Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Em memória de Ilse Lieblich Losa - Excertos de uma entrevista,
registada por mim nos anos 80 - Autora
do célebre conto, o Mundo Em Que Vivi – Escrito em 1949 , que fala de uma
criança judia que passou parte da sua infância com os avós. Rose vive no tempo
da Alemanha Hitleriana e, como é judia, é perseguida pelos nazis. O livro
relata a perseguição aos judeus e o nazismo de uma forma inocente, pois é visto
aos olhos de Rose, uma criança.
Foi presa por ter escrito, numa carta a uma amiga, que o
Hitler era um criminoso. A carta foi intercetada pela Gestapo e foi presa – Como era ainda jovem e bonita,
teve a sorte do soldado da Gestapo, três horas depois do interrogatório, a
mandar para casa, com a indicação de que, uns dias depois, seria informada do
destino que lhe iam dar – Nesse entre-tempo, aproveitou para fugir para Portugal
És judia, de
facto! Tens olhos claros, cabelo louro?
Eu respondia: sou –
Não sei bem explicar mas foi talvez uma questão de uma certa simpatia, porque, de vez em quando, há alguma
humanidade num homem da Gestapo.
Passados três horas, ele mandou-me assinar um papel e disse-me: daqui a seis dias, você terá noticias nossas e vamos ver para onde é que a vamos transportar: nesses dias, deu-me para fugir
Passados três horas, ele mandou-me assinar um papel e disse-me: daqui a seis dias, você terá noticias nossas e vamos ver para onde é que a vamos transportar: nesses dias, deu-me para fugir
Eu vim para
Portugal, porque já cá estava um irmão meu e ele veio para cá porque já estava cá um Tio, nosso
E foi em Portugal
que eu escrevi o livro O MUNDO EM QUE VIVI, porque eu não escrevo só para
crianças. - Ouça os excertos da entrevista neste video
O MUNDO EM QUE VIVI
O MUNDO EM QUE VIVI
Uma das várias obras escritas pela autora – Este livro
conta-nos a
história de uma menina que, na infância, passara a viver com seus avós na
Alemanha dos Kaiser durante a Primeira
Grande Guerra Mundial e depois
com os pais até a eleição de Hitler como Chanceler do Reich.
Uma menina judia perante a contradição dos costumes alemães com a tradição no
seio de uma família a que pertence. Relata-nos, junto com a avó, como admirava
as reuniões aos sábados na Sinagoga, e
perguntava porque as mulheres ficavam separadas dos homens, nas cerimónias
religiosas, também sentia-se fascinada quando liam o rolo e desfraldavam a
bandeira de David na maneira de como era atraída pelas letras hebraicas.
– Excerto O Mundo em Que Vivi – Wikipédia,
BIOGRAFIA - lse Lieblich Losa (Melle-Buer, 20
de março de 1913 — Porto, 6 de janeiro de 2006) foi uma escritora portuguesa de
origem judaica. Nascida na Alemanha, frequentou o liceu em Osnabrück e
Hildesheim e mais tarde um instituto comercial em Hannover. Ameaçada pela
Gestapo de ser enviada para um campo de concentração devido à sua origem
judaica, abandonou o seu país natal em 1930. Deslocou-se primeiro para
Inglaterra onde teve os primeiros contactos com escolas infantis e com os
problemas das crianças. Chegou a Portugal em 1934, tendo-se fixado na cidade do
Porto, onde casou com o arquiteto Arménio Taveira Losa, tendo adquirido a
nacionalidade portuguesa. Em 1943, publicou o seu primeiro livro "O mundo
em que vivi" e desde dessa altura, dedicou a sua vida à tradução e à
literatura infanto-juvenil, tendo sido galardoada em 1984 com o Grande Prémio
Gulbenkian para o conjunto da sua obra dirigida às crianças. Em 1998 recebeu o
Grande Prémio de Crónica, da APE (Associação Portuguesa de Escritores) devido à
sua obra À Flor do Tempo. Colaborou em diversos jornais e revistas, alemães e
portugueses, está representada em várias antologias de autores portugueses e
colaborou na organização e traduziu antologias de obras portuguesas publicadas
na Alemanha. Traduziu do alemão para português alguns dos mais consagrados
autores. Segundo Óscar Lopes "os seus livros são uma só odisseia interior
de uma demanda infindável da pátria, do lar, dos céus a que uma experiência
vivida só responde com uma multiplicidade de mundos que tanto atraem como
repelem e que todos entre si se repelem". Ilse Losa - Wook
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