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sábado, 28 de novembro de 2020

Fundação Gulbenkian - Azeredo Perdigão – 1896-1993 Recordando a voz e o homem na 1ª pessoa –“Administração da Fundação Gulbenkian, absorve-me toda a minha atividade... Hoje a minha vida é esta cadeira, onde estou sentado” - “Eu não sou velho, sou antigo!... Que é uma coisa diferente.


 Jorge Trabulo Marques - Jornalista  - 

O tema  inicial  da entrevista, prendia-se   com os apoios da Fundação aos novos países de expressão portuguesa e às comemorações dos descobrimentos, então previstas pelo Estado mas acabaria por abranger várias questões e prolongar-se por um diálogo de mais de vinte minutos, que aqui recordo, em vídeo e com muito prazer, agora na sua totalidade, o que não fizera em anteriores postagens. 

À  margem da gravação, contar-me-ia  que a Fundação Gulbenkian chegara a emprestar dinheiro ao governo de Oliveira Salazar para evitar a bancarrota - No entanto, sublinharia a independência com que eram pautadas as relações. 

A SINGULARIDADE  E A PAIXÃO DE UM PRESIDENTE -

José Henrique de Azeredo Perdigão , nascido a 19 de Setembro de 1896,  na Casa do Miradouro, em Viseu – Faleceu  em Lisboa, 10 de Setembro de 1993 – O homem que conduziu os destinos da mais importante fundação portuguesa, o advogado e o  braço direito do milionário Calouste Gulbenkian, desde que escolheu Portugal para seu retiro, devido à guerra que grassava além dos Pirenéus.

Azeredo Perdigão, exemplo de dedicação e de generosidade:  uma vida simples, discreta, mas muito intensa e trabalhosa, longe da comunicação social e também um respeitoso distanciamento dos sucessivos governos que conheceu.

Um homem culto, afável e comunicativo. Aliás, as grandes figuras são generosas e despidas de vaidade. Ele era um desses extraordinários exemplos. 

O seu diálogo infundia um prazer especial. É justamente a impressão que ainda hoje tenho, sempre que ouço a  entrevista que me deu a hora e o prazer de conceder,  parecendo-me que ainda  o estou a rever  atrás da sua enorme secretária, pejada de dossiers e de papéis. Com uma transbordante jovialidade, rara para a sua idade. Já lá vão uns bons anos. 


Depois da morte do tão devotado timoneiro, do abnegado   e esforçado sacerdócio ao leme da Fundação mais sólida  e prestigiada de Portugal, tudo mudou e não me parece que para  melhor, senão a de  ter vindo a mostrar   evidentes sinais de navegação  à deriva e ao sabor dos calculismos  e  dos   apetites da política oportunista:  - Vendeu-se a  residência  de Calouste Gulbenkian,  em Paris, em total desprezo e desconsideração pela  sua memória, erros de gestão e de orientação,  já criticados por familiares do fundador. 

O autor destas linhas, neste local, nos anos 80. 

Os jardins da Fundação Gulbenkian foram concebidos por bons mestres: os arquitetos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Teles. E creio, que, pelo menos enquanto o Dr. Azeredo Perdigão foi presidente, houve o cuidado de ser fiel à  conceção naturalista – mas também humanista – dos seus autores. Harmonia essa mantida, porque, além do mais,  havia os chamados jardineiros da casa.


OXALÁ NÃO VENHA ACONTECER   AO 
Coro e Orquestra GulbenkiaO QUE FIZERAM À  EXTINÇÃO DO BALLET

ABANDONOU-SE O CENTRO ARTÍSTICO INFANTIL – Onde as crianças aprendiam a arte para dar lugar a uma cafetaria 

Antes existia lá um centro artístico infantil, onde as crianças aprendiam os primeiros rudimentos artísticos, agora encontra-se lá instalada mais uma cafetaria, onde uma chávena de chá lhe custa 2 euros, ou seja –  onde o oportunismo liberal consumista,  poder extrair lucro, nada lhe escapa da vista - Para disfarçar, puseram à dita Cafetaria- geladaria, o nome  de Centro Interpretativo  Gonçalo Ribeiro Teles - Tendo este mérito para merecer outra distinção, bem mais superior   - Arquiteto, falecido recentemente,  com o qual ali pude também ter o gosto de dialogar.

O dito bar fica  situado junto à entrada lateral para a “Fundação, pela Av. Marquês Sá da Bandeira, no local onde antes funcionara o Centro Artístico Infantil (conhecido por “Centrinho”), desocupado há  vários anos 

É um facto que o espaço ajardinado  da Fundação Gulbenkian,   ainda continua a ser dos  mais atrativos da cidade de Lisboa - Contudo, dir-se-ia, que, no tempo do seu primeiro presidente, a atividade da Fundação,  estava como que intrinsecamente ligada ao crescimento e à morte das plantas e das flores. no entanto, creio que longe vão esses dias, em que se cuidavam dos jardins com o mesmo carinho e esmero como se sentissem parte da mesma casa e do mesmo património. Até os patos os reconheciam e grasnavam, quando passavam junto dos lagos. - Desde o mais humilde servidor, jardineiro, contínuo, vigilante, escriturário, músico ou artista, consultores jurídicos, económicos ou culturais, Diretores do Museu e Centro de Arte Moderna, das Bibliotecas, Orquestra e do Ballet, aos mais destacados corpos gerentes da sua administração, ao seu Presidente, se sentiriam unidos na mesma grande família, verdadeiramente irmanada e empenhada em honrar os propósitos do grande patriarca Calouste Sarkis Gulbenkian 

"EU NÃO SOU VELHO, SOU ANTIGO!... QUE É UMA COISA DIFERENTE"- Quem sabe fazer a distinção, entre o que é velho e  antigo, entre velharias e antiguidades, são precisamente os homens que têm gosto pela arte.  

 José Henrique de Azeredo Perdigão, no seu tempo, foi um deles. E, certamente, não teve rival. Era um homem simples, culto, afável e comunicativo. Aliás, as grandes figuras são generosas e despidas de vaidade. Ele era um desses extraordinários exemplos.

A entrevista, que me deu a honra e o prazer de me conceder, ficou a dever-se ao excelente relacionamento que mantinha com o Arquiteto Sommer Ribeiro, que, além de Diretor do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, ali desempenhava importantes funções.– E porquê este raro privilégio? – Nomeadamente, pelo meu papel na divulgação das atividades culturais desta instituição, através da Rádio Comercial RDP, na qual era repórter.

Quando me acompanhou ao seu escritório, o que inicialmente estava previsto eram apenas umas breves declarações, sobre o papel da Fundação nos novos países de expressão portuguesa, e o que pensava sobre as comemorações dos descobrimentos – De facto, não se podia exigir mais de quem se apresentava por detrás de uma enorme secretária toda ela coberta de papéis e com ares de que todo o tempo lhe era pouco, tanto mais que não tardaria a completar 91 anos de idade . Porém, para minha agradável surpresa, o diálogo evoluiu naturalmente –E mesmo para além do que ficou registado no gravador.  

 Este é um dos raros registos  sonoros do Dr. Azeredo Perdigão, daquele foi o braço direito do milionário Calouste Gulbenkian, desde que escolheu Portugal para seu retiro, devido à guerra que grassava além dos Pirenéus, personalidade que soube sempre manter uma vida simples, discreta, mas muito intensa e trabalhosa, longe da comunicação social e também um respeitoso distanciamento dos sucessivos governos que conheceu. 






JOSÉ AZEREDO PERDIGÃO, O HOMEM QUE FEZ MAIS PELA CULTURA EM PORTUGAL DE QUE TODOS OS GOVERNANTES, DEPOIS QUE ELE MORREU

Fundação Calouste Gulbenkian. GOZA DE PRESTÍGIO INTERNACIONAL, SENDO CONSIDERADA UMA DAS MAIS IMPORTANTES A NÍVEL MUNDIAL NO SEU GÉNERO


Tive o privilégio - o grande prazer de entrevistar - algumas das mais importantes figuras da vida nacional, em vários domínios, guardo em cassete(cerca de 300) parte dessas entrevistas. José Azeredo Perdigão, foi uma dessas figuras. Recebeu-me no seu gabinete. E, aquilo que inicialmente estava previsto apenas para uma curta declaração, transformar-se-ia numa longa e interessante entrevista - Parte da qual vou aqui transcrever - Pois, o seu magnífico exemplo, julgo que se insere perfeitamente neste site de Os Templos do Sol - Ele que ajudou a fundar - e foi seu primeiro administrador - um dos maiores Templos da Cultura em Portugal..

 Da extensa entrevista, que me concedeu, apenas breves minutos foram transmitidos na Rádio Comercial, onde era repórter. Veja   como ele conheceu Calouste Gulbenkian e o que ele pensava sobre o futuro da mais importante fundação de Portugal - Hoje, bem diferente do que foi: extinguiram a Companhia de ballet e venderam o Palacete de Paris, uma das maravilhas arquitectónicas, que fora a residência de Gulbenkian - possivelmente para eventual jogada financeira.


Micael Gulbenkian – O desrespeito pela memória do seu tio-avô, Calouste Gulbenkian

O sobrinho-neto do fundador da Fundação Gulbenkian, tece duras criticas pela venda da residência de Calouste Gulbenkian, em Paris e pela extinção do Ballet, entre outras questões – Entrevista, que me concedeu , em Nov de 2013, por ocasião do lançamento do livro “Um Milionário em Lisboa”, por José Rodrigues dos Santos “As instituições têm de ter o mínimo respeito pela memória: ora, permitirem-se vender aquilo que, quem comprou, o utiliza para eventos de moda, perfumes!... Acho que é uma total falta de respeito pela memória do seu fundador. Independentemente de ter uma formação académica superior era um homem extraordinariamente generoso:

VENDERAM O PALACETE, QUE FOI A RESIDÊNCIA DE CALOUSTE GULBENKIAN - DESCONSIDERANDO A SUA MEMÓRIA 

-
 Argumentam os mesmos  do desaparecimento o Ballet Gulbenkian que a venda do histórico imóvel, serviu para cobrir a abertura de instalações mais modernas e ao lado de outras do mesmo género, mas onde a concorrência é bem maior e cujo local jamais poderá superar a importância da mais bela obra arquitetónica, situada no 51 Avenue d'Iéna 75116 Paris, France coração do histórico Paris, onde desde há quase meio século, esteve instalado o Centro Cultural da Fundação Gulbenkian - Agora, que fizeram a negociata, e cometeram a suprema barbaridade, andam por lá, pelas ditas novas instalações, armados em velhas e azougadas carpideiras, com badaladas exposições em “Memória do sítio



Se, José de Azeredo Perdigão, por um eventual ou hipotético milagre divino ressuscitasse do jazigo onde repousam os seus restos mortais e visse o que resta da herança que legou, a mesma que, com tão inexcedível zelo, carinho e dedicação teve a seu cuidado, assumindo dignamente a Presidência do Conselho de Administração, cargo com o qual soube sempre honrar o nome, o espírito humanista e visionário do seu fundador, Calouste Gulbenkian , estou certo que, por tão desiludido, por tão profundamente dececionado, perderia imediatamente os sentidos e, regressado à plena consciência, depressa desejaria voltar ao reino dos mortos, à tranquilidade dos que morrem mas cuja memória jamais se apagará na vida dos que estão acima da mediana e trivial mentalidade material, hipócrita e egoísta.


"EU NÃO SOU VELHO, SOU ANTIGO!... QUE É UMA COISA DIFERENTE"
(...) JTM - Uma vida ligada à fundação, a muita coisa, a muita actividade: valeu a pena o que fez? 

JAP - Se eu pudesse ou tivesse a possibilidade de retornar a viver, eu faria as mesmas coisas mas com menos erros, evitando os erros com a experiência que a vida me deu.
São tantas as coisas que eu desejaria fazer e não posso fazer, mas não quero mostrar-me excessivamente ambicioso ou excessivamente ingrato com a sorte que o destino me deu, porque me permitiu realizar algumas coisas que outros não tiveram a sorte de o fazer.
Eu tenho na realidade de agradecer, digamos, a Deus, o dar-me capacidade e os meios de eu poder ser útil ao meu semelhante durante os anos de vida longos que eu já tenho.

JTM - Vai fazer 91 anos em 19 de Setembro. Aqui à frente de uma secretária com muitos papéis, muitas coisas, muitos livros! Ainda a escrever com essa acuidade mental!...Com essa garra?... Com essa força?!... Como é que explica, essa sua força, essa sua longevidade! Mercê de alguma disciplina interior?...como é que explica tudo isso?...

(...) JTM - Uma vida ligada à fundação, a muita coisa, a muita atividade: valeu a pena o que fez? 

