27ª dia no Golfo da
Guiné numa piroga - Assei o tubarão com álcool... Deitei-lhe um
bocado de álcool e realmente o processo resultou em pleno. Foi pena não me ter
lembrado há mais tempo..
Algures no Golfo da Guiné, 16 de Novembro de 1975 - Há 44 anos
Diário de Bordo - Assei o tubarão com álcool...Foi com um bocado de álcool. Deitei-lhe um bocado de álcool e realmente o processo resultou em pleno. Foi pena não me ter lembrado há mais tempo..
-É já manhã do 27º
dia. Passei uma
noite muito chuvosa! Quase sempre acordado!..para tirar água...Estou molhado,
todo alagado!....Esta manhã está serena. O mar calmo. O céu praticamente
descoberto. ...Já tive aqui a visita do perigoso tubarão que investiu logo
contra a minha canoa! Dei-lhe uma machinada! e foi-se embora!...
Os ataques de perigosos tubarões gigantes, era uma constante - O registo de um deles.
Diário de Bordo - Entretanto, já chegaram os martelos...Vejo aqui dois tubarões martelo e fiquei mais descansado. Para dar uma ideia do que o tubarão martelo, para já eu não tenho muito que dizer deles...Mas parecem autênticos jacarés! O aspeto deles é de autênticos jacarés pré-históricos!...Com um cabo de martelo na cabeça. No entanto, não parecem ser os mais perigosos! Pelo menos não têm investido....Andam aqui às voltas da canoa, nunca investiram contra a canoa. Os escuros é que realmente são mais perigosos!...
Vi, a sudeste,
contornos, muito ao longe!...Bastante afastados, a largas milhas daqui...Aliás,
estou a ver novamente contornos de terra!...Mas eu penso que não devo estar
muito longe. Porque, efetivamente, têm havido uma série de trovoadas e ventos
dominantes a arrastarem-me para norte e nordeste....Tenho aqui água doce (das
chuvas), Já não tenho é comida....Vou tentar pescar para comer qualquer coisa.
Devem ser aí umas 8
horas da manhã do 27º dia. Há uma calmaria absoluta!...Não há vento. O mar
mantém-se sereno!...Praticamente sem ondulação nenhuma. O céu descoberto...Entretanto, começa
a sentir-se calor...Não sei até quando durará isto....
Diário de Bordo 3-Hoje
apenas vi dois tubarões martelo...Realmente, tenho dificuldades em pescar. Há aqui
uma espécie de peixes, a que eu chamo parasitas!...Estão aqui debaixo da
canoa....Sempre à coca das conchazitas que nascem (no bojo e nos costados da canoa) e de qualquer
coisa que ali nasça... Mal deito o anzol, vão logo comer a isca e não há
maneira de lá ficarem no anzol... Claro que o anzol é grande demais para
eles. E comem-me a isca de uma maneira incrível!
A LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS
CONSERVAS) QUE ATIREI BORDA FORA NAQUELA NOITE TEMPESTUOSA (A PRIMEIRA)
EM QUE FUI ATINGIDO POR UM VIOLENTO TORNADO, ERA AGORA A OBSESSIVA – LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDO FORA
Diário de Bordo 3-Hoje
apenas vi dois tubarões martelo...Realmente, tenho dificuldades em pescar. Há aqui
uma espécie de peixes, a que eu chamo parasitas!...Estão aqui debaixo da
canoa....Sempre à coca das conchazitas que nascem (no bojo e nos costados da canoa) e de qualquer
coisa que ali nasça... Mal deito o anzol, vão logo comer a isca e não há
maneira de lá ficarem no anzol... Claro que o anzol é grande demais para
eles. E comem-me a isca de uma maneira incrível!
A LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDA FORA NAQUELA NOITE TEMPESTUOSA (A PRIMEIRA) EM QUE FUI ATINGIDO POR UM VIOLENTO TORNADO, ERA AGORA A OBSESSIVA – LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDO FORA
A LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDA FORA NAQUELA NOITE TEMPESTUOSA (A PRIMEIRA) EM QUE FUI ATINGIDO POR UM VIOLENTO TORNADO, ERA AGORA A OBSESSIVA – LEMBRANÇA DOS ALIMENTOS (DAS CONSERVAS) QUE ATIREI BORDO FORA
A 1ª noite do imenso pesadeo |
Diário de Bordo 4
-
Âncora flutuante |
Ah!... Quando me lembro que
atirei a comida ao mar por precipitação. cocos, comida que agora me faz tanta
falta!... fico realmente ... revoltado, contra mim!... Não há dúvida
nenhuma, que, uma pessoa , no mar nunca se deve
precipitar...Deve manter sempre a serenidade... Pode vir a trovoada que
vier!...O tornado que vier!.. As dificuldades que surgirem!...Nós, as pessoas
que naufragarem, que se sentirem em tais
circunstâncias, nunca se devem descontrolar!... Nunca se devem
precipitar.... Por isso mesmo eu agora tenho fome....Porque, naquela
altura, em que surgiu a tempestade, eu precipitei-me um bocado....E também não
esperava demorar tanto tempo..
No mar nunca se podem fazer
cálculos seguros!...É impossível fazer cálculos seguros!...Quem manda é o
mar!... É o vento!...São as correntes!...Essas forças é que determinam... Nada
se pode fazer contra elas... A menos que se disponha de uma boa embarcação.... e
um perfeito domínio da mesma. Caso contrário... é-se o que as correntes
quiserem e os ventos quiserem e determinarem...
O que mais me
aborrece neste momento....não é o isolamento!....Não é a solidão!...Não é
este silêncio absoluto.... que se respira em torno de mim... É pensar
que, apesar de tudo, apesar de todas as contrariedades, eu podia fazer uma
viagem mais agradável....se não me tivesse despojado de certas coisas que
trazia...Inexplicavelmente!... Essa é a maior contrariedade...Digamos, o
maior aborrecimento que sinto neste momento...Não é a solidão!...Não, não é o
isolamento que sinto em volta de mim... Nem as trovoadas que de noite me
sacudiram!... Os relâmpagos que me cegavam ou o troar do ribombar do trovão,
que me parecia fazer cair o negro e pesado tecto sobre mim!... Nem as chuvadas
fortes! Nem o estar molhado!...Completamente num pingão!...Isso apesar de tudo
não me impressionou tanto!... O que mais me desola neste momento ...é
pensar que apesar de tudo, eu podia agora viver mais
agradavelmente!...Um pouco melhor....Se não me tivesse precipitado!...
PARECE-LHE UM
GRANDE VELEIRO, NÃO É? - MAS É A MESMA AO LADO
Diário de Bordo 5 -
Até agora o mar tem estado calmo...Começa a estar ligeiramente
agitado!...Começa a sentir-se uma ligeira brisa também....Vou aproveitar para
pôr a vela, visto também já ter a impressão de ver lá longe, a nordeste,
contornos de terra...Se assim for não estarei muito longe! E sou capaz de lá
chegar hoje...Vou portanto fazer tudo por tudo para que isso aconteça.
Diário de Bordo 6
-Estou velejando com bastante dificuldade....Devem ser aí 3 de tarde...Há pouco
tive a impressão de ter visto terra....Afinal de contas não vejo nada... e
continuo a navegar com bastante dificuldade, devido haver bastante
calema....Estou cheio de fome...Está um calor de matar!...É mesmo um calor
bastante forte!...Sinto-me muito cansado.
Diário de Bordo 7 -
Fim de tarde do 27ª dia. Pode dizer-se que já se pôs o sol. Pode dizer-se, que,
em resumo, o dia esteve magnífico! Esteve uma manhã esplêndida!... E uma tarde
também. De sol!... Houve calmaria. Depois o mar encrespou-se!...Agora não corre
muito vento mas o mar está com bastante calema, o que não
permitiu que eu pudesse navegar muito tempo com a vela. E também por
desequilibrar muito a canoa....Que tombaleia bastante...De qualquer modo pode
dizer-se que o dia esteve bonito...
Como não tenho alimentos,
já me utilizei do tubarão.... Acabei agora de comer um bife de tubarão... que
consegui assar com um bocadinho de álcool....Estou satisfeito!...Tenho água das
chuvas, água doce.
Não vejo qualquer contorno
de terra mas tenho um pressentimento que amanhã por todo o dia, devo
aproximar-me... Aliás, já não deve tardar muito..
Diário de Bordo - Assei o
tubarão com álcool...Foi com um bocado de álcool. Deitei-lhe um bocado de
álcool e realmente o processo resultou em pleno. Foi pena não me ter lembrado
há mais tempo....É capaz de chover esta noite...Não sei... Mas como está
bastante vento pode não chover....Há formações de nuvens em todo o horizonte.
Mas o céu a sul está limpo...De qualquer maneira, cá estaremos para o que der e
vier.
Diário de Bordo 8 - Um
pormenor curioso nesta tarde: li um bocado... Estive a ouvir música, deitado
sobre o fundo da canoa, já que é a posição que melhor se pode
ter, que a de pé...Eu estou muitas vezes de pé mas
é necessário um equilíbrio muito grande para não se cair ao mar...Pois a canoa
balanceia bastante...Está sempre a balancear... E é preciso cuidado.
Todas as noites vêm aqui a
dormir à popa e à proa da canoa, duas aves, às vezes três, mas parece-me que
são as mesmas...Uma branca e outra é preta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário