Jorge Trabulo Marques - Jornalista -
O Pintor, Luis Oitáven, sofreu um AVC em Fevereiro deste ano, porém, graças ao seu amor pelas artes e também à sua grande força de vontade, à sua inquebrantável determinação e tenacidade, logrou vencer as limitações físicas que o inesperado acidente vascular lhe provocara, prostrando-o na enfermaria de uma clínica, em Alcoitão, durante alguns meses, imobilizando-lhe a sua mão direita, aquela com que habitualmente executava os seus trabalhos.
No entanto, nem assim, se deixou vencer pelas adversidades e continuou abraçar aquilo que sempre gostou de fazer – de pintar e desenhar – Tal como nos declarou num breve registo de impressões para o video, que aqui apresentamos.
Também gosta de fazer escultura em pedra mas essa vertente artística ficará para mais tarde, quando se sentir completamente recuperado – Por agora, ou debruça-se numa cartolina ou sobre uma tela
Embora com inaudito esforço, nunca se
rendeu ao que parecia ser uma irremediável fatalidade para o resto da sua vida,
e, sempre que podia, à medida que se ia reabilitando, lá ia pintando ou
desenhando num modesto bloco de papel branco: há quem faça o seu diário
escrevendo ou teclando num computador mas a linguagem de um pintor não é a da
escrita mas do traço ou da pincelada - E foi justamente isso que procurou
fazer, registando de forma admirável, em belíssima expressão artística, as suas emoções, quer das imagens que lhe afloravam à mente da nova
experiência de vida que estava a atravessar, quer das recordações que também
lhe povoam a imaginação e a memória
É justamente um conjunto desses trabalhos, e de outros que o artista tinha
pintado anteriormente, sim, de belíssimos desenhos e
aguarelas e alguns acrílicos, a que deu o titulo de “Passado, Presente e
Futuro, que constituem uma admirável surpresa, uma espantosa demonstração de talento
e de coragem, que ficou patente ao público, em plena quadra natalícia,
na exposição que inaugurou, recentemente, rodeado de amigos e
familiares, num dos mais simpáticos cafés de Campo de Ourique, o Gift in Jar café,
na Rua Latino Coelho da Rocha, nº 44, gerido por duas simpáticas jovens
"venezuelanas" que capricham em bem servir - Tal como diz uma
cliente, no facebook ,"Adoro, bom atendiment o, boa comida, boas energias" – E é isso que ali os seus
clientes poderão encontrar, num espaço reduzido mas acolhedor e atrativo, - até
pela maravilhosa arte exposta nalgumas das paredes https://www.facebook.com/CafeGift/?fref=ts
ELEMENTOS DISPONÍVEIS NA EXPOSIÇÃO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO – NO GIFT IN A JAR CAFÉ
Luis Ángel Oitaven Rodrigues é natural de Lisboa, nasceu a 24 de janeiro de 1955, atualmente vivi em Vigo (Pontevedra – Galícia), terra natal de seu pai
Estudos académicos e vida laboral
Estudo no Instituto Espanhol de Lisboa onde fez o título de Bachillerato Superior, área de letras e desenho artístico.
Esteve empregado na Embaixada de Espanha em Lisboa até Agosto de 2015. Embora se considere autodidata, frequentou diversos cursos livres, nomeadamente curso de pintura decorativa sobre gesso no Espaço Chiado (Arte Sacra) e escultura em pedra no Centro Galego de Lisboa.
Participou numa exposição coletiva e artes decorativas na cidade de Tomar.
Em 29 de Fevereiro deste ano sofreu um AVC mas graças ao seu amor pelas artes conseguiu vencer certas limitações e é o que pretende mostrar ao público nesta pequena exposição que tem por título; Presente, Passado, e, Futuro?
Os seus desenhos e aguarelas pretendem mostrar as diversas
emoções, por vezes de maneira abstrata onde o pormenor sobressai
propositadamente, adquirindo sinais e simbologia particulares do artista.
O espaço livre e pouco estudado faz com a sua obra, por
vezes desajeitada, ganhe vida própria, mostrando o diálogo silencioso e
inspirados que existe entre a obra e o seu criador.
Antes de sofrer o AVC em Fevereiro do presente ano,
sentia-me com vontade de me dedicar à pintura, à escultura….estava cheio de
projetos para o futuro, satisfeito por ter a oportunidade de todo o tempo para
o fazer.
No entanto, de repente vi-me impossibilitado de o fazer, os sonhos caíram-me e sentia-me de mãos vazias, o presente daquele então, ficou sombrio, pesado. Mas tive a sorte de ter conhecido uma equipa médica, enfermeiro e terapeutas, que me incentivam a não desistir… Um obrigado a todos eles.
