Faz hoje dois anos que morreu, Miguel Portas, na sequência de um cancro do pulmão.” Um rosto difícil de esquecer, de um grande lutador e democrata, quer para quem o conheceu através das suas intervenções políticas, mas sobretudo para os seus familiares, camaradas e amigos :
“Faz exactamente neste minuto em que escrevo, dois anos que a sua e a nossa dor começou. Para mim Abril será sempre apenas ele. E a saudade dele. Nada mais!" Palavras de sua mãe, Helena Sachadura Cabral, reproduzidas hoje em fio de prumo
MIGUEL PORTAS
- UM CRAVO COM CHEIRO A ROSMANINHO PARA UM ANDARILHO DO CÔA – VEIO AQUI VÁRIAS
VEZES PARA DEFENDER AS GRAVURAS RUPESTRES - FALECEU MAS CONTINUARÁ VIVO NA
MEMÓRIA DO VALE SAGRADO E DE QUEM O CONHECEU - Este o título do post que
editamos neste site, um dia após a sua morte - Dizíamos nós:
Uma
vida intensa e dedicada à democracia, à cultura e às causas nobres. Foi
um corajoso combatente – Morreu Miguel Portas mas não morre a sua memória. –
Faleceu, nas véspera do 25 de Abril, vítima de doença prolongada – Desde 2010,
que ele lutava contra um cancro, ele sabia que a vida lhe podia escapar
em qualquer momento – Mesmo assim, nunca abandonou o seu posto, como
eurodeputado - Nunca deixou de intervir e de dizer o que pensava.
Já
lá vão uns anos, mas até me parece que ainda o estou a ver, com outros amigos e
companheiros das mesmas jornadas no Vale do Côa – No auge da polémicas das
Gravuras: - Ele foi um dos que esteve a primeira linha da barricada, em prol da
preservação do património milenar das gravuras dos homens do paleolítico – Ele
residia em Lisboa e, vir lá de tão longe, só por muito amor à nossa cultura e
arte ancestral – Também esteve frente ao Mosteiro dos Jerónimos, num
acampamento organizado pelo Movimento da Salvaguarda da Arte Rupestre do Vale
do Côa – Onde pontilhava, então, a dinâmica Mila Simões.
Curiosamente,
o primeiro dia, coincidiu com o Casamento do Dom Duarte Nuno de Bragança – E
não é que conseguimos levar, junto dos nossos cartazes, alem do próprio
nubente, personalidades, como Marcelo Rebelo de Sousa, entre outras
figuras do PSD, do CDS e do PPM – Foi, de facto, uma excelente oportunidade
para se despartidarizar a causa – Felizmente que, muitos daqueles que,
naquela altura se opunham, já reconheceram a sua importância e batem-se pela
sua defesa
Foto de Helena Sacadura Cabral - feira do Livro 2013
Tenho uma
grande admiração por Helena Sacadura Cabral – Quer
como escritora, quer como jornalista. Pela sua frontalidade, pela forma
calorosa e bem-humorada como escreve e também como personagem. É das tais
pessoas de quem se guarda sempre a imagem de um sorriso e de um rosto que
infunde natural simpatia e ternura.
"Um mês depois
do falecimento de Miguel Portas, a mãe, Helena Sacadura Cabral,
apresentou o livro Aquilo em que Eu Acredito, na Fnac do Chiado, no
qual fala dos valores, atitudes, sentimentos e lições inspiradoras que tem tido
ao longo da vida e que nunca a fizeram deixar de sorrir e dizer o que
pensa."
"Há muito
tempo que eu pensava fazer um livro destes, mas depois surgiam outras coisas e
fui adiando, até que chegou uma altura em que decidi que não adiaria mais. Este
livro é um produto de dois anos de coisas que fui fazendo avulso e de textos
que acabei por reescrever”,explicou a escritora”.
