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terça-feira, 6 de maio de 2014

De Foz Côa ao Porto, o melhor pão regional, bolos de amêndoa e folares da Confeitaria Padaria Ritz – E os Laurentos da Mobiliadora Mimosa fazem história em dois continentes – Angola e Portugal - E ainda os milhões esbanjados no IP2 que estrangulou a economia e os melhores terrenos do concelho



Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista profissional


Foz Côa já foi uma cidade encastelada - de cujos vestígios  apenas existe   um muro voltado a Norte - ,  encontra-se ramificada  em vários sentidos, nomeadamente ao longo  dos caminhos ou estradas, pelos quais se entra ou sai. – Depois dos restaurantes e de uma discoteca,  abertos fora de portas (onde o casario da urbe se começa a divisar), alguns dos quais, encerrado,  seguiu-se  a construção  de belos solares isolados, nos lugares mais bem expostos, rodeados de jardins ou de terrenos agrícolas. – E, até, seguindo a mesma filosofia,  já se constrói um hotel, numa propriedade rural, embora perto da E.N 102.

FOZ CÔA, QUE AGORA É CIDADE – JÁ NÃO É O MELHOR SELEIRO DO TRIGO DE PORTUGAL E DA EUROPA, QUANDO ERA VILA  – AINDA ASSIM TEM UMA DAS PADARIAS QUE ABASTECE O PORTO, COM O MELHOR FOLAR DE CARNE DO NORTE DO PAÍS

Foz Côa já foi o melhor seleiro de Portugal -  Noutro tempo, era aqui que se produzia o melhor trigo. No Alentejo, era em quantidade, nas terras do sumagre, em qualidade. 

Simplesmente, de gosto, verdadeiramente inconfundível, que era o daqueles apaladados cornelhos  ou pães de trigo a saírem, cheirosos e  quentinhos, dos fornos comunais, tanto na vila como nas aldeias. 
Agora,  poucos agricultores, semeiam os cereais – Pois, já lá vai o tempo do arado e também da necessidade de  dar forragem ao gado equídeo e bovino. Os rebanhos são escassos, e,  às ovelhas, não falta erva – Há muito pasto; o que escasseiam são as  chuvas, que, nos anos de seca, deixam a terra estorradinha e mirrada - Este  o maior problema,  agravado pela  ausência de lavragem das terras aráveis, que, depois, é propiciador aos desvatadores incêndios, cujas chamas ainda deixam as terras mais desertas.




Claro que não é por falta de vontade (que os campos ficam ao abandono) mas porque os tempos assim contribuiram para a sua desertificação: começou a importar-se trigo dos EUA, com os primeiros anos da liberalização global,  a preços mais baixos - e  vai daí o primeiro arrombo na frágil economia da nossa lavoura! - Desde as extensas campinas alentejanas, até às ladeiras ou planíceis durienses, é um Portugal rural, deserto,   deprimido e envelhecido.

O apregoado progresso liberal, se é bom para meia-dúzia encherem os bolsos, pode não sê-lo para a maioria da população: - infelizmente,  é o que tem sucedido em muitas atividades.
 

Pois, já se dizia, no século IXX, que "O território" ( de  Foz Côa)  "é por extremo fértil e seria riquíssimo  se a indústria do cultivador florescesse , mas os naturais, preguiçosos, não cuidam da agricultura" - Preguiçosos?!... Mas que enorme atoarda! - Claro, que o autor do dislate, visava atigir os "judeus de Foz Côa", geralmente mais dados ao artesanato e ao comércio de que a agricultura-  Dizendo que "o pão é muito, azeite, cevada, amêndoa, seda, lã, toda a casta de grãos, excelentes melões, muitas plantas e ervas medicinais. O que falta na cultura da terra, excede no comércio, em que são destros e aplicados os moradores de Vila Nova de Foz Côa, quase todos fora da pátria, e algum avultado. Se cuidassem em plantar vinhas, poderia haver mais deste género;  e aumentando oliveiras, o azeite que é muito e bom, concorreria a terra mais farta, rica e agradável". 

"Da fábrica  de atanado  e cordovões, que houve muitos e bons, se enriqueceram muitos moradores." Notas de Vila Nova de Foz Côa, extraídas  da História eclesiástica de Lamego, citadas pelo Cónego  José António Marrana - Já não existe a tal fábrica de cordoaria, nem quase searas de centeio e trigo, todavia, existem muitas vinhas, que produzem o melhor vinho do Douro, entre as quais se destaca o famoso "Barca Velha.



Foz Côa - Jorge Manso, gerente da Confeitaria Padaria Ritz  - Uma atividade com mais de setenta anos – Só ele vai em 34.

