Lobo Antunes – Entrevista,
anos 80 - Férias inesquecíveis? - Pensando, talvez
na adolescência!.. Nos namoros que se têm na adolescência!...Os namoros que são
importantes e tão significativos, quando se tem quinze, catorze ou dezasseis
anos!... À parte isso, pouco mais me lembro!...
Lobo Antunes – há 30 anos: Férias inesquecíveis? Talvez, nunca as tenha tido… Eu tenho o sonho de algum dia as ter !... Vamos ver se as conseguirei ter!... Até agora isso não tem acontecido!... Mas tenho esperanças de que venha acontecer.
Diz o escritor: “Talvez a melhor parte das
férias seja a altura em que se acabam os livros. Normalmente eu acabo de
escrever os romances durante o Verão e é o alívio que se segue… Mas as férias,
praticamente, não existem” – Esta a resposta que começava por nos dar,
Lobo Antunes, quando, em meados da década de 80, lhe perguntávamos onde pretendia gozar as
suas férias e qual a melhor recordação, que guardava de umas férias
inesquecíveis. – Foi a questão que lhe
colocámos, na Feira do Livro de Lisboa, num inquérito que ali
estávamos a realizar para a Rádio Comercial-RDP, com escritores e pessoas anónimas – A resposta até podia ser
dada em três penadas, se o nosso interlocutor, fizesse outro tipo de vida, não
tivesse abandonado, definitivamente, a psiquiatria para abraçar de alma e coração a literatura.
Como é do domínio público, Lobo Antunes, é um dos maiores escritores portugueses, da atualidade, com mais de três dezenas de obras publicadas, com traduções e variadíssimos países , o autor que assume a escrita a tempo inteiro – Os seus livros são uma excelente companhia para quem vai de férias – Contudo, o leitor mal imaginará, certamente, que, para desfrutar desse prazer, custaram ao autor da obra, muitas horas de labor, isto porque, férias a valer, não passa senão do alívio quando acaba o livro e o entrega à editora – Se é um dos leitores da sua vasta e importante obra, não deixe de ouvir a breve entrevista que lhe fizemos. Dir-se-á, que, para lhe obtermos algumas respostas, acabamos por ser nós a falar mais do que o nosso entrevistado, mesmo assim, os seus silêncios, as suas hesitações, as suas meias respostas, não deixam de nos ajudar a compreender a grande dimensão humana de um dos mais notáveis génios da nossa literatura, o escritor que vive unicamente para o ofício da escrita.
LA - Talvez a melhor parte das férias seja
a altura em que se acabam os livros. Normalmente eu acabo de escrever os
romances durante o Verão e alivio que se segue… Mas as férias,
praticamente, não existem, porque,
depois, tenho assim uma semana depois a vida vai começar outra vez, a
engravidar outra vez. Eu penso que o melhor tempo é sempre esse bocadinho!...
Entre, quando acaba um livro e se começa a pensar no seguinte.
JTM – Quer dizer, não há um espaço
propriamente ditas! Não há um espaço definido ao longo do ano?
LA – Sim, não há um espaço definido ao
longo do ano, exatamente.
JTM – Mas, dentro desses espaços
indefinidos, que acontecem, por acaso naturalmente que tem uma recordação, uma
recordação agradável que tenha tido, até hoje!
LA – Encontro com pessoas…
JTM – Mas mesmo antes de ser
escritor! Remontando à sua infância! Aos
seus tempos de estudante!... Naturalmente que deve recordar-se de algum
momento, particularmente agradável!.... Há sempre aquelas férias inesquecíveis!
LA – Eu talvez, nunca tenha tido férias
inesquecíveis!.. (sorri) Primeiro pregou-me uma pergunta, um bocado
embaraçosa!... Pois eu não sei o que hei-de responder!...
JTM – No estrangeiro ou no país!...
LA – No estrangeiro?!... Bom,
naturalmente, agora o convite das editoras ou para meetings de escritores, etc…
Portanto, acaba-se, sempre por estar em reuniões!... Ou para fazer sessões de
autógrafos ou entrevistas!... Um pessoa acaba de ter sempre pouco tempo
livre!... Em todo o caso, há sempre pessoas. Muito interessantes que se
conhecem, é muito agradável!..
JTM
- Direi que se trata de um escritor a tempo inteiro! Tomado pela escrita e que, raramente, goza
férias e que essas férias, não passam senão
de uma pausa, de um pequeno intervalo para a escrita!
LA – Pois, eu penso que todos os
escritores, são a tempo inteiro! E que eu não sou exceção nisso!... E que se
passa com todos os camaradas de escrita!
JTM – Mais ainda incidindo, sobre a mesma
pergunta: remontando àqueles tempo, antes de se iniciar na escrita!... Dos
tempos do liceu!...Ou mesmo da sua infância… Não tem uma recordação, que lhe
tenha sido agradável?!...Sei lá… Que agora possa evocar! Lembrar!...Particularmente,
feliz!...Particularmente, alegre!...Passada em Portugal, ou lá fora?!...Eu sei
que, nesta altura, o seu pensamento está ocupado noutras coisas!... Mas,
puxando um bocadinho pela memória!...