QUEM HAVIA DE DIZER QUE, ALGUM TEMPO DEPOIS, AO DESEMPREGO, LHE IA BATER À PORTA TAMBÉM OUTRA CONTRARIEDADE…
RECEBEU-ME O ANO PASSADO, EM SUA CASA,
DECORADA COM OS SEUS ADMIRÁVEIS QUADROS, NO SEIO TÃO QUERIDO E ÍNTIMO AMBIENTE
FAMILIAR – Com um pequeno jardim nas traseiras, numa rua não muito longe da basílica
da Estrela, rodeado dos seus gorduchos e lindíssimos gatos, sim, pouco antes de
partir para Espanha – Pena que, o registo da entrevista, devido a falhas do cabo do microfone,
tenha sofrido algumas perturbações técnicas
– Mesmo assim, vale a pena recordar as suas palavras, lembrar aquele momento, em que,
conquanto estivesse que deparar-se com o espetro do desemprego, longe de
imaginar que viria defrontar-se com um AVC.
De facto, não há um mal que venha só mas há males que
- mesmo não vindo por bem - até podem ser superados e trazerem enriquecidoras experiências. Penso que é o caso do pintor, Luís Oitaven Rodrigues - Perdeu
o emprego na Embaixada de Espanha em Lisboa, em 11 de Setembro do ano passado,
2015, devido ao encerramento do departamento onde trabalhava, desde há vários
anos, – Como se não bastasse, viu-se obrigado a ir para Espanha, para
onde partiu para não ficar sem o subsídio de desemprego.
Eis o que aqui escrevemos neste site e que aqui voltamos a transcrever
pela sua atualidade: "Quase uma vida ao serviço de Espanha -
Tal como a de seu pai - Um galego, que não conheceu outra profissão que
não a de servir a coroa espanhola na Embaixada em Portugal -
Porém,, num tempo em que a precarização laboral se
institucionaliza, em que fazer 12 horas seguidas passa a ser uma rotina e não
uma exceção, em que pessoas passam a ser meros números estatísticos
e todos os valores, desde a dedicação, ao esforço e à fidelidade,
já não bastam para garantir o pão de cada dia, que dizer ou então que
perguntar: - Que mal maior virá a seguir ou ainda estará para
acontecer?!..
.
Seu sogro, de nacionalidade portuguesa, pai de sua mulher, também poderia ter
sido um próspero construtor cível, se o Estado Novo, lhe tivesse pago as
obras que lhe encomendou, pois construí-as e não lhas pagou, além
das perseguições políticas da PIDE, que lhe moveu – Nado e criado, em Lisboa,
vê-se obrigado a ter que abandonar o lar (mulher e os dois filhos) e partir
para Espanha, onde o espera uma espécie de longo exílio.
Pintor e escultor nas horas de silêncio e de lazer , parte
com profunda mágoa, ao ter que se separar do lar, do convívio familiar e dos
seus gatos – Porém, nem resignado nem vencido mas encorajado - Estando já
de algum modo habituado ao diálogo silencioso com as suas telas ou quando
as pedras lhe lançam o convite para as apanhar nas encostas dos montes ou
montanhas, no leito dos rios e na margem das praias ou arribas,
sim, de modo a passarem de matéria inerte e formas vivas e
esculturais, sente-se preparado para esta nova fase da sua vida – E diz que até
vai procurar um sítio que seja isolado, que lhe permita realizar
plenamente o seu trabalho artístico, tirando o máximo partido
do exílio forçado.
VIRAR DE UMA PÁGINA - MÁGOA EM DEIXAR O ACONCHEGO DO SEU AMADO LAR
“Para mim é o voltar de uma página: sinto mágoa ter que
partir mas, por outro lado, sinto que tenho muita força A minha vida
sempre foi um pouco solitária. No casamento, não quer dizer que não seja feliz,
mas sempre gostei do silêncio e do isolamento – Confessa,
Luis Oitaven Rodrigues, ao jornalista, momentos antes do jantar de despedida,
que ia ter no lugar por baixo de um toldo no pequeno quintal de sua casa
– Que é mais jardim de que outra coisa e o retiro acolhedor para dialogar
com as pedras que esculpe,
“Eu sou um autodidata, tanto na pintura como na escultura.
É a minha maneira de me expressar e de transmitir ao mundo as minhas
emoções Desde pequeno, sempre gostei de desenho. Cada peça que eu faço,
custa-me desfazer dela. Quanto ao valor da minha arte, não sei. Quanto me
perguntam o preço, eu não sei dizer. A arte deve ser vendida àquelas
pessoas que realmente a apreciem.” – Confessou-nos, na intimidade do seu lar,
junto dos que são mais queridos: a esposa, filha e filho, nora, os seus
quadros, esculturas e os seus gatos.
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