Foto de Helena Sacadura Cabral - feira do Livro 2011
SIMGELA HOMENAGEM À ESCRITORA, À MULHER E MÃE - A QUEM ACREDITA NOS VALORES PERENES -
Num dia que não é de sorrisos mas de evocação dolorida, de um sofrimento que dificilmente o tempo tão cedo apagará, sim, ao mesmo tempo que aqui lembramos a memória de seu amado filho Miguel, queremos também prestar a nossa singela homenagem a Helena Sacadura Cabral, transcrevendo, justamente, alguns textos, do livro "Aquilo em que Eu Acredito, que a autora nos honrou com o seu autógrafo
AQUILO QUE EM QUE ACREDITO
provém do que me ensinaram, do que vi e ouvi e, sobretudo, daquilo que
vivi.
Não são grandes os princípios, nem tão-pouco utopias
filosóficas. São mais interpretações do mundo que nos rodeia e códigos de
carácter.
Nunca me furtei a dizer aquilo que penso e terei por isso pago
preço que lhe está associado. Creio na família que é o meu suporte e sem o qual
não existo. Creio nos amigos cujos braços e abraços são fonte de permanente
inspiração. Creio na solidariedade e na coragem que nos obrigam a pensar nos
outros. Creio na competência e na ética como fundamentos do labor. Creio no
inconformismo responsável porque é o
motor das transformações sociais. Enfim, creio em Portugal, o país onde nasci e
onde quero morrer.
AUTO-RETRATO
Tenho sempre alguma dificuldade em fazer um auto-retrato. Sei analisar-me
por áreas comportamentais, mas sinto dificuldade no somatório delas, ou seja, a
panorâmica geral não é fácil. Aliás, ninguém é bom juízo em causa própria ,
como se sabe.
Por isso, quando me pediram que descrevesse, que dissesse quem
era , recorri a uma amiga que costuma dedicar-se à filosofia do quotidiano –
que é a que mais aprecio, confesso -, e esta sugeriu-me que seriasse sete
coisas de que gosto e outras tantas que não gosto. Essas respostas constituíram
o meu retrato. Aqui tem, para vosso juízo, o que lhe respondi.
Sete coisas de que gosto
da família
dos amigos
de trabalhar
de ler
de ouvir música
de silêncio
do meu amor
Sete coisas que detesto
a mentira
a hipocrisia
a inveja
a tristeza
a estupidez
a política
a maledicência
Pronto aqui está a prova do que sou . E também do meu gosto de
clareza nas respostas que dou.
Tente agora, caro/a leitor/a, fazer o mesmo exercício e ver se é muito diferente de mim. Sorrio,
porque acredito que não! Acertei?
UMA FAMÍLIA QUE GOSTA DE RIR
Num sábado, aproveitando ter cá a família alargada e para
espantar a diatribe do dia seguinte, dei um jantar para sete. Filhos, neto,
irmão mais novo, cunhada e uma amiga do Miguel, da esquerda radical, de quem
gosto muito.
Os infantes estavam
ligados à electricidade e dedicaram-se
todo o repasto a contar as vicissitudes da vida parlamentar. Um de esquerda,
europeu e com rica vida. O outro de direita, com o salário cortado.
A partir daqui o guião foi o relato das bolandas por que ambos
passam nas campanhas dos respectivos partidos.
Uma, de morrer a rir, foi o Miguel ter revelado que havia
recebido vinho e um queijo de um
apoiante do CDS para “entregar ao Dr. Paulo, seu irmão”, com um abraço da gente
da terra. E, depois, a confissão descarada de que a caravana, esfomeada,
decidira, por maioria absoluta, apropriar-se do presente, que, evidentemente,
marchou todo.
Como esta, outras histórias se seguiram, passadas em mercados e
feiras, sobretudo no Norte, cuja graça está no vocabulário usado e que não
posso, claro, aqui reproduzir.
Quem assistisse a este jantar, dificilmente acreditaria que aqueles irmãos iriam, no dia seguinte,
votar em campos tão diferentes.
Não há dúvidas que jamais – ai, o incómodo desta expressão … -
me poderei queixar de a minha vida ter
sido, alguma vez, sensaborona. Mas, apesar disso, daqui a uma semana, piro-me para
descansar a linda cabecinha!
FAZER ANOS
Um positivo, expresso no “aqui já eu cheguei”, e outro negativo,
que é contar mais um na idade e menos um no tempo de vida.