LA - Pensando, talvez na adolescência! Nos
namoros que se têm na adolescência!...Os namoros que são importantes e tão
significativos, quando se tem quinze, catorze ou dezasseis anos!... À parte
isso, pouco mais me lembro!...
JTM – Foram, portanto, essas as férias a
valer?!...
LA – Nessa altura, sim!... Embora ainda
não houvesse a história da escrita… O problema de escrever, etc.etc… Eu penso que, na adolescência, sim!... Que
havia um sentido de irresponsabilidade e lúdico, que, depois a pouco e pouco,,
a gente, infelizmente, vai perdendo!...
JTM – Portanto, atualmente, as férias para
si, são um momento de repouso e de tranquilidade ou de reflexão e preparação
para outro livro?!...
LA – Naturalmente, é o fim de escrever o
livro!... Reportando-me ao Verão: Agosto, Setembro, é altura em que se acaba um
livro.
JTM – Costuma ir à praia?... ao campo?!...
Para onde é que se inclina para fazer esse repouso, para estabelecer essa
pequena pausa?
LA – Sim, a praia!... Varia!... É
variável!... Ou com as minhas filhas!... Mas, como lhe estava contando,
enquanto a gente está a escrever, está fechado em casa… Depois de escrever tem
uma sensação de liberdade mas uma sensação de liberdade que dura muito pouco
tempo..
JTM – Muito limitada!
LA – Exatamente!...
JTM – Portanto, não é pessoa que gaste
dinheiro e tempo em férias, propriamente ditas!... Essas férias, para si, é um
espaço que pode surgir em qualquer altura?!...
LA – Sim,
isso talvez resumisse de um forma melhor, do que eu tenho estado a
dizer, realmente como as coisas se
passam!... É uma desilusão para si este tipo de respostas mas eu não tenho uma
vida especialmente interessante nem especialmente atraente!...
JTM – Não é desilusão, para mim, de modo algum!...É a sua vida!... Que é
preenchida!... É uma vida ocupadíssima! … De qualquer modo, todo este tempo que
a vida lhe toma, é um tempo agradável, é um tempo útil!... Não é verdade?!... Será isso ao mesmo tempo,
uma recordação agradável!...
LB – Ah, sim!,,, Eu gosto de viver!... É
muito importante, para mim, isso!...
JTM – Férias, propriamente ditas, de
trinta dias, de quinze dias!.. Em que não se pense não gozo, na parte lúdica ou
mo prazer, propriamente dito, não existem para o Lobo Antunes!...
LA – Eu tenho o sonho de algum dia ter
isso!... Vamos ver se conseguirei ter!... Até agora isso não tem acontecido!...
Mas tenho esperanças de que venha acontecer.
JTM – Já agora, diga-me, onde é que pensa
gozar esse ano as férias?... Se é que pensa gozá-las mesmo!...
LA – Este ano, tenho um livro para acabar
e tem de se entregue à editora, até ao fim de Setembro, e, portanto, passa-las
em casa, a acabar o livro!... Não sei muito bem… porque, ao longo do ano, há
muitas saídas!... Portanto, agora vou para a Finlândia, depois a Paris… e não
sei quê!... De maneira que depois há
saídas que tomam muito tempo!... E que depois tornam as coisas mais
difíceis!... Quer dizer… o tempo fica muito curto
FÉRIAS NA ATUALIDADE NA VIDA LIETRARIA DE
LOBO ANTUNES
Pelos
vistos, ainda sempre a trabalhar - A noticia é de Agosto de 2010 - O escritor
António Lobo Antunes escolheu Tomar para passar o próximo fim de semana de
férias e vai aproveitar a presença na cidade para participar numa “conversa
informal” num café da cidade, a convite da entidade de Turismo de Lisboa e Vale
do Tejo (T-LVT).
Segundo Manuel Faria, vice presidente
executivo da T-LVT, o escritor aceitou o convite para passar umas “mini-férias
de Verão” em Tomar e, aproveitando essa estadia, a entidade de turismo vai
organizar, no próximo sábado, às 21:30, uma conversa “informal” em que Lobo
Antunes vai recordar a sua passagem pela cidade enquanto cumpria o serviço
militar, em 1970. António Lobo
Antunes passa mini-férias em Tomar | O
ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS
Lobo Antunes, nasceu em 1942, em Lisboa,
na zona de Benfica, onde cresceu. "Tive a sorte de ter uma infância muito
boa, passada em Benfica que, na altura, era um microcosmos, das várias classes
sociais, tudo aquilo misturado, larguinhos, pracinhas."
É o mais velho de seis irmãos. São eles
João, que se dedica à medicina, Pedro à arquitectura, Miguel à jurisprudência,
Manuel à diplomacia e Nuno à neurologia pediátrica.
Especializou-se em psiquiatria por pensar
que era parecido com literatura.
Parte da sua experiência clínica foi
praticada em Angola, durante a Guerra Colonial. "Quando fui para África,
ainda que contasse com pouca experiência cirúrgica, tinha de fazer amputações,
tinha que fazer essas coisas tramadas que há a fazer em tempo de guerra… Então,
levava o tratado de cirurgia, o furriel enfermeiro, que não podia ver sangue,
ia-me lendo aquilo tudo, os procedimentos, e eu ia operando. Felizmente nunca
nos morreu ninguém assim. Portanto, a minha relação com a medicina era essa."
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