expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

António Ramos Rosa - Poema inédito "Era o veludo do Outono" - Excertos de manuscritos - Sepultado hoje no jazigo dos escritores, cemitério dos Prazeres - Recordando dia em que não foi autorizado a ir ao urinol do American Clube de Lisboa



António Ramos Rosa foi hoje sepultado no Jazigo dos Escritores, no Cemitério dos Prazeres. Ontem, na Capela do Rato, pelas 21.30 horas, teve lugar uma celebração presidida pelo padre e poeta José Tolentino Bragança.

- Em viagem de comboio, ontem não me foi possível associar-me a tão comovente ato. Estava de regresso da  minha aldeia, onde me desloquei para a  celebração do Equinócio do Outono - e, por sinal, também para ser prestada uma singela homenagem ao autor do poema Estar Só é Estar no Íntimo do Mundo, sim, longe de imaginar que o estava lembrando em vésperas de sua despedia a caminho da eternidade






MORREU NUMA TARDE SOALHENTA DE OUTONO E FOI A ENTERRAR  NUMA MANHÃ BRUMOSA E DE CHUVA MIUDINHA, QUE PARECIA QUERER FAZER TAMBÉM A VONTADE AO POETA DO SOL E DA ÁGUA

 - Da luz que purifica e sublima e da água que dá a seiva e fertiliza, a que não faltou o tom amarelecido e nostálgico outonal das árvores de folha caduca, ante a frieza e a perenidade quase sideral dos ciprestes, como que anunciando-nos um ciclo que acaba e outro que se renova e principia - E, no fundo, é isso o que nos espera com a morte: o caminho para uma outra etapa. Creio que é, certamente, o que terá pensado nos últimos momentos, o autor de "O Grito Claro", "Viagem Através de uma Nebulosa", "Voz Inicial", "Sobre o Rosto da Terra", "Ocupação do Espaço", "Estou Vivo e Escrevo Sol", "A Construção do Corpo", "Nos Seus Olhos de silêncio", "A Pedra Nua", Não Posso Adiar o Coração"; "O Deus Nu(lo)"," Oásis Branco", "Navio da Matéria" e "figuras Solares, entre tantos outros livros de pendor universalista e  extraterreno, profético  e sobrenatural.





António Ramos Rosa, 1988 –  Poesia e entrevista – Chegou a ser proposto ao Prémio Nobel que chegou a ser proposto pelo Pen Clube Português, com oito dezenas de livros de poesia.



 “Estou vivo e escrevo sol” - Morreu o poeta mas continua viva a sua obra - Todos os dias há um pôr-do-sol mas também um amanhecer. António Ramos Rosa, o poeta da luz que continuamente se ergue das sombras - A luminosidade dos seus versos, continuará como o sol que se esconde mas nunca se apaga. Em cada poema descobrir-se-á, sempre, um raio de sol que nos anunciará uma renovada claridade.


Eram 10.30 da manhã, quando a urna de António Ramos Rosa, poeta, escritor, ensaísta, e desenhador, deixou a  Capela do Rato para o Cemitério dos Prazeres. Ramos Rosa, autor de mais de meia centena de títulos, com colaborações diversas em revistas e jornais, nasceu em Faro, em 1924, completaria 89 anos no próximo dia  17 de Novembro, porém, desta vez, não pôde "adiar o coração", este só pôde "Respirar a sombra", traiu-o a "Dinâmica Subtil", vítima de pneumonia.Porventura, em demanda  de "As Armas Imprecisas", do "Pólen do Silêncio" , "As Marcas do Deserto",  "O Centro na Distância", de "Gravitações" e do "Incerto Exacto" - Distinguido com vários prémios nacionais e estrangeiros, nomeadamente o Grande Prémio de APE/CTT, Prémio Pessoa e  o Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Anderson

 "O DEUS AZUL" - SERÁ DONDE ELE AGORA NOS PASSOU A VER?


O DEUS AZUL

Há um deus que fertiliza a polpa azul da sombra
e  extenso no silêncio está como o olvido  no olvido
Recolhe-se num movimento para o centro
onde permanece côncavo e completo.
Na sua enamorada eternidade
o corpo é asa, pedra e nuvem.
O mundo por vezes é um instante de amêndoa
em que ele transparece em carícias de regaço.
Movimento de plácida e redonda consciência,
não a imagem mas a visão nua do âmbito pleno,
em que estamos com ele em sequência natural.
A sua vida é o sono da luz e da sombra em aberta órbitra
sempre no seu próprio círculo em sucessivas ondas
de sossegada incandescência.
Ele está no mundo, o mundo está nele
sempre como no princípio num fulgor cumprido
na radiosa concavidade azul

António Ramos Rosa – Do livro “Felicidade do Ar”




Embora das figuras, contemporâneas,  mais marcantes da poesia portuguesa, António Ramos Rosa não era a vedeta das televisões. Também não era isso que pretendia. Refugiou-se no silêncio e quase numa vida conventual., sobretudo depois que a sua alma deixou "de dançar com os números" como o Funcionário Cansado de uma repartição e conclui que não podia. "adiar o amor para outro século", nem a sua vida nem o seu "grito de libertação".  


 

Foram muitas as pessoas que estiveram no velório e no funeral, nomeadamente da vida cultural e política - Entre as quais, Macário Correia, em representação da terra natal do poeta - que  assim quiseram prestar-lhe a última homenagem. Mais gente na Capela do Rato de que no cemitério. Aqui, a cerimónia fúnebre foi mais intimista. Além dos familiares, figuras conhecidas  das artes e das letras, aqueles que mais de perto conviveram com a sua obra e admiravam a sua personalidade



EM SILÊNCIO, SEM DISCURSOS LAUDATÓRIOS, POR CERTO TAMBÉM A VONTADE DO POETA - A leitura dos seus poemas foi feita durante o velório, em Câmara ardente. Sim, aí a palavra não podia ficar muda e as presenças cingidas apenas ao expectante e meramente formal - Mas, já  no cemitério,  houve lugar para um discreto lançamento  da "tradução das manhãs", de Gisela Ramos Rosa - Pois, se o momento era de dor e de luto, também era de profunda intimidade e reflexão - Ou não será a esses estados de alma que convida a serena paz morta dos cemitérios?!...





Um livro de Gisela Ramos Rosa - a sobrinha que gostava de estar presente nos momentos alegres do seu querido Tio ou quando pressentia que a tristeza ou desânimo se estampava no rosto do poeta  - E, então, sobretudo, nos últimos dias de  internamento hospitalar, lá estava a voz amiga a confortar a dor e a consciência  de quem insistia e não deixar secar a verbe, a fonte dos mais belos versos, com a clareza dos astros.



"As palavras mais vãs são aquelas que habitam
o livre arbítrio dos dias .
Afasto-as do poema com a alma
por haver um rio entre as muralhas
onde os olhos se misturam com uma pronúncia muda.
Invoco o oceano íntimo que trago no peito
percorrendo as superfícies nuas.
Amo o princípio evidente das coisas, dos seres
uma pedra, a boca, a baga desigual
na saliva dos homens dissolvendo os dias,
vou encontrando a luz, palavra ou barca,
atravessando o dia até ao lugar do visível, 
por detrás dos olhos, onde todas as águas se diluem
e encontram


Gisela Ramos Rosa

O DIA EM QUE ANTÓNIO RAMOS ROSA É TOMADO POR MENDIGO  - NÃO É AUTORIZADO A URINAR NUM DOS CLUBES MAIS FINOS DE LISBOA



António Ramos Rosa confessara-me que tinha por vezes alguns problemas de incontinência. Um dia ao passar junto das instalações do American Club of Lisbon, sentindo-se apertado, procura  ir à casa de banho mais próxima -  Apercebe-se que há um bar e é para lá que se dirige - Mas não passa a soleira da porta - Cabeleira branca, ar um tanto  ou quanto descuidado, sem gravata,  é tomado por marginal e o porteiro não o deixa entrar - A que ele, em acto de desespero, contrapõe: "Então eu acabo de ser galardoado com o Prémio Pessoa e nem sequer sou autorizado a ir ao vosso urinol?!" Não vai de modas o zeloso porteiro:  "Ponha-se daqui a mexer imediatamente se não chamo já a Polícia"  O episódio foi-me narrado, por António Ramos Rosa,  no próprio dia em que lhe ali lhe fecharam a porta. Mas agora, depois da sua morte, não admira, que, a hipocrisia ali recorde a sua memória. Claro que não podemos exigir a um porteiro que tenha cultura. Pois é, mas a vida tem destas contradições.




...Eis que entretanto o coração do poeta palpita de luz mas se apaga....
(Excerto da cerimónia evocativa no Equinócio do Outono)





Não é  tarefa fácil transcrever os seus manuscritos




















Tal como referi na postagem anterior, recebeu-me várias vezes em sua casa: inicialmente por razões profissionais (como repórter da Rádio Comercial), mas, depois, já como amigo. Tendo-me confiado vários manuscritos para lhe passar a limpo, numa altura em que, os problemas de saúde, lhe criaram algumas dificuldades em escrever à mão e à máquina - Que depois lhe eram devolvidos, juntamente com a transcrição, tendo, no entanto, feito questão de me oferecer alguns.   Além disso (conforme também já referi) teve a gentileza de escrever seis poemas para um livro de fotografias de minha autoria, com colaborações da escritora Lídia Jorge, do historiador Oliveira Marques e do sociólogo Pedro Andrade, que espero vir a editar.

 INCOMPETÊNCIA E MERCENARISMO EDITORIAL

O projeto foi confiado à editora Vega, que me perdeu os textos e os poemas. E a minha sorte é que me foi possível socorrer-me dos originais e das cópias mas não aceitei a negligência e pedi as imagens de volta. Isto também reflete um certo panorama editorial de certos editores que estão no oficio, mais à cata de cifrões e de subsídios (lá de fora ou de cá dentro) de que por respeito às obras e aos autores que publicam.  Um dos principais responsáveis, formou outra editora mas dizem que não dá um centavo ao autor:  todavia, vai buscar fundos à EU  - Edita 400 exemplares, 20 para o autor e tem que haver um "copo d'água" para se fazerem umas fotografias e, depois,  pelo menos uma noticia no jornal para justificar o  pedido. Enfim, o mercenarismo encontra sempre formas expeditas de lançar a sua isca e de se desenrascar. 

Depois tentei a Livros Horizonte. Porém, não tendo cumprido com os prazos, após meia dúzia de anos,  pedi-lhe a devolução dos trabalhos. Depois disso, apresentei o projeto   aos CTT ,  acharam a ideia interessante e ficaram de me dar uma resposta. Também já lá vão uns  anos e não me disseram nada. Face a esse  impasse,  não procurei novos contactos  Em Agosto passado, abordei o assunto ao meu amigo Alegre (em Foz Côa)  para o imprimir na sua oficina e nos responsabilizarmos pela edição. Gostou da ideia. Sim, talvez seja esta a única solução. Na última Feira do Livro, em Lisboa,  a escritora Lídia Jorge, reconhecendo a importância da publicação, em que ela própria se havia  empenhado com um excelente texto,  também quis saber em que pé estava o livro - Claro, ainda por concretizar. Furando talvez o enguiço, aproveito para editar um dos belos poemas de António Ramos Rosa - Veja o leitor se não é mesmo um lindo poema de namorados, num fim de tarde nostálgico de Outono - "Era o Veludo do Outono, voluptuosa melancolia" Bom, o poema não tem propriamente um título mas é assim que começa - É lindo, lindo!... Daí ter tomado essa liberdade. Tanto mais que estamos no Outono e António Ramos Rosa faleceu no dia seguinte ao Equinócio.








Era o Veludo do Outono, voluptuosa melancolia
num corpo cálido de melodioso recorte
com o odor das amêndoas do vento e com rasgos da elegância
Eu vi-a como se imaginasse mas não a imaginava
embora tudo nela fosse a indolência de um sonho
































Não lhe pedi nem sequer lhe disse uma palavra
mas aproximei-me e cariciei-lhe levemente a face
como se os meus dedos fossem as linhas de uma aragem
e ela fosse túmida concentração dos elementos dispersos
e a sua ondulação o balanço de uma nave branca

Ela sorriu com o seu sorriso de melancolia
e foi ela que me abraçou  com uma tensão de energia verde
porque recebia a exalação  vegetal das ervas e das árvores
e projectava-as com a respiração e todo o seu corpo que agora me queria

Quando o sol declinando desceu até à sequência de um muro
ela despiu-se e entrou na água do rio. Poderia ser uma deusa
porque o seu esplendor era a maravilha de uma presença
como volume sugeria a resplandecente melodia da metamorfose de um Outono

António Ramos Rosa - 23-9-96

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Ramos Rosa - Morreu o Poeta da Festa do Silêncio que se fez Felicidade do Ar e da Luz

transferência de outro site extinto


Morreu um poeta mas não  a sua palavra - 

António Ramos Rosa 

Luís de Raziel - Recordamo-lo, ontem, no primeiro dia de Outono, num local que nos é muito querido - véspera da sua morte - com a  leitura de dois dos seus belos poemas. Muito perto onde se situa a Pedra dos Poetas, onde também já o havíamos homenageado   -  Aqui fica pois o registo da Festa do Silêncio - poema lido por José António Maurício Lebreiro -  Que, por certo, jamais esquecer ´esse  luminoso momento  - Mas também do autor destas linhas, de quem com ele teve o grato prazer de conviver  - Sim,  a  nossa singela  homenagem, quase premonitória  de quem estava em vias de deixar o Outono da vida e partir rumo à eternidade da Luz - Sentimo-nos triste e já com um misto de saudade pela sua partida mas ao mesmo tempo  a certeza e a consolação de que o teremos sempre presente nos seus lindos versos. A Agripina Costa Marques, sua  amiga e companheira de todas as horas, um abraço fraterno do nosso sincero pesar.

Morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos, o poeta e ensaísta António Ramos Rosa, um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulosAntónio Ramos Rosa (1924-2013), uma vida dedicada à poesia



Vive-se Quando se Vive a Substância Intacta


Vive-se quando se vive a substância intacta 
em estar a ser sua ardente   harmonia 
que se expande em clara atmosfera 
leve e sem delírio ou talvez delirando 
no vértice da frescura onde a imagem treme 
um pouco na visão intensa e fluída
E tudo o que se vê é a ondeação 
da transparência até aos confins do planeta 
E há um momento em que o pensamento repousa 
numa sílaba de ouro É a hora leve 
do verão a sua correnteza 
azul Há um paladar nas veias 
e uma lisura de estar nas espáduas do dia 
Que respiração tão alta da brisa fluvial! 
Afluem energias de uma violência suave 
Minúcias musicais sobre um fundo de brancura 
A certeza de estar na fluidez animal 

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"
 


OUTRAS POSTAGENS DEDICADAS AO POETA

  17 de  2013 Outubro - António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo - Mas "há momentos em que a consideração da morte se impõe como a consumação prévia da finitude" António Ramos Rosa - Hoje 89 anos, se fosse vivo -
22 de Outubro de 2011 - ANTÓNIORAMOS ROSA "TU PENSAS QUE OS CARDEAIS NÃO SE MASTURBAM, QUE NÃO VÊM AS TELENOVELAS  Tu Pensas que os Cardeais - Poema de António Ramos Rosa
17 DE Outubro de 2010  -ANTÓNIO RAMOS ROSA, POETA DO SOL E DA FACILIDADE DO AR, PARABÉNS ! 86 JÁ CANTAM! VENHA O SÉCULO E MAIS VERSOS antónio ramos rosa, poeta do sol e da facilidade do ar, parabéns