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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Por terras da Luz da Beira – Longroiva, Meda, Poço do Canto e Cancelos - Paisagens e Pessoas em Sol de Maio e de Maias Perfumadas e Floridas – Depois de uma manhã nos Templos do Sol, em Chãs, numa quase prévia iniciação para a festa do solstício do Verão de 21 de Junho

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Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista 

Um grupo de amigos (de Cancelos, Poço do Canto (Meda), Foz Côa e Chãs, Freixo de Espada à Cinta - eram para ir mais pessoas de outros lugares, se fosse num domingo, mas calhava à segunda-feira, dia de trabalho) decidiu deslocar-se numa visita aos Templos do Sol  e terminar o resto dia na  freguesia do Poço do Canto,  onde se celebrava  a festa, em honra do Divino Espírito Santo, que se realiza 7 semanas depois da Páscoa.  – O passeio foi a 24 de Maio; já lá vão alguns dias mas é da maneira que nos dá ainda mais gosto falar de pessoas, convívios e  lugares que nos deixaram  as mais gratas recordações.

Na verdade,  quando o Maio se despede da Primavera e o Junho já está à porta, como que a lançar-nos um antecipado convite para, lânguida e alegremente,  recebermos o Verão, sim, desde que o céu esteja desnublado, azul e limpo,  e, do alto da cúpula do infinito, brilhe um sol  radiante e esplendoroso,  longe do bulício poluidor das cidades, há que reconhecer que todos os passeios são sempre um convite ao veraneio e à contemplação. Sejam feitos  a pé ou de carro, conquanto se conduza sem pressas, dando tempo a dar uma olhadela ao que vai desfilando ao longo da estrada. Só assim merece a pena viajar de carro. E até pode saber ainda melhor, depois de umas caminhadas a pé: a subir ou a descer quebradas ou  vertentes rochosas – Foi o que sucedeu na peregrinação matinal aos Tambores.  





Desses lugares, traz-se de lá muita energia no corpo e no espírito, de lugares e pedras que albergam como que a sabedoria de antiquíssimas civilizações, e, até, nos olhos, aquele  brilhozinho   das fantásticas e sublimes  penedias, o olhar deliciado, que só os homens iluminados compreendem, pois todo o bem, atrás dele tem outro bem.   Sentem-se emoções inexplicáveis,  mais da matriz do incognoscível, cujos espaços embriagam os sentidos    – Nestas situações, ou se enceta o regresso ou se opta por ficar sentado  à sombra de um carrasco, dos escassos sobreiros ou carrasqueiras, que ainda resistem  à praga dos incêndios. No Maciço dos Tambores, há muito poucas árvores, predominam as giestas de flor branca, no entanto, para quem opte por associar  o passeio ao descanso, encontrará sempre maneira de o poder fazer: nem que seja numa gruta ou a caverna de uma fraga.

Pois, mas neste caso, a opção previamente estipulada, era  mesmo a de se ir almoçar à freguesia do Poço do Canto:  mais propriamente ao afamado Restaurante do Cônsul: -  Para ali se saborear um delicioso cozido à portuguesa, bem regado com vinho de Meda, que o mesmo é dizer, das uvas que são colhidas nas vinhas daquela freguesia. Já que,  é justamente nas suas encostas, que se produz o apreciado “Poço do Canto” – Touriga Nacional, classificado pelos enólogos  com “notas minerais e alguns frutos do bosque, um traço vegetal, num aroma com pouca fruta mas bem envolvente. Focado, vivo e alegre na boca, com corpo médio, macio, taninos bem domados, um vinho dominado pela frescura”

UM DIA EM CHEIO!

Na verdade, foi realmente um dia fantástico, que começou  numa peregrinação aos Templos do Sol (Santuário da Pedra da Cabeleira, Pedra dos Poetas, Castro do Curral da Pedra e Pedra do Sol), com um périplo  por terras de Meda. Ao deixar-se a aldeia de Chãs, que, em tempos, também já pertenceu àquele concelho, desce-se  até ao cruzamento dos Areais para se apanhar a EN,  volvendo a montante ao longo do vale da Ribeira Centeeira. Logo a seguir passa-se pela Quinta da Veiga, e, eis-nos, um pouco mais à frente, a desviar-nos pela estrada municipal, subindo-a, desde aquele ramal a Longroiva e  Meda.

Em Longroiva, ao passarmos pelas antigas termas, fez-se uma curta passagem. - A lembrar o que já foram: num tempo em que o enorme casarão era povoado de morcegos, que pareciam vampiros a esvoaçarem nas noites mais invernias e escuras –  que é justamente a memória que guardo de criança, quando o meu pai, ali pernoitava para banhos das suas queixas reumáticas ) oh, e agora como estão!... Modernizadas, sem desfigurarem a paisagem! Com vários pequenos chalés de madeira, surgindo como um sedutor convite a quem ali queira tratar-se de certas enfermidades ósseas. 

Registadas algumas fotos,  retoma-se a marcha pelo interior da encosta da freguesia. Porém,  ao chegar-se à última curva, pouco antes de se perder a aldeia de vista, esta surge aos olhos do viajante, como se, realmente, ao seu lado direito, abandonasse um dos mais   graciosos e magníficos presépios, encimado por um castelo mediável dos templários. Obviamente que era irresistível  não apontar para lá a objetiva da máquina fotográfica. Pois, por mais que ali se passe,  dificilmente se deixa  de olhar  para aquele emblemático casario, qual postal ilustrado ou imagem de um conto de princesas e de fadas.

Meda,  elevada a Cidade em 26 de Janeiro de 2005, tem muito para oferecer ao visitante. Nomeadamente a hospitalidade das suas gente, e, entre outras coisas, uma igreja, que é um verdadeiro monumento arquitetónico. Contudo, o que há de singular para quem chegue ao adro e ao largo do pelourinho,  é o convite que impele o visitante a  subir  as escadas que o conduzem até a uma Torre do Relógio, erguida no cimo de um morro de enormes rochas  de granito, donde se avista a mais ampla e  deslumbrante panorâmica, cuja iluminação noturna faz quase o mesmo efeito dos faróis à entrada dos grandes portos  ou promontórios, estendendo o seu sinal luminoso  por  largas dezenas de quilómetros. Daí o título – Luz da beira – que ostentava uma extinto Jornal regional. Felizmente, a luz lá continua a brilhar, como sempre brilhou, desde que passou a existir iluminação pública, ainda no tempo do Estado novo. O  que  se apagou foi aquela tão popular voz informativa

Meda tem freguesias mais antigas que a sede do concelho Pois, dizem os historiadores que, Meda, durante a Idade Média, era um povoado de dimensão reduzida, contrastando com as vilas vizinhas que hoje integram este concelho: Marialva, Ranhados, Longroiva e Casteição. Esta localidade era um cenóbio beneditino, situado no sopé de um morro granítico que assinalava a presença cristã e o direito ao celeiroHistória - Município de Mêda

Em Meda, a paragem foi breve – E tanto havia para ver se o nosso propósito fosse o de fazer ali turismo. Mas,  esta cidade, já todos a conhecemos. Parámos, unicamente, para acedermos ao amável convite  de Armindo Janeiro, proprietário de Vinhos & Eventos, uma casa que é um autentico museu dos  vinhos mais afamados da região – Amigo este, que,  não tendo podido juntar-se ao nosso grupo, em Chãs, nos quis presentear, ao lado de sua esposa,   com um delicioso Vinho do Porto,  num brinde acompanhado por uns deliciosos  figos e amêndoas deste concelho. E, portanto, como o almoço já nos esperava no Poço do Canto, a visita tinha de ser apenas para responder a um amável gesto de simpatia

UMA FREGUESIA QUE NÃO FICA NUM POÇO MAS TEM CANTO NO NOME


Como é sabido, o tempo corre e não estica, pelo que, depois de agraciados por tão saboroso Vinho do Porto (oh, e que tentação de garrafas de Barca Velha e de outras famosas marcas,  que li se ostentavam nas prateleiras da casa de Armindo Janeiro!), impunha-se se continuar a marcha – e sem demora - com destino a Poço do Canto.

E lá fomos estrada fora por uma das vias rodoviárias, talvez das mais altas daquelas redondezas, onde, por altura do rigor dos  Invernos, os ares são mesmo de bater o dente – Mas não era o caso. Em pleno princípio de tarde, com o sol a pino, o dia só podia ser  quente e luminoso!

Como há  muito, não passava por estes lugares, é natural, que,  mesmo com a viatura em movimento, não deixasse de dar uma olhadela, lá para as distâncias a leste, do planalto onde termina a meseta Ibérica, donde havíamos partido e se situa a minha  aldeia, e, naturalmente, para as paisagens mais próximas,  que se estendiam de um lado e do outro da estrada: ora contemplando trechos paisagísticos ou avistando distâncias, que não se sabe bem se fazem parte da Baria Alta ou da Beira Transmontana: no Concelho de Meda, há panoramas com todas essas características.

 Antes de se  descer para a aldeia do Poço do  Canto, que  fica situada numa da encostas do Monte de Santa Colomba, é-se  impelido como que a abrandar a  marcha ou mesmo a parar  para se admirar um panorama, verdadeiramente soberbo, que não cansa o  olhar – Depois, tino nos travões e nas curvas, que a descida não é para destravados,  mas de condução calma e sem pressas.     Esta freguesia, com 16,22 km² de área e 443 habitantes, foi  integrada no concelho da Mêda desde 6 de Novembro de 1836, depois de ter feito parte do de Ranhados, extinto pela Revolução em favor do concelho da Mêda e  da qual dista cinco quilómetros. Dela fazem parte seis povoados: Cancelos de Baixo, Cancelos do Meio, Sequeiros e Vale de Porco.

Quando ali chegámos, junto ao Restaurante do Quinteiro do Cônsul, enquanto o nosso amigo e companheiro de viagem, Jorge Mesquita, se apeava para se dirigir à cozinha a fim de ajudar a esposa a distribuir as carnes, as batatas e o fumeiro pelos pratos do cozido à Portuguesa, que nos ia oferecer, alguns de nós ainda deram uma curta vista de olhos  pelo largo da igreja, aproveitando para trocarem  cumprimentos entre amigos – Mas, por pouco tempo: eram horas de almoço  e havia um enorme desejo de nos sentarmos à mesa, já que o apetite assim o aconselhava . Sim, e  que gostoso não estava o cozido à portuguesa!... Como só as gentes do interior o sabem confecionar –  Ainda par mais regado com um excelente vinho da terra.

Terminado o almoço, voltamos  ao adro da igreja para alguns momentos de agradável convívio, numa roda de outros amigos. Depois, o destino era rumar para Cancelos - Nem todos, porque houve quem tivesse  compromissos inadiáveis para o resto da tarde – Para lá nos deslocámos, eu e o Jorge Mesquita, no carro do Tomé Janeiro, acompanhados por sua esposa, Noémia Janeiro, que nos me iria receber, com a sua habitual simpatia, cortesia  e sorriso, tal como, de resto, o seu marido: são do mesmo signo de áries e até parece que já nasceram talhados um para o outro, tal a empatia que transmitem e os nobres ideais  que cultivam – Mas que casa de aldeia mais sóbria e encantadora!...  Quem havia de imaginar que na província se cultivava tão bom gosto. 

Sem dúvida, uma bonita surpresa! … Onde,  até os pigmentos do granito do interior da sala de jantar parecem contar misteriosas históricas, símbolos enigmáticos que são como um teste ou devaneio místico-iniciático à imaginação e à sensibilidade do visitante: não sendo, por o acaso, que, sobre a mesa  ao centro, existe um livro para registar as impressões .

Curiosamente, depois de lá também escrevermos o nosso comentário, mais propriamente a nossa interpretação, constatámos que nenhuma delas se assemelhava, quão díspares e insólitas elas eram umas das outras.  Creiam, que só aquele livro é digno de figurar num verdadeiro tratado de sociologia ou do foro iniciático ou cabalístico – Aliás, o mesmo se poderá dizer dos morais da sua vivenda, rodeada de pinheiros, bravos e mansos, algures nas redondezas de Coimbra, formando com os seus muros um verdadeiro triângulo mágico. – Naturalmente, que, só pessoas, com estas preocupações  e culto pelo sagrado ou coisas místicas, poderia ter-se apaixonado à primeira vista pelos Templos do Sol, sendo, por isso, desde a primeira vez que os visitaram, dos maiores entusiastas.

Mais um motivo para dizer, pena o tempo não esticar.  Após a amável receção,  é o próprio, Jorge Mesquita, a acompanhar-me pelas ruas da povoação, numa breve vista ao forno comunitário, obra que, enquanto autarca,  logrou recuperar do abandono em que se encontrava, o mesmo sucedendo a um velho fontenário, que traz água canalizada do monte, água potável que   a população  pode  vantajosamente aproveitar,  sem ser da rede pública.

 
Cancelos é uma pequena povoação, que se estende num pequeno e aprazível vale, integrada   na Freguesia de Poço do  Canto, do concelho de Meda – Onde as casas se misturam com a verdura dos campos,  numa altura em que, o amarelo brilhante  das maias floridas,  ainda davam o seu toque de uma luminosa e acentuada aguarela. Voltada a  poente e a sudoeste, com horizontes a perderem-se de vista, repartindo-se por três núcleos habitacionais (Cancelos de Cima, Cancelos de Baixo, Cancelos do Meio), não é dos povoados que se deixou de todo desfigurar:  pois, muito do seu casario,  ainda consegue manter   o aspeto das tradicionais casas  de granito – Isto para já não falar de um antigo palácio senhorial, onde, até,  diz-se,  Guerra Junqueiro, poetizou e escreveu alguns tentos da sua magnifica  obra literária..

Chás, Longroiva, Meda, Poço do Canto a  Cancelos: Paisagens e Pessoas em Sol de Maio e de Maias Perfumadas e Floridas

Sim oh o  doce prazer gracioso de contemplar ridentes aldeias erguidas em agrestes penhascos, encimadas por vetustos castelos, suaves e verdes colinas, frescos e verdejantes prados ou vinhas, fontes e fontanários jorrando água para saciar a sede a quem passa, jardins ou sacadas floridas, entrar numa loja com as prateleiras atestadas de garrafas, saborear um delicioso vinho generoso, continuar a jornada até ao Poço do Canto (veja-se se não há poesia neste nome!), almoçar no Quinteiro do Cônsul um cozido à portuguesa, regado com Vinho de Meda, depois voltar a sair do Poço do Canto e descer aos Cancelos.

Ser recebido por um casal, que tem num nicho à porta uma sagrada família mas que faz do seu lar, um brinquedo de poesia, devaneio e misticismo. Além de um piano, pronto a verter sons de quem se sinta inspirado e talentoso, há mesmo até instrumentos pendurados nas camieiras do teto, garrafeiras que parecem verter sons de guitarra, poemas emoldurados a recordar momentos de júbilo e de alto significado “Tanto Lírio, tanta rosa!/ Tanta frescura e beleza./ Ontem, hoje e agora, / Sempre contigo à mesa./ O melhor manjar da vida, / É aquilo que mantemos. /As tradições da Família./ Que é o melhor que nós temos. - E quem dá o melhor que tem, dando-o de coração franqueado e generoso, nem é só graciosa dádiva mas gesto amoroso.

Depois, dali, imagine-se! Ainda íamos ser presenteados com os sorrisos ornados de roseiras perfumadas, numa casa, que, a bem dizer é mais um jardim, todo ele florido, desde a entrada até aos ramos de rosas em jarras nas salas, quartos e cozinha. Mas não só flores, verdura e rosas mas também muita arte! Exposta por todo o lado – Feita de cepas de videiras, de pedaços de ramos ou de troncos de árvores, nos quais se escavaram cadeiras, que servem para poses de sorrisos e espreguiçadeiras. Pedras entranhadas de minerais, ferros velhos, que em vez de se perderem abandonados nalguma sucata ou até sob as ervas do campo, acabam por prefigurar objetos artísticos.

Sem dúvida, recordações inolvidáveis de um dia em cheio! Como só são possíveis, quando se junta um grupo de bons amigos, numa porfiada caminhada – que até pode ser de pé e de carro – tendo apenas como único propósito: o prazer do convívio com as coisas boas da natureza: paisagens, frutos, O dia não podia ser mais belo – Céu limpo e azul, sol esplendoroso – Era um Maio já mais a lembrar que o Junho estava à porta, com um pé entre a Primavera e o Verão
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Obrigado amigos e um grande abraço de muita estima por me terdes propiciado uma manhã e uma tarde, tão maravilhosas! A Tomé Janeiro e Noémia, dinamizadores da romagem, Padre Filipe, José Lebreiro, Jorge Mesquita, José Valongo, João Lourenço, António Mata e Armindo Janeiro - Quem também vos esperava e saudava à vossa chegada em Chãs, a que me refiro noutro vídeo, foi António Lourenço, que não nos pode acompanhar por afazeres de Presidente do BV de Foz Côa.

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