Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista c
Álvaro Barreirinhas Cunhal, político, desenhador e escritor português, nasceu em Coimbra, 10 de Novembro de 1913 – Faleceu em Lisboa, a 13 de Junho de 2005)destacado opositor à ditadura Salazarista a figura cimeira do PCP, uma vida inteira dedicada a um ideal - O meu pai nasceu no mesmo ano, em 1 de Janeiro e faleceu a 29-09-77 –
Cunhal morreu a 13 de Junho de 2005, no dia de Santo António, com quase 92 anos – Mesmo assim, uma bonita idade para quem teve uma vida intensa, durante vários anos e foi privado da liberdade num dos presídios mais sinistros do regime Salazarista - Devido aos seus ideais e à sua assumida e militante oposição ao Estado Novo e ação violenta perpetrada por movimentos afetos ao seu partido, esteve preso em 1937, 1940 e 1949–1960, num total de 15 anos, oito dos quais em completo isolamento
Embora não perfilhando a ideologia marxista, no entanto, era uma figura que me merecia todo o respeito e sempre associei o seu aniversário ao de minha mãe, que fazia anos no dia seguinte, no dia de São Martinho, nasceu a 11-11-1915 e faleceu com 52 anos, vítima de câncer - Era mais nova 2 anos.
Há factos, que, embora parecendo menos relevantes, se desconhecem sobre a fuga do Forte de Peniche, mas que nem por isso deixam de ter interesse no apuramento da verdade histórica. É o que venho aqui recorda-lhe, no dia do aniversário de Álvaro Cunhal
A fuga de Álvaro Cunhal do forte de Peniche, com outros presos, ficou a dever-se, em grande parte, ao soldado da GNR, José Alves, que estava de sentinela àquela hora – Mas não era, José Alves, que nesse dia devia estar de serviço mas o soldado Profesto Augusto Fernandes, natural de Chãs, freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, que aceitou a troca. - E teve dissabores. Pois também foi chamado ao exaustivo e apertado inquérito dos "PIDES" que se seguiu, tendo-me confessado, no entanto, que não ficou chateado pela atitude do seu colega, que era um excelente profissional e bom companheiro, mas que sentiu pena e deixou-o muito triste ao constar-se das represálias que foram exercidas sobre a sua família
Profesto, nome pouco vulgar e que quase soa à palavra profeta – Por isso mesmo, não sendo muito comum, era assim pelo qual era conhecido, até porque, nunca ninguém o deixou de associar a um passado lendário, das muitas histórias, que ele recordava da sua vida profissional, nos vários sítios onde prestou serviço, desde o épico salto do emigrante para atravessar a fronteira com Espanha, com destino a França, quando andou por estas paragens (das queixas anónimas que chegavam aos postos da GNR por parte de alguns latifundiários, que temiam ficar sem braços para trabalhar na lavoura) à sua prestação como soldado da força de segurança do Forte de Peniche, da qual recorda a espetacular fuga de Álvaro Cunhal
Profesto Augusto Fernandes, faleceu no dia 22 de Setembro de 2016 , aos 87 anos, a que me referi neste meu blogue https://templosdosol-chas-fozcoa.blogspot.com/2016/09/na-aldeia-de-chas-no-primeiro-dia-do.html
Faleceu três dias depois de completar 87 anos (18-9-1929 – 21-9-2016, casado com Benvinda Jesus Félix, dariam um interessante livro de histórias, que ele, por certo, também não teria deixado de contar aos seus dois queridos netos, que, na hora de o verem partir, ali verteriam sentidas lágrimas emocionadas de luto e dor, acompanhado por várias centenas de pessoas: por familiares, amigos, aldeia em peso, elementos da GNR, Comandante do Posto Territorial da GNR de Vila Nova de Foz Côa, além do Presidente do Município, Gustavo Duarte, entre outras entidades. Tendo então constituído uma grande manifestação de luto e pesar, como há muito ali não se via, aquela que se associou ao cortejo fúnebre, desde a missa do corpo presente, na igreja paroquial, até ao cemitério, onde se encontravam perfilados vários soldados da GNR para lhe prestarem as honras militares e as salva de tiros, que lhe eram devidas
"Deu-lhes a liberdade! Pois que mal haviam feito aquelas pessoas?!. Ninguém ali estava por ter cometido qualquer roubo ou outro crime!.". - Por isso, confessou-me que não estava arrependido de ter sido usado. "Tinha-me calhado ter ficado ali destacado. Não fui escolhido por ser duro! Aconteceu!... Preferia ficar de sentinela, dias seguidos, no quartel da GNR, em Lisboa, donde nos mandavam para estas missões do que ir ali a fazer aquela vigilância!....Era um lugar frio, húmido e desagradável. Os presos sabiam que nós tínhamos uma arma e não nos viam como amigos. Os Pides olhavam-nos com desconfiança e eram arrogantes!.. Eram ríspidos e desconfiados para connosco e com os carcereiros e, os interrogatórios aos presos, eram longos e desumanos. Tínhamos que os gramar quase todos os dias. Até nós tínhamos medo deles!.. Nunca fui comunista mas se visse hoje, aquele meu camarada, dava-lhe um abraço!... Não era qualquer um que se atrevia a correr os riscos que ele correu!...-
"HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE SEMEIA CANÇÕES NO VENTO QUE PASSA; HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE;HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO - FOI POR ISSO QUE UM VALENTE SOLDADO DA GNR ROMPEU COM O CERCO AO FORTE DE PENICHE"
