Narrativa policial, de autoria de Paula Teixeira de Queiroz, com histórias atrás de histórias, envolvendo as mais diferentes personagens, Uma das surpresas literárias de 2013 e ainda uma sugestiva leitura para 2014.
O primeiro contacto que tive com Paula Teixeira de Queiroz foi na Feira do livro de 2013, a que me referi noutro site - Trocou a carreira de advocacia pela de escritora. E creio que em boa hora o fez - Advogados já há muitos e bons escritores, contam-se pelos dedos. Além de que, a experiência entretanto acumulada, a par do extraordinário talento que rapidamente revelou, vai, com certeza, enriquecer ainda mais a sua oficina de escrita.
É uma mulher afável e cativante às primeiras palavras. A sensibilidade e a inteligência, nunca se elevam à sobranceria. Agora, casualmente, voltei a encontrá-la na FNAC do Chiado - Pois, ao relançar um olhar para o auditório-café, apercebi-me de um rosto que me não era desconhecido. Com um pouco mais de atenção, é justamente a escritora que, esboçando um sorriso, me desfaz as dúvidas. Assisto ao resto da sessão e com muito gosto.
No livro
há apenas um capítulo dedicado à Bruxa de Grade, que serve de título à obra, “coisas que a escritora foi buscar às
raízes da ancestralidade, da sua aldeia, contadas por pessoas que as presenciaram,
mas há
muitas histórias diabólicas e alucinantes.
Não deixe de ler uma obra sedutora e bem escrita e estruturada, distinguida com o Prémio Literário Aldónio Gomes, atribuído pela Universidade de Aveiro (UA), "É um romance em que o leitor vai tendo várias linhas que vão seguindo em paralelo, que aparentemente nada têm haver umas com as outras, mas que no final se encontram e surpreendem o leitor -- Disse Guilherme de Oliveira Martins
Não deixe de ler uma obra sedutora e bem escrita e estruturada, distinguida com o Prémio Literário Aldónio Gomes, atribuído pela Universidade de Aveiro (UA), "É um romance em que o leitor vai tendo várias linhas que vão seguindo em paralelo, que aparentemente nada têm haver umas com as outras, mas que no final se encontram e surpreendem o leitor -- Disse Guilherme de Oliveira Martins
“Num quase policial, o assalto, um tiro no aeroporto, o beijo 2001,o segredo, a traição de Helena, a
bruxa de Grade, saga do russo, uma menina ruiva, um terramoto, o jantar supressa,
a zaragata, um intrujo na noite, a psicopata, prisioneiro, remorsos, a viagem,
o gato e o rato, o ciúme, o
esquecimento, o exército, uma cena
indecente, o rescaldo, um encontro no elevador, mulheres em lágrimas, um grito
pelo nordeste, os ratos, o velho das rouças, o Infante Sagres, Quo Vadis?, a francesa diabólica, adeus Olinda, o que
tens, mulher?, na prisão de Toronto, a
bofetada, renascer, rapto, final, epílogo mesmo” – Estes alguns dos 54
capítulos de uma narrativa de 200 páginas, com
uma personagem principal que, aparentemente, vive bem e não precisa de
trabalhar. Mas, com o avançar das páginas, o leitor vai-se apercebendo que a realidade
não é bem essa…
DÚVIDAS
Também não percebia porque é que os homens batiam nas mulheres! Por serem fisicamente mais fortes? Lá no colégio, os rapazes tinham também a mania de correr atrás delas, levantar-lhes as saias e bater-lhes. Começavam a gritar e aparecia a irmã Graça que os punha de castigo. Elas nem sequer faziam nada além de rirem por tudo e por nada. Mas eles gostavam de mostrar que eram superiores, e aos outros, os que não batiam, chamavam-lhe “mariquinhas”. E o curioso é que as raparigas apaixonavam-se pelos maus. Até ela, muito secretamente, gostava que se metessem com ela! Havia qualquer coisa de errado nos dois sexos, tanto nas crianças como nos adultos. Tinha de falar com alguém. Tentou falar com a Constança, a sua melhor amiga, mas ela não percebeu nada. Talvez quando o pai voltasse pudessem conversar. Com a mãe.. hum, até resolverem aquela situação, não queria conversas íntimas . Estava zangada com ela. - Excerto
GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS FEZ APRESENTAÇÃO DA OBRA NA FNAC DO CHIADO, EM LISBOA
DÚVIDAS
(...) “A Luisinha estava com
uma crise de identidade. Sofria sem a presença do pai. Conscientemente, de uma
forma racional. A Leonor manifestava-se
através dos ataques de pânico pois era incapaz de racionalizar a situação.
Ela bem ouvia as
histórias dos amigos. Não eram para ela ouvir, mas não tinha culpa de que se
pusessem a conversar no jardim mesmo por baixo da janela do seu quarto.
Era cada cena! Aqueles
tipos e tias pareciam mesmo malucos! Sentia-se uma privilegiada por o seu pai não
descobrir que era gay e sair de casa para
viver com outro homem; por não conhecer uma brasileira na Internet e ter
desaparecido de dia para a noite; por sua mãe não se apaixonar pelo irmão do
pai e ter ido viver para os EUA com ele; por o pai não ter feito um desfalque
no banco ou coisas do género e andar fugido à justiça; por a mãe não ter fugido
com o professor de equitação, vinte anos
mais novo. Ui, que histórias! Quando o pai chegava de mais uma viagem
sentava-se com a mãe no jardim, e a mãe contava-lhe o que se estava a passar entre
o grupo de amigos e conhecidos. E ela, sem querer, ouvia, quando eles pensava
que dormia. Seria uma menina má por isso? Não tinha mesmo culpa de ouvir.
Depois, os seus amigos
eram confrontados no colégio pelos outros que também ouviam conversas que não deviam
, e choravam . Não por ela, ela nunca tinha feito isso. Morreria de vergonha se
soubesse que escutara conversas indevidas às escondidas, ou que fizesse algum
amigo chorar por causa das coisas que os pais fizeram. Só pensava que tinha
muita sorte por os pais serem tão felizes juntos. Quando o pai estava presente,
claro. Se se viam naquela embrulhada toda era porque o pai estava a demorar
mais do que o costume.
A Lena, que sabia sempre tudo porque falava sempre com as
empregadas dos outros quando as ia buscar à escola, dizia que elas tinham muita
sorte por os pais serem como eram. Mas punha sempre ênfase no pai. A Luisinha
desconfiava que a Lena tinha um fraquinho pelo pai. Derretia-se toda quando ele
brincava com ela, até corava! Mas ela sabia – todos sabiam – que o pai só tinha
olhos para a mãe: Afonso e Anna, o casal indestrutível. E pôs-se a pensar na
Lena: como é que ela estaria? Encontrar-se-ia na aldeia, em Grade? A Lena dizia
que lá na aldeia não era como em Cascais, as mulheres tinham respeito aos
maridos, até apanhavam se fosse preciso. E calavam-se, tinham medo. Contou que,
uma certa vez, uma mulher de lá tinha apanhado
uma tareia tão grande que foi preciso cozer-lhe a orelha. O marido vinha
sempre com os copos, e quando lhe respondia ele ainda ficava mais furioso e
batia-lhe mais. E ela, depois de tanta tareia, fugiu-lhe e foi para França. O
homem, abandonado, matou-se com um tiro de caçadeira. Foi a vergonha de ser
abandonado, dizia a Lena. E os filhos? Foram levados por uma assistente social para um lar de
crianças e, mais tarde, a mãe veio busca-los. Também lhe parecia que não eram
conversas para a idade dela… mas ela adorava ouvir e prometia que não contava
aos pais. A Lena tinha saudades da sua aldeia minhota, ela sabia, e deixava-a
falar.
Todos confiavam muito
nela, porque seria? Só tinha treze anos!
Também não percebia porque é que os homens batiam nas mulheres! Por serem fisicamente mais fortes? Lá no colégio, os rapazes tinham também a mania de correr atrás delas, levantar-lhes as saias e bater-lhes. Começavam a gritar e aparecia a irmã Graça que os punha de castigo. Elas nem sequer faziam nada além de rirem por tudo e por nada. Mas eles gostavam de mostrar que eram superiores, e aos outros, os que não batiam, chamavam-lhe “mariquinhas”. E o curioso é que as raparigas apaixonavam-se pelos maus. Até ela, muito secretamente, gostava que se metessem com ela! Havia qualquer coisa de errado nos dois sexos, tanto nas crianças como nos adultos. Tinha de falar com alguém. Tentou falar com a Constança, a sua melhor amiga, mas ela não percebeu nada. Talvez quando o pai voltasse pudessem conversar. Com a mãe.. hum, até resolverem aquela situação, não queria conversas íntimas . Estava zangada com ela. - Excerto
GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS FEZ APRESENTAÇÃO DA OBRA NA FNAC DO CHIADO, EM LISBOA
"É um romance em que o leitor vai tendo várias linhas que vão seguindo em paralelo, que aparentemente nada têm a ver com as outras mas que acabam por se encontrar num epílogo "– Diz Guilherme d' Oliveira Martins, na sessão do lançamento com que a FNAC quis distinguir as obras mais recomendáveis na quadra natalícia
"Para Guilherme d'Oliveira Martins – " A Bruxa de Grade" é uma obra muito interessante, muito bem construída. Um romance moderno, muito importante, com bom domínio da palavra - Não é uma verdadeira bruxa que aqui está, porque, a autora, vai-nos encaminhando, progressivamente, para o epílogo mas no meio há uma grande surpresa -Temos as referências sociais da autora, que também é um óptimo código genético, uma vez que é bisneta do grande romancista português, Bento Moreno"
DISTINGUIDA NO DIA DO AUTOR PORTUGUÊS.
Nessa sessão, o livro de Paula Teixeira Queiroz, mereceu igualmente os melhores elogios. De acordo com António Manuel Ferreira, professor no DLC, este é um livro “estruturado como uma narrativa policial”, ou não fosse a autora admiradora de Agatha Christie. Isto reflete-se na facilidade com que se lê o livro, uma vez que se trata de um “narrativa de grande destreza e ritmo compulsivo”. “A autora sabe contar muito bem uma história num ritmo contagiante e viciante”, considera. Em contrapartida, “sendo um livro tão rápido e com um conjunto de personagens tão vasto, não se entra em profundidade nelas". “Existem nesta obra várias histórias à volta umas das outras, mas sem o aprofundamento típico dos romances”, afirma António Manuel Ferreira.
Nessa sessão, o livro de Paula Teixeira Queiroz, mereceu igualmente os melhores elogios. De acordo com António Manuel Ferreira, professor no DLC, este é um livro “estruturado como uma narrativa policial”, ou não fosse a autora admiradora de Agatha Christie. Isto reflete-se na facilidade com que se lê o livro, uma vez que se trata de um “narrativa de grande destreza e ritmo compulsivo”. “A autora sabe contar muito bem uma história num ritmo contagiante e viciante”, considera. Em contrapartida, “sendo um livro tão rápido e com um conjunto de personagens tão vasto, não se entra em profundidade nelas". “Existem nesta obra várias histórias à volta umas das outras, mas sem o aprofundamento típico dos romances”, afirma António Manuel Ferreira.
Além de muitas personagens, a autora apresenta em “A Bruxa de Grade” uma multiplicidade de espaços físicos, sociais e culturais, conseguindo mover-se com bastante à vontade nos diversos tipos de personagens que criou, focando desde as relações entre as pessoas, os espaços, passando por um mundo vasto onde vários países e locais se encontram.
Paula Teixeira de Queiroz nasceu em Arcos de Valdevez e vive em Lisboa. Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, é advogada de profissão. Concluiu o curso de Tradução pelo Instituto Superior de Línguas e Administração - Lisboa e trabalhou com a Apimprensa - Associação Portuguesa de Imprensa, em Assuntos Europeus, representando os editores de jornais e revistas em Bruxelas junto da EMMA - European Magazine Media Association e ENPA - European Newspaper Publishers Association. Em 1996 realizou o curso de Desenho com o escultor Sebastião Quintino na Sociedade Nacional de Belas Artes. É ainda cronista em vários jornais.
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