No 10 de dezembro de 1998
José Saramago recebeu em Estocolmo o Prémio Nobel de Literatura, vai fazer,
portanto, 17 anos - Data que
assinala o Dia Internacional dos Direitos Humanos – E, por isso mesmo, uma efeméride “particularmente
especial para a Fundação José Saramago” entrega do Prémio Nobel a José Saramago
MEMÓRIAS DE UM REPÓRTER - Breve entrevista, ao escritor José Saramago, na feira do livro de Lisboa: mais em jeito de inquérito, que ali estava a realizar com escritores e pessoas anónimas – Os temas colocados: a vida para além da morte, o papel da rádio em Portugal e as recordações das melhores férias.
VÍDEO COM A ENTREVISTA
“NÃO HÁ VIDA PARA ALÉM DA MORTE”
JTM - O que é que pensa da vida para além da morte? Qual é o seu pensamento a esse respeito?
JS- O meu pensamento
é extremamente simples: penso que não há vida para além da morte!... Não há mais
nada para responder senão isto !
JTM - Nunca se interrogou
a esse respeito?
JS – Acho que
não tenho que me interrogar!... Emito uma convicção… Portanto, eu ao dizer isto
exprimo uma convicção: a de que não há vida para além da morte!... É só!
OUÇO MAIS RÁDIO
DE QUE VEJO TELEVISÃO
JS – Como é que
se há-de responder a essa pergunta!... Tanto se pode responder do que se pensa
da rádio, em Portugal, como da televisão, como da literatura, em Portugal!...
Penso que a única coisa que nós temos é a obrigação de fazer o melhor possível,
que é da nossa área profissional. Eu faço o melhor que puder e a rádio faz o melhor que pode!...
JTM –
Naturalmente que escuta a rádio: tem uma opinião formada!...
JS – Eu ouço-a,
muito fragmentariamente, dado que, como
deve calcular, não tenho assim muito tempo para ouvir rádio!...
JTM – Entre a
rádio e a televisão: ouve mais a rádio? Vê mais televisão?...
JS – Olhe! Nesta
altura, ouço mais rádio. Muito mais rádio!
JTM – A que horas?!...
JS – Geralmente de manhã ou à noite!...À noite adiantada!...
AS MELHORES
FÉRIAS: “AS DA MINHA INFÂNCIA”
![]() |
Na sede da Associação Portuguesa de Escritores |
JTM – Outra questão: férias - Qual a melhor recordação de férias que até hoje tenha vivido na sua vida?...
JS – Isso é
complicado!... Eu não sei…
JTM – É um
bocado difícil?!..
JS - É muito difícil!... Há várias boas
recordações!... Não vou responder,
porque não é possível, sequer!
JTM - Mas umas férias, particularmente agradáveis!..
Felizes!...
JS – Todas as
férias da minha infância!... É a única coisa que lhe posso dizer…. Essas foram
todas boas!... As outras… São assim, assim: uma vezes melhores outras vezes
piores!,,,
JTM – Mas não
costuma dedicar algum tempo, a férias?....Ou esse tempo é mesmo de escrita,
também!
JS – Não!...
Quando faço férias, faço férias!... Quando estou de férias, não faço outra
coisa senão férias.
JTM – Onde é que
costuma gozar as férias?...
Vasco Gonçalves, sorridente |
JS – Ah, isso depende!... Uma vezes no campo, outras vezes na praia mas não tenho uma rotina de férias.
JTM – E no
estrangeiro?...
JM –Às vezes
saio!...
JTM - Mas as férias mais agradáveis, a melhor
recordação que tem até hoje teve, foram as da sua infância?!.
JS – ...
Francamente as da minha infância!...
JTM – E porquê?!...
JS – Isso é
difícil!... Não vale a pena entrar agora em pormenores!... São coisas íntimas
da vida de cada um de nós!...
JTM –
Naturalmente… Desde então é o trabalho que o absorve: são outras preocupações?
JS –É o trabalho!... E o resto, a vida inteira!... Porque a vida, também não é só isso!.. É tudo aquilo que eu tenho de
fazer, como qualquer de um de nos!... Temos os nossos amigos! Temos as nossas
relações!..
JS – Tenho direito
a férias, como qualquer pessoa!... (graceja)
...Quer dizer: o eu fazer férias... É tão importante, como qualquer outra pessoa, que as faças!... Com a família, ou outra pessoa!
...Quer dizer: o eu fazer férias... É tão importante, como qualquer outra pessoa, que as faças!... Com a família, ou outra pessoa!
JTM – E, no seu
caso: com a família ou só?
JS – É sempre com
a família… Mas esta conversa, já está a ir um bocado para questões de caráter
pessoal!...
JTM – Se bem
que, sendo uma figura do domínio público, já não é bem pessoal: o lado pessoal
também interessa aos ouvintes!...
JS – Férias,
todos fazemos!... Ou melhor, todos devíamos fazer!... E há milhões de
portugueses, que não fazem férias!... É nesses que tem que se pensar!.. Por que
é que não fazem férias e que condições deveria haver para que as fizessem!
BIOGRAFIA
Fez estudos secundários
(liceais e técnicos) que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir. O
seu primeiro emprego foi como serralheiro mecânico, tendo exercido depois
diversas profissões: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social,
tradutor, editor, jornalista. Publicou o seu primeiro livro, um romance, Terra
do Pecado, em 1947, tendo estado depois largo tempo sem publicar (até
1966). Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de
direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na
revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do
jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo
também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele
vespertino.
Início da Vida Literária
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