O Forte de Peniche era tido como uma das prisões de mais alta segurança do Estado Novo. Mas há pormenores que ainda se desconhecem – Nomeadamente, em relação ao soldado da GNR envolvido – De frisar, que, além dos carcereiros, que depois do fascismo vieram a dar lugar aos guardas prisionais e que agora vão passar a ter o mesmo “estatuto ao pessoal da PSP – tanto na tabela remuneratória, como nas demais regalias sociais”.Guarda prisional equiparado a PSP -– o reforço no Forte de Peniche era assegurado pela então guarda pretoriana do regime
Alves, fica de serviço nesse dia, da programada fuga e o
Profesto passa a fazer o turno dele no dia imediato. Claro que, segundo me recordou, “aquilo
causou ali uma grande bronca!” – Os PIDES, que ali iam regularmente,
não tardaram a aparecer, com os seus inevitáveis inquéritos – “Eles
eram desconfiados e duros, mesmo para com os soldados da GNR e carcereiros”
– Recorda. “Quando ali entravam, com aquelas caras autoritárias, até
parecia que o terror se espalhava por todo o Forte! Olhavam-nos
com desprezo e autoritarismo” – Confessou-me este meu conterrâneo. Que
diz se lembrar, muito bem, da figura de Álvaro Cunhal. “bem apessoado; sempre
com ar sério, compenetrado e a passaritar - para trás e para a frente”
. Que passava muito tempo, a "andar de um lado para o outro",
e, geralmente, com ar carrancudo, sempre com ar muito concentrado,
não dialogando" com os carcereiros ou soldados da
GNR" - Aliás, tanto os soldados da GNR como os carcereiros
também estavam proibidos de conversar com os presos. E, sobretudo, com
"o perigoso comunista", como era então classificado-
De referir que, Profesto (sogro de António Lourenço, presidente Junta desta
freguesia de 1976 a 2009) já não se lembrava do nome do seu companheiro - O nome
do corajoso soldado consta do historial da fuga.. Mas ainda se recorda de
muitos pormenores do ambiente do presidium nos turnos que ali fez., no tempo em
que o lendário líder do PCP, ali esteve preso - E, nomeadamente, da tal
troca de turno, que haveria de permitir a fuga para a liberdade a Cunhal e a
vários camaradas do seu Partido.
O resto, já faz parte do registo histórico É sabido que, “no dia 3 de Janeiro de 1960 evadem-se do forte de Peniche: Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues, graças à cumplicidade do solado da GNR
No fim da tarde pára na vila de Peniche, em frente ao forte, um carro com o porta-bagagens aberto. Era o sinal de que do exterior estava tudo a postos. Quem deu o sinal foi o actor, já falecido, Rogério Paulo.
Dado e
recebido o sinal, no interior do forte dá-se início à acção planeada. O
carcereiro foi neutralizado com uma anestesia e com a ajuda de uma sentinela -
José Alves - integrado na organização da fuga, os fugitivos passaram, sem serem
notados, a parte mais exposta do percurso. Estando no piso superior, descem
para o piso de baixo por uma árvore. Daí correm para a muralha exterior para
descerem, um a um, através de uma corda feita de lençóis para o fosso exterior
do forte. Tiveram ainda que saltar um muro para chegar à vila, onde estavam à
espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas
onde deveriam passar a noite----Álvaro Cunhal: fuga de peniche
Vários livros publicados – Sobre a figura de Álvaro Cunhal – E da fuga do Forte de Peniche – De entre as várias obras, recordo o livro A PORTA PARA A LIBERDADE. Do jornalista e escritor Pedro Prostes da Fonseca, que conta a história do soldado cujo acto mudou a história do Partido Comunista Português (PCP) e, por arrasto, da luta antifascista.
E o livro ÁLVARO CUNHAL - O HOMEM E O MITO – Do jornalista e escritor Joaquim Vieira, que destaca a figura de Álvaro Cunhal, chefe histórico do PCP, a dimensão épica de um percurso de vida, a entrega do seu destino a uma causa, a ética de uma resistência estóica e irredutível
“Devido aos seus ideais comunistas, à sua assumida e militante oposição ao Estado Novo e à ação violenta perpetrada por movimentos afetos ao partido, esteve preso em 1937, 1940 e 1949–1960, num total de 15 anos, oito dos quais em completo isolamento sem nunca, incrivelmente, ter perdido a noção do tempo. Mesmo sob violenta tortura, nunca falou, o que evidencia a sua coragem física. Na prisão, como forma de passar o tempo, dedicou-se à pintura e à escrita. Uma das suas produções mais notáveis aquando da sua prisão, foi a tradução e ilustração da obra Rei Lear, de William Shakespeare,[5] Contando-se também os romances Cinco dias, cinco noites e Até amanhã, camaradas, que editaria sob o pseudónimo de Manuel Tiago.
A 3 de Janeiro de 1960, Cunhal, juntamente com outros camaradas, todos quadros destacados do PCP, protagonizaram a célebre "fuga de Peniche", possível graças à cumplicidade do próprio regime, a um planeamento muito rigoroso e a uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão. - Em 1962 é enviado pelo PCUS para o estrangeiro, primeiro para Moscovo, depois para Paris.
Ocupou o cargo de secretário-geral do Partido Comunista Português, sucedendo a Bento Gonçalves, entre 1961 e 1992, tendo sido substituído por Carlos Carvalhas.
Em 1968 Álvaro Cunhal presidiu à Conferência dos Partidos Comunistas da Europa Ocidental, o que é revelador da confiança que já nessa altura detinha no PCUS. Para tal não terá sido indiferente o ter-se mostrado um dos mais veementes apoiantes da sangrenta invasão da então Checoslováquia pelos tanques do Pacto de Varsóvia, ocorrida nesse mesmo ano. https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_Cunhal.
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