Jorge Trabulo Marques - Jornalista
C
A imagem que aqui edito, e
que fui buscar ao transportesentimental.blogs.sapo.pt de José do Carmo
Francisco, já tem uns anos - Mas é das tais recordações que não esquecem
facilmente: por um lado, tinha menos 32 anos e, por outro, porque, falar de
poesia e num local tão agradável, numa quinta de sonho, algures nas imediações
da Figueira da Foz (o nome é que já não me ocorre) foi realmente um
acontecimento bonito.
Há boas memórias que não se
redescobrem por acaso - Mas quem é que diz que os acasos acontecem por acaso: acontecem porque tinham mesmo que acontecer - Julgo que é também o que sucedeu com a história da foto e do relato à volta da mesma, feito pelo autor de
«As Emboscadas do Esquecimento»e muitos outros títulos de poesia - Senão veja, o que o poeta e jornalista escreveu no seu
"transporte sentimental" com uma mensagem dirigida "para Anabela Natário - um recado onde quer que esteja"
"Aqui estávamos na Figueira
da Foz em 1983 depois de uma conferência de Imprensa para preparar o I Encontro
de Poesia Peninsular. Descobri a foto à bocado numas arrumações. Estamos todos
muito novos, Anabela. Mas isso já tu sabias. O que eu queria dizer é que recebi
uma mensagem no telemóvel para o lançamento de um livro na Bertrand mas
atrapalhei-me com aquilo (novas tecnologias…) e perdi o contacto. Só percebi
que era um livro teu porque fui directamente à Livraria Bertrand. Já tenho o
livro, agora só falta lê-lo e fazer uma resenha. Assim de repente vejo a
primeira fila e lembro-me de ti, do Joaquim Pessoa, do Francisco Belard, do
Rogério Ferreira, do Fernando Dacosta, do Jorge Trabulo Marques, do Acácio
Barradas, da Maria Antónia Fiadeiro, do Pina Cabral, do Luís Machado, do
António Viana, do senhor Palma do Jornal «Poetas e Trovadores». Algumas das
caras já não as conjugo com os nomes mas os anos passam – já lá vão mais de 30
anos, é muita coisa, muita vida, muita morte e muito sangue pisado. Do teu
livro sei apenas que trata da vida rocambolesca do Diogo Alves, o ladrão que
aterrorizou meia Lisboa no século XIX. Ainda não o li porque tenho tudo em
caixotes, estou a arrumar de novo 38 anos de vida mas como vês até as coisas
desagradáveis podem trazer boas surpresas. Descobri esta fotografia de 1983,
quando todos éramos muito novos ali na Figueira da Foz onde mais tarde fui
membro do Júri do Prémio Joaquim Namorado e também ajudei a descobrir a escrita
da Dulce Maria Cardoso. Mas isso foi mais tarde, já nos anos 90, muito depois da nossa fotografia.
Estamos todos muito novos na fotografia, o tempo passou, deixou marcas e só tu
continuas a ser hoje a menina da primeira fila. José do Carmo Francisco -- para anabela natário - um recado onde quer que esteja ...
Conheço, José do
Carmo Francisco, desde o principio da década de oitenta, nas minhas lides de repórter
da extinta Rádio Comercial RDP . Tenho pela sua obra poética, jornalística e literária,
uma grande admiração - E também pela sua pessoa, a maior estima. Foi ele
que teve a amabilidade de prefaciar o cartólogo da exposição de fotografias das
minhas aventuras nos mares do Golfo da Guiné, que apresentei na Torre de Belém,
por altura da EXPO99, com um poema de António Ramos Rosa e outro de sua esposa,
Agripina Costa marques . .Pelo apreço que tenho por ele, vou-lhe dedicar este
post, com um dos seus belos poemas e alguns dados da sua profícua atividade
Aldeia
Eu
fiz dos teus olhos uma aldeia
Uma
daquelas aldeias pequeninas
Por
cima um monte, a vida cheia
Por
baixo o rio de águas cristalinas
Sinal
de vida, o fumo das lareiras
Todos
os dias o trigo é a verdade
E
as mulheres casadas e solteiras
Cozem
o pão no forno sem idade
Eu
fiz dos teus olhos uma aldeia
Na
esperança de ser um habitante
Acabei
preso na grande cadeia
Numa
cidade afastada e distante
Hoje
sou um citadino desolado
Bate
o frio, vem a chuva pela rua
Na
aldeia que sonhei do teu lado
Vejo
uma casa vazia que é só tua
José do Carmo Francisco
Nasceu a 13 de
Fevereiro de 1951 em Santa Catarina (Caldas da Rainha). Frequentou o Instituto
Comercial de Lisboa e o Instituto Britânico. É juiz social no Tribunal de
Menores desde 1993. É jornalista – carteira profissional nº 4149. Colaborador
das RDP-Açores desde 2002 e redactor da Revista «Ler», estreou-se no «Diário
Popular» em 1978 e em «A Bola» em 1979. Colabora no mensário «Voz de Alcobaça»
com a coluna «O lugar do poema» e no semanário «Gazeta das Caldas» com a
rubrica semanal «Um livro por semana» e a coluna quinzenal «Estrada de
Macadame».
Organizou duas
antologias para o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas: «O Trabalho –
antologia poética» e «O Desporto na Poesia Portuguesa». É co-autor do livro
«Glória e vida de três gigantes» sobre o Sporting, o Benfica e o F.C.Porto,
editado em 1995 por «A Bola».
É autor dos
seguintes livros: «Iniciais» (1981), «Universário» (1982), «Transporte
Sentimental» (1987), «Jogos Olímpicos» (1988), «1983 – Um resumo» (1991), «Leme
de luz» (1993), «Mesa dos Extravagantes» (1997), «As emboscadas do
esquecimento» (1999), «De súbito (2001), «Os guarda-redes morrem ao Domingo»
(2002), «O Saco do Adeus» (2003), «Pedro Barbosa, Jesus Correia, Vítor Damas e
outros retratos» (2005) e «Mansões Abandonadas» (2007). «Iniciais» venceu em
1980 o prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores atribuído por um
júri constituído por Armando Silva Carvalho, Fernando J.B. Martinho e Pedro
Támen.
Em 2006 foi publicada uma versão da tese de mestrado de Ruy Ventura («José do
Carmo Francisco - uma aproximação») nos 25 anos da sua obra poética. O Júri
(Clara Rocha, Silvina Rodrigues Lopes e António Cândido Franco) atribuiu à tese
(«Representações da Memória e do Quotidiano na poesia de José do Carmo
Francisco») a classificação de «Bom com distinção». O poema «Café contigo» está
gravado num CD de José Cid. O Jornal «ABC» de 15-11-2008 dedicou-lhe uma página
no seu Suplemento Cultural In JOSÉ DO CARMO FRANCISCO
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