expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Pombos Bravos na rota dos Templos do Sol e do Vale Maravilha – E as surpreendentes flores brancas que despertam das cinzas e se afirmam como um sinal de vida e de esperança numa paisagem lunar – O bolbos das endémicas e sagradas tulipas negras, poupadas aos javalis e às chamas, terão resistido



Há tanta gente distraída, que mal imagina o que nos proporciona a fantástica natureza e o valioso património, de que o homem, chamado de primitivo, nos legou – Mas, pior do que isso, é  o manifesto  desprezo a que se vota o meio-ambiente,  as muitas e cruéis agressões cometidas, desde os atentados da poluição aos criminosos incêndios – E, sinais bárbaros desses, extensas áreas ardidas, é o que, infelizmente, aqui não faltam, tal como, de resto, em tantas paisagens de um Portugal, cada vez mais mal tratado, esquecido e desbaratado, sob avidez  do liberalismo selvagem.

 O Equinócio do Outono, a que nos referimos na anterior postagem deste site, celebramo-la, ontem, domingo, no recinto do Santuário da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora. Numa manhã banhada de sol e coroada por um céu azul  divinal e transparente, que só a magia  da entrada auspiciosa da estação mais  nostálgica e romântica do ano, nos podia proporcionar


Após os momentos da cerimónia evocativa, com a leitura de alguns poemas, houve ainda tempo para um amistoso e curioso diálogo sobre as emoções vividas e sobre os enigmas que caracterizam o maciço dos tambores, agora de um branco deslavado, sideral  e negro, ainda mais fantasmagórico de que aquele que se descobre na face da mítica lua, em noites de lua-cheia.






Com a despedia do Verão e a entrada do Outono, surge o tempo das aves migratórias: as andorinhas já levantaram o seu voo para sul de Portugal, depois de, em várias manhãs e fins de tarde, se juntarem em autênticos conciliábulos e coros musicais nas linhas dos telefones para dali acordarem estratégias e atravessaram o estreito de Gibraltar em direção ao Norte de África. Por outro lado, ao mesmo tempo, são as aves que escolhem o nosso país para aqui se defenderem dos rigores invernais dos países nórdicos, nomeadamente na Estremadura, Alentejo e Algarve.


Junto ao Santuário Rupestre da Pedra da cabeleira de Nossa Senhora, registaram-se palavras em vídeo para a posteridade, de que aqui lhe damos conta .


“É um casal de pombos bravos, que estão em voo migratório para o sul", asseguráva- nos, o José Andrade, um entendido em questões cinegéticas – E, a verdade é que, atrás de um casal, seguem-se outros, sob a grande cúpula dos céus azuis e transparentes do Planalto do Maciço dos Tambores e Vale (maravilha) da Ribeira Centieira, antes de desembocar no canhão através das íngremes ladeiras dos Piscos, das quais vai depois receber novo nome até desaguar no Rio Côa. Aqui ficam as suas palavras neste vídeo



Mas que de desiludam os caçadores, furtivos ou documentados, voam tão alto que só talvez através de lança misseis - mas ainda bem, pois somos dos que gostam mais de ver as aves a voar de que  sob a mira das espingardas e caírem desamparadas e mortas.


Castro do Cuural  da Pedra - antes

Agora


Depois deu-se um curto passeio até à Pedra dos Poetas – romagem obrigatória para quem ali queira tornar ainda mais significativa a sua visita – pequena pedra onde Fernando Assis Pacheco levantou os braços, um mês antes da sua morte e uma saltadinha até junto à muralha do Castro do Curral da Pedra. Porém, em tão gritante terra negra e morta, sulcada de negras fragas, de esqueletos vegetais, de cinzas ou de pedras denegridas, desde a canada mais sulcada à encosta mais íngreme, ao penhasco e quebradas, eis que, surpreendentemente, se observavam alguns sinais de vida: eram as zelosas e incansáveis formiguinhas, aquelas que não haviam sido apanhadas pelas labaredas, que expunham no exterior o celeiro acumulado, parte para o livrarem da humidade, outra para expurgarem a palha das sementes que não aproveitavam. 


Pedra dos Poetas

Enfim, nessa quase religiosa peregrinação outonal, observavam-se os sulcos dos javalis, que depois dos incêndios (vindos, sabe-se lá donde) esgravataram a terra à procura dos apetecidos bolbos, fitava-se a   planta que entretanto vicejava (raras, mas lá se iam vendo uns espargos ou pequenas flores que inexplicavelmente pareciam ter resistido aos incêndios), fotografava-se a pedra  mais curiosa, pois  a manhã estava linda e quente e, depois de tantas energias recebidas, com tal purificação esplendorosa, temas e observações não faltavam. Falava-se da cotovia que iam saltitando de fraga em fraga, sabe-se lá à procura de quê, naquelas deserto e pedras e cinzas, ou da poupa que pousava na crista de uma rocha, depois de vaguear por ali. 