 De facto, até aos finais da década de 60 (século XX)  os cereais abteciam o consumo local e davam para vender. Atualmente, as padarias importam as farinhas do estrangeiro ou então vão busca-las a Mogadouro e a Miranda do Douro – É o caso da Confeitaria Padaria Ritz, visto serem as farinhas que   mais se aproximam das extraídas dos cereais, que aqui eram produzidos. E creio que também o mesmo sucede com a  Terrinca, já que, a nível de pastelaria, em ambas, é difícil encontrar coisa mais apetecível na região.


 


O SEGREDO ESTÁ NA QUALIDADE E MISTURA DAS FARINHAS E NO SÁBIO EMPREGO DO FERMENTO TRADICIONAL


Quem chegar a Foz Côa pela E.N 102, pouco antes do cruzamento que vai para Castelo Melhor, Almendra e Figueira, onde se situa um lago com vários chafarizes, brotando água em cascata,  como que a dar as boas vindas a Foz Côa,  poderá deparar, do lado esquerdo,  com o  Café da Confeitaria  Padaria Ritz, do Sr. Adriano dos Anjos Manso.

  

Vale a pena lá ir. Ou então procurar a outra pastelaria (da mesma empresa) situada na Rua São Miguel.

Quer numa ou noutra pastelaria,  quem lá quiser  dirigir-se,  é sempre bem atendido e tem  pão e confeitaria boa por onde escolher – Sim,  que não se limite apenas a tomar a bica, tem à disposição pão ou bolos, que são do melhor que há e nada ali é inflacionado.  É que vai por lá encontrar também  o melhor folar de carne, que, uma vez por semana, é enviado para a cidade do Porto, segundo nos revelou, o Sr. Jorge Manso, gerente de uma pequena industria familiar - Naturalmente que mercê de uma longa experiência no ramo, dede o saber da mistura de farinhas - centeio e trigo - até ao rigoroso emprego do fermento tradicional.











Empresa familiar, que já  conta com mais de 70 anos, pois já vem do tempo do  pai do atual gerente. 

Isto para já não falar das melhores bolas, pão regional e bolos de amência, confecionados com a que é colhida na capital da amendoeira do Douro, Foz Côa, terras de xisto onde a Primavera floresce mais cedo, dadas as características do microclima mediterrânico, de que goza – Se bem que, no pino do Verão, se aproxime do estio escaldante  – Mas, esse inferno, abrasivo, nessa altura do ano, estende-se, praticamente, a  todo o interior duriense. De outro modo, não se colheria por aqui o tão afamado vinho generoso - Que precisa de maturação calórica para exibir os seus inconfundíveis arormas e néctares.

Na semana da Páscoa, pessoa amiga, deu-nos uma boleia das Chãs, mas disse-nos logo que só nos podia levar até aos “Trinta” – Sim, viemos na carrinha do Pastor Miguel, que, ao longo do percurso,  nos relatou o rosário de dificuldades, com que se debate para pagar o empréstimo para a construção da sua modesta casa, concedido pela Caixa Geral de Depósitos – Apeados,  naquele cruzamento, lá nos fizemos  pela estrada afora: e, ainda bem, com muito gosto, pois de outro modo,  não nos teria ocorrido fazer esta reportagem.

 

Lá fomos, palmilhando a berma do asfalto, desde a entrada do Parque das Merendas, com a estrada que dá para o Poio e Fariseu, onde, há uns anos, nas imediações,  existiu o Restaurante Bruíço e a discoteca mais badalada do concelho - Dessa restauração,  apenas agora resta o do Machadinha, pouco mais à frente do lado esquerdo, havia o Restaurante 28, mas também já se encontra encerrado – Áureos tempos, que a crise instalada, parece ter vindo a  eclipsar para sempre.  
  

 

 

O DESVIO DO IP2 PELO VALE DA VILA  - ESTRANGULOU OS MELHORES TERRENOS DE CULTIVO E CONSTITUIU O  MAIOR GOLPE NA RESTAURAÇÃO DE FOZ CÔA


E, de facto, não há como ir a pé para uma observação mais  atenta e minuciosa - Vendo e admirando, aquela extensa planície planáltica, que fizera de Foz Côa, o  tal paraíso do melhor trigo, onde agora existem algumas vinhas ou simplesmente terrenos sem qualquer cultivo, e, curiosamente, em construção, um hotel, sinal de que Foz Côa, embora muito a custo, lá vai progredindo,  ou pelo menos teimando em resistir - Se bem que o desvio do IP2 constituísse uma valente machadada nos acessos à nossa cidade: 

É que, se a maior parte do tráfego, por um lado, podia causar alguém incómodo à cidade, porém, sendo já fraco por natureza, então, ao  passar a escoar-se pelo "Vale da Vila",  é que ficou praticamente reduzido, quase a zero – Daí o enorme golpe, sobretudo na restauração e postos de combustíveis – E, pelos vistos, o então presidente Mesquita, que nos conste, não mexeu uma palha para que se obstasse a este lesa-património paisagístico e estrangulamento económico. Atitude diferente, teve o ex-presidente Murato, de Meda, que ainda veio para os jornais a insurgir-se contra o inqualificável atentado ao Vale da Veiga e dos Areais.