Enquanto a minha Mãe foi viva, fazer anos era homenagear o seu
amor por mim, que estendia do meu Pai, embora em moldes diferentes. Com efeito,
foi no ventre materno que deambulei, comodamente, com os nove meses da minha
risonha existência, e do seu leite que me alimentei outros tantos.
Agora, por um qualquer mistério da existência, são os amigos e
os que me amam que me lembram e celebram o meu aniversário. Com uma curiosa característica:
é que o fazem duas vezes, porque, como nasci
à meia-noite de 7 para 8 de Dezembro, acabo por festejar os dois dias.
Felizmente para mim que os anos não contam a dobrar…
PORTUGAL VISTO DE FORA
Numa recente edição da revista francesa L’EXPRESS,veio um longo
artigo sobre a génératinon fanchée de
Portugal. Vale a pena ler. Não traz nada que não saibamos, mas tem a vantagem
de ser um olhar de fora para dentro de nós.
Aliás, esta publicação tem sempre manifestado grande interesse
pelo que se passa neste rectângulo à beira-mar plantado, sobretudo a partir da
Revolução dos Cravos.
Está lá tudo o que é importante: os desempregados, em que cerca
de 30 por cento têm entre os 18 e os 24 anos; o que a divida pública já
representa; o défice público; o recuo do BPN salvo com o dinheiro dos
contribuintes e, finalmente, o resultado eleitoral. Nenhuma novidade, portanto.
Já sabíamos de tudo isto.
Mas quando se lê esta análise feita por outros, em que as
palavras têm, ocasionalmente, a entoação que menos desejaríamos, parece que dói
mais, que o retrato fica mais perto.
Se aconselho a leitura, não é por masoquismo, mas apenas por que
se detetam, no arrigo, algumas subtilezas a que convém estar atento.
MAIS RESPEITINHO, POR FAVOR
O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, apelou aos portugueses para serem “mais exigentes”, “menos complacentes” e “menos piegas”.porque só assim será possível ganhar credibilidade e criar condições para superar a crise.
Começo a andar muito cansada com este tipo de conselhos. Depois
de arcarmos com uma série de sacrifícios, o menos que se pode pedir é que quem nos governa tenha por nós mais respeitinho.
Gostaria muito de saber – já não estarei entre os vivos – se
Passos Coelho, na minha idade, alguma vez trabalhará 12 horas que trabalho, sem
me queixar.
Por isso, e porque estou longe de ser a única, jugo que o
primeiro-ministro deve ter algum cuidado com as palavras que usa e com o
modo como avalia os portugueses.
Porque este discurso levantou muito celeuma , decidi ouvi-lo, na
íntegra, na Net. Embora a frase esteja fora do contexto, o conteúdo não foi, a
meu ver, adulterado. Por isso mantenho que o primeiro-ministro tem de mostrar
pelos portugueses, muito apreço, nomeadamente quando lhe pede sacrifícios que,
para muitos, são insuportáveis. E respeitinho, sim, porque o merecemos, mais do
que ninguém.
Helena Aires Trindade de Sacadura Cabral, , jornalista e escritora, nasceu em
Lisboa, onde reside, mas tem raízes
na Guarda, por parte de seu pai, Zeferino de Sacadura Freire Cabral, e do Alentejo, Beja, por lado de sua mãe, Ivone Marinho Aires
da Silva Trindade
Sobrinha do comandante e aviador Artur de Sacadura Freire Cabral, do lado
paterno. “Recebeu uma educação tradicionalista e prosseguiu estudos
universitários, contra a vontade do seu pai. Licenciada em economia pelo
Instituito Superor de Ciências Económicas e Financeiras, tendo sido a melhor
aluna do seu curso e a primeira mulher portuguesa a ser admitida nos quadros
técnicos do Banco de Portugal.. Colunista de
diversos jornais e revistas e da televisão.
Autor de duas dezenas de livros,
nomeadamente"O amor é difícil", em (2013), "Os nove
Magníficos", em (2012), “Coisas que sei... ou julgo saber,” em 2010. “As
nove magníficas, em 2008”. “Porque é que as mulheres gostam dos
homens”, em 2007. “Bocados de nós, em 2006; “Um
certo sorriso, em 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário