas.


Os seus anos de juventude


Tinha o pequeno José 14 anos quando disse aos pais que gostava de ser padre. Imagine-se quanto custou aos pais imaginarem-se sem a companhia do filho. Foi uma resolução difícil. Os pais acabaram por atender ao pedido do filho. Deu-lhe, porém, o pai a saber que tinha de olhar com muita seriedade o caminho que desejava seguir. E um belo dia lá foram, pai e filho, a caminho do seminário, onde o pequeno José ficou. Não demorou que as saudades de casa e dos pais o não atormentassem, nem tardou que os pais se não sentissem tristes pela ausência do filho. Duas semanas apenas e já o José queria regressar a casa e já o pai aparecia no seminário para o levar de regresso. Seguiram-se uns dias de grande inquietação interior para pais e filho, que vieram. no entanto, a terminar com e decisão mais firme de voltar para o seminário. Na perseverança desse propósito, foi-se tornando mais nítida na sua alma a vocação sacerdotal. 


Sacerdote para sempre


O menino cresceu. Tornou-se homem. E num belo dia, com 26 anos feitos há meses, recebeu a Ordenação Presbiteral. Estávamos em 5 de Junho de 1953, quando em Penude já estavam feitas as ceifas e as videiras começavam a animar os viticultores. A ordenação, dele e de mais três colegas, ocorreu na Sé de Lamego e a Missa Nova seria celebrada na terra natal. Foi uma festa grande em Penude. De tudo ressaltava a ideia de que o jovem sacerdote tinha sido escolhido para ser, entre os homens, um ministro de Deus. Ministro para servir, à semelhança de Cristo, seu e nosso Mestre. 


 



Riodades, Escurquela, Paredes da Beira e ainda, Peneda da Beira



Colocou-se nas mãos do seu Bispo a sua disponibilidade, como prometera na cerimónia da ordenação. Declarava-se ao serviço da Igreja, qualquer que fosse o lugar para onde dele precisassem. E, pelos vistos, ele foi necessário para algumas paróquias do autêntico Alto Douro, para o coração da região vinhateira, entre o Távora e o Torto, encantadores afluentes do nosso grande e mítico Douro. Riodades, Escurquela, Paredes da Beira, depois Penela da Beira, terras integradas nos concelhos de S. João da Pesqueira, Penedono e Tabuaço, foram o esplêndido cenário onde os seus anseios de pastor se expandiam em sementeiras de fé
.

Naquele bonito pedaço do mundo e ao serviço das suas gentes se gastava o jovem padre. Bem depressa conhecia todas as famílias e os laços que as constituíam. Tornou-se um deles, partilhando do seu viver. Seguindo o conselho paulino, chorava com os que choram e ria com os que riam. Naqueles anos, apenas se tinham passado praticamente meia dúzia de invernos sobre o final da II Grande Guerra. Vivia-se com muita dificuldades, que se tentava minorar graças aos apoios da Cáritas Internacional.


O jovem Pároco viveu arduamente esses problemas. Ajudou a matar muita fome, trouxe remédios das farmácias das vilas, da Pesqueira, de Sernancelhe ou de Tabuaço, arranjava maneira de, nas sedes dos concelhos, resolver muitos problemas administrativos. Pagava-lhes os impostos, ia aos correios, poupava caminhadas a quem se consumia nas lides da terra. Muitos dos seus paroquianos não sabiam ler, tornou-se professor de muitos. Mas enquanto as suas paróquias se tornavam como alfobres de cristãos sofridos, estes, os mais válidos, acabavam por, em noites de coragem, numa luta por uma vida melhor, se lançavam "a salto", a caminho de Francas e Araganças. A emigração era uma sangria que deixava as comunidades sem as suas mais valias. 


Os nossos contactos em S. João da Pesqueira



Foi alguns anos depois, no início da década de 60, que tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente, em S. João da Pesqueira, em frente dos correios. Estava de batina, bem apresentado, e logo me pareceu uma pessoa simpática, de trato fácil e elegante, bastante cordial. Já ele convivia com o meu malogrado amigo João Selores Alves, católico dedicado e chefe local dos CTT, e os três conversámos uns momentos. Na Residência Paroquial, na Pesqueira, acolhidos com a maior simpatia pelo ainda Pároco da Pesqueira, Mons. José do Nascimento Gomes, desenvolvemos os nossos sentimentos de mútua estima. Depois, muita vez, tive a oportunidade de o atender na Repartição de Finanças, onde tratava de assuntos dos seus paroquianos. Em boa verdade, era um pároco - embaixador, que aproveitava as deslocações ã Pesqueira para resolver assuntos dos seus paroquianos.


