Por Jorge Trabulo Marques - Jornalista C
Francisco da Costa Gomes - Chaves, 30 de Junho de 1914 — Lisboa, 31 de Julho de 2001


Declarações inéditas de Francisco Costa Gomes, uma vez que, da longa entrevista, que honrosamente me concedeu, na qualidade de repórter
da extinta Rádio Comercial RDP, apenas escassos minutos foram transmitidos. O tema principal da minha deslocação a sua casa,
versava sobre questões relacionadas com o
armamento atómico e convencional das
duas grandes potências e o papel do Marechal na Conferência Mundial da Paz,
que, por agora, apenas reproduzo em texto .
E, de facto, foi a
propósito destes assuntos, num tempo em que pareciam desanuviar-se
algumas tensões, entre os dois blocos, que começaria por fazer as primeiras
perguntas. Contudo, outros temas acabariam por ser abordados, nomeadamente, o
que pensava do período quente pós 25 de Abril e da prisão de Otelo Saraiva de
Carvalho - Conteúdo editado em vídeo. – Porém, é
minha intenção, vir a editar, no Youtube, também outra
interessante entrevista, sobre este tema


Nascido em Chaves, no seio de uma
família numerosa, a sua infância é marcada pela morte do pai nas vésperas do
seu 8.º aniversário. As dificuldades económicas da família levam a que,
terminada a instrução primária, ingresse no Colégio Militar em Lisboa. A
solução não lhe agrada, sobretudo devido ao afastamento da família.
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(…)Apesar da ambiguidade de que
muitos o acusam, todos lhe reconhecem o mérito de ter conseguido evitar a
guerra civil.

COSTA GOMES - O MILITAR
PACIFISTA
O paladino da paz –.Um dos militares mais pacifistas, que,
após deixar a Presidência da Republica, não aceita ser chamado a desempenhar qualquer cargo
político, optando pelo Conselho Mundial
da Paz, como terreno de intervenção, seguindo, atentamente e com preocupação, o
recrudescimento das armas convencionais e atómicas das duas grandes potências,
que, ao invés de olharem mais para os problemas da saúde e das condições de
vida das populações, gastam milhões em armas atómicas e convencionais. –
A HONRA DE
TER ENTREVISTADO UM HOMEM VALOROSO, GENEROSO E PACIFICO

Morava na Av. João XXI, próximo do cruzamento da Av. de Roma, em Lisboa. Nessa tarde, que me recebeu, estava sozinho e, curiosamente, os móveis da sala, estavam todos cobertos com lençóis brancos, visto ir para obras, mais parecendo a enfermaria de um hospital. Mesmo assim, teve a gentileza de me receber, já que a entrevista havia sido marcada uns dias atrás e ele não quis faltar ao compromisso.
RETIROU-SE DA POLITICA MILITAR PARA SE DEDICAR À
PAZ MUNDIAL

F.C.G. A política nacional vejo-a simplesmente
como observador e um observador muito atento, porque, como tenho dedicado a
maior do meu tempo, às questões internacionais, sobretudo àquelas que dependem
da paz e do desarmamento, e, como isso me leva, muitas vezes, a conferências
para fora do país e me obriga a um preparação, quando estou em Portugal, que me
faz alhear um pouco da política do dia a dia do nosso país, é claro que eu
estou mais a par daquilo que se julga que constitui hoje a política internacional
e a situação internacional de propriamente da politica nacional.
JTM - Porquê essa preocupação?

“MAIS DE METADE DOS CIENTISTAS DO MUNDO OCUPADOS EM APERFEIÇOAR MEIOS DE COMBATE” – Em vez de se empenharem com “os problema da fome, do analfabetismo, do meio-ambiente e da saúde
JTM – Acha que ainda há uma grande tensão entre os
dois blocos?

Ora, eu acho que esta atitude é uma atitude
absolutamente negativa! O que nós precisamos não é de reforçar as forças
convencionais é de reduzir também as
forças convencionais! Porque, um dos
maiores problemas que existem no Mundo – e sem a redução dos orçamentos militares,
se não será possível resolvê-lo – é o problema da fome, é o problema do analfabetismo, é o problema
do meio-ambiente, o da saúde, enfim, são uma série de problemas que realmente fazem com que, a maioria da população
mundial, dia a dia, veja os seus problemas acrescidos, agudizados e não sinta
que há uma luz, que não há uma pequena ação solidária dos países – que os têm, que, no fundo, os
têm assegurado – para melhorar esta esta situação.
Ora, esta situação só pode ser melhorada, diminuindo
drasticamente as despesas militares, não só o que diz respeito aos orçamentos. Como
também no que diz respeito à investigação científica. Porque, hoje, mais de metade
dos cientistas no mundo, estão dedicadas a aperfeiçoar armas e aperfeiçoar meios de combate, quando, realmente, a todas
as pessoas bem intencionadas, lhes
parece que se deviam dedicar as era para o bem-estar da Humanidade, e, portanto, pró melhoramento das condições de vida de todos os
Povos.
F.C.G. - Acredito!
Não porque as pessoas o queiram! Podemos dizer que 90% da população mundial é
contra um conflito à escalda mundial - Mas,
com o acumular de armas que existem no mundo e, com os pequenos conflitos locais,
que ainda não conseguimos debelar e, outros que se podem desenvolver de um momento
para o outro, como é, por exemplo, a situação do Golfo Pérsico, pois, uma
destas situações, pode, sem querer, levar a um conflito mundial! E isso é extremamente
perigoso, porque, as armas que depois se possuem, são de tal maneira potentes e
de tal maneira poderosas, que, se elas forem empregues, durante muito tempo, será o tempo
suficiente para aniquilar a vida sobre a
Terra.
O PERÍODO QUENTE PÓS 25 DE ABRIL




“OTELO TEVE AS SUAS DEFICIÊNCIAS MAS, DE UMA MANEIRA GERAL, FOI UM ELEMENTO
POSITIVO E A REVOLUÇÃO DE ABRIL DEVE-LHE
MUITO.
Otelo Saraiva de Carvalho, detido
a 20 de Junho de 1984 pela
Polícia Judiciária, no âmbito deste processo. Da FP, com uma pena de 18 anos .De
recordar, que o principal operacional do Movimento das Forças Armadas. nunca
assumiu a criação das FP-25 nem a militância no grupo. Do tempo total de pena
cumpriu apenas cinco anos. Em entrevista, concedida há Lusa, em 2010, Otelo confessou
que, no dia em que recebeu a notícia da criação deste partido
revolucionário armado, a encarou com "apreensão e perturbação com a
ideia". Otelo: FP-25 foram "choque grande e um prejuízo tota

JTM – Sr. Marechal. Uma das figuras muito conhecidas
e, de grande interveniência, na revolução, é Otelo Saraiva de Carvalho,
atualmente preso: como é que vê a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho?

, em que me esteve diretamente subordinado. – No Concelho de Revolução, porque eu era o
Presidente do Concelho de Revolução; no COPCON COPCON –, porque o COPOCON estava dependente do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e
eu acumulava as funções de Presidente da República e de Chefe do Estado-Maior
das Forças Armadas. Ora, nesse tempo, eu posso dizer-lhe que, Otelo teve as
suas deficiências, mas, de uma maneira
geral, foi um elemento positivo e a
Revolução de 25 de Abril, deve-lhe muito.
Depois, do 25 de Novembro, praticamente nunca mais tive contactos com Otelo, mas, daquilo que eu conheço, a forma como eu pus o problema no Tribunal, eu julgo que o caráter , a moral e a maneira de ser do Otelo, não são de molde a admitir que ele, direta ou indiretamente, tenha tomado parte em qualquer das ações terroristas.
Era bom que se visse, que
se estudasse bem, as ações terroristas, não só a partir de 1974 mas que se vissem bem as ações
terroristas, entre 1975 e 1976, porque, realmente, nessa data houve muito
terrorismo em Portugal! - Terrorismo
absolutamente escusado! Terrorismo que que visava, única e simplesmente, o regulamento do status quo, então estabelecido,
em que as pessoas, não hesitara em matar, em destruir, em fazer ações, que
realmente todo o mundo hoje as condena, porque, felizmente, o terrorismo hoje está
condenado internacionalmente de uma forma absoluta.
JTM – Portanto, em sua
opinião, acha injusta a prisão de Otelo?


Não há dúvida nenhuma é
que, Otelo Saraiva de carvalho, tem, em toda a Europa, uma data de pessoas importantes, sobretudo no
campo jurídico, que o apoiam, que o defendem e que estão constantemente a fazer diligências para a sua libertação.

«A APRENDIZAGEM DA ARTE DA «PRUDÊNCIA»

Na lógica do marechal Costa Gomes, cabia aos militares dosear o uso da violência, tendo sempre como fim assegurar os objectivos de ordem e paz social. – Excerto Relações Internacionais (R:I) - O general «renitente»
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