Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista profissional

Foz Côa já foi uma cidade encastelada
- de cujos vestígios apenas existe um muro voltado a Norte - ,
encontra-se ramificada em vários sentidos, nomeadamente ao longo
dos caminhos ou estradas, pelos quais se entra ou sai. – Depois dos
restaurantes e de uma discoteca, abertos fora de portas (onde o casario da urbe se começa a divisar), alguns dos quais, encerrado, seguiu-se a construção de belos solares isolados, nos lugares mais bem
expostos, rodeados de jardins ou de terrenos agrícolas. – E, até, seguindo a
mesma filosofia, já se constrói um hotel, numa propriedade rural, embora
perto da E.N 102.
Agora, poucos agricultores, semeiam os cereais – Pois, já lá vai o tempo do arado e também da necessidade de dar forragem ao gado equídeo e bovino. Os rebanhos são escassos, e, às ovelhas, não falta erva – Há muito pasto; o que escasseiam são as chuvas, que, nos anos de seca, deixam a terra estorradinha e mirrada - Este o maior problema, agravado pela ausência de lavragem das terras aráveis, que, depois, é propiciador aos desvatadores incêndios, cujas chamas ainda deixam as terras mais desertas.
Claro que não é por falta de vontade (que os campos ficam ao abandono) mas porque os tempos assim contribuiram para a sua desertificação: começou a importar-se trigo dos EUA, com os primeiros anos da liberalização global, a preços mais baixos - e vai daí o primeiro arrombo na frágil economia da nossa lavoura! - Desde as extensas campinas alentejanas, até às ladeiras ou planíceis durienses, é um Portugal rural, deserto, deprimido e envelhecido.
O apregoado progresso liberal, se é bom para meia-dúzia encherem os bolsos, pode não sê-lo para a maioria da população: - infelizmente, é o que tem sucedido em muitas atividades.


Pois, já se dizia, no século IXX, que "O território" ( de Foz Côa) "é por extremo fértil e seria
riquíssimo se a indústria do cultivador
florescesse , mas os naturais, preguiçosos, não cuidam da agricultura" - Preguiçosos?!... Mas que enorme atoarda! - Claro, que o autor do dislate, visava atigir os "judeus de Foz Côa", geralmente mais dados ao artesanato e ao comércio de que a agricultura- Dizendo que "o pão é muito, azeite, cevada, amêndoa, seda, lã, toda a casta de grãos,
excelentes melões, muitas plantas e ervas medicinais. O que falta na cultura da
terra, excede no comércio, em que são destros e aplicados os moradores de Vila
Nova de Foz Côa, quase todos fora da pátria, e algum avultado. Se cuidassem em
plantar vinhas, poderia haver mais deste género; e aumentando oliveiras, o azeite que é muito
e bom, concorreria a terra mais farta, rica e agradável".

"Da fábrica de atanado
e cordovões, que houve muitos e bons, se enriqueceram muitos moradores." Notas de Vila Nova de Foz
Côa, extraídas da História eclesiástica
de Lamego, citadas pelo Cónego José António Marrana - Já não existe a tal fábrica de cordoaria, nem quase searas de centeio e trigo, todavia, existem muitas vinhas, que produzem o melhor vinho do Douro, entre as quais se destaca o famoso "Barca Velha.
De facto, até aos finais da década de 60 (século XX) os cereais abteciam o consumo local e davam para vender. Atualmente, as padarias importam as farinhas do estrangeiro ou então vão
busca-las a Mogadouro e a Miranda do Douro – É o caso da Confeitaria Padaria
Ritz, visto serem as farinhas que mais se aproximam das extraídas dos cereais,
que aqui eram produzidos. E creio que também o mesmo sucede com a Terrinca, já que, a nível de
pastelaria, em ambas, é difícil encontrar coisa mais apetecível na região.
O SEGREDO ESTÁ NA QUALIDADE E MISTURA DAS FARINHAS E NO SÁBIO EMPREGO DO FERMENTO TRADICIONAL
Quer numa ou noutra pastelaria, quem lá quiser dirigir-se, é sempre bem atendido e tem pão e confeitaria boa por onde escolher – Sim, que não se limite apenas a tomar a bica, tem à disposição pão ou bolos, que são do melhor que há e nada ali é inflacionado. É que vai por lá encontrar também o melhor folar de carne, que, uma vez por semana, é enviado para a cidade do Porto, segundo nos revelou, o Sr. Jorge Manso, gerente de uma pequena industria familiar - Naturalmente que mercê de uma longa experiência no ramo, dede o saber da mistura de farinhas - centeio e trigo - até ao rigoroso emprego do fermento tradicional.
Empresa familiar, que já conta com mais de 70 anos, pois já vem do tempo do pai do atual gerente. -
Isto para já não falar das melhores bolas, pão regional e bolos de amência, confecionados com a que é colhida na capital da amendoeira do Douro, Foz Côa, terras de xisto onde a Primavera floresce mais cedo, dadas as características do microclima mediterrânico, de que goza – Se bem que, no pino do Verão, se aproxime do estio escaldante – Mas, esse inferno, abrasivo, nessa altura do ano, estende-se, praticamente, a todo o interior duriense. De outro modo, não se colheria por aqui o tão afamado vinho generoso - Que precisa de maturação calórica para exibir os seus inconfundíveis arormas e néctares.
Lá fomos, palmilhando a berma do asfalto, desde a entrada do Parque das Merendas, com a estrada que dá para o Poio e Fariseu, onde, há uns anos, nas imediações, existiu o Restaurante Bruíço e a discoteca mais badalada do concelho - Dessa restauração, apenas agora resta o do Machadinha, pouco mais à frente do lado esquerdo, havia o Restaurante 28, mas também já se encontra encerrado – Áureos tempos, que a crise instalada, parece ter vindo a eclipsar para sempre.
E, de facto, não há como ir a pé para uma observação mais atenta e minuciosa - Vendo e admirando, aquela extensa planície planáltica, que fizera de Foz Côa, o tal paraíso do melhor trigo, onde agora existem algumas vinhas ou simplesmente terrenos sem qualquer cultivo, e, curiosamente, em construção, um hotel, sinal de que Foz Côa, embora muito a custo, lá vai progredindo, ou pelo menos teimando em resistir - Se bem que o desvio do IP2 constituísse uma valente machadada nos acessos à nossa cidade:
- Pois, é a tal coisa: os senhores que traçam os projetos megalómanos, no segredo dos gabinetes ministeriais, só eles sabem com que linhas noz cozem, ao mesmo tempo que engordam os cofres de despudorados oportunistas, estilo Mota-Engil e outros compinchas do género, com os seus testas de ferros instalados na nomenclatura partidária, cujo perdulário esbanjamento, agora temos de pagar com língua de sete palmos, extirpado às magras pensões – É que, a dos ricos, mesmo com alguns cortes para fingir que a fatura tem de ser paga por todos, sendo grossas por natureza, estão sempre salvaguardadas. Isto para já não falar dos banqueiros e seus amigos
Antes de se chegar a Foz Côa – a pé ou de
carro – é difícil não reparar no edifício da Mobiliadora Mimosa – Pois, no alto
dos seus três pisos (rês-do-chão e mais dois andares), ostenta o nome daquela
que é, seguramente, a mais famosa empresa no panorama do setor mobiliário do
Alto Douro, com “diversas participações e prémios nas feiras realizadas na
região.”
Mais de três décadas " da história dos Laurentos, contada em dois
continentes – Assim refere um opúsculo da empresa, fundada por uma família de origem judaica, que teria vindo de Itália para Foz Côa, tendo emigrado, nos anos 60, para a então maior "província" do império colonial português-
- Em Luanda, em 1969, Adriano Afonso e Conceição, "cria uma oficina e fábrica de móveis”. No ano seguinte, abre a segunda loja, com o nome de Colchoaria Moderna, a que se segue, em 1973, a abertura de uma nova fábrica de móveis, com uma área de 1500m2.
- Em Luanda, em 1969, Adriano Afonso e Conceição, "cria uma oficina e fábrica de móveis”. No ano seguinte, abre a segunda loja, com o nome de Colchoaria Moderna, a que se segue, em 1973, a abertura de uma nova fábrica de móveis, com uma área de 1500m2.
Veio a descolonização, tarde, apressada e a más horas: - Regressados, a Foz Côa, à sua terra natal, os Laurentos, não cruzam os braços;
instalam-se na vila, com a abertura da primeira Mobiladora, no concelho, tendo
conhecido, desde então, sucessivos projetos de modernização e ampliações, por forma a
adequá-la às novas necessidades do mercado.
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