Entretanto, como diria Camões, muitos sóis foram passados. Por caminhos diferentes seguimos meses e alguns anos. Em 1964 saí da S. João da Pesqueira e fui colocado em Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, onde permaneci cerca de cinco anos. Voltando para S. João da Pesqueira, para outras funções, regressei casado e com um filho nascido em Évora. Encontrei S. João da Pesqueira no alvoroço da construção da Barragem da Valeira, E ao longo de novos 3 anos voltei a ter o prazer de conviver com o Revº Pároco de Riodades, Sr. Pe. José da Silva, sabendo-o então muito ocupado, porque jâ andava, como se fora um empreiteiro, às voltas com a construção da nova Igreja de Riodades. Como conseguia o dinheiro para as obras, isso era um verdadeiro milagre. Teve ele a ideia maravilhosa de se deslocar, nesses anos, às terras onde se encontravam os emigrantes naturais de Riodades, quer fosse na França, na Espanha, na Alemanha e no Brasil. Não parava para que as obras também não parassem. Como não pararam, tendo conseguido, com a ajuda de Deus e de tenras boas vontades, que o novo templo passasse a enriquecera bela paisagem de Riodades e o panorama espiritual das suas gentes. Depois, tendo dado conta que faltava ainda dinheiro para acabar de pagar tao volumosas despesas, de novo se lançou à estrada. Depois disso e para que a uni3o dos naturais de Riodades fosse uma realidade, além da Igreja que ajudaram a construir., de muita utilidade se revelou o jornal que ali fundou .. A Voz de Riodades", que ainda hoje continua a publicar-se sob o cuidado do Rev" Sr. Pe. Abel. 


Novas missões ao serviço de deus


Quando tudo estava perfeito e o novo templo já dispunha inclusive de uma boa aparelhagem sonora, um emigrante, que enriquecera no Brasil., quis proporcionar aos conterrâneos uma festa para celebrar a sua presença na terra e mandou pedir ao Pároco para que lhe cedesse a aparelhagem da Igreja. Este mandou-lhe dizer que as coisas que estavam dedicadas a Deus só podiam ter aquele fim e, por isso, não podia atender o seu pedido. O amigo brasileiro. despeitado, disse que não  aceitava aquela "desfeita" e que ainda devia de  botar de sacristão". Um interessante episódio bem revelador daquele meio e do zelo com que o Rev• Sr. Padre José tratava das coisas que estavam dedicadas a Deus.


Sem pai já há alguns anos, o Sr. Pe. José da Silva veio a perder também a sua ex· extremosa mãe, que era o seu enlevo e a  doce companhia. Melhor dizendo, uma companhia reciproca, pois ambos., mãe e filho, se reforçavam numa afectividadc muito profunda
.


Sem pai já há alguns anos, o Sr. Pe. José da Silva veio a perder também a sua extremosa mãe, que era o seu enlevo e a sua doce companhia. Melhor dizendo, uma companhia recíproca, pois ambos, mãe e filho, se reforçavam numa afectividade muito profunda

Entretanto e na minha peregrinação profissional eu vim para Vila Nova de Foz Côa em 1971, onde então era Pároco o saudoso Sr. Pe. Manuel de Paiva Castilho, natural de Paredes da Beira, concelho de S. João da Pesqueira, e de quem já me tornara conhecido a propósito das suas ocasionais visitas à Pesqueira. O Sr. Pe. Castilho manifestava pelo Sr. Pe. José da Silva um carinho especial, porque o via também como o Pároco da sua terra natal.

Deixou uma parte de si em Riodades


A partir dessa altura, tudo diria que a vida do Sr. Pe. José da Silva seria mais tranquila. Mas o seu coração, sintonizado com o do seu Bispo, que o designara entretanto como Vigário Episcopal para a Zona do Alto Douro, não tinha parança, e ia-se deslocando, aqui e ali, para animar os colegas, ajudando-os a enfrentar as suas dificuldades, entre elas, por certo, as que provêm da solidão em que algumas vezes se encontram. Também em Vila Nova de Foz Côa foi necessária a sua presença. O Revº Pe. José, que algumas vezes veio celebrar na Igreja Matriz de Foz Côa, e logo apercebeu do Sr. Bispo a nomeação para Pároco de Foz Côa, decisão que o arcual Antístite, o Senhor O. Jacinto, também recomendou, pois tinha na altura responsabilidades no governo da Diocese, como Vigário Geral.

A vinda do Revº Sr. Pe. José da Silva para Foz Côa não lhe foi fácil por razões afectivas. Sair daquelas suas paróquias: era como arrancar-lhe o coração. Sentia-se muito ligado a elas, ás suas gentes, às amizades que ali criara, à vida de toda aqui la gente.
Mas Foz Côa reclamava-o, precisava da sua humanidade, da sua afetividade. E por isso, foi com muita alegria que toda a comunidade fozcoense rejubilou com a notícia da sua vinda para meio de nós. 

Foz Côa estava, nessa altura, a vali rizar-se com uma nova fisionomia. Edifícios e serviços públicos vinham aparecendo com o fim de melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. Uma nova dinâmica animava as instituições as pessoas, num crescendo social e Administrativo, a partir da instauração i regime democrático, que tomou corpo 25 de Abril.

Entrada em foz Côa em 2 de Março de 1985

O dia 3 de Março de 1985 surgiu, finalmente, em terras fozcoenses, ora plenamente luminoso, ora um pouco nublado, mas com algumas abertas. À entrada da Avenida Gago Coutinho, uma multidão recebia o Pároco novo. Formados, os escuteiros do Agrupamento 329 do CNE e muitos jovens. Com galhardia, um grupo de marjoretes dos Bombeiros Voluntários ajudava a compor o cortejo. Uma jovem, saudando-o em verso, veio entregar-lhe, sobre uma almofada bordada, um coração de flores, pequenas mas muito unidas e vermelhas, a significar o coração das gentes fozcoenses. Em todos se estampava uma alegria sincera. Depois um cortejo entusiasta percorreu a Avenida, atravessou sob colchas a Rua de S. Miguel, debaixo de pétalas saiu do tablado e subiu a antiga Rua do Hospital, para se apresentar à entrada da magnífica Igreja ·Matriz de Nossa Senhora do Pranto. Aí chegados, teve lugar outra singular saudação: a Banda Musical dos Bombeiros fez-se ouvir numa marcha do seu repertório. A seguir foi a Eucaristia, com o cerimonial da leitura do documento da nomeação e a assinatura da acta de posse. 

O Sr. Bispo da Diocese, estava representado pelo Sr. Vigário-Geral, Dr. Jacinto Botelho, actual Venerando Bispo da nossa Diocese. Tomaram parte na concelebração os Párocos do Arciprestado e o Pároco da vizinha Vila de Meda, Sr. Pe. José Maria de Lacerda, concelebraram. No final, o Sr. Pe. José quis agradecer a recepção e abriu o seu coração, declarando que vinha para unir como Cristo nos quer unidos. 

Escreveu-se um novo capítulo da comunidade fozcoense

Assim se abria ali um novo capítulo do livro da história da Paróquia de Vila Nova de Foz Côa, no qual se registavam os trabalhos a que o novo Pároco e os seus paroquianos se lançaram então, na certeza de que construção do Reino de Cristo não sofre tréguas por dever ser uma tarefa diária.

Nestes últimos anos muitas coisas se fizeram, que se podem referir, e muitas outras que a discrição manda silenciar, pois, como se diz, o Bem não faz barulho e o barulho não faz bem. Abreviando, porém, diremos que o novo Pároco vinha animado de intenções que, para se concretizarem, só precisavam da união das vontades. 

 
Tornou-se de novo um verdadeiro empreiteiro, lançando-se cm tarefas indispensáveis. E desde logo, a construção de um novo Patronato, obras de reparação e conservação em todas as capelas, entre elas no Santuário de Nossa Senhora da Veiga, obras de restauro dos quadros seiscentistas existentes na capela maior da Igreja Matriz, a aquisição do sistema automático do toque dos sinos, nova instalação sonora para a Igreja, o mesmo fazendo no santuário de Nossa Senhora da Veiga, a organização de primorosa exposição de Arte Sacra, que revelou a riqueza iconográfica e a valiosa paramentaria das paróquias do Arciprestado, a realização de uma Missão, a organização de várias Visitas Pastorais, dentro de um programa pastoral, do qual sobressaía a direcção e a edição do jornal paroquial "O Fozcocnse", que já vai cm 59 anos de publicação ininterrupta (pois foi fundado em 1951 pelo saudoso Sr. Pe. Manuel Castilho). 

Entretanto, tendo em conta todo o trabalho despendido, inclusive com a construção de raiz de uma Igreja, foi nomeado Cónego Honorário da nossa Diocese de Lamego. 

Pároco também das Chãs

É verdade que em quase metade destes 25 anos tem contado com a ajuda dinâmica de um autêntico Cireneu, que é o Revº Sr. Pe. Dr. António José Ferraz, com quem partilha ln sólidum a paroquialidade de Vila Nova de Foz Côa com o Pocinho, Santo Amaro e Mós, sendo também que, durante meia dúzia de anos, o Revº Sr. Cónego José da Silva assumiu a paroquialidade das Chãs.

Se quisermos ser muito sintéticos, poderíamos dizer do Revº Sr. Cónego José da Silva que ele é, basicamente, um bom homem, mas eu penso que. dele não se dirá tudo, porque mais do um "bom homem" é um "Homem Bom". Intrínseca e extrinsecamente. E quando se diz que é um Homem Bom, também parece que fica dito tudo e que nada mais haverá que dizer. Mas não. Porque a personalidade do Sr. Cónego José, para o retrato fique mais perfeito, exige que se diga algo mais. É que sendo ele, como é, um Homem Bom, ele é também, um Bom Sacerdote. E quando um Bom Sacerdote possui as qualidades de um Homem Bom, temos o oiro sobre o azul, ou seja, uma pessoa com as melhores qualidades humanas enriquecida pelo transcendente.

É que o Revº Sr. Cónego José é um Homem de Deus, um Homem de Fé, um Homem que busca a santidade numa vida discreta e humilde. Um Homem solidário, que sofre com os nossos doentes, que se entristece com os que partem do nosso convívio terreno, que partilha os nossos anseios, os nossos desgostos e as nossas alegrias. 

Com o andar dos anos mais se vincam as altas qualidades humanas e sacerdotais do Revº Sr Cónego José. Quem o vê na rua sabe que ele vai com destino certo. Normalmente vai a casa de alguém que sabe que está doente, ao hospital ou em casa. Às vezes chega a visitá-los nos lugares para onde os levaram, segue trilhos de ambulâncias, e ele aí está, no Hospital da Guarda, no de Viseu, nos hospitais de Coimbra, do Porto ou de Lisboa. Para visitar uma irmã doente, a nossa saudosa Irmã Franca, do Instituto da Consolata, foi propositada-. mente a Turim, cidade italiana onde as Irmãs têm a sua casa principal. E faz tudo isso com a maior das naturalidades, com muita amizade, de coração aberto e com espírito apostólico, levando sempre uma Palavra de Esperança no Amor e na Misericórdia de Cristo. 

Embaixador de Cristo pronto para todos 
Para onde quer que vá, leva com ele o Sacerdote que é, leva consigo o Mistério do homem sagrado, escolhido pelo Pai desde o primeiro momento para ser "sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec". Na vivência deste Ano Sacerdotal, que nos apresenta o Santo Cura de Ars como modelo, somos convidados a compreender a grandeza de ser Sacerdote. A compreender esta Honra maior entre as maiores, que é a de ter o poder de chamar de novo à Terra o Filho Glorificado pelo Pai, quando consagra, na Eucaristia, o pão e o vinho do Santo sacrifício. Honra maior entre as maiores, que é a de ter também o poder de perdoar os pecados em nome de Deus, restituindo aos homens a Graça perdida. Honra maior entre as maiores, como é a de abençoar os pobres pecadores em nome da Santíssima Trindade, desse modo acalmando os mares revoltas e as tempestades da alma. E Honra maior entre as maiores, como é a de ser o representante de Cristo Senhor Nosso no meio das suas ovelhas e o advogado destas perante o Amor e a Misericórdia do Pai. 


De entre os homens um dia retirado
e no meio dos homens inserido,
o Padre é um mistério humanizado,
de zelos devorado,
pastor constituído.

Caminheiro connosco nesta vida,
tem nos olhos a marca de outro Espaço.
E de alma como as mais, quente e dorida,
vendo a nossa esvaída
é  Deus no seu abraço.

Colocado por todos numa cruz,
dali o requeremos novamente
para que seja nosso guia e luz
e em nome de Jesus
a salvação da gente

(...)


São 25 anos ...
25 anos em favor das nossas necessidades materiais e espirituais ...
25 anos de investimento espiritual e físico de quem aceitou ser nosso Pastor.
25 anos a semear sem direito a colher, a pedir sem direito a receber.
25 anos a louvar a Deus por todos aqueles que a Igreja lhe confiou.

Estas datas são marcos da nossa história colectiva, mas são principalmente marcos da sua história pessoal, que estão inscritos no livro da nossa memória e no mais fundo do nosso coração.
Feliz de quem deixa na terra a marca dos seus passos
Feliz daquele cujos passos ficam assinalados como marcas sagradas nos diversos caminhos dos homens.

Manuel Daniel  - Excertos do Jornal OFOZCOENSE 01 de Maio de 2014

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