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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

No Vale do Côa e altos castelos de xisto, há perfumes de vinho fino e outra paz e melancolia!



Jorge Trabulo Marques - Jornalista e investigador

Aqui, desde o fundo das encostas, sente-se palpitar outro mundo!
Sim, nestes dias outonais, correm tons dourados, algo nostálgicos
e, nas silenciosas horas da tarde, sob a luz da ampla claridade solar,
escorrem poeiras que tingem de oiro maciço as xistosas colinas,
assim como as ingremes ladeiras iluminadas pelo sol joalheiro!



E tudo irrompe como pássaro de argila impregnado de seiva e vida!
Desde os seus vales profundos, no leito da ribeira ou do ribeiro!
Exigindo, sim, muito suor nas lavras das vinhas, do trigo ou centeio!
Para, depois de findo o Outono e transposta a frieza do Inverno
e após florescer a amendoeira na risonha e linda primavera,
o agricultor voltar a sonhar com renovada riqueza, novas benesses
da amêndoa, adocicado figo, azeite doirado ou do precioso vinho!

Da colheita do inconfundível e sedutor néctar arrancado ao xisto,
temperado pelo brilho dos dias de Agosto ou da luz de Setembro
que o mítico Vale Sagrado oferece e o Douro vinhateiro produz!

Saudade, porém, daqueles dias, já idos, dos tempos em que havia
belas hortas das "tomatas" de Muxagata pela Ribeira dos Piscos!
Douradas e ondulantes searas de cereais por todas as encostas,
nalgumas margens da Ribeira Centeeira, fraldas e planalto da Vila!




E, agora, o que resta, além da riqueza da vinha e seu vinho?!...
Afinal, o que se descobre, depois daquele vasto desperdício
na maioria das ladeiras ou colinas, o que é que ali se cultiva!?...
Senão pouco mais que algum azeite, escassa amêndoa e figo.
Ou então mantos de giestas, ervas verdes ou ressequidas.
Visto os pomares das pereiras, nogueiras, macieiras, estes,
a bem dizer, estão mais que abandonados ou já esquecidos
Em todo o caso, por enquanto por aqui ainda persiste,
sob a ampla arcada dos vastos horizontes e azul dos céus,
em boa parte, graças aos que não emigraram e aqui ficaram,
um certo esplendor divino e terrestre! - Bem-haja ó Deus!
Ainda existe um Portugal, mais enraizado e mais genuíno,
bem diferente e mais identificado ao seu longo passado
que o persistente e descaraterizado ambiente citadino

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