JAP - Se eu pudesse ou tivesse a possibilidade de retornar a viver, eu faria as mesmas coisas mas com menos erros, evitando os erros com a experiência que a vida me deu.
São tantas as coisas que eu desejaria fazer e não posso fazer, mas não quero mostrar-me excessivamente ambicioso ou excessivamente ingrato com a sorte que o destino me deu, porque me permitiu realizar algumas coisas que outros não tiveram a sorte de o fazer.
Eu tenho na realidade de agradecer, digamos, a Deus, o dar-me capacidade e os meios de eu poder ser útil ao meu semelhante durante os anos de vida longos que eu já tenho.

JTM - Vai fazer 91 anos em 19 de Setembro. Aqui à frente de uma secretária com muitos papéis, muitas coisas, muitos livros! Ainda a escrever com essa acuidade mental!...Com essa garra?... Com essa força?!... Como é que explica, essa sua força, essa sua longevidade! Mercê de alguma disciplina interior?...como é que explica tudo isso?...

JAP - Eu não posso explicar a longevidade, que não depende de mim... Agora o que eu procuro é não praticar atos que possam direta ou indiretamente reduzir-me o tempo de vida. Sou uma pessoa disciplinada... mas nem por isso, por ser disciplinado, deixo de fazer tudo aquilo que me agrada e tudo aquilo que devo realizar



JTM - Mas... desculpe-me a pergunta: deve-se também a alguma dieta especial ou aquele sono, enfim, àquelas horas de se deitar sempre em determinado período ou isso tem a ver com uma força espiritual interior?

JAP - Sou um indisciplinado! mas simplesmente tenho uma disciplina interior, sim, mas na vida, na maneira de ser, na maneira de me conduzir, eu não posso ter disciplina, não posso ter programas; as circunstâncias é que me dominam, as circunstâncias é que me forçam e as circunstâncias é que me orientam!

JTM - A nível de dieta: pratica alguma dieta especial?
JAP - Não pratico dieta nenhuma especial! Eu sou uma pessoa normal, modesta, simples... Tenho uma vida simples!... Simplesmente trabalhosa!

JTM - E a nível de desporto: chegou a praticar algum desporto?


JAP - Quando jovem pratiquei vários desportos... até joguei futebol!... Fiz esgrima...Montei a cavalo... Ainda hoje, se tivesse tempo, por exemplo de montar a cavalo, ainda hoje montava a cavalo. Me sentia com forças de montar a cavalo!
JTM - Isso é realmente espantoso!... Porque, há pessoas, que aos sessenta ou setenta anos, ficam velhas!... Envelhecem!..
JAP - Bem vê... eu costumo dizer quando me perguntam a idade que tenho – eu não digo a idade que tenho, porque não quero gabar-me da idade que tenho – eu não sou velho!... Eu sou antigo! que é uma coisa diferente!...Faço uma distinção entre a antiguidade e a velhice: eu pertenço à categoria dos antigos!.. E não à categoria dos velhos!

.DEZ HORAS POR DIA A TRABALHAR, QUE NÃO DÁ PARA LER TODA A CORRESPONDÊNCIA QUE RECEBE.


JTM - Ser velho, é digamos, é ser velho em espírito! É já não fazer coisas... é deixar passar o tempo!...
JAP - Pois é... Eu não!... Eu continuo a trabalhar em média dez horas por dia..
JTM - Neste momento, está a escrever algum livro?
JAP - Não tenho tempo para escrever livros...O tempo falta-me até para responder às cartas que me escrevem.
JTM - Cartas?!...
JAP - Sim!... Eu recebo centenas de cartas por mês!
JTM - E responde a todas a essas cartas?!...
JAP - Não respondo a todas mas respondo à maior parte..
JTM - Nesta altura, a sua maior atenção vai para essa toda correspondência e, naturalmente, aqui para a Administração da Fundação?
JAP - É a Administração da Fundação Gulbenkian que, no fundo, me absorve toda a minha atividade... tudo se centraliza na Fundação Gulbenkian... Hoje a minha vida é esta cadeira, onde estou sentado e todas as atividades que emergem dos despachos que eu dou e das relações com o Conselho de Administração que eu presido

