ODE À PAZ
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego, dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, in O Sol nas Noites e o Luar nos Dias
Alinhamento de Véspera
Há
quem pense que o mundo da luz e do conhecimento só começou com a descoberta da
electricidade. Mas os que assim pensam
estão enganados. O homem existe há milhões de anos! E, por conseguinte, desde
há muito que que ele aprendeu a aperfeiçoar as suas técnicas de sobrevivência,
a conviver com a natureza, e a conhecer-lhe muitos dos seus segredos,
que, certamente, se foram perdendo à medida que se foi divorciando do seu
contacto.
O planeta Terra é percorrido, tal como as veias no corpo humano, por uma rede de linhas energéticas, que, nos sítios onde se cruzam, agem como pontos nodais ou lugares mágicos, catalisadores de correntes vibratórias, propiciando como que um elo de harmonia, ao mesmo tempo purificador e revitalizador, qual auspicioso veio cósmico e telúrico aglutinador das Forças Celestiais, da Inteligência Universal, com a Terra e os homens que ali busquem o indispensável conforto mágico ou sobrenatural para a aventura solitária das suas vidas.
Para bem da Humanidade, são muitas essas
linhas sagrados que foram
reconhecidos como lugares sagrados ao
longo de milénios e milénios.
Vejam-se as
mundialmente famosas estátuas da Ilha da Páscoa, enigmáticas figuras
gigantes com os olhos voltados aos céus,
ou ainda, nos Andes, a não menos
impressionante Porta do Sol, presume-se que da cultura Asteca, expressando a
mais estreita aliança e união do espírito com a matéria - Isto para já não
falar das ruinas de Stonehenge, sobre as
quais, investigadores de todos os domínios, se continuam a interrogar, sem,
contudo, encontrarem as respostas que os satisfaçam.
NATÁLIA CORREIA – A MEMÓRIA UMA PERSONAGEM INVULGAR
Natália Correia faleceu aos 69 anos, no dia 16 de
março de 1993, na sua residência em Lisboa. “Quando se percorre a poesia escrita
por mulheres ao longo do século XX português, o nome de Natália Correia
continua a surgir como um dos que causaram uma repercussão mais duradoura, quer
pela sua personalidade forte e polémica, quer pelo alcance da sua obra
literária, na qual sempre se manifestou uma vocação poderosamente dionisíaca e
por isso excessiva, capaz de apreender magicamente a realidade e de a
transfigurar mediante uma rica imaginação metafórica, sobretudo a partir de
"Dimensão Encontrada" (1957), já que os seus primeiros livros
("Rio de Nuvens", de 1947, e "Poemas", de 1955) exprimiam
ainda uma atitude lírica mais tradicional. Celebrando Natália Correia
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