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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Férias: - Excelente livro: “Para a História dos Tempos Livres em Portugal - Da FNAT à INATEL (1935-2010)" de José Carlos Valente – Interessante abordagem da única instituição fascista da Europa que logrou transitar de forma pacifica para um regime democrático

Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista
 
“Para a História dos Tempos Livres em Portugal - Da FNAT à INATEL (1935-2010)

Trata-se, de facto,  de um estudo aprofundado, que o autor desenvolveu a partir da sua tese de mestrado, sobre a História do Século XX, tendo escolhido para tema a FNAT  - Livro recomendado  para quem vai de férias e se interessa pelo conhecimento histórico dos tempos livres – Indicado nas 10 sugestões apresentadas em  Life&Style – Fugas – no suplemento do jornal PÚBLICO

A primeira versão, publicada em 1999, chamava-se "Estado Novo e Alegria No Trabalho: uma História Política da FNAT", cobrindo o período desde a criação da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (1935) até ao surgimento do INATEL (1958). A presente edição, editada pela  Edições Colibri,  vai mais longe, acrescentando uma abordagem resumida dos últimos 50 anos de férias corperativas em Portugal, que é ainda um trabalho em curso para José Carlos Valente, investigador de História Social Contemporânea. Livros para viajar: 10 sugestões por Luís Maio Livros para viajar: 10 sugestões por Luís Maio -





"Viajar! Perder países! /Ser outro constantemente, /Por a alma não ter raízes /De viver de ver somente" - Assim começa um dos poemas, Fernando Pessoa . E assim deve começar o espírito de que queira viajar

Não basta pegar na trouxa, comprar o bilhete de comboio ou de avião, não basta pegar o carro, girar estrada a fora ou pôr-se o pês a caminhar. É preciso ver, com olhos de ver – Claro que pensar, cansa – Mas é justamente essa faculdade que nos distingue dos irracionais – E, para isso, a companhia de um livro, torna-se indispensável ou pelo menos recomendável, sobretudo naqueles momentos mais dados ao relaxamento, a um lazer pousado e tranquilo,

FNAT 1943 - Excursão dos trabalhadores dos Armazéns Grandella – Foto INATEL




A Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), que veio a transitar após o 25 de Abril para a  INATEL;  "surge a 13 de junho de 1935, com o fim de criar as infraestruturas destinadas às atividades culturais, desportivas e recreativas dos trabalhadores e suas famílias, com vista a “um maior desenvolvimento físico e moral”. Os “organismos corporativos da economia nacional, as grandes empresas e as próprias entidades individuais com meios e condições para tanto” são instados a cooperar com o regime ditatorial do Estado Novo para esse fim. – Este o objetivo controlador do regime ditatorial do Estado Novo  - Que, apesar de comportar alguns aspetos positivos, na área do lazer  (daí talvez a razão da  sua transição pacifica após a instauração das liberdades democráticas, pós 25 de Abril de 1975), nem por isso deixou de ter um enorme efeito castrador e altamente repressivo no espírito associativo espontâneo do Povo. 

“Estado Novo e Alegria No Trabalho: uma História Política da FNAT",

“A FNAT ficou na memória coletiva dos portugueses, como uma instituição de tempos livres, colónias de férias, atividades culturais e desportivas, relacionadas com o turismo social e teve, de facto, méritos nessa área – Nos 10 anos iniciais, até à segunda guerra mundial,  a FNAT foi dirigida por elementos representativos de uma fação, dentro do regime, que eram nacional social-socialistas, o modelo deles era o modelo totalitário – Declarou-nos,  José Carlos Valente, numa breve entrevista que nos concedeu, no final de uma palestra, que decorreu na Associação Desnível,na Casa da Gruta, em Cascais,  e a que assistiu, na qual foram recordados extraordinários  episódios de lazer, justamente  acerca uma das mais arriscadas e nobres atividades desportivas amadoras,  curiosamente,  nos tempos  pioneiros  dos anos 70, que, por sinal, não obstante , tratarem-se de iniciativas individuais,  acabariam por colher   - mais ou menos de forma indireta – alguns benefícios daquela instituição, dada a quase inexistência  de outras estruturas de apoio.

Na verdade, e de acordo com as palavras de José Carlos Valente, a  FNAT para se implantar tentou controlar e extinguir mesmo o movimento associativo popular, espontâneo e democrático, que existia desde meados do século XX, desde a primeira república. – Ouça a entrevista no Vídeo e atente nas curiosas e interessantes revelações acerca do lado positivo e do mais perverso  de uma antiga instituição, um dos feudos do interior do regime, com as suas fações e tendências, algumas das quais querendo   ainda ser mais repressivas de que a própria ditadura governamental.

DADO DO AUTOR:

"José Carlos Valente, natural de Lisboa (1946), licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em História do século XX pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e membro do seu Instituto de História Contemporânea. É professor da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém.


Como investigador de História Social Contemporânea, publicou vários trabalhos no suplemento Cultura do Diário de Notícias (1988 1989), na Nova Série da História (1994-1995), no Dicionário de História do Estado Novo (dir. F. Rosas/B. de Brito, 1996), etc. Em 1996, publicou Estado Novo e Alegria no Trabalho: uma História política da FNAT (1935-1958), projecto que está a ser alargado, a partir do presente trabalho, a uma investigação abrangendo a História da FNAT/INATEL até aos dias de hoje."


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