JTM - -Digamos, tem sido uma vida inteiramente votada à Fundação!.. Ou pelos menos substancialmente votada à Fundação.
JAP - Não!... Antes da Fundação eu tive outra vida, que foi da advocacia.
JTM - Quero-me referir desde que entrou para a Fundação.
JAP - Exclusivamente dedicado à Fundação Gulbenkian. Mesmo pelos estatutos da Fundação...Pelo testamento do Sr. Calouste Gulbenkian, eu não posso exercer qualquer outra atividade lucrativa, além da Presidência da Fundação Gulbenkian... Razão porque eu cancelei a minha inscrição como advogado. Hoje sou advogado honorário mas sem exercer qualquer atividade profissional

CALOUSTE GULBENKIAN - UM HUMANISTA E UM AMIGO DE PORTUGAL
JTM - Conheceu esse grande homem!...O fundador desta Fundação: uma palavra para esse homem... Nunca é por demais sublinhá-lo. 

JAP - É um homem que eu conheci como meu cliente... Convivi com ele durante o tempo em que aqui esteve até falecer. Eu considero-o uma pessoa superior, em todos os sentidos! Na inteligência!.. Na da ação! Mesmo na generosidade!.. Porque, o facto de ele ter constituído esta Fundação, é uma prova do seu espírito humanista!... Ele era, sem dúvida, um humanista!

JTM – Um amigo de Portugal!..

JAP - Sim!... Muito!... Ele simpatizou com Portugal... Ele veio para aqui para estar, simplesmente, uma semana ou duas semanas em período de repouso... e foi ficando... Foi prolongando... E aqui esteve uns poucos de anos até morrer... Porque acabou por morrer em Portugal... A prova evidente que o nosso meio, o meio social, o meio político e económico lhe agradavam!... Ele sentia-se bem aqui, assim...

JTM - Adotou o país como pátria sua!


JAP - Sim, adotou o país... É difícil saber qual era a pátria dele... Porque ele era arménio de raça...Nasceu na Turquia!... Tinha o seu domicílio em Paris e estava naturalizado inglês. Por isso, já vê que é difícil dizer-lhe a pátria dele...Veio viver para Portugal... Suponho eu, com a intenção de poder repousar... Foi no período da guerra, não é verdade...em que a França foi ocupada... A França foi ocupada e depois foi dividida em França livre e França ocupada... O governo de Pétain veio paraVichy e ele entendeu que devia ir para Vichy . Esteve em Vichy algum tempo ... Havia naturalmente dificuldades em Vishy...Estavam em guerra... e pensou em vir para um país, no sul da Europa, que estivesse em paz... E escolheu Portugal. E veio, digamos, para um período de férias!... E, afinal, interessou-se por nós... Achou-se bem... Foi bem acolhido!... Foi bem acompanhado por bons médicos. Porque foi uma das coisas muito importantes, a confiança que ele tinha nos médicos... Porque ele preocupava-se muito com a sua saúde... Ele teve aqui médicos muito bons.. Quero citar um nome que é Fernando do Fonseca , já falecido e que foi realmente uma das figuras notáveis da medicina portuguesa, um dos médicos do Sr. Calouste Gulbenkian(não foi único!), mas foi um deles.... Foi um conjunto de circunstâncias... A paz pública! Que nós gozávamos aqui em Portugal... isso encantava-o!

JTM - O Sr. Dr. conheceu-o no principio da sua vida aqui?...

JAP Imediatamente... Se não foi no próprio dia, foi um dos dois dias imediatos...
JTM - Foi consigo que ele tratou a criação da Fundação?..

JAP - Foi comigo que ele tratou a criação da Fundação Gulbenkian... Não admira... pois era o seu advogado... Era o seu consultor jurídico... E, consequentemente, ele necessitava de um consultor jurídico para criar um Fundação em Portugal...

"O RISCO DA FUNDAÇÃO ACABAR EM CONSEQUÊNCIA DE UMA CARÊNCIA DE MEIOS FINANCEIROS, NÃO EXISTE"

JTM - Quando o projeto apareceu era um projeto menos ambicioso ou que foi galgando, foi tornando-se forte com o tempo?...

JAP - Eu estou convencido que no espírito dele a Fundação talvez não tivesse a dimensão que ela tem hoje!... Eu pergunto a mim próprio se porventura me tivessem perguntado quando a Fundação foi constituída, se ele teria o desenvolvimento e a dimensão que hoje tem, eu diria que não.
Os fundos.... Naturalmente, que, à primeira vista, com estas despesas todas, faz-nos criar aquela dúvida ou pelo menos a interrogação: será que os fundos darão para que a Fundação possa viver muitos anos?... Ou eles terão seu limite?

Uma das minhas preocupações foi precisamente assegurar a continuidade, digamos assim, a perenidade da própria Fundação... Esse risco de a Fundação acabar em consequência de uma carência de meios financeiros não existe.


JTM - Portanto, é questão que não se põe no seu espírito!.. Esse risco não existe!...
JAP – Porque a Fundação está bem assegurada!... A Fundação tem realmente um património que garante a sua sobrevivência...

JTM . Para muito!... Muito tempo!...

JAP - Por muito tempo...nunca se sabe... Nada é eterno!... E sobretudo nós não podemos prever como evoluem os investimentos que ele tem... A sua fortuna...Como evoluem esses investimentos. Onde é que as coisas em que ele investiu podem realmente ser produtivas ou deixar de ser produtivas... ou extinguirem-se mesmo.. É um contingente na vida moderna, que nós não podemos ter a certeza de sobreviver física e economicamente...

JTM - O importante é sublinhar o que se fez!...que foi imenso! Que foi bastante...em vários domínios: na cultura, na ciência, na saúde e noutros sectores de atividade. E, Portugal, teria naturalmente enfrentado algumas dificuldades se não fosse o apoio da Fundação?

JAP - É evidente que a Fundação da Gulbenkian tem ajudado a resolver alguns problemas da vida nacional... Mas, se a Fundação não existisse, os governos encontrariam outros meios para resolver essas dificuldades... É claro que a Fundação Gulbenkian tem feito muito... Mas, não quer dizer que, se a Fundação não existisse, não encontrasse para os mesmos problemas, soluções, talvez até soluções melhores


António Ramos Rosa - Era um dos frequentadores dos jardins da Gulbenkiam, pelo menos enquanto morou na Rua do Bocage - Numa das imagens, sentado num banco  em profunda reflexão, tranquilamente e como que abstraído do mundo e, noutra oportunidade,  junto a um dos velhos eucaliptos. 
.

Estar Só é Estar no Íntimo do Mundo 
Por vezes cada objecto se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam
a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundo
como no silêncio de uma plantaé estar no fundo do tempo ou no seu ápice
ou na alvura de um sono que nos dá
a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo
e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono
fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo


António Ramos Rosa

LUGARES ÚNICOS E ÍNTIMOS DO MUNDO, TENDEM A DESAPARECER - 

Pois bem, 
dos tais jardineiros que por lá cresciam e envelheciam, como que seguindo o mesmo curso das plantas em cada estação do ano, apenas encontrei um deles, que não deixou de me falar das saudades, que lhe vinham ao pensamento de outros tempos, de um outro espírito do lugar e camaradagem:


José Henrique de Azeredo Perdigão

 Viseu - 19 de Setembro de 1896 — Lisboa, 10 de Setembro de 1993
Funcionário n.º 1 da Fundação Calouste Gulbenkian e seu presidente vitalício entre 1955 e 1993, ano em que faleceu com 97 anos.

Natural da Casa do Miradouro, em Viseu (19 de Setembro de 1896) filho de José Cardoso Perdigão e de sua mulher Raquel de Azeredo, licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e pós-graduou-se em Ciências Jurídicas, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. No ano de 1919 estabeleceu-se como advogado em Lisboa e, a 26 de Julho de 1920, casou pela primeira vez com Alice Raquel Xavier Dantas da Silva, da qual teve um filho e uma filha. Foi um dos advogados mais solicitados do seu tempo em Portugal. Participou em alguns dos maiores processos civis, criminais e comerciais, ganhou fama de implacável e era pago a peso de ouro.

