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sábado, 12 de janeiro de 2019

O António Leal – Das Chás e das barbas crescidas, a lembrar o perfil do carismático Fidel Castro - Sim, o conhecido rosto das velharias e antiguidades, já não está a morar na minha e sua aldeia para saudar quem passasse - Juntou-se ao sósia cubano no lado de lá da eternidade e é já uma eterna saudade!


Jorge Trabulo Marques - Jornalista




O António, meu estimado conterrâneo, já não o voltarei a ver sentado no café do José ou no banco de pedra da Rua do Meio, no sítio do cabeço, lendo ou estando atento a quem por ele se cruzasse, justamente na área urbana mais central da minha aldeia, quase junto ao portão de ferro que dá acesso ao quinteiro da sua térrea e modesta casa coberta por um antigo telhado: pois seu o corpo foi a sepultar num dia de Novembro, aos oitenta e tais, e, a sua alma, depreendo eu, quando as pálpebras dos olhos se lhes cerraram, num hospital da Guarda, imediatamente terá voado para o mais alto dos etéreos espaços para lá de cima nos espreitar por algum rasgo ou nesga de nuvens escuras ou brancas no despertar de algum dos sonhos profundos, se algo misterioso ou estranho da vigília dos vivos, o perturbar e acordar da serena quietude do eterno sono do seu limbo


Em todas as terras, há sempre uma figura que, por esta ou por aquela razão, comportamental ou aspeto físico,  se distingue da normalidade, o António Leal era uma dessas invulgares personagens.

Passou grande parte da sua vida, calcorreando as terras dos arredores e até as mais distantes, comprando  e vendendo velharias e antiguidades: - à insaciável curiosidade dos seus olhos, tudo perscrutava com minuciosa atenção, assumia  significado especial e se aproveitava: - a bem dizer,  nos modestos espaços de  sua casa rasteira, existia   um manancial de velharias, mais delas já bastante degradadas, amontando-se  por todos os espaços da casa, mesmo  no quarto onde dormia,






















Estive com ele, em Setembro passado, por altura da celebração do Equinócio do Outono no quinteiro de sua casa e até mesmo dentro desta para lhe comprar umas velharias: voltou a contar-me histórias da sua vida, e, na verdade, eram infindáveis,  muitas tinha para contar:


Falou-me também do problema de saúde, que o apoquentava – das terríveis dores da próstata -  tendo-o aconselhado a ir ao médico, mas ele pareceu-me irredutível, alegando que não queria ser operado, e, pelos sintomas que me descreveu, depreendi logo da urgência em ser tratado

Tendo a máquina fotográfica comigoe, sendo o seu rosto, tão carismático, fiz-lhe mais umas quantas fotografias, que neste momento não encontro, pelo que tive de procurar outras, e, querendo até  gravar um vídeo com as suas histórias, mas, quando lhe fiz esta proposta, ele respondeu-me que isso tinha de ficar para o outro dia, visto ter que ter uns afazeres - Mas fiquei logo com o pressentimento que não iria ter mais essa oportunidade.

Soube da noticia da sua morte, através do jornal O FOZCOENSE  - Não me surpreendeu mas deixou muito triste, porque é mais um sinal da continuada desertificação da minha aldeia  e um amável vizinho que se finda e deixa a rua mais silenciosa e vazia.

Tinha o seu feitio, que por vezes raiava ao linguarejar afiado, próprio dos meios pequenos, mas era uma sensibilidade generosa e desprendida.

Sim, parece que ainda foi ontem que estive a conversar com ele, mas já não está entre os vivos, certo de que o seu corpo desceu à terra e a sua alma subiu em paz ao reino dos céus.



15-16 de Agosto 2018 - Recordação de um dia de alegria, a contrastar com os  dias de luto e lágrimas, em que parte, mais  um rosto para eternidade



Chãs, freguesia do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, festeja a padroeira de Nª  Srª de Assunção, em 15 e 16 de  Agosto – É a principal festividade, altura em que os emigrantes regressam à  sua terra natal para passarem uns dias de merecidas férias, conviverem com os familiares e amigos, com os seus conterrâneos, já que, cada ano, vão sendo menos,


Havendo mais óbitos de que nascimentos, e sendo estes muito escassos, o despovoamento, a desertificação, é galopante,  cada maior, pelo que, no dobrar dos finados,  é um dia triste para toda a agente da aldeia, para os que partem e os que ficam, com a inevitável  certeza de que, longe vão os dias em que as escolas,  regurgitavam de vida e alegria: - Hoje, já não existem nenhumas abertas, senão um dos edifícios, mas usado para outras funções: - As escassas crianças, partem e regressam, num autocarro fornecido pela CM para se juntarem a outras crianças nas escolas da sede do Concelho, para onde confluem, também, as de outras aldeias.





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