Hoje
é Domingo de Pascoa - Não estou na minha aldeia, com muita pena minha -
Por isso mesmo, ainda mais me lembram aqueles amplos espaços, de ares
puros e ensolarados, o repicar dos sinos a anunciar a missa, pela manhã,
e, à tardinha, a tradicional correria da visita pascal, de casa em
casa, de lar em lar: o Sr. Padre, de paramentos brancos e os sorrisos dos
acompanhantes, também eles de opa branca e cruz enfeitada de cravos,
tocando a sineta, ao mesmo tempo que o sinos do alto da torre da igreja, não
param de tocar, pelo que passo aqui a recordar o excerto de uns
versos que escrevi, há já algum tempo, ao correr da pena
O
apelo dos sinos da minha aldeia
Há
muito sou um prisioneiro na grande cidade
porque
o meu coração bate ao ritmo do sinos da minha aldeia
foi
o primeiro som que ouviu ecoar na vastidão do céu,
ouviu-o
ressoar ainda no ventre materno e quando nasceu.
Por
isso, só ouvindo a ressonância do seu tanger,
só
ouvindo as suas pancadas e o bater
do
relógio da torre da igreja
à
mistura com o ruídos dos chocalhos
e
dos balidos das ovelhas, meu coração
deprimido
freme e se agita, acalorado
faz
as pazes consigo próprio, liberta-se
das
adversidades e agruras da vida,
readquire
a tão merecida e desejada tranquilidade,
a
doce harmonia, que o envolve, a serenidade e paz !
É certo que o antigo campanário da minha infância, já não existe,
É certo que o antigo campanário da minha infância, já não existe,
foi
demolido com a velhinha igreja!... – Era em pedra talhada de granito,
e
não em cimento armado, quase tombado, como o que lhe sucedeu!
-
Que heresia essa, que impropério e atentado esse, Deus
Meu!
Porém,
os sinos são os mesmos – O repicar não se alterou.
Passou
a ter o relógio que não existia – Nos sons, nada mudou.
O
som é igual - Dlão! Dlão! Dling! Dling! Dlong! Dlão Dlão!
Quando
batem as horas, tocam à missa ou a sinal,
ainda
soam por espaços a fora como antigamente.
Tocam
tal qual quando eu era menino – E para toda a gente!
Repicam
à missa, dobram aos finados ou vibram a rebate!
Tocam,
como sempre os ouvi tocar – À terra e à arcada do Céu.
Só
já não repetem o velho toque das trindades,
anunciar
o cair da noite e o fim o dia,
porque
essa devoção, da reza do terço e da Avé-Maria,
vinda
de tempos muito antigos, há muito se perdeu.
No
mais, as suas badaladas, soam eternas.
Por
isso, sempre que ouço o tanger daqueles velhos sinos,
o
eco do bronze das suas badaladas, a tocar, a repercutir
e
a ecoar ao perto ou pelas alturas e lonjura daqueles largos espaços,
sim,
cada uma das suas pancadas, cada som que ouço vibrar e eocar
escancara-se
no meu peito, faz meças com o palpitar do meu coração!
-
Desperta nele uma inexplicável, sentida e religiosa emoção.
Sim,
essa mítica e ancestral amálgama de sons, comovem-no até às lágrimas!
Elevam-no
a estados de sacra sublimidade! - Fazem
com
que meus olhos brilhem de contentamento,
se
fixem enlevados em algo incerto e no seu fino vibrar
-
Meus sentidos, tudo em mim se alegre e vibre em clima de festa!
Excerto
- Jorge Trabulo Marques
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