ALI AS GIESTAS NÃO FLORIRÃO NA PRÓXIMA PRIMAVERA MAS, SURPREENDENTEMENTE, HOUVE UMAS ESCASSAS ESPÉCIES QUE RESISTIRAM AO ABRASIVO DAS CHAMAS – O QUE NÃO DEIXA DE SER UM MISTÉRIO


Mesmo com a forte chuvada que, alguns dias depois, se abateu nas áreas por onde as chamas lavraram, os sinais de vida ainda são escassos – Mas o que mais nos surpreendeu, foi uma espécie de flores brancas - Nas zonas ardidas, o panorama é realmente desolador mas não menos impressionante é o silêncio - Sobretudo de noite - Paira a solidão dos cemitérios. 

A madrugada da noite anterior à do Equinócio, passámo-la toda no Pinhal da Raposa - Ao deixarmos a aldeia, costumamos parar à porta do cemitério para uns minutos de  reflexão e  introspeção,  como primeiro recolhimento para as nossas já habituais peregrinações noturnas, pelo que a sensação de isolamento e de ausência de vida, ali ainda foi pior - Sim, incomoda-nos mais a solidão no interior da aldeia de que propriamente a paz silenciosa e morta mas plena de serenidade e de mistério  da cidadela dos defuntos. Quase tudo torrado. Talvez só os pinheiros, onde os ramitos não foram atingidos pelas chamas, poderão talvez sobreviver. O pior são os troncos, queimados desde o chão até  às copas, muitos dos quais já vergados ao peso dos anos, saídos de  pedras escalvadas que parecem serem os  únicos vestígios de uma hecatombe nuclear. Sim, assistimos de perto àquele inferno de fumo e de labaredas, que mais parecia que o Mundo ia acabar. Andámos por lá envergando uma túnica branca para que a desolação nos fosse menos sentida e não nos ferisse tanto o coração, a alma. Além do mais, esta é uma das indumentárias, de um ritual, simultaneamente místico e artístico, pois gostamos de sentir o espírito do lugar – o que só é possível no silêncio da noite – e perdurar certos momentos através da imagem. 

Onde se acoitarão agora os javalis que se abrigavam nas silveiras dos ribeiros?... Terão conseguido furar o cerco das chamas?..Sinais da sua presença, não faltam, com a terra esgravatada em busca dos suculentos bolbos. 




Numa ocasião, tropeçamos num que se encontrava deitado num grosso tufo de giestas. Cremos que o assusto dele ainda foi pior de que o nosso. Pois apenas nos limitámos a reagir imitando o mesmo som que ele fez ao levantar-se e ao escapar-se.  Há quem diga que, quando presentem o fogo, são os primeiros animais selvagens a escaparem-se. E as raposas e os filhotes para onde terão ido?... Pois não havia noite, que por ali passássemos que não ouvíssemos os seus gritos. Decididamente, a vida vegetal e animal, ali vai levar o seu tempo a reaparecer. Por agora, apenas sombras e espectros,  que o luar ainda  mais fantasmagoria.

 ENTRETANTO, NO MEIO DAS CINZAS…ALGUNS SINAIS DE VIDA



Com o nascer do sol,  é possível ouvir aqui ou além o trinado de alguma cotovia, não se sabe o que procurando, pois não restam mais do que cinzas ou troncos queimados, caules estiolados -. Surpreendentemente, quando deixamos o velho e mítico solar (em ruínas) ´do Vale Cheínho, deparamos com alguns espargos silvestres e umas flores exóticas, cuja identificação desconhecemos, algumas das quais até parecem ter resido às chamas. E, curiosamente, no centro do recinto do Santuário da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, sim, no meio daquela mancha negra, o contraste dos filamentos de uns juncos que dão ares de quererem fazer esquecer o pesadelo de chamas que queimou e reduziu a cinzas e a esqueletos, tudo à sua passagem – Esperemos, pois, que se tenham salvado os bolbos das tulipas negras que, enigmaticamente, ali se reproduzem e que  a Mãe-natureza, mesmo tão desumanamente maltratada, ali se revigore e ressurja viva das cinzas. Claro que, cada incêndio, destrói mais do que recria. Há perdas irrecuperáveis, abre caminho para a desertificação, que é o que está acontecendo com as sistemáticas agressões ao meio ambiente.


(há videos que tencionámos editar, logo que nos for possível)


Nenhum comentário: