Jorge Trabulo Marques - Jornalista C
Avesso a entrevistas, optou por levar uma vida discreta, tendo recusado o Prémio Pessoa - A Morte Sem Mestre, pelos vistos, livro premonitório, editado, em junho do ano passado, pela Porto Editora, pondo assim fim a um longo percurso com a Assírio e Alvim,
"Herberto Helder foi um poeta poderoso, a sua obra foi um centro de atracção e um horizonte em relação ao qual todos os seus contemporâneos tiveram de se situar. Como antes tinha acontecido com Fernando Pessoa, também houve um 'efeito Herberto Helder', diz ao PÚBLICO o crítico António Guerreiro.Morreu o poeta Herberto Helder
Herberto Hélder, de seu nome completo Herberto Hélder Luís Bernardes de
Oliveira, natural do Funchal (23 de Nov. 1930) de ascendência judaica,
considerado o "maior poeta português vivo da segunda metade do século
XX" até à data da sua morte, faleceu ontem, aos 84 anos, e sua casa, mas
só hoje foi possível confirmar o óbito.
Avesso a entrevistas, optou por levar uma vida discreta, tendo recusado o Prémio Pessoa - A Morte Sem Mestre, pelos vistos, livro premonitório, editado, em junho do ano passado, pela Porto Editora, pondo assim fim a um longo percurso com a Assírio e Alvim,
"Herberto Helder foi um poeta poderoso, a sua obra foi um centro de atracção e um horizonte em relação ao qual todos os seus contemporâneos tiveram de se situar. Como antes tinha acontecido com Fernando Pessoa, também houve um 'efeito Herberto Helder', diz ao PÚBLICO o crítico António Guerreiro.Morreu o poeta Herberto Helder
"Em 1948, Herberto Helder matricula-se em Direito mas
cedo abandona esse curso para se inscrever em Filologia Românica, que frequenta
durante três anos. Ao longo da vida colaborou em diversos periódicos como A
Briosa, Re-nhau-nhau, Búzio, Folhas de Poesia, Graal,
Cadernos do Meio-dia, Pirâmide, Távola Redonda, Jornal
de Letras e Artes. Em 1969 foi director literário da editorial Estampa. Viajou
pela Bélgica, Holanda, Dinamarca e em 1971 partiu para África onde fez uma
série de reportagens para a revista Notícias.
Em 1994, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa pela sua
obra que, segundo o júri, iluminava a língua portuguesa. Herberto Helder, no
entanto, recusou a distinção, uma dos mais importantes atribuídas em Portugal.
Herberto Hélder sempre se quis manter um poeta oculto e por isso pediu ao júri
que não o anunciassem como vencedor e que dessem o prémio a outro".
Quarta-feira,
19 de março de 2014 Equinócio Primavera com Holderlin Friedrich e Herberto Hélder
Deparo-me com o poeta dos Passos em Volta e um pequeno mas animado grupo de intelectuais – Alguns dos presentes, já os conhecia e, inclusivamente, entrevistado noutras circunstâncias – E também houve quem, conhecendo-me, não fosse de meias palavras: em vez de querer saber ao que ali me levava, com um pequeno gravador na mão (por razões profissionais), queria era que lhes falasse das minhas aventuras marítimas – ou, não haverá, nas veias de cada português, também um pouco de mar dos Lusíadas de Camões ou da Mensagem de Pessoa? – e dissesse, sem rodeios, para que todos ouvissem:
Excerto do post editado neste site - Expresso no Largo da Misericórdia – A última boa tertúlia
“Onde aguardas por mim, espécie de ar transparente
para levantar as mãos? onde te pões sobre a minha palavra,
espécie de boca recolhida no começo?
E é tão certo o dia que se elabora.
Então eu beijo, de grau a degrau, a escadaria daquele corpo.
E não chames mais por mim,
pensamento agachado nas ogivas da noite.
para levantar as mãos? onde te pões sobre a minha palavra,
espécie de boca recolhida no começo?
E é tão certo o dia que se elabora.
Então eu beijo, de grau a degrau, a escadaria daquele corpo.
E não chames mais por mim,
pensamento agachado nas ogivas da noite.
É primavera. Arde além rodeada pelo sal,
por inúmeras laranjas.
Hoje descubro as grandes razões da loucura,
os dias que nunca se cortarão como hastes sazonadas.
Há lugares onde esperar a primavera
como tendo na alma o corpo todo nu.
Apagaram-se as luzes: é o tempo sôfrego
que principia. – É preciso cantar como se alguém
soubesse como cantar.
por inúmeras laranjas.
Hoje descubro as grandes razões da loucura,
os dias que nunca se cortarão como hastes sazonadas.
Há lugares onde esperar a primavera
como tendo na alma o corpo todo nu.
Apagaram-se as luzes: é o tempo sôfrego
que principia. – É preciso cantar como se alguém
soubesse como cantar.
Herberto Helder – Excerto do poema Agora até as musas mudas cantam a primavera
Neste site -
domingo, 26 de janeiro de 2014 - Expresso no Largo da Misericórdia – A última boa
tertúlia dos cafés de Lisboa: de Herberto Hélder, Sebastião Alba, Manuel da
Fonseca, Luís Pignatell, António Assunção, Baptista Bastos, Firmino Mendes,
Pepe, Júlio Pinto; Janita e o Vitorino Salomé – poetas, atores, escritores,
jornalistas ou simples cidadãos anónimos – Além do Snack-Bar Expresso, da
Trindade Coelho, só o Botequim, no Largo da Graça de Natália Correia – Este
noturno e pela madrugada, aquele mais diurno e pela tarde
Foi
junto ao Balcão do Snack-Bar Expresso, que, pela primeira vez, tive ocasião de
falar com Herberto Hélder e Manuel da Fonseca. Já
lá vão uns anos mas tenho esse agradável encontro ainda bem presente na memória
– Mas o tempo muda muita coisa e, também, nem o ambiente, nem quem o
frequentava, é o mesmo – Além de que a idade não perdoa – Alguns,
já nem vivos são. Por outro lado, a nova lei do arrendamento
urbano, veio dar uma enorme facada ao centro histórico lisboeta, e o Largo da
Trindade, mais conhecido por Largo da Misericórdia, creio que também já sofreu
o seu abalo "misericordioso" . Livraria Olisipo com ordem de
despejo Até porque Esta cidade não é
para velhos ... Largo Trindade
Coelho.
DE JORNALISTA A PERSONAGEM DE AVENTURAS DO MAR
Ia à procura de histórias do autor de Cerro Maior e Rosa
dos Ventos (entre outras obras de contos, poesia e romances, natural de
Santiago de Cacém) para a Rádio Comercial e eu é que acabo por ter de
contar as minhas aventuras do mar.
Deparo-me com o poeta dos Passos em Volta e um pequeno mas animado grupo de intelectuais – Alguns dos presentes, já os conhecia e, inclusivamente, entrevistado noutras circunstâncias – E também houve quem, conhecendo-me, não fosse de meias palavras: em vez de querer saber ao que ali me levava, com um pequeno gravador na mão (por razões profissionais), queria era que lhes falasse das minhas aventuras marítimas – ou, não haverá, nas veias de cada português, também um pouco de mar dos Lusíadas de Camões ou da Mensagem de Pessoa? – e dissesse, sem rodeios, para que todos ouvissem:
FOI EM LISBOA, NA TERTÚLIA DO SNACK-BAR
EXPRESSO QUE PESSOALMENTE O CONHECI - “Aqui está o navegador
solitário! O homem das Canoas, em São Tomé”
Foi junto ao Balcão do Snack-Bar Expresso, que, pela primeira vez, tive
ocasião de falar com Herberto Hélder e Manuel da
Fonseca.
"Aqui está o navegador solitário! O homem
das Canoas, em São Tomé” – Foi
deste modo que me cumprimentou, mal ali entrei. Foi assim que pela primeira vez
dialogámos. Levando-me a falar das minhas aventuras, no que, aliás, sempre
gostei de recordar.
Pelo que depreendi, já me conhecia da minha habitual colaboração
na “Semana Ilustrada, de Luanda”, revista na qual havia relatado, em cinco
capítulos, a minha primeira aventura marítima, a bordo de uma frágil piroga de
S. Tomé ao Príncipe –De cujas
aventuras me refiro no meu sitehttp://www.odisseiasnosmares.com/2012/02/cao-grande-em-sao-tome-grande-escalada.html Por isso, em vez de
querer saber ao que ali me levava (no que ele não ia colaborar, dado ser avesso
a entrevistas) queria era que falasse
das tais aventuras marítimas – Até porque, além daquele revista, também, em
Portugal, quer a RTP, quer o Século Ilustrado, o Jornal Novo e o Diário
Popular (em quatro suplementos) se haviam referido às minhas odisseias nos mares do Golfo da Guiné.
Pois, nessa tarde, lá se foi a
entrevista, que tencionava fazer , a Manuel da Fonseca, para outro dia –
Conquanto, por várias vezes, ali voltasse e me sentasse em torno dos
tertulianos, e até os fotografasse – (foi pena, num dia em que não estava lá o
Herberto, julgo que não iria ser desmancha prazer dos seus amigos), a bem dizer,
as razões da minhas idas aquele bar, eram mais de carácter
casual ou profissional de que propriamente para me integrar nos seus conciliábulos.
Não era que não os apreciasse, mas para isso já tinha a minha habitual frequência
no botequim da Natália Correia. No largo da Graça, bem mais abrangente e
versátil.
Uns tempos depois, deu-me o prazer de
me receber em sua casa em Cascais, mas de gravador off. Mais uma vez a conversa
descamba para as aventuras do mar, tendo, então, aproveitado para lhe oferecer
uma fotografia dessas minhas proezas marítimas, cujo gesto apreciou.
Já me haviam dito que ele não gostava de dar entrevistas mas
que era um excelente conversador. E lá tinha e tem as suas razões ..Herberto
Helder (Não digam a ninguém)... "Meu
Deus faz com que eu seja sempre um poeta obscuro .Por isso,
também não quis enveredar por essa via, preferindo o diálogo espontâneo e
o do convívio.
Não se
pode querer tudo. Hemingway também não gostava de dar entrevistas. E, quando um
fotógrafo, quis fotografá-lo, contra a sua vontade, não hesitou em atirar-lhe o
uísque do copo à cara. E, sempre que ali o encontrei – nas várias vezes que
passei a frequentar o “Expresso” para tomar um café, comer uma sopa ao balcão
(muito boas, por sinal) ou uma refeição (económica) na zona do
restaurante, aproveitava a oportunidade de dialogar mas, sobretudo, para
ser mais um observador de que interveniente. A bem dizer, ali sentia-me mais na
pele de jornalista de que o participante na referida tertúlia.
Esse
duplo sentimento tive-o no Botequim da Natália Correia. Era outro género de
tertúlia. No Bar Expresso, o convívio, era mais restrito e decorria,
normalmente, pela tarde a diante, confinando-se praticamente ao
balcão ou junto às duas mesas da entrada, logo ali à porta. Enquanto,
que, no Largo da Graça, embora, em área geral, não fosse maior, havia mais
espaço - Estava lá a Natália -Bastava a presença dela, com a sua corte de
admiradoras e admiradores para dar outro fulgor e transformar, cada noite numa
festa ou centro de polémicas e controversas. De resto, foi através
de algumas sugestões da autora da Mátria, que
acabaria por fazer uma série de entrevistas para o semanário Tal
& Qual, sobre a primeira relação sexual, nomeadamente, o pintor Carlos
Botelho e Amália Rodrigues, entre outras figuras, a que me refiro
em: Natália Correia
e "O Botequim da Liberdade" .....romance
no sheraton lisboa hotel ea fuga da casa da amália
De facto, os
anos 80, constituem para mim, os anos dos meus encontros com os maiores nomes
das artes e letras portuguesas – Mas não só: com personagens das mais diversas
atividades, desde os mais sonantes nomes do crime, até aos mais ilustres
poetas, escritores, músicos, atores, políticos, cantores – Gente anónima e mui
diferenciada. Guardo, ainda, muito desses registos gravados em cassetes. Pena
não ter feito também fotografias, salvo Vergílio Ferreira, Mário Cesariny, Lídia Jorge, Jorge Amado e António Ramos Rosa
(pouco mais) porém, quando se trabalha numa estação de rádio (na então Rádio
Comercial-RDP) a preocupação principal do repórter é a do som. – E
essa faceta também me deu imenso prazer. Tal como agora, quando recordo
as gravações. Bom, mas fiz algumas fotografias na tertúlia do Bar Expresso, duas das quais aproveito para aqui editar.
Naquele dia não estava lá Herberto Hélder ,Armando Baptista-Bastos Manuel da Fonseca António Assunção Júlio Pinto Janita Salomé Vitorino Salomé Luís Pignatelli Zetho Cunha Gonçalves - . Entre outros notáveis frequentadores mas estavam lá outros assíduos. Nomeadamente, os poetas Luís Carlos Patraquim Firmino Mendes Sebastião Alba
Naquele dia não estava lá Herberto Hélder ,Armando Baptista-Bastos Manuel da Fonseca António Assunção Júlio Pinto Janita Salomé Vitorino Salomé Luís Pignatelli Zetho Cunha Gonçalves - . Entre outros notáveis frequentadores mas estavam lá outros assíduos. Nomeadamente, os poetas Luís Carlos Patraquim Firmino Mendes Sebastião Alba
Excerto do post editado neste site - Expresso no Largo da Misericórdia – A última boa tertúlia
Biografia - Excerto (...) "Em 1954, data da publicação do
seu primeiro poema em Coimbra, regressa à Madeira onde trabalha como
meteorologista, seguindo depois para a ilha de Porto Santo. Quando em 1955
regressa a Lisboa, frequenta o grupo do Café Gelo, de que fazem parte nomes
como Mário Cesariny, Luiz Pacheco, António José Forte, João Vieira e Hélder
Macedo. Durante esse período trabalha como propagandista de produtos farmacêuticos
e redactor de publicidade, vivendo com rendimentos baixos. Três anos mais
tarde, em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita. Durante
os anos que se seguiram vive em França, Holanda e Bélgica, países nos quais
exerce profissões pobres e marginais, tais como: operário no arrefecimento de
lingotes de ferro numa forja, criado numa cervejaria, cortador de legumes numa
casa de sopas, empacotador de aparas de papéis e policopista. Em Antuérpia,
viveu na clandestinidade e foi guia dos marinheiros no sub mundo da
prostituição.
Repatriado em 1960, torna-se encarregado
das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, percorrendo as
vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo. Nos dois anos seguintes
publica os livros A Colher na Boca, Poemacto
e Lugar. Em 1963 começa a trabalhar para a Emissora Nacional com redactor
de noticiário internacional, período durante o qual vive em Lisboa. Ainda
nesse mesmo ano publica Os Passos em Volta
e produz A máquina de emaranhar paisagens. Em 1964 trabalha nos serviços
mecanográficos de uma fábrica de louça, datando desse ano a sua participação
na organização da revista Poesia Experimental. Nesse ano reedita ainda
Os Passos em Volta, escreve «Comunicação Académica» e publica Electronicolírica.
Em 1966 participa na co-organização do segundo número da revista Poesia
Experimental e no ano seguinte publica Húmus, Retrato em Movimento
e Ofício Cantante. Data de 1968 a sua participação na publicação de
um livro sobre o Marquês de Sade, o que o leva a ser envolvido num processo
judicial no qual foi condenado. Porém, devido às repercussões deste episódio
consegue obter suspensão de pena, facto este que não conseguiu evitar que
fosse despedido da Rádio e da Televisão portuguesas. Refugia-se na publicidade
e, posteriormente, numa editora onde desempenha o cargo de co-gerente e director
literário. Ainda nesse ano publica os livros Apresentação
do Rosto, que foi suspenso pela censura, O Bebedor Nocturno
e ainda Kodak e Cinco Canções Lacunares. - Excerto de Herberto Helder (Biografia) - CITI
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