Jorge Trabulo Marques - Jornalista e filho destas terras
APANHA ANTIGA DA AZEITONA - Em manhãs e tardes, já mais geladas e invernais de que suaves e outonais, rostos vergados sob a terra acastanhada, curvados por lenços e xailes escuros, buscando os bagos polidos que crepitam como vagas de frios chuviscos que desprendem dos ramos agitados pelas varas que se perfilam em torno da oliveira, como dedos apontados aos teto dos turvos e acinzentados céus, agarrados por mãos também já cansadas de os fazerem ondular, estremecer e desprender
Sim, os toldos amarelados esmaltam-se de bagos de negro aveludado, que se desprendem com as verdes folhas, como salpicos iluminados de brilho sob a claridade cinzenta dos dias nublosos e frios, enquanto se varejam os ramos das centenárias árvores, que vão cobrindo em manchas negras e dispersas tão cetinosos mas adorados tapetes ,que entretanto, também vão ocultando os ressequidos espinhos da terra ainda não lavrada pela rabiça do arado, quando ainda ali não chegava a rodada do trator nos terrenