expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

domingo, 22 de setembro de 2013

Equinócio do Outono 2013 - Festejado hoje na Pedra da Cabeleira, com a "Festa do Silêncio" e Escrevo-te com o fogo e a água" do poeta António Ramos Rosa - Numa manhã ridente e esplendorosa de luz e brilho, ante um espaço envolvente, amplo e belo mas com o chão e as pedras tisnadas pelos infernais incêndios de Agosto



Festa do Silêncio" e Escrevo-te com o fogo e a água" de  António Ramos Rosa - A singela homenagem a um grande poeta

A Festa do Silêncio
Escuto na palavra a festa do silêncio. 
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se. 
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas. 
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas. 
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma. 

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia, 
o ar prolonga. A brancura é o caminho. 
Surpresa e não surpresa: a simples respiração. 
Relações, variações, nada mais. Nada se cria. 
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça. 

Nada é inacessível no silêncio ou no poema. 
É aqui a abóbada transparente, o vento principia. 
No centro do dia há uma fonte de água clara. 
Se digo árvore a árvore em mim respira. 
Vivo na delícia nua da inocência aberta. 

António Ramos Rosa, in "Volante Verde

António Ramos Rosa, estudou em Faro, passou pelo Movimento de Unidade Democrática Juvenil, deu aulas de português, inglês e francês, ao mesmo tempo que trabalhava como empregado de escritório e como tradutor.

Da vasta obra poética, premiada, faz parte "Sobre o Rosto da Terra", "Estou Vivo e Escrevo Sol", "A Construção do Corpo", "A Pedra Nua", "Ciclo do Cavalo", "O Incêndio dos Aspectos", "Figuras solares", "O que não pode ser dito" e "Génese seguido de Constelações".

Equinócio - Celebrámos hoje o nascer do sol do primeiro dia do Outono, entre 08.00-08.30, no Santuário Rupestre da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora, no Maciço dos Tambores, aldeia de Chãs, Foz Côa  - junto a antigo local de culto e posto de observação astronómico, com um poema ao Deus Sol, de Jorge Trabulo Marques (autor destas linhas) e dois poemas de António Ramos Rosa: a  "Festa do Silêncio" e "Escrevo-te com  fogo e a água" – Ali expressados, sob um céu límpido, azul e magnífico, justamente no momento em que o astro luzente, ali espelhava o seu esplendor, tal como o teriam contemplado os antigos povos há milénios – Numa cerimónia simples  e desprendida, sem a participação de anteriores celebrações,  mas nem por isso menos prenhe de simbolismo e de emoção.  Porque, quem se associou, veio imbuído com o mesmo propósito e a mesma fé: contemplar e preservar o que de mais belo e fantástico, no seio da natureza, nos legaram os nossos antepassados. Não perder o vínculo às mais genuínas raízes ancestrais, ao seu património e aos seus valores históricos e espirituais, bem como saudar o Espelho da Criação, a verdadeira Fonte da Vida, o mesmo astro luzente que faz germinar as sementes, despontar as flores e amadurecer os frutos - Com a sua vasta variedade de espécies, de sabores, perfumes e cores. Sim, esta é, pois, a  estação do pleno amadurecimento e da colheita das preciosas uvas, dos figos e amêndoas da nossa terra.  Bem-Haja Pai Sol por tão divinas dádivas e graças.


Recinto circular amuralhado do Santuário da Pedra da Cabeleira de Nossa Senhora - Não surge ali por mero acaso - "Menires isolados ou recintos megalíticos estariam imbuídos de significados muito diversificados: espaços rituais, marcas na paisagem, organizações do espaço, pontos de orientação, leitura astronómica "Sítios de habitat e espaços do sagrado –






Pena - ó sol das alturas - que as pedras do planalto e de outras encostas e ladeiras, terras de cultivo ou de mato, assoladas e devastadas por violentos incêndios,  para desolação da nossa alma, para tristeza  dos nossos olhos, te recebam enegrecidas  pelas cinzas - Se bem que pusessem a descoberto as suas verdadeiras formas - Por vezes, com imitações, quais estátuas vivas,  tão humanas e nossas amigas. Pena, também, que tantos egoísmos e tantas injustiças, em toda a parte, se transformem em leis, imponham a sua prepotência, arrogância e arbitrariedade.  Pena  que nem todos os seres humanos, iluminados pela tua Luz – oh Grande Leão dos Céus - sejam prendados da mesma forma.







Bem-Haja, pois,  a todos os bons amigos que não enjeitam sacrifícios, por amor  às nossas gentes e aos nossos valores mais genuínos e sagrados. Sim, a  vós, António Lourenço, que ali estivestes, vós que dedicaste tantos anos da vossa vida em prol do progresso e bem-estar desta nossa aldeia. E a vós, José Lebreiro e José AndradeFoz Côa Friends Associação, que mais uma vez vos associaste, com coração em festa, pleno de entrega e de generosidade, a estas celebrações evocativas, simples mas repletas de simbolismo e de espiritualidade








Não tem a fama nem a monumentalidade da Cidade perdida de Stonehenge mas não temos dúvidas que, se existisse lá um monumento destes, tal como o da Pedra do Sol, apontado ao pôr do sol do solstício do Verão ou do alinhamento com o Solstício do Inverno, nesta mesma área, qualquer um deles não deixaria de ter idêntica glória e apreciação. Só que foram dados a um Povo que, após ter perdido o seu império colonial, parece também ter perdido o seu brio, o seu orgulho e a sua identidade – Infelizmente, já nem dono é das suas águas que enchem albufeiras de barragens, alimentam campos, cidades e geram eletricidade - E muito menos desta e de outras tantas riquezas que passaram a ser geridas a mando de quem só nos pede sacrifícios, desemprego, leis penalizadoras de quem trabalha e  precisa de um lar,nos empurra para vida cada dia mais difícil e austeridade – Oxalá ao menos  as pedras   históricas sejam poupadas – Mas será que, mesmo estas, perante tão semelhante afronta, desprezo e ausência de sentido de amor pátrio,  estarão a salvo?... Fica a incerteza e as dúvidas – Ao menos que, o Bendito Sol, nunca nos falte  - pois também já não se sabe, muito bem,  o que, por via das agressões e desrespeito ao meio-ambiente, sim, qual a gravidade dos desastres  que o futuro nos reserva - Se os mares não cobrirão vastas superfícies habitáveis e o Planeta se não torne irrespirável.



Mais pormenores, sobre este dia inesquecível, na postagem a editar 

Nenhum comentário: