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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Admirável coragem de um extraordinário pintor luso-galego - Luis Ángel Oitaven Rodrigues, sofreu um AVC em Fevereiro, 2016, mas graças à sua tenacidade e ao seu amor pelas artes - desenho, escultura e pintura - conseguiu superar a sua enfermidade: embora com a mão direita imobilizada passou a esquerdino e pôde continuar a criar obras primas - Expõe agora no Gift in a Jar Café, em Campo de Ourique, Lisboa


Jorge Trabulo Marques - Jornalista - 




O Pintor, Luis Oitáven, sofreu um AVC em Fevereiro deste ano, porém,  graças ao seu amor pelas artes e também à sua grande força de vontade, à sua inquebrantável  determinação  e tenacidade, logrou  vencer as limitações físicas que o inesperado acidente vascular lhe provocara,  prostrando-o na enfermaria de uma clínica, em Alcoitão, durante alguns meses, imobilizando-lhe a sua mão direita, aquela com que habitualmente executava os seus trabalhos.


No entanto, nem assim, se deixou vencer pelas adversidades e continuou abraçar aquilo que sempre gostou de fazer – de pintar e desenhar – Tal como nos declarou num breve registo de impressões para o video, que aqui apresentamos. 

Também gosta de fazer escultura em pedra mas essa vertente artística ficará para mais tarde, quando se sentir completamente recuperado – Por agora, ou debruça-se numa cartolina ou sobre uma tela

Embora com inaudito esforço, nunca se rendeu ao que parecia ser uma irremediável fatalidade para o resto da sua vida, e, sempre que podia, à medida que se ia reabilitando, lá ia pintando ou desenhando num modesto bloco de papel branco: há quem faça o seu diário escrevendo ou teclando num computador mas a linguagem de um pintor não é a da escrita mas do traço ou da pincelada  - E foi justamente isso que procurou fazer, registando de forma admirável, em  belíssima expressão  artística, as suas emoções, quer  das imagens que lhe afloravam à mente da nova experiência de vida que estava a atravessar, quer das recordações que também lhe povoam a imaginação e a memória


É justamente um conjunto desses trabalhos, e de outros que o artista tinha pintado anteriormente, sim,   de  belíssimos desenhos e aguarelas e alguns acrílicos, a que deu o titulo de “Passado, Presente e Futuro, que constituem uma admirável surpresa, uma espantosa demonstração de  talento e de coragem, que ficou patente  ao público, em plena quadra natalícia,  na  exposição que inaugurou, recentemente, rodeado de amigos e familiares, num dos mais simpáticos cafés de Campo de Ourique, o Gift in Jar café, na Rua Latino Coelho da Rocha, nº 44,  gerido por duas simpáticas jovens "venezuelanas" que capricham em bem servir - Tal como diz uma cliente, no facebook ,"Adoro, bom atendimento, boa comida, boas energias" – E é isso que ali os seus clientes poderão encontrar, num espaço reduzido mas acolhedor e atrativo,  - até pela maravilhosa arte exposta nalgumas das paredes https://www.facebook.com/CafeGift/?fref=ts



ELEMENTOS DISPONÍVEIS NA EXPOSIÇÃO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO – NO GIFT IN A  JAR CAFÉ
Luis Ángel Oitaven Rodrigues é natural de Lisboa, nasceu a 24 de janeiro de 1955, atualmente vivi em Vigo (Pontevedra – Galícia), terra natal de seu pai
Estudos académicos e vida laboral

Estudo no Instituto Espanhol de Lisboa onde fez o título de Bachillerato Superior, área de letras e desenho artístico.

Esteve empregado na Embaixada de Espanha em Lisboa até Agosto de 2015. Embora se considere autodidata, frequentou  diversos cursos livres, nomeadamente curso de pintura decorativa sobre gesso no Espaço Chiado (Arte Sacra) e escultura em pedra no Centro Galego de Lisboa.
Participou numa exposição coletiva e artes decorativas na cidade de Tomar.

Em 29 de Fevereiro deste ano sofreu um AVC mas graças ao seu amor pelas artes conseguiu vencer certas limitações e é o que pretende mostrar ao público nesta pequena exposição que  tem por título; Presente, Passado, e,  Futuro?


Os seus desenhos e aguarelas pretendem mostrar as diversas emoções, por vezes de maneira abstrata onde o pormenor sobressai propositadamente, adquirindo sinais e simbologia particulares do artista.

O espaço livre e pouco estudado faz com a sua obra, por vezes desajeitada, ganhe vida própria, mostrando o diálogo silencioso e inspirados que existe entre a obra e o seu criador.

Antes de sofrer o AVC em Fevereiro do presente ano, sentia-me com vontade de me dedicar à pintura, à escultura….estava cheio de projetos para o futuro, satisfeito por ter a oportunidade de todo o tempo para o fazer.



No entanto, de repente vi-me impossibilitado de o fazer, os sonhos caíram-me  e sentia-me de mãos vazias, o presente daquele então, ficou sombrio, pesado. Mas tive a sorte de ter conhecido uma equipa médica, enfermeiro e terapeutas,  que me incentivam a não desistir… Um obrigado a todos eles.

Para não cair de novo em deceções, comecei uma conversa interior comigo próprio, nessas e nestas conversas que mantenho a diário, a modo de meditação, abriram-me os olhos para Viver o Presente aproveitando a lucidez de cada  respiração, sem pretender agarrar seja o que for, sem rejeitar as oportunidades, que surgem a cada momento

QUEM HAVIA DE DIZER QUE, ALGUM TEMPO DEPOIS, AO DESEMPREGO, LHE IA BATER À PORTA TAMBÉM OUTRA CONTRARIEDADE…

RECEBEU-ME O ANO PASSADO, EM SUA CASA, DECORADA COM OS SEUS ADMIRÁVEIS QUADROS, NO SEIO TÃO QUERIDO E ÍNTIMO AMBIENTE FAMILIAR – Com um pequeno jardim nas traseiras, numa rua não muito longe da basílica da Estrela, rodeado dos seus gorduchos e lindíssimos gatos, sim, pouco antes de partir para Espanha – Pena que, o registo  da entrevista, devido a falhas do cabo do microfone, tenha sofrido algumas  perturbações  técnicas – Mesmo assim, vale a pena recordar as suas palavras, lembrar aquele momento, em que, conquanto estivesse que deparar-se com o espetro do desemprego, longe de imaginar que viria   defrontar-se com um AVC.

De facto, não há  um mal que venha só mas há males que  - mesmo não vindo por bem - até podem ser superados e trazerem enriquecidoras experiências. Penso que é o caso do pintor, Luís Oitaven Rodrigues -  Perdeu o emprego na Embaixada de Espanha em Lisboa, em 11 de Setembro do ano passado, 2015, devido ao encerramento do departamento onde trabalhava, desde há vários anos, – Como se não bastasse, viu-se  obrigado a ir para Espanha, para onde partiu  para não ficar sem  o subsídio de desemprego. 

Eis o que aqui escrevemos neste site e que aqui voltamos a transcrever pela sua atualidade: "Quase uma vida  ao serviço de Espanha  - Tal como a de seu pai  - Um galego, que não conheceu outra profissão que não  a de servir a coroa espanhola na Embaixada em Portugal -  Porém,, num  tempo em que a precarização laboral se institucionaliza, em que fazer 12 horas seguidas passa a ser uma rotina e não uma exceção, em que  pessoas passam a ser meros números estatísticos  e todos os valores, desde a dedicação, ao esforço  e à fidelidade, já não bastam  para garantir o pão de cada dia, que dizer ou então que  perguntar:  - Que mal maior virá a seguir ou  ainda estará para acontecer?!..
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Seu sogro, de nacionalidade  portuguesa, pai de sua mulher, também poderia ter sido um próspero construtor cível, se o Estado Novo,  lhe tivesse pago as obras que lhe encomendou, pois construí-as  e  não lhas pagou, além das perseguições políticas da PIDE, que lhe moveu – Nado e criado, em Lisboa, vê-se obrigado a ter que abandonar o lar (mulher e os dois filhos) e partir para Espanha, onde o espera  uma espécie de longo exílio.

Pintor e escultor nas horas de silêncio e de lazer , parte com profunda mágoa, ao ter que se separar do lar, do convívio familiar e dos seus gatos – Porém, nem resignado nem vencido mas encorajado  - Estando já de algum modo  habituado ao diálogo silencioso com as suas telas ou quando as pedras lhe lançam o convite para as apanhar nas encostas dos montes ou montanhas, no  leito dos rios e  na margem das praias ou arribas, sim, de modo a passarem de matéria inerte e  formas vivas  e esculturais, sente-se preparado para esta nova fase da sua vida – E diz que até vai procurar um sítio que seja isolado, que lhe  permita realizar plenamente  o seu trabalho artístico,  tirando o máximo partido  do exílio forçado.


VIRAR  DE UMA PÁGINA  - MÁGOA EM  DEIXAR O ACONCHEGO DO SEU AMADO LAR



Para mim é o voltar de uma página: sinto mágoa ter que partir mas, por outro lado, sinto que tenho muita força  A minha vida sempre foi um pouco solitária. No casamento, não quer dizer que não seja feliz, mas sempre gostei do silêncio e do isolamento –  Confessa,   Luis Oitaven Rodrigues, ao jornalista, momentos antes do jantar de despedida, que ia ter no lugar por baixo de um toldo  no pequeno quintal de sua casa – Que é mais jardim de que outra coisa e o retiro acolhedor  para dialogar com as pedras que esculpe,

“Eu sou um autodidata, tanto na pintura como na escultura. É a minha maneira de  me expressar e de transmitir ao mundo as minhas emoções  Desde pequeno, sempre gostei de desenho. Cada peça que eu faço, custa-me desfazer dela. Quanto ao valor da minha arte, não sei. Quanto me perguntam o preço,  eu não sei dizer. A arte deve ser vendida àquelas pessoas que realmente a apreciem.” – Confessou-nos, na intimidade do seu lar, junto dos que são mais queridos: a esposa, filha e filho, nora, os seus quadros, esculturas  e os seus gatos. 


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