"Tertúlias, Exposições,
Concertos e Poesia" - Não é um slogan vulgar do "Mercado
de Livro de Leça da Palmeira", mas é realmente um "Verão Cheio de
aventuras" - das 10 da manhã à meia-noite, junto ao Farol da Boa
Nova, de 4 de Julho a 3 de Agosto. Alguns dias, já lá vão, mas ainda há muita
oportunidade de ler e folhear excelentes obras literárias, apreciar recitais de
música e de poesia. Pois, aventuras a valer, só se podem viver ou no alto mar
ou à beira-mar - E, mais das vezes, até à quase à beira da praia, já com
o farol ou a terra vista, que é onde geralmente ocorrem as maiores tragédias -
Oh, sim, qual o pescador que, num dos maiores portos de pesca da
costa portuguesa, as não testemunhou ou as não viveu afltivamente, apelando ao
Bom Jesus de Matosinhos, à Senhora das Dores, ao Senhor dos Passos, à Senhora da Ora ou a outros santos e santas?!...Mas também é onde o olhar humano mais divaga, se perde
e deslumbra na contemplação do que é mais belo, imenso e sublime.
Mar! Imenso
mar! Extenso mar azul a perder de vista!... Desde o nascer ao
pôr-do-sol, e, depois, com aqueles rubros ocasos! - Quão nostálgicos como
transbordantes de ouro e de luz, jorrando miríades de reflexos de prata,
que é o que não faltará nem em Matosinhos ou em Leça da Palmeira.
Sim, esse
mesmo mar que moldou grandes vultos das letras, das artes e da música - Umas
que ali nasceram outras que a maresia matosinhense haveria de caldear para o
resto das suas vidas. Cantado por artistas e poetas - Ó Nobre! onde foste
arrancar estes teus lindos versos?!..
Ó Boa Nova, ermida à
beira-mar,
Única flor, nessa vivalma de areais!
Na cal, meu nome ainda lá deve
estar,
À chuva, ao Vento, aos vagalhões,
aos raios!
Ó altar da Senhora, coberto
de luzes!
Ó poentes da Barra, que fazem
desmaios...
Ó Sant'Ana, ao luar, cheia de
cruzes!
Ó lugar de Roldão! vila de Perafita!
Aldeia de Gonçalves! Mesticosa!
Engenheiros, medindo a estrada com a
fita...
Água fresquinha da Amorosa!
Rebolos pela areia! Ó praia da Memória!
Onde o Sr. Dom Pedro, Rei-Soldado,
Atracou, diz a História,
No dia... não estou lembrado;
Ó capelinha do Senhor d'Areia,
Onde o Senhor apareceu a uma
velhinha...
Algas! farrapos dos vestidos da
Sereia!
Lanchas da Póvoa, que ides à
sardinha,
Poveiros, que ides para as vinte
braças.
Sol-pôr, entre pinhais...
Capelas onde o sol faz mortes, nas
vidraças!
Onde estais?
Georges! anda ver meu país de Marinheiros,
O meu país das naus, de esquadras e de frotas!
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem a barra, entre ondas de gaivotas!
Que estranho é!
Fincam o remo na água, até que o remo torça,
À espera de maré,
Que não tarda aí, avista-se lá fora!
E quando a onda vem, fincando-a com toda a forca,
Clamam todas à urra: «Agora! agora! agora!»
E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo
(Às vezes, sabe Deus, para não mais entrar...)
Que vista admirável! Que lindo! Que lindo!
Içam a vela, quando já têm mar:
Dá-lhes o Vento e todas, à porfia,
Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas,
Rosário de velas, que o vento desfia,
A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas:
Senhora Nagonia!
António Nobre - Excertos de Georges! anda ver meu país de romarias -
NO MERCADO DO LIVRO - JUNTO
À PRAIA DE LEÇA DE PALMEIRA - ROTEIRO APRAZÍVEL E IMPERDÍVEL
Não vamos pormenorizar
as obras que são ali expostas mas é nossa convicção que, um certame de livros,
é sempre uma boa ocasião para ir ao encontro das mais diferentes sensibilidades.
Todavia, aproveitamos, para aqui nos referirmos a dois notáveis ensaios de Albano Chaves, natural de Leça de Palmeira, com raízes maternais no concelho de Vila Nova de Foz Côa - E ainda aludirmos às importantíssimas obras de Guilherme de Castilho.
Todavia, aproveitamos, para aqui nos referirmos a dois notáveis ensaios de Albano Chaves, natural de Leça de Palmeira, com raízes maternais no concelho de Vila Nova de Foz Côa - E ainda aludirmos às importantíssimas obras de Guilherme de Castilho.
Curiosamente, também, ele, Guilherme
de Castilho, diplomata (1912-1897) ensaísta e crítico de grande nível intelectual,
autor de uma das mais importantes biografias de António Nobre, bem como de outro livro de natureza epistolar do poeta (livros que vivamente recomendamos, alguns já muito difícies de encontrar) o qual, embora tendo
nascido em Vila Nova de Foz
Coa, foi em Leça de Palmeira, que passou muitos anos da sua vida - Cujo
ambiente social e maresia, dificilmente deixariam de influenciar a sua personalidade
e a sua obra -
"Licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas pela
Universidade de Coimbra, ocupou o cargo de representante diplomático em
diversos países (Chile, Áustria, Indonésia, França). Publicou Noções
Fundamentais de Psicologia (1942), consagrando-se ao estudo e crítica de vários
autores portugueses, tais como António Nobre, Raul Brandão e Eça de Queirós.
Colaborador de quase todas as páginas literárias dos jornais de Lisboa e do
Porto, foi homenageado com diversas condecorações, de entre as quais se
destacam a Grã-Cruz da Ordem do Mérito da Áustria e a Comenda da Ordem do
Mérito Civil de França."
Porém, sobre a vida e a obra de Guilherme de Castilho, é nosso desejo vir aqui a reportarmo-nos numa
próxima oportunidade, contando com a colaboração do seu filho, o escritorPaulo Castilho - De momento, vamos aproveitar para transcrever o
artigo que publicamos, no quinzenário OFOZCOENSE, a cerca dos dois livros de
Albano Chaves - Um nado e criado em Leça de Palmeira, com origem materna no Alto Douro.
“Donas-Boto– de
S. João da Pesqueira”, é o título de dois importantes ensaios de Albano
Chaves, já na segunda edição, corregida e atualizada – Com um desenvolvido
texto introdutório de Manuel Abranches de Soveral, escritor, investigador,
jornalista, professor e editor português – Livros que pretendem traçar – tanto
quanto possível – a árvore genealógica dos Donas-Boto, de um apelido que
remonta a vários séculos e com muitas famílias ilustres.
“Afonso V concedeu a (…) carta de brasão de armas, em 1462, a
Martin Esteves Boto, pelos seus feitos ao seu serviço e de seu pai
(Dom Duarte) (…) Todos os Boto com direito a estas armas são portanto descendentes
deste Martim Esteves Boto. Contudo o nome é bem mais antigo, porque já no ano
de 1258, no reinado de D. Afonso III, um individuo de nome Martin Peres
Boto, que vivia em Sernancelhe, foi testemunha na inquirição que este rei
mandou fazer das honras deste concelho”.
A MAGIA DO NOME
E OS VALORES DA FAMÍLIA – ESTEIO FUNDAMENTAL NA VALORIZAÇÃO DE UM PAÍS E DA
SOCIEDADE
Na verdade, por
mais estranho que seja o nome ou apelido, são as palavras mágicas que
qualquer cidadão gosta de ouvir pronunciar – E, também, quem não sente o
intrínseco desejo em saber até onde se estendem as raízes do seu passado
próximo ou ancestral?...Que tipo de parentesco ou afinidades, se entroncam ou
unem nas famílias com o mesmo apelido. Sem dúvida, foi o que procurou saber o
investigador Dr. Albano Chaves, natural de Leça
de Palmeira mas com ligação maternal ao concelho de Vila Nova de Foz Côa,
através do apelido Donas-Boto.
Pobre do país
que perca a sua identidade, os laços que o ligam com o seu passado, à sua
história. Infelizmente, essa descaracterização, que marcha a par de outra, que
se chama desertificação e dessacralização dos valores espiritais e familiares,
é de algum modo a causa dos problemas que agudizam a crise económica e social
que o mundo atravessa – Tal é o que sucede em Portugal. – Sim, onde estão os
grandes dirigentes que nos defendam da cobiça estrangeira e da ausência
de ética ou de conduta moral e cívica?!...Nessa impossibilidade, salve-se ao
menos a busca às origens da ancestralidade de cada família. Creio que é, no
fundo, de entre outras das ilações, a que nos transmite a leitura dos dois
minuciosos estudos genealógicos do apelido Donas Boto, por onde perpassam
breves resumos biográficos de muitos exemplos de virtudes, de saber e de
coragem.
Albano Chaves,
já nosso amigo e conhecido, através da descoberta do alinhamento do Solstício
do Inverno, a que deu o nome de Portas do Sol, no maciço dos Tambores, em Chãs,
é natural de Leça de Palmeira – De seu nome completo Albano Manuel de Madureira e Sousa Chaves, nascido em 1942, filho de Albano
Soares Chaves e de sua mulher Maria Emília de Madureira e Sousa Donas-Boto
Chaves, professores do ensino primário oficial. Tradutor de documentação
técnica e científica diplomado pelo Sprachen- und Dolmetscher-Institut
(Instituto de Línguas e Intérpretes) de Munique., que já lhe valeu a distinção,
em Zurique, do prémio "Tradutor do Ano" . Professor de Alemão e Inglês e orientador de estágio de finalistas
do curso de tradução de Alemão da Faculdade de Letras do Porto. Com vários estudos publicados nas áreas da genealogia, antologia e
romances, ficção histórica, monografias. Distinto
conferencista e um investigador apaixonado pela astro-arqueologia
OS DONAS-BOTO –
NO CONCELHO DE VILA NOVA DE FOZ CÔA
Em Foz Côa,
Muxagata, Almendra, Freixo de Numão, Castelo Melhor - quem é que não sabe que
existem famílias com o apelido Donas Boto e das mais consideradas?!... Pois, a
bem dizer, não se trata de um apelido qualquer – Tem raízes muito antigas. –
Todavia, foi a partir da origem “Donas.Boto de S. João da Pesqueira”, nos
primeiros anos do século XVI que, o seu autor, Abano Chaves, procurou
desenvolver o curiosíssimo trabalho - Ora recuando ora avançando no tempo –
Levando a cabo um aprofundado estudo genealógico, que, afinal, tanto pode
interessar aos Donas-Boto, como a estudiosos de sociologia, da genealogia e da
história. Há nas suas páginas, bastos motivos de interesse para um vasto leque
de leitores.
ALGUNS
REGISTOS DE FAMÍLIAS - DADOS PELO AUTOR
“Donas-Boto
no concelho de V. Nova de Foz Côa - A
primeira pessoa a usar os apelidos Boto e Donas viveu na vila de S. João da
Pesqueira em meados do séc. XVI, vindo de Beja. Com os passar dos anos, esses
apelidos passaram a assumir a forma Donas Boto ou Donas-Boto; por via de
casamentos com ramos das famílias Telo e Távora, também há séculos
estabelecidas na vila, os apelidos Donas Boto de Távora ou Telo de Távora Boto
passaram a ser comuns.”
“Muxagata - Os registos de Donas-Boto no concelho de Foz Côa começam em 1687,
quando José de Aguiar Donas-Boto da Fonseca, da Pesqueira, foi casar a Muxagata
com Maria Geraldes do Amaral, mas viveram no Vilarouco.
Um filho
deste casal, com o mesmo nome do pai, também casou em Muxagata, em 1727, com
Feliciana Maria de Ataíde da Fonseca Coutinho. Um outro Donas-Boto parente
dos anteriores – Francisco Xavier de Sousa Correia Donas-Boto Pereira de
Almeida, administrador do morgadio de S. Xisto, Cavaleiro da Ordem de Cristo
por alvará 1766 e possuidor da capela da Senhora do Desterro na igreja do
Vilarouco – tinha em Muxagata a capela de Santa Luzia, "que trazia bem
ornada".
“Além destes
registos pontuais, houve um ramo que realmente se estabeleceu em Muxagata, na
pessoa de Miguel Carlos António de Sousa Donas-Boto, 4o avô
do autor deste artigo. Miguel Carlos António era 4o filho
do armoriado Domingos de Sousa Telo de Távora Boto, da Pesqueira, e casou em
Muxagata, em 1781, com Helena Clara Tavares. Viveram na Muxagata, onde terão
construído casa. Em meados do séc. XIX um neto deste casal, o bacharel
Francisco António Monteiro de Sousa Donas-Boto, terá dado forma à actual Casa
do Cruzeiro a partir da casa anteriormente existente, obras que o seu irmão
António Carlos Monteiro de Sousa Donas-Boto, que até 1860 viveu na Rua da
Alcaria, 35, terá continuado, colocando ao centro da varanda de ferro as suas
iniciais: ACMSDB.
Um filho do
bacharel Francisco António, também bacharel e também Francisco António, herdou,
por morte de sua mãe, entre outras propriedade, a Quinta de Santa Maria, junto ao
rio Côa, que hoje se chama Quinta da Ervamoira e pertence à empresa Ramos
Pinto. A escritura de partilhas foi lavrada na Casa do Cruzeiro em 5.10.1891
pelo tabelião José Ribeiro da Cruz.”
“ Almendra - Beatriz
Ferreira Donas-Boto, da vila da Pesqueira, foi casar a Almendra com Félix de
Távora Teixeira, daí natural, fidalgo da Casa Real já viúvo, filho de Domingos
de Távora, capitão-mor de Almendra e Castelo Melhor, que, no seu testamento,
feito em 1699, declara "não pretender nas suas gerações sangue judeu ou
mouro". Viveram na sua casa do Largo da Amoreira.
Domingos de
Távora Teixeira Donas-Boto, filho do casal Félix e Beatriz, casou em Almendra
(1718) com Maria de Sela Falcão Mendonça, irmã de António Lopes Sanches de
Castilho Falcão Mendonça, que na mesma data e no mesmo local casou com sua
cunhada Ana Maria de Távora Donas-Boto.
Destes
casamentos descendem os viscondes de Almendra e os viscondes do Banho. - Tanto
da Casa do Cruzeiro como do Solar de Almendra existe vasta e ilustre
descendência espalhada pelo concelho de V. Nova de Foz Côa e pelo país, que, na
medida do possível, procurei reconstituir nos meus dois livros sobre os
Donas-Boto de S. João da Pesqueira” –
Jorge Trabulo
Marques – jornalista
As fotos foram-nos enviadas por Albano Chaves - Algumas são de sua autoria, outras extraídas do "Portugal Notável"
OUTROS NOMES ILUSTRES QUE NASCERAM OU VIVERAM EM
LEÇA E MATOSINHOS
Abel Salazar (1889-1946) Médico,
professor catedrático, artista e escritor;
Agostinho
Salgado (1905-1967) pintor naturalista; Alberto Serpa (1906-1992)poeta; Alberto de Oliveira (1873 – 1940) escritor; Florbela Espanca (1894-1930); os
arquitetos Alcino Soutinho (1930-2013), Arménio Losa (1908-1988) e Álvaro Siza
Vieira (1933); António Augusto da Rocha Peixoto
(1866-1909) Arqueólogo, etnólogo e naturalista, investigador ; António Carneiro (1872-1930)
professor da Escola de Belas-Artes
do Porto, espiritualista e artista; Armando Leça (1891-1977) Compositor,
folclorista e etnomusicólogo: Augusto Gomes (1910-1976) Pintor
neorrealista; Basílio Teles (1856-1923)
Escritor, economista, professor e jornalista; Bruno Alves
Reis (1906-1984)pintor e arquiteto; D. Manuel da Silva Martins (1927) Bispo Emérito de Setúbal; Francisco de Sá de Menezes (1513/1583)Primeiro e único Conde de Matosinhos;
Irene Vilar (1930-2008) Escultora, pintora e medalhista; João Guedes (1921-1983) Encenador e ator português. Jorge Bento (1915-2004) Escritor, músico e pintor; Domingues dos Santos (1887-1958) Professor, advogado, jornalista e politico; José Egito de Oliveira Gonçalves (1922-2001) Poeta; Justino de Montalvão (1872/1949) Diplomata, cronista, contista, redactor. Leonardo Coimbra (1883-1936) Filósofo, professor e político; Luísa Dacosta (1927) Escritora; Mário Sottomayor Cardia (1941-2006)político; Óscar da Silva (1870-1958) Compositor, pianista; Óscar Lopes (1917) ensaísta
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