Democrata republicano participou na fundação, com Raul Proença, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, Raul Brandão, Faria de Vasconcelos e outros, a revista Seara Nova, onde publicou diversos estudos e comentários sobre economia. Além de exercer a advocacia, deu aulas e regeu cadeiras em várias universidades, publicou numerosos trabalhos. Exerceu funções públicas como conservador do Registo Predial, fez parte do Conselho Superior Judiciário, pertenceu ao Conselho de Administração do Banco Nacional Ultramarino e de outras empresas, foi presidente da Assembleia-Geral do Banco Fonsecas, Santos & Viana e da Sacor, e presidente da Assembleia-Geral e do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal. Em 1942 conheceu o milionário e filantropo Calouste Gulbenkian (que escolheu Portugal como refúgio durante a Segunda Guerra Mundial), que impressionou, sendo contratado como seu assessor jurídico. Em 1948 Gulbenkian decidiu fazer o seu testamento, para dar destino à sua fabulosa colecção de arte, e a sua confiança em Azeredo Perdigão foi decisiva para a criação da futura fundação em Portugal, que negociou as condições mais favoráveis com o governo português. A 8 de Julho de 1949 falecia a sua primeira mulher Alice Raquel Xavier Dantas da Silva. Calouste Gulbenkian morreu em 1955 e, após uma batalha jurídica entre com Cyril Radcliffe, o advogado inglês do milionário, Azeredo Perdigão venceu e foram aprovados os estatutos da Fundação Gulbenkian, a 18 de Julho de 1956, com sede em Portugal. Azeredo Perdigão não queria a interferência de Salazar na fundação e consegui essa independência, pois o Presidente do Conselho, que não gostava das suas opiniões políticas, também não duvidava do seu patriotismo e acreditava que ele defendia os interesses nacionais. Azeredo Perdigão foi nomeado presidente vitalício da Fundação Calouste Gulbenkian e, desde então, abandonou a sua actividade de advogado para se dedicar inteiramente à fundação, sendo nessa ocasião homenageado pela Ordem dos Advogados Portugueses.José de Azeredo Perdigão 

José Henrique de Azeredo Perdigão
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa e pós-graduado em Ciências Jurídicas pela Universidade de Coimbra. Foi doutor honoris causa em Direito pelas Universidades de Coimbra, do Porto, Nova de Lisboa, Baía, Rio de Janeiro e São Paulo, em Artes pelo Royal College of Arts de Londres, em Ciências Humanas pela Universidade de Southeastern (EUA), em Humanidades pela Universidade de Sophia (Japão) e em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa.

(…) Foi sócio de mérito da Academia Nacional de Belas-Artes e da Academia Portuguesa de História, entre outras instituições. Foi governador da Fondation Européenne de la Culture.  -Chanceler das Ordens de Mérito Civil, foram-lhe atribuídas numerosíssimas condecorações nacionais e estrangeiras, entre elas as grã-cruzes portuguesas da Ordem da Torre e Espada, da Ordem de Cristo, da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem do Mérito. Foi membro do Conselho de Estado. Azeredo Perdigão


O QUE SE DIZ SOBRE A ADMINISTRAÇÃO DE JOSÉ AZEREDO PERDIGÃO E DAS ADMINISTRAÇÕES QUE LHE SEGUIRAM 

"Os grandes vultos de Azeredo e Madalena Perdigão foram os motores de uma instituição com um prestígio e dignidade notáveis. O amor pelas pessoas e pela cultura de Azeredo Perdigão obrigava a preços muito económicos nos concertos, Perdigão se visse pessoas à porta do grande auditório sem bilhete, muitas vezes jovens sem dinheiro, dizia aos porteiros: “deixem entrar toda a gente, não fica ninguém à porta na Fundação Gulbenkian”. Longe estão os dias de Azeredo Perdigão, longe está a elegância e a qualidade do homem que fez da instituição o verdadeiro ministério da cultura de Portugal. Hoje em dia a administração da Gulbenkian decide acabar com um património, que já não é pertença de uma instituição mas universal, de um dia para o outro, sem reflexão pública, de forma autoritária e como se tratasse de uma empresa que se quer deslocalizar. O respeito pelo público e pelos artistas foi o primeiro património a desaparecer o que se seguirá?" Gulbenkian - memória - Crítico.

"A Fundação tem recrutado para a sua Administração gente oriunda da vida política e "banqueiros" (melhor seria dizer gestores bancários): Isabel Mota, Teresa Gouveia, Marçal Grilo, André Gonçalves Pereira, Artur Santos Silva, Diogo Lucena, Rui Vilar. Nenhum destes gestores tem a menor sensibilidade ou currículo académico na área cultural." Gulbenkian- uma nota - Crítico

(...)o Ballet Gulbenkian já não pertence a 9 membros de um conselho de Administração, pela sua história já é um património Português e Mundial. Pelo facto de uma Fundação ser privada não lhe assiste o direito moral para a destruição gratuita de algo que é de todos. Existem limites para a barbárie Ballet Gulbenkian - Contrariar o Medo De Existir - Crítico

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