Compreendia-se que, a EN 102, pudesse ser melhorada, mas não foi o que sucedeu: lado a lado da mesma, fez-se uma outra, que, tendo, apenas, igualmente, duas faixas, não passou de mais um gigantesco desperdício, com milhões desnecessariamente gastos, além do estrangulamento das melhores terras de cultivo.

  - Pois,  é a tal coisa: os senhores que traçam os projetos megalómanos, no segredo dos  gabinetes  ministeriais, só eles sabem com que linhas noz cozem, ao mesmo tempo que  engordam os cofres de despudorados oportunistas, estilo Mota-Engil e outros compinchas do género, com os seus testas de ferros instalados na nomenclatura partidária, cujo perdulário esbanjamento,  agora temos de pagar com língua de sete palmos, extirpado às magras pensões – É que, a dos ricos, mesmo com alguns cortes para fingir que a fatura tem de ser paga por todos, sendo grossas por natureza, estão sempre salvaguardadas. Isto para já não falar dos banqueiros e seus amigos


A HERANÇA DOS LAURENTOS:  DE LUANDA PARA FOZ CÔA –A MOBILADORA MIMOSA, É O SEU EX-LIBRIS
 Antes de se chegar a Foz Côa – a pé ou de carro – é difícil não reparar no edifício da Mobiliadora Mimosa – Pois, no alto dos seus três pisos (rês-do-chão e mais dois andares), ostenta o nome daquela que é, seguramente, a mais famosa empresa no panorama do setor mobiliário do Alto Douro, com “diversas participações e prémios nas feiras realizadas na região.”  

Lá fomos encontrar, o nosso amigo Paulo Afonso e sua esposa, com o seu lindo rebento, que, amavelmente, nos recebeu, convidando-nos a sentarmo-nos,  na sua companhia,  frente a um balcão, transformado num pequeno bar para receber clientes e amigos. Pois, pelo que depreendi, quem ali entra é para ser bem acolhido – Sem pressas ou stress, tranquilamente, pode sentar-se e tomar um cafezinho, um cálice de Vinho do Porto ou outra coisa, antes ou depois de ver os artigos expostos.  A casa, além da venda de móveis e de toda uma variadíssima oferta de artigos para mobilizar ou decoração, tem ali muita coisa boa de Foz  Côa para escolher: desde vinhos (até com marca Laurentos) a mel, frutos secos, compotas e variadíssimo artesanato local – É, digamos, a primeira grande mostra para quem visita V. Nova de Foz Côa, vindo pela EN.102, do sul.


Mais de três décadas " da história dos Laurentos, contada em dois continentes – Assim refere um opúsculo da empresa, fundada  por uma família de origem judaica, que teria vindo de Itália para Foz Côa, tendo emigrado, nos anos 60, para a então maior "província" do império colonial português-

 - Em  Luanda, em 1969,  Adriano Afonso e Conceição, "cria uma oficinafábrica de móveis”. No ano seguinte,   abre a segunda loja, com o nome de Colchoaria Moderna, a que se segue, em 1973,  a abertura de uma nova fábrica de móveis,  com uma área de 1500m2.

Veio  a descolonização, tarde, apressada e a más horas: - Regressados, a Foz Côa, à sua terra natal, os Laurentos, não cruzam os braços;  instalam-se na vila,  com a abertura  da primeira Mobiladora, no concelho, tendo conhecido, desde então, sucessivos projetos de modernização e ampliações, por forma a adequá-la às novas necessidades do mercado.

Na verdade, dia  em que tive oportunidade de, finalmente, descobrir o interior da "Mimosa" e saber dos êxitos da Confeitaria Padaria Ritz,  proprocionou-me uma manhã e uma tarde em beleza – Tanto assim que, que nesse dia, ainda me desloquei até ao Fariseu para ali atualizar o  álbum fotográfico, que disponho daquele magnífico panorama sobre o Vale Sagrado - Agora, graças à amabilidade do nosso amigo Adriano Ferreira, que me levou lá na sua 4L – Um carro  - para todo o serviço – que o passar dos anos, ainda torna mais útil e atual.




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