OBRIGADO, Ó DEUS DO AMOR E DA SUBLIME DOÇURA, POR ME TERES
TRANSCENDIDO, EM MOMENTOS ADVERSOS DA MINHA VIDA, EM OUTRA SUPERIOR
CRIATURA
Entrei-me
a onde não soube
e
quedei-me não sabendo,
toda
ciência transcendendo.
Eu
não sabia onde entrava,
porém,
quando ali me vi,
sem
saber a onde entrava,
grandes
coisas entendi:
não
direi o que senti,
que
mo quedei não sabendo,
toda
ciência transcendendo.
De
paz e de piedade
era
a ciência perfeita,
em
profunda saudade,
entendida
a via recta:
era
coisa tão secreta,
a
fala subvertendo,
toda
ciência transcendendo.
Estava
tão embebido,
tão
absorto e tão alheado,
que
se quedou meu sentido
de
todo o sentir privado:
e
o espírito dotado
de
entender não entendendo,
toda
ciência transcendendo.
Que
ali chega verdadeiro
de
si mesmo desfalece:
quanto
sabia primeiro
muito
baixo lhe parece:
sua
ciência tanto cresce
que
se queda não sabendo
toda
ciência transcendendo.
Quanto
mais alto se ascende,
tanto
menos entendia
que
negra nuvem se acende
que
as trevas esclareciam:
por
isso quem a sabia
queda
sempre não sabendo
toda
ciência transcendendo.
Excerto - Poema de – S. João da Cruz
Continua em http://www.nicoladavid.com/literatura/so-joo-da-cruz/toda-a-cincia-transcendendo
Continua em http://www.nicoladavid.com/literatura/so-joo-da-cruz/toda-a-cincia-transcendendo
S. João da Cruz,
padroeiro dos místicos e poetas
A reforma nunca é obra
solitária, mas compromisso partilhado e projeto que deve ser sustentado por uma
profunda espiritualidade. S. João da Cruz, evocado na liturgia a 14 de
dezembro, recorda-nos precisamente que as nossas estradas existenciais nunca
podem ser percorridas em solidão, mas fundam-se num encontro: primeiro com Deus
e depois com os irmãos.
Nascido em 1540 ou 1542 em Fontiveros (Ávila, Espanha), João cedo
ficou órfão de pai. Veste o hábito dos carmelitas em Medina no ano de 1563. Foi
ordenado padre em 1567, dep Nesse mesmo ano encontra Santa Teresa de Jesus, que
tinha recentemente obtido licença para a fundação de dois conventos e
carmelitas contemplativas. É com ela que colabora na reforma do Carmelo:
nasciam assim os Carmelitas Descalços. João, em 1568, estava no primeiro núcleo
destes monges reformados.
Foi preso no convento dos Carmelitas de Antiga Observância de
Toledo devido a uma acusação que se provou ser falsa, e foi no cárcere, onde
passou cerca de oito meses, que escreveu muitas das suas poesias, entre as
quais “Cântico espiritual”.
Morreu em 1591, aos 49 anos, em Ubeda. Foi beatificado por
Clemente X, em 1675 e declarado santo por Bento XIII, em 1726. É doutor da
Igreja,
Espanha 1542-1391
A vida de São João da Cruz foi marcada pela
pobreza. ”Pobreza que primeiro o abraçou e que depois fora por ele
abraçado como valor no qual achou um grande tesouro”. Quando seu pai
morreu, São João da Cruz tinha apenas dois anos. Com nove anos
foi acolhido numa espécie de orfanato para meninos pobres e ali recebeu os
primeiros estudos e os meios para sobreviver. Precisou trabalhar desde cedo
para ajudar no sustento da família. Teve, portanto, uma infância pobre e
difícil, marcado por privações de todo o tipo.
Esta realidade dura da vida poderia ter-lhe enchido de revolta e o levado a
sucumbir à ganância de ter o que lhe faltou. Mas, ao contrário, para São
João da Cruz a pobreza que ele viveu foi a chave para as suas grandes
experiências no caminho de Deus. É por ela que conseguimos compreender a noite,
a negação, o nada. Ele experimentou concretamente a ausência de tudo o que o
coração humano deseja (bens, afetos, consolações) e nesta ausência encontrou
Deus, o Tudo, diante do qual todas as coisas são nada.
A experiência da pobreza, por ele vivida à flor da pele, molda profundamente o seu espírito.
A experiência da pobreza, por ele vivida à flor da pele, molda profundamente o seu espírito.
Fez-se carmelita logo jovem. Mas descontente com a
vivência autêntica do evangelho do Carmeloestava decidido ir para a ordem
Cartuxa, que possui uma vivência particularmente radical da vida consagrada.
Foi quando conheceu Santa Teresa de Jesus, que lhe garantiu
poder viver essa radicalidade almejada no Carmelo mesmo. Para
tanto, Teresa fala de seus anseios reformadores já em exercícios e o convida a
ajudá-la a iniciar a reforma no ramo masculino. Seus anseios e suas buscas
coincidiam, havia uma comunhão de desejo e ideal entre eles, dois grandes
corações que se identificam, de modo que empreendem juntos a reforma do Carmelo.
Houve um momento onde a reforma carmelita começou a ser
perseguida para desacelerar o processo. Os Padres calçados tomaram medidas para
impedir a expansão e até mesmo conseguir a eliminação dos descalçados. Em meio
à esses conflitos, frei João da Cruz foi o que mais sofreu as
consequências, sendo preso duas vezes: uma no início de 1576 e outra em
dezembro e 1577. Esse último foi o tempo mais doloroso, mas também o mais rico
de sua vida.
Foi nos nove meses de prisão – num rincão sujo, sem luz nem diálogo,
respirando o mesmo ar e vestindo a mesma roupa – que São João da Cruz teve a
maior experiência do nada que o acompanhou a vida toda, a qual ele nunca
hesitou em abraçar. Transformou o momento doloroso, de privações de toda
espécie, numa profunda experiência religiosa e psicológica. Em meio à
escuridão, ao isolamento, ao abandono por parte de seus irmãos, a privação da
Eucaristia, os maus tratos, ele confirma suas convicções evangélicas para
saborear Deus na sua total pureza sem misturá-lo com os consolos terrenos.
Privado de tudo, de toda espécie de consolo material, humano ou espiritual ele
se une a Deus num amor verdadeiramente puro.
Depois da prisão ele reassume seus cargos no Carmelo até o
momento em que, num capítulo da ordem, teve que se opor aos caminhos que
queriam tomar, contrários às inspirações de Tereza, já falecida. Em função
disso, tiraram tudo dele e até quiseram o expulsar da ordem; neste momento ele
é posto de lado, maltratado, desprezado, abandonado, caluniado e passa por mais
uma terrível noite. Todavia, com o seu coração abrandado e unido a Deus, não se
deixa abater. No fim de sua vida, já doente, onde poderia escolher um
tratamento melhor, prefere ir para um mosteiro cujo o superior o olhava com
maus olhos. Oprimido pelas dores físicas e morais era consolado pela sua união
de amor com Deus, falecendo em 14 de dezembro de 1591.
São João da Cruz é místico, filósofo, teólogo e escritor – poeta – e doutor
da Igreja. Ele define o amor como trabalhar em despojar-se e desnudar-se por Deus
de tudo que não é Deus (2º livro da Subida, 5,7), colocando em relevo a
necessidade de purificação do amor, partindo da realidade desordenada em que o
amor se encontra e revelando aquilo que toca o homem no seu ordenamento.
“Para vires a saborear TUDO, não queiras ter gosto em NADA…”
Para saborearmos a Deus, o Tudo, é preciso nos desapegar de todos os nossos gostos, de todos os nosso gozos, mesmo os espirituais, para que reste apenas Ele, o Absoluto, o Tudo.
Para saborearmos a Deus, o Tudo, é preciso nos desapegar de todos os nossos gostos, de todos os nosso gozos, mesmo os espirituais, para que reste apenas Ele, o Absoluto, o Tudo.
ALGUNS DOS FAMOSOS
PENSAMENTOS DO MÍSTICO SÃO JÃO DA CRUZ
1. “A mosca que
pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do prazer, sente-se
impedida em sua liberdade e contemplação.”
2. “Meus são os
Céus e minha é a Terra, meus são os homens, e os justos são meus; e meus os
pecadores. Os Anjos são meus, e a Mãe de Deus, todas as coisas são minhas. O
próprio Deus é meu e para mim, pois Cristo é meu e tudo para mim.” (Sobre a
Eucaristia)3. “Não faça coisa alguma, nem diga palavra alguma que Cristo não
faria ou não diria se encontrasse as mesmas circunstâncias.”
4. “A pessoa que
está presa por algum afeto a alguma coisa, mesmo pequena, não alcançará a união
com Deus, mesmo que tenha muitas virtudes. Pouco importa se o passarinho esta
com um fio grosso ou fino… ficará sempre preso e não poderá voar.5. “O demônio
teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus.”
6. “O afeto e o
apego da alma à criatura torna-a semelhante a esta mesma criatura. Quanto maior
a afeição, maior a identidade e semelhança, porque é próprio do amor tornar
aquele que ama semelhante ao amado.”
7. “Dar tudo pelo
tudo.”8. “A pessoa que caminha para Deus e não afasta de si as preocupações,
nem domina suas paixões, caminha como quem empurra um carro encosta acima.”9.
“A constância de ânimo, com paz e tranquilidade, não só enriquece a pessoa,
como a ajuda muito a julgar melhor as adversidades, dando-lhes a solução
conveniente.”
10. “O amor não
consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado.”11.
“Deus quer mais de ti um mínimo de obediência e docilidade, do que todas as
ações que realizas por ele.”12. “Quando a alma se acha livre e purificada de
tudo, em união com Deus, nenhuma coisa poderá aborrecê-la. Daqui se origina
para ela, neste estado, o gozo de uma contínua vida e tranquilidade, que ela
nunca perde nem jamais lhe falta.”
13. “Tal é a alma
que está enamorada de Deus. Não pretende vantagem ou prêmio algum a não ser
perder tudo e a si mesma, voluntariamente, por Deus, e nisto encontra todo seu
lucro.”14. “Não fujas dos sofrimentos, porque neles está a tua saúde.”15. “A
mosca que pousa no mel não pode voar; a alma que fica presa ao sabor do prazer,
sente-se impedida em sua liberdade e contemplação.”
16. “Deus é
inacessível. Não repares, portanto, no que as tuas faculdades podem
compreender, nem teus sentidos experimentar, para que não te satisfaças com
menos e assim perderes a presteza necessária para chegar a ele.”17. "Tanto
mais livre está a alma quanto mais unida a Deus".
18. “Mesmo que
realizes muitas coisas, não progredirás na perfeição, se não aprenderes a negar
a tua vontade e a sujeitar-te, deixando a preocupação de ti próprio e das tuas
coisas.”19. “Quem se queixa ou murmura não é cristão perfeito… nem mesmo um bom
cristão…”20. “Mesmo que realizes muitas coisas, não progredirás na perfeição,
se não aprenderes a negar a tua vontade e a sujeitar-te, deixando a preocupação
de ti próprio e das tuas coisas.”
21. “Quem se
queixa ou murmura não é cristão perfeito… nem mesmo um bom cristão.”22. “A
sabedoria entra pelo amor, pelo silêncio e mortificação; grande sabedoria é
saber calar e não olhar aos ditos nem feitos nem vidas alheias.”23. “Para se
enamorar duma alma não põe Deus os olhos na grandeza dela, mas na grandeza da
sua humildade.”
24. “A alma que
caminha no amor não se cansa.”25. “Quem não procura a cruz de Cristo não
procura a glória de Cristo.”26. “Vive em solidão até achar a Deus.”27. “Amar é
trabalhar em despojar-se por Deus, de tudo o que não é Deus.”28. “A enfermidade
de Deus não se cura senão com a presença de Deus. Porque a saúde da alma é o
amor de Deus e faltando-lhe esse amor, falta-lhe a saúde.”29. “Aquele que ama
Deus sobre todas as coisas, nada lhe impede fazer ou padecer por Ele seja o que
for”.
30. “Nas
tribulações e humilhações, comunica-se Deus com maior abundância e suavidade.
Quanto maior é a esperança, tanto maior é a união divina; tanto se alcança de
Deus, quanto N’Ele se espera”.
31. “Tanto mais
livre está a alma quanto mais unida a Deus”. 32. “Só os que morrem ao homem
velho, merecem renascer filhos de Deus. O que morre a si e a todas as coisas,
vive vida doce e saborosa de amor com Deus”.33. “As maiores obras em que Deus
mais se mostrou são as da Encarnação do Verbo e mistério da fé Cristã”.
34. “Para não
perdermos a paz, devemos nos alegrar e não nos perturbar nas adversidades”. 35.
“Ao entardecer desta vida examinar-te-ão no amor. Aprenda a amar como Deus quer
ser amado e deixa a tua condição”.36. “Onde não existe amor coloca amor e amor
encontrarás”.37. "Nisto tens motivo de grande gozo e alegria, vendo como
todo o teu bem - a tua esperança
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