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sábado, 25 de junho de 2016

Neves de Sousa – Um repórter que andarilhou por todos os continentes , foi o rosto das maratonas da Grande Noite de Fado da Casa da Imprensa e, a sua memória, deixou muitos amigos e imensas saudades.

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Recordando Neves de Sousa – Ele foi o rosto, que deu corpo e alma à organização da Grande Noite de Fado da Casa da Imprensa, ao longo de 16 anos   - O Repórter, que se dividia pelos  jornais e revistas, a rádio e a televisão, na crónica e na reportagem, desde o desporto, ao espetáculo, aos mais variadíssimos acontecimentos, em todas as frentes, tendo viajado  por 75 países: a sua palavra e o seu estilo, a sua voz,  era apaixonante, franca, calorosa, lúcida, independente e inconfundível

Sportinguista assumido mas os seus comentários eram apreciados por todos os amantes de futebol, pois  nele a franqueza e o sentido da análise critico, não se deixavam toldar por distorções clubísticas – Informava com emoção, rigor e verdade. Deixou muitos amigos e admiradores

Hoje, ao consultar o meu arquivo de algumas centenas de registos, deparo, na mesma cassete, com duas pequenas entrevistas, que fiz no Páteo Alfacinha, por ocasião dos 40 anos de carreira de Neves de Sousa e os 30 de Rui Castelar, na noite, em  que, a gerência daquela afamada  casa de fados, decidira homenagear estes dois grandes profissionais da comunicação social  - A do  meu grande amigo, Rui Castelar, com quem tive o prazer de colaborar nalguns dos seus programas noturnos na Rádio Comercial, ficará para um destes dias, pois ainda faz parte do nosso convívio, o que não é o caso de Neves de Sousa, que nos deixou  há precisamente 21 anos.

Falta-me muito para ser um bom repórter; eu sou um mediano cronista  e um sofrível repórter” -  disse-nos - Mesmo grande e expressivo em tudo o que fazia, nunca perdia o sentido de humildade e de nobreza.

A sua biografia é vasta e daria matéria para um apaixonante livro – julgo mesmo que o fez – mas eu vou aqui a reportar-me a algumas das declarações que me concedeu

Páteo Alfacinha - WEB
Começou aos 19 anos a sua carreira no jornalismo: o seu primeiro trabalho foi impresso, em Dezembro de 1949, na revista Flama, com uma entrevista ao jogador  Félix do Benfica, que não foi fácil de obter, dado tratar-se de um craque, que fazia gala em fechar-se na sua redoma.
Feita a prova na imprensa escrita, veio depois a da rádio na Rádio Renascença e no antigo Rádio Clube Português

De entre o múltiplos trabalhos que fez, recordou-nos o atentado contra o  Papa, João Paulo II, em Fátima,  que testemunhou a  escassos metros de si, as reportagens dos incêndios do Teatro de D. Maria e da Igreja de S. Domingos, a do  choque de combóios  no Porto, um desmoronamento de terras, em Gibraltar, que também fez várias vitimas – E o dia, em que, ao fazer a cobertura das cheias de Lisboa,  tal era devastação, que se estampava aos seus olhos, que estes também se inundavam de lágrimas, ao mesmo tempo que tomava as suas notas.

REGISTOS DA SUA MEMÓRIA 

Neves de Sousa (1931 - 1995)
Neves de Sousa faleceu em 1995, aos 64 anos, sendo conhecido pela energia e dignidade com que exercia a profissão.  Sportinguista lúcido e independente, foi uma referência deontológica no seu tempo. Considerado uma personalidade no jornalismo nacional, José Neves de Sousa exerceu a sua actividade essencialmente no extinto "Diário de Lisboa", tal como em vários jornais desportivos, entre eles o "Record", “A Bola” e a “Gazeta dos Desportos”. Colaborou ainda com a Renascença, Antena 1 e Comercial, além de apontamentos episódicos na RTP.



PARECE QUE FOI ONTEM – diz Alexandre Pais, num artigo publicado o ano passado, em 29 de Junho

Neves de Sousa partiu há 20 anos
É referência recorrente nesta página e volta a sê-lo agora, duas décadas decorridas sobre o dia 7 de Julho de 1995, em que José Neves de Sousa nos deixou, aos 64 anos
O Zé abriu-me, em Fevereiro de 1972, as portas do Diário de Lisboa, então carregado de nomes extraordinários da imprensa portuguesa. Dele colhi não só a oportunidade, mas também regras de ouro que ditaram o meu futuro: a pontualidade – ele era sempre o primeiro a chegar, às 7 da manhã! –, a entrega, a humildade para reconhecer os erros, a capacidade para descobrir o que quer o leitor e, em especial, a virtude que faz a diferença: trabalhar mais do que os outros, sem horas para sair ou namoradas à espera.

Como referiu Hernâni Carvalho, na SIC, a propósito de Teresa Pais, o Zé "não tropeçou numa caixa de sorte", impôs-se pelo talento e por cá ficou – embora ele saiba que às 7 da madrugada comigo não conta



Jornalista único
Bom em tudo, o Zé era insuperável na reportagem
Neves de Sousa jamais permitiu que a jactância dominante na classe o diminuísse pelo facto de a sua maior especialidade ser o futebol. Bom na escrita e na crónica, a editar e a dar notícias – oh, onde já vai no jornalismo essa mania! –, a entrevistar e a produzir opinião, foi na reportagem que o Zé atingiu um nível insuperável. NoDiário de Lisboa, a entrada clandestina na aldeia olímpica de Munique, em 1972, após o atentado terrorista, ou a capacidade, única, para descrever os funerais do toureiro Manuel dos Santos, em 1973, e do ciclista Joaquim Agostinho, em 1984, foram exemplos da sua dimensão como repórter, um repórter extraordinário Neves de Sousa partiu há 20 anos - Alexandre Pais - Sábado

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