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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Chãs Foz Côa – Emigrante português morre em França por falta de pronta assistência. – Três horas num telhado para ser retirado pelos bombeiros e receber os primeiros socorros.

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista

 

A morte de Manuel Joaquim Poínhos Fermino, 66 anos de idade, natural de Chãs, concelho de Vila Nova de Foz Côa, emigrante em França há mais de trinta anos, além de causar profunda consternação, junto da família, amigos e aos habitantes da sua aldeia, onde era uma pessoa muito querida e estimada, continua a provocar bastante perplexidade, dada a falta de pronta assistência que não teve, não só para ser transportado para o hospital, como, mesmo depois de lá ter dado entrada

Na passada quinta-feira, dia 3, resolvera subir ao telhado de um dos filhos gémeos, morador no mesmo bairro, nos arredores de Paris, para ali dar um jeito nas telhas, mas, pelos vistos, subira mas já não lograra descer com o seus próprios pés. Às tantas, ao sentir-se mal, acometido de um derrame cerebral, ainda teve tempo de gritar por socorro. 
Uma vizinha apercebeu-se e telefonou aos bombeiros mas só foi retirado três horas depois – A esposa e os  dois filhos, não se conformam, não só com a  longa demora – a inexplicável negligência -  que levou a ser socorrido, ainda por cima faseada, bem como do que se passou no Hospital.


 

Duas horas depois, de contactados telefonicamente, surge um carro de bombeiros, porém, ainda não é este que o vai transportar, visto não trazer a escada adequada para retirar o corpo do telhado, pelo que, só uma hora mais tarde, aparece a viatura e os prontos socorros apropriados. 

Alertados os filhos, deslocam-se ao hospital e são informados de que a situação do pai é considerada normal, que se encontrava estabilizada – Mas a realidade é outra. A mudança de turno da equipa médica, confia no relatório clinico da equipa que vai substituir e deixa o paciente entregue à  sua sorte. De manhã, pelas sete horas, um telefonema informa a família de que, Manuel Firmino, se encontrava em situação de coma profunda,  irreversível  Ou seja, de morte cerebral, e apenas, com vida física, enquanto estivesse ligado às  máquinas. E foi precisamente o que ocorreu. No fundo, mais para preparar a família para o desenlace fatal, de que para lhe darem esperanças de vida. Faleceu, na passada Terça-feira, tendo o seu funeral, ocorrido, a meio da tarde, de quarta-feira, no cemitério de sua aldeia, com   missa de corpo presente, celebrada pelo Cónego Manuel Jorge Leal Domingues, natural desta freguesia.




"Como é possível!" - Diz-me por telefone, o sobrinho Daniel:

"Jorge, vou dar-te uma má notícia. Soube hoje que o meu tio Manuel está ligado a uma máquina mas que vai morrer. Andava a compor o telhado do meu primo e dizem que lhe rebentou uma veia na cabeça. Mas demoraram muito tempo a socorrê-lo. Como é possível?! Mas não digas nada... A minha avó é velhina, ainda não cremos que saiba. "- Resido em Lisboa, e, como já andava para vir passar mais uns dias à minha aldeia, não quis deixar de me associar a tão infausto momento desta família amiga.

Conhecia o Manuel, desde a minha adolescência. O seu irmão, o Amílcar, mais velho e da minha idade, fora meu condiscípulo na instrução primária, e, jamais me esquecerei daquele sorriso rasgado e aberto, sempre sincero e amigo, de um conterrâneo estimado e muito querido, na pequena aldeia onde ambos somos nados e criados. 

AS MAÇÃS QUE ME DAVA O SEU PAI

Também jamais me esquecerei dos cheiros das maçãs, das bravos de esmofo, que recendiam do interior dos cestos de sua casa ou do palhal, quando por ali passava, em criança, não resistindo a pedir-lhe ao pai: “O sr. Mariça não tem por aí umas maças, tocadas, que me queira dar?” – Respondia ele: "Jorge, vem cá: leva estas, que ainda estão boas, não estão bichosas, ainda as podes aproveitar”. E lá ia eu todo contente com umas poucas de maças, que seu pai generosamente me oferecia. Pois o meu pai também era feirante, mas  de machos (gado bovino e muar, uns ganchos que fazia a par da lavoura para prover às necessidades da nossa casa), mas não de queijos e fruta, como eram os pais do Manuel.


Oh, como aqueles tempos, da candeia de azeite ou a petróleo, embora tão distantes, ainda  tão presentes na minha memória – E, agora, sobretudo, quando vejo partir alguém que fazia parte intrínseca desse passado – O rosto e o sorriso do Manuel – Sempre, sempre igual, sempre o mesmo .  Até parecia que já tinha nascido a sorrir.  Aqui desejo expressar as minhas mais sentidas condolências a sua mãe, que, com os seus 95 anos, além do pesado luto, sentiu a profunda dor de acompanhar o seu amado filho, até ao cemitério;  aos  os seus extremosos gémeos, sua esposa, sua querida irmã Fernanda e seu bom irmão Amilcar e sobrinhos. A todos um abraço de solidariedade pelo doloroso momento que inesperadamente veio enlutar as suas vidas

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