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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Lisboa à noite - Bairro Alto não escapa à crise e só é barulhento às Sextas, Sábados vésperas de feriados. - “Nós, não vendemos droga, vendemos merda”, mas as câmaras de vigilância já os obrigam a descer ao Chiado e à Baixa Lisboeta. – Altos arrendamentos extinguem bares mais populares por restaurantes especuladores, que tomaram o espaço das ruas e mataram a alma do bairro.

"Bófia à civil?!... Topos logo à distância!! ": “E então já vos levaram alguma vez para alguma esquadra da cidade?!...” Sua resposta: “Nem me fale nisso! ...” Mesmo assim continuas a vender a tua mercadoria? “- insistimos – “Eles sabem que isto é merda e não nos chateiam … Mas, quando nos levam para a esquadra, só se lá estiver o chefe... "



  O BAIRRO ALTO DE HOJE É CADA VEZ MAIS UM BAZAR ARTIFICIAL DE RESTAURANTES PARA TURISTA CÓMODO SE SENTAR E MENOS O TÍPICO BAIRRO ALTO PARA VERANEAR -Sim, antes sujo e livre como estava de que agora aprisionado às etiquetas do colarinho engomado e engravatado.

 ONDE O ORIENTE OPORTUNISTA E MERCADOR JÁ COMEÇOU TAMBÉM A OCUPAR E A PERVERTER - Compreende-se que assim seja: até porque,  a bem dizer, portugueses de origem, é uma espécie em vias de extinção – Onde está o crédito da banca para fazer face aos poderosos lóbis orientais ou a outros sobas  africanos?!...

 A NOVA LEI DO ARRENDAMENTO URBANO FACILITOU OS DESPEJOS DOS IDOSOS DO BAIRRO E FEZ  DESAPARECER ALGUNS DOS MAIS POPULARES BARES
EM SEU LUGAR, REABRIRAM RESTAURANTES DE  LUXO - QUE OCUPAM AS RUAS COM ESPLANADAS, COMO SE FOSSE TUDO DELES.

 Limparam-se os  graffiti que podiam ferir a sensibilidade de  certos olhos conspícuos e puritanos. E permitiu-se que os donos dos restaurantes se apropriassem  de uma boa parte do espaço público -  O problema é que, os restaurantes, que esperavam ali encontrar o seu maná, também estão a levar grande ripada por culpa da sua própria avareza e de terem embarcado  em altos arrendamentos.

A maior parte das imagens, que aqui publicamos, foram registadas há 4 anos e é difícil que o bairro volte a conhecer os seus melhores dias de  convívio e de forma tão informal - Comer ou beber a uma mesa de rua é caro e o Bairro agora é dos Reis das Mesas.

Há 4 anos -a outra imagem é recente
                      



ATÉ O SÉTIMO CÉU  FECHOU AS PORTAS MAS JÁ POR LÁ ABRIRAM MUITOS CÉUS ORIENTAIS…



Lamenta-se um frequentador: -“ó meu deus - o Sétimo Céu já fechou, já se chamou Bardot e já se voltou a chamar Sétimo Céu. Na original esquina gay do bairro, é um bar simpático e maiorzinho que os daquela zona, tendo o balcão numa primeira sala e uma segunda sala no caminho para a casa de banho. É decorado a divas e a linhas modernas, e uma boa aposta para sentar um bocado com os amigos. Sétimo Céu - Bairro Alto - Lisboa

E também lá se foram as populares noites das “Catacumbas

“Era "um sítio muito aberto a todo o tipo de músicos", mesmo os menos experientes, diz Petra Pais, com Catman uma das vozes de Nobody"s Bizness, banda que nasceu no Catacumbas. Muitos deram os primeiros passos naquele bar

(…)"As pessoas perguntam porquê, porquê", diz-nos Manuel Pais. Por tudo, responde: "A crise, uma certa insatisfação com aquilo que é o público do Bairro Alto, também algum cansaço da minha parte, querer parar um pouco."Acabaram-se as noites de música nas Catacumbas


Junto à Brasileira do Chiado -Onze e meia da noite  de Terça-feira, dia 13 de Maio de 2014- Um canadiano deitado perdido de amor com o sossego da cidade e a sua namorada

   Fotos e texto de Jorge Trabulo Marques - Jornalista
 

 

Lisboa – A crise também chegou ao Bairro Alto. Vai da baixa histórica aos bairros mais velhinhos. Onde o negócio ainda prospera é na Rua Garrett - Diz-se que é das  ruas mais caras da Europa. Rende, sobretudo, durante o dia. À noite, enquanto não fecham, safam-se alguns dos comes e bebes e as gelatarias -  A venda da droga agora é na periferia – As câmaras de vigilância, afastaram os traficantes mas os donos dos restaurantes e bares lastimam-se, dizendo  que o  negócio desceu “como  do dia para a noite”


Lisboa, onze horas da noite. Dois músicos, acabados de se conhecerem, tocam e cantam um improviso à viola e  o Gambri, instrumento de corda de fibra -- O tocador de viola é o vietnamita, Hau Vo Minh; o que toca o instrumento do norte de África, é o Saíd Marro.



Imagens de há 4 anos - Que praticamente tende a desaparecer


MAIS LIMPINHO, AS RUAS MAIS ASSEADAS – MAS TIRARAM-LHE A ALMA – A NOVA LEI DO ARRENDAMENTO FOI A ESTOCADA FINAL 


Os bares mais populares e emblemáticos, encerraram as portas, outros estão condenados a fechá-las – Antes, atribuia-se a culpa  aos novos horários, que passaram a fechar mais cedo.. Bares do Bairro Alto passam a fechar às 02.00 - dn -    



Mas a principal causa do encerramento dos bares mais populares, deve-se, em grande parte,   à  nova lei do arrendamento, que liberalizou as rendas e as exorbitou a preços incomportáveis.

Muito se comentou, quando a CM de Lisboa, limitou os horários para as 2 da manhã – Medida aplaudida por uns e criticada por outros. “Somos frequentadores, moradores e comerciantes do Bairro Alto, e estamos visivelmente satisfeitos com as decisões tomadas por V.Exa. relativas à limpeza das ruas deste bairro típico da cidade e à promoção da segurança nessas mesmas ruas .Um encerramento dos bares às 2 horas vai proceder a um corte abrupto na tão animada vida nocturna do Bairro Alto. Viva o Bairro Alto



Em nossa opinião, também achamos que foi uma medida acertada para a tranquilidade dos moradores mas, que, de algum modo, também viria afetar a rentabilidade dos bares. Houve quem aplaudisse: "Acho bem, é uma questão de respeito pelas pessoas que vivem aqui. Têm que adaptar a cidade, mudar as zonas de bares para os arredores»,” Acho que agora está mais limpinho e tem menos gente», Houve, porém, quem chegasse ao ponto de afirmar que os moradores deviam abandoar as suas casas e ir morar para uma espécie de gaiola, fora da cidade.. «Deviam criar alojamento noutro sítio para as pessoas que moram aqui», Bairro Alto - Destak



"A culpa é da delinquência",  argumentam os donos dos bares: “o principal problema do Bairro Alto tem a ver com a “desordem nas ruas” e não com o funcionamento dos estabelecimentos a quem foram exigidos investimentos avultados no cumprimento de rigorosas normas de segurança, higiene, insonorização, etc. ASSOCIAÇÃO DE COMERCIANTES DO BAIRRO ALTO ...



Fátima Lopes na esquadra contra o senhorio  - de subida de renda de 5 mil para 7,5 mil euros/mês

Fátima Lopes é uma figura criativa que popularizou o Bairro Alto, à sua maneira. Pelos vistos, nem ela se safa da ganância do liberalismo selvagem. 
Agora veja-se o que não terá sucedido a quem tinha pensões que mal davam para bucha. Mas, afinal, qual o reformado que não foi chutado do Bairro Alto - ou de outros bairros - com a nova lei do arrendamento? No seguimento da aprovação desta lei,  o CM noticiava que a  estilista apresentara “uma queixa na esquadra do Bairro Alto contra o senhorio que lhe barrou entrada ao seu restaurante no Chiado.
Em causa, de acordo com a estilista que diz ter todas as rendas em dia, está o facto de o senhorio pretender aumentar-lhe a renda de 5 mil para 7,5 mil euros/mês




BAIRRO ALTO DE AGORA É CADA VEZ MAIS UM BAZAR ARTIFICIAL DE RESTAURANTES PARA TURISTA CÓMODO SE PLANTAR A UMA MESA  - INCAPAZ DE SE ENCOSTAR A UMA ESQUINA OU SENTAR O CU NO CHÃO.


Lisboa aperta o cerco às esplanadas "feias e caóticas" – Perguntamos: É a fingir ou a falar a sério?

Passou-se de zero a 80. Antes era um bico de obra conceder licenças para ocupação da via pública. Agora, pelos vistos, cada um faz o que quer. De um lado e de outro, bradem-se argumentos mas não impede que o caos se estabeleça. Depois de se abrirem os braços à rebaldaria,  a   CM de Lisboa vem dizer  quer impor ordem “às esplanadas anárquicas que ainda ocupam as ruas de Lisboa”: Por sua vez, os comerciantes acham que tudo se justifica em nome do “ consumidor que está disposto a pagar mais para se sentar numa esplanada exige conforto”, Lisboa aperta o cerco às esplanadas "feias e caóticas ...


 

Hoje, os traficantes de droga, que residem nos subúrbios e que  escolhiam o Bairro Alto  para vender a sua “merda”, sentindo-se mais vigiados, já têm que descer para o Largo Camões, Rua Garrett, ao Chiado ou manterem-se pelo Rossio, Praça da Figueira, Restauradores e Portas de Santo Antão, outros dos seus pousos preferidos 

MAIS UMA VEZ OS SENHORES DOS GABINETES A PRIVILEGIAREM AS ELITES E A DESPREZAREM AS MAIORIAS - ATIRANDO PARA OS GUETOS OS QUE MAIS  GOSTAM DO BAIRRO ALTO.

Naturalmente que não foi a pensar na saúde pública que montaram as 23 câmaras de vigilância (gastando milhões) e escorraçam os vendedores da "merda" mas nos bolsos de certos empresários especuladores - Que, nem mesmo assim se safam. Tal a ganância de preços, que praticam - Ainda por cima ocupando uma boa parte das estreitas ruas - Havendo casos em que nem se lá pode passar, tão atravancadas de mesas estão

Compreende-se que haja ali algumas dessas alternativas, porém chegar a tal extremo raia o abuso e o absurdo.

Quem deu fama ao Bairro Alto e espalhou o seu nome além-fronteiras, não é o tipo de pessoas que vai ali para as mesas atoalhadas, mas os que entram num bar, sem grandes etiquetas e bebem uma cerveja ou um copo, encostam-se a qualquer lado ou até se sentam no passeio o vão de uma escada. 




Os bares de música ao vivo ou de fado vadio, ainda se vão safando. A restauração, já nem ao fim-de-semana. Não basta haver mais segurança, limpeza e higiene nas ruas, a crise económica, como tem ramificações lá fora, veio dar também uma grande machadada - Mas será que o turista que procura o Bairro Alto vai atrás de encontrar um bairro pintadinho de fresco, limpo dos rabiscos heréticos dos graffiti e pronto a  consumir?!... E para ficar sentado ao longo das estreitas vielas?.... Não haverá na cidade, melhores esplanadas, do que estas?!...

À sexta, sábado, há muito mais gente. Nesses dias, as ruas ainda continuam pejadas de nacionais e estrangeiros  – Estes, chamam-lhe o bairro cultural. 

E, são, especialmente eles que ali garantem o maior poder de consumo. Contudo, nem assim, o negócio se assemelha ao que já foi em anos anteriores. 

É como dia para a noite”; confessou-nos o Carlos e o Gonçalo, gerentes do Spot Bar SPOT bairro alto – Onde, habitualmente, há música ao vivo. Pois, só desta forma - e dando uma oportunidade de trabalho a músicos com pequenos espetáculos -  é que vão fixando aalguma clientela. O simples som do CD, só por si, não chega


O QUE SE DIZ DE UM BAIRRO COM 5OO ANOS DE HISTÓRIA

"O Bairro Alto é a mais popular área de vida noturna, em Lisboa. Nestas ruelas estreitas e habitadas por uma população maioritariamente envelhecida e de fracos recursos económicos, ocorreu, em meados dos anos 80, uma explosão de bares e discotecas. Isto criou uma dinâmica própria e muito viva, frequentada por jovens e turistas desejosos de diversão. As noites do bairro são frequentadas por gente entre os 20 e 30 anos, que se aglomera pelas ruas, de copo na mão. Casais e grupos de amigos mais velhos também se passeiam pelas mesmas vielas, quem sabe se à procura de um restaurante para namorar ou confraternizar. Melhores restaurantes do Bairro Alto -

500 anos do Bairro Alto  Primeiro, chegou a gente ligada ao mar, depois, os jesuítas e, atrás deles, a nobreza, nos seus coches. O Bairro Alto escapou ao terramoto e o fado encheu-lhe as ruas. Com os jornais, a boémia intelectualizou-se. O salazarismo levou o bairro a fechar-se e, só em finais dos anos 70, as novas gerações o descobriram como lugar de transgressão e fuga. Entrou na moda e dela nunca mais saiu". Bairro Alto, uma história concentrada

HISTÓRIAS DE HÁ QUATRO ANOS - Fotografadas com telemóvel - Antes da mudança da 3ª Esquadra, na Rua das Mercês, para a Rua da Atalaia.

Não somos dos mais frequentadores do Bairro Alto. E, quando ali vamos, é quase de passagem. Nem é com o sentido de nos divertirmos, mas, uma vez por outra, damos lá um saltinho de fugida para vermos como pára por lá o ambiente. Temos naquele bairro algumas recordações de quando ali éramos marçano. Por vezes, somos como que impelidos por aquela espécie de fascínio e atracção fatal que paira por entre as sombras e os cantos daquelas ruas velhinhas. Fizemos por lá um giro nestes últimos dias. Registamos algumas imagens com a câmara do telemóvel e ouvimos algumas das personagens, que, de volta e meia, vão parar às esquadras . Aliás, a abordagem, até nem foi nossa: 


NÓS JÁ OS TOPAMOS..


“Queres comprar… É pá!! É da boa!!!..cinco euros!” – Como não consumimos estupefacientes - podíamos ter seguido em frente, sem lhe dar troco, tal como fazemos de outras vezes. Mas quisemos aproveitar a oportunidade para um breve diálogo, que até nem foi difícil de encetar – Temos experiência profissional na área da C.S.que nos dá algum à-vontade. Foram três os que ouvimos. Um deles, depois de nos abordar, até o convidamos a beber uma cerveja no interior de um bar – enquanto tomávamos um café. Queríamo-lo ouvir com alguma atenção, fora da barulheira infernal da rua. E, de facto, na sequência da breve conversa, ficamos a saber várias coisas: não de outras histórias com a sua delinquência - pois este é assunto de policia. Mas a razão pela qual andava ali a traficar a droga e não receava as autoridades “Então você não têm medo dos policias? Eles não vos prendem?!!… Eles andam por aqui também à civil?!”. Sua resposta: “A gente já os conhece!!!… Nós topamo-los!…

Logo a seguir – mais uns quantos metros à frente, vêm um outro também a ter connosco. Está sozinho. Mas há um compincha, por perto, que, vendo que o companheiro se demora a falar connosco, aproxima-se e entra no diálogo: mas primeiro insiste na venda do seu produto. Apresentamos a mesma justificação: “ Veja! só queria saber por que vendeis aqui a vossa “mercadoria” com tanto à-vontade! A Policia não vos prende?!” Um deles responde prontamente com a mão no peito e diz: “Isto aqui” (o peito) “nunca se engana!!...Bófia à civil?!... Topos logo à distância!! - Nova pergunta: “E então já vos levaram alguma vez para alguma esquadra da cidade?!...” Sua resposta: “Nem me fale nisso! ...” Mesmo assim continuas a vender a tua mercadoria? “- insistimos – Vem-nos então com esta: “Eles sabem que isto é merda e não nos chateiam … Mas, quando nos levam para a esquadra, só se lá estiver o chefe... "

Entretanto, aproxima-se um potencial interessado que se abeira do traficante e quer comprar uma dose da “merda” - Veste casaco. Anda pelos trinta e tais. Tem bom aspecto e à primeira vista nem dá ares de ser mais um “apanhado”. Quem o atende é o colega ao lado. Prefere desabafar connosco os maus tratos policiais. Não se importando da concorrência – Aliás, já compreendemos que se trata de uma sociedade S.A.R.L. Vendedor e comprador, afastam-se de nós para um canto. Ao mesmo tempo - o que mantém o diálogo connosco - , segreda-nos: É pá! Mais um que caiu que nem um pato com a merda ! E cinco pró bolso do meu irmão!”

UM BAIRRO ONDE SE CONVIVE A MEIAS COM O LIXO DA RUA, OS COPOS, O ENGATE, O BARULHO DAS VOZES E DA MÚSICA, A DROGA.


Domingo à noite é mais tranquilo mas ao sábado - até os carros servem para abandonar os copos vazios

Acreditamos, sinceramente, que é este o Bairro Alto, nos seus bons e maus aspectos - Único em todo o mundo no seu género - E onde, surpreendentemente, tudo - mesmo tudo ! e até o lixo! - assume uma imagem surreal - Desde os copos às garrafas que se colocam vazias sobre as caixas de EDP ou sobre o capô de um carro ( mesmo que seja um Mercedes em folha) os murais nas paredes, que espelham algo de fantasmagórico e fazem esquecer certos vandalismos, até ao lixo que se aglomera e amontoa ao longo dos passeios e que agora a câmara resolveu que fosse deitado em sacos ( com vista à separação dos diferentes resíduos) em substituição de contentores. A experiência ainda é recente mas é duvidoso que alguma medida ali alcance os seus objectivos - Tal a confusão reinante a certas horas.E o caos em que tudo acaba...

Os contentores eram mal tratados e partidos. Os sacos do lixo, é o que se vê: esventrados e com os resíduos espalhados pelo chão. Não se compreende como há jovens que fazem desses sacos autênticas travesseiras para se recostarem à parede ou até para se sentarem. Mas é assim o Bairro Alto - está tudo dito. Depois da confusão, há sempre quem regresse a casa, aliviado da carteira , do dinheiro, do telemóvel e documentos – e até com alguma agressão física. Mas – é tal coisa” – ir ao Bairro Alto, também vicia! E, pelos vistos, há muito quem não consiga livrar-se desse bem-dito ou maldito vício! E vá lá todas as noites. Não falte uma e conheça todos seus bares e todas as suas "capelinhas"!. Os moradores – esses, coitados – é que não se livram desses viciados.




HISTÓRIAS DA NOITE

Bairro Alto é ainda um dos bairros mais antigos alfacinhas, que sobrevive, na sua verdadeira tipicidade, com as suas ruas estreitinhas. No entanto, há por ali, algumas artérias, que não só são estreitas, como terminam numa autêntica ravina - E que podem originar acidentes com peões ou com viaturas. Mas, desta vez, houve algo mais insólito. Foi o que ocorreu junto ao último prédio da Travessa das Mercês
Na descida que dá para a rua do Século, nem é preciso escorregar numa casca de banana ou a calçada estar molhada. Um leve descuido, e malha-se no chão, sem mais aquelas! Aconteceu a um turista italiano, na passada Sexta-feira, ao fim da tarde, frente à Esquadra. Estatelou-se e torceu um pé. O homem, já idoso, não parava de gritar de dores. Mas o pior até nem foi ele mas o chinfrim da esposa - que fez ali uma autêntica peixeirada à moda antiga! “Portugalo é uma Mierda!” Portugalo é uma Putana! Não satisfeita com o palavreado, vira-se aos pontapés ao caixote do lixo, que normalmente se encontra colocado na esquina com a Rua do Século. Pontapeia-o até verter tudo no chão. A vizinhança vem às janelas, os transeuntes, aglomeram-se , atraídos pela gritaria da mulher. O trânsito é interrompido nas duas artérias. Ouve-se o buzinar das filas que já se formam.




Porém, a maior das surpresas, ainda estava para vir por parte do azarado casal. A velhota, não satisfeita, com os pontapés ao caixote do lixo, e ainda no seguimento do mesmo histerismo por não ter logo ali uma ambulância à mão, vira-se contra os polícias que imediatamente acorreram assistir o marido. Até parecia que lho queriam roubar! .Atira-se, danada, aos colarinhos de um deles, com o desaforo que nem a mulher mais traída deste mundo! Só lhe faltava ali o rolo da massa! Tenta mesmo agredi-lo. Ao mesmo tempo que o velho, embora estatelado e não parando de queixar-se de dores( ora do peito ora do pé), reage como que contagiado pelo frenesim da sua velha amada e agarra-se aos pés do agente mais próximo, tenta deitá-lo ao chão! – Entretanto, chega uma mota do INEM para recolher as primeiras informações e parte, com a mesma rapidez com que havia chegado. A ambulância, essa – segundo o relato que nos foi descrito - é que tardou a chegar e esteve na origem do desaforo do desesperado casal. Pois só então é que a normalidade foi reposta no local.



RAPARIGAS DA “MOVIDA” DO BAIRRO ALTO VÃO CURTIR O RESTO DA BEBEZANA NA SOLEIRA DA PORTA DA ESQUADRA – DESCONHECENDO, PORÉM, QUE SE TRATA DE UM ESTABELECIMENTO POLICIAL.

São perto das três da madrugada – Os bares já encerram às duas mas – como a noite está quente - há quem não se tenha esquecido de ir bem aviado com umas cervejolas pela mão para continuar a saciar a sua sede. São portuguesas e ainda moçoilas. As ruas da diversão, àquela hora, vão ficando desertas. É a debandada geral, que deixa atrás de si o rasto do caos habitual: garrafas partidas pelo chão, sacos de lixo rebentados ou amontoados. É, pois, o ambiente da diversão, os sons da música dos bares à mistura com a vozearia que vão dando lugar a um certo silêncio, meio iluminado, meio ensonado e sombrio, em suma, a imagem de um cenário urbano, característico, mas já algo entristecido e desolado! – Passeios , esquinas e calçadas, pejadas de detritos, ficam como que irreconhecíveis, transfigurados. Ali o asseio e a higiene, nas noites de Quinta a Sábado, é muito difícil de se impor; mas no termo da invasão nocturna, os sinais e os amontoados da sujidade, tornam-se ainda mais desordenados e visíveis! – Mas vamos à história:



É mais um dos tais episódios da noite, que nos foi relatado por quem mora na Travessa das Mercês, no mesmo edifício onde se situa a esquadra do Bairro Alto. Num local, onde, umas vezes de uma forma, outras de outra, dificilmente a vizinhança é capaz de se livrar de um certo inferno sonoro e do consequente pesadelo que tudo isso lhes acarreta.

Como já tivemos oportunidade de referir, em artigos anteriores, mesmo nas horas mais mortas, tudo ali é possível de ocorrer! - e até de dia, tal como o estampido que, ainda na tarde de Sexta, soou como disparo dentro da esquadra. Sendo uma travessa estreita e com edifícios altos, seja voz, ruído ou gritos, tudo isso, perturba quem ali mora, soa e destoa no silêncio da noite, como um perturbador alarme! - Nos locais da diversão, a normalidade pode ser restaurada a partir do encerramento dos bares, contudo, ali o inesperado, é já algo rotineiro e habitual.Mas sempre incómodo e difícil de suportar.


Desta vez, porém, não era “o movimento e o barulho inerente ao exercício de um estabelecimento policial”, tal como os altos comandos da PSP, querem que se defina qualquer tipo de anormalidade sonora que trespasse o interior das instalações – mesmo que fira, agrida e perturbe o sono a quem assista o mais elementar direito de retemperar as forças do seu dia a dia – Foi a justificação dada pelos altos comandos policiais a um abaixo-assinado por moradores, apresentado há uns anos. No entanto, àquela hora – pelo menos que se saiba - ainda havia alguém que não só não estava acordado, como trabalhava no seu gabinete. Daí que facilmente se desse conta de que, lá fora, junto ao seu edifício - longe ainda da manhã raiar, - se agitavam por ali umas vozes que – não sendo tão incomodativas, como noutras situações habituais - destoam porém na quietude da noite, com o seu ar de insólito, galhofeiro e de inesperado - Abre a janela, debruça-se e, então, o que se lhe depara?!... – Ali mesmo à soleira da porta da esquadra! – Vê três jovens que ali vêm acabar de curtir a noite! Aproveitando-se, porventura, da pausa silenciosa da hora e do local, e não se dando conta de que, uns degraus para o interior, era mesmo o acesso para a dita esquadra, ali se acomodam para curtir a sua! Completamente a leste a tudo o que as rodeava. E, com a maior das naturalidades, vão bebericando, vão soltando umas risadas e umas larachas! Vão empinando as latas e os copos de cerveja de que vêm aviadas.

Todavia, para quem zela pela segurança alheia, a vida é outra – Mesmo o interior de uma esquadra, é sempre um lugar de stress. Até porque nunca se sabe que tipo de “clientes” ali está para chegar!... E, depois, lidar com alguns "fregueses", é outra incógnita… – Não só para quem ali presta serviço, como para sossego dos vizinhos. E, já se viu que o facto de terem uma esquadra à porta de casa, nem por isso os sossega e tranquiliza.Não podemos falar em nome de toda a vizinhança. São pelo menos os desabafos com quem temos falado - e até pelo que nos temos apercebido, quando ali visitamos pessoas amigas.

Nisto, um agente vem lá de dentro, desce os degraus e, fazendo-lhes ver a sua autoridade e a inoportunidade do local, diz-lhes: “As meninas não sabem que isto aqui é uma esquadra! Que não podem estar a fazer aqui barulho?!” Responde a mais atrevida, em jeito de gozo: Ó Senhor Guarda!!. ..a gente só quer beber esta cervejinha e depois vamos embora para casa! Não quer beber connosco?!” O policial, não perde a compostura, não vai na jogada e, certamente, no que pensa é vê-las dali para fora rapidamente. E, ao inesperado convite, returque: "Senhor guarda, não”! Senhor agente, faz favor!” - Elas não se intimidam e não vão de modas: “Desculpa! Senhor Agente! Então beba c’á com a gente!” – E ali permanecem o tempo que querem! Não se retiraram, enquanto não viraram p’rás gargantas os últimos escorropichos.

Para não ver quebrado ainda mais o silêncio da rua, ao policial, de serviço, não restou senão, ter paciência e virar-lhes as costas, subir os degraus e alhear-se das inesperadas visitantes – que, desta vez, não eram para ali encaminhadas, como desordeiras da ordem, mas vinham por conta própria.

No fundo, trata-se de uma pequena amostra de um tipo de fauna - não generalizando, é claro - , que, depois de beber uns copitos, ou de apanhar uma valente carraspana, não respeita a autoridade, nem respeita ninguém. Descontrola-se, desata a fazer distúrbios e perde a tramontana! – Isto passa-se à porta da esquadra. Agora imagine-se o que não poderá ocorrer no resto do bairro!

Porém, há que distinguir o trigo do joio - Pois, o Bairro Alto à noite, também é frequentado por gente civilizada e muito gira ! No que pensa é divertir-se e em passar uns bons momentos! - O que acontece, geralmente, nas noites de menos confusão. - Existem bares e locais muito interessantes

NOS DIAS DE HOJE




REALIDADE CRUEL - LISBOA - "Está a verificar-se um aumento significativo da população sem-abrigo, por razões de desorganização das suas vidas. Não tem só a ver com habitação, mas também por desemprego, problemas familiares, adições, tudo misturado. Cada vez mais, mesmo por penúria económica, incapacidade de pagar, e algumas pessoas fazem parte de uma pobreza envergonhada", diz Helena Roseta, numa entrevista à agência Lusa dedicada ao tema da pobreza. População sem-abrigo em Lisboa já ultrapassa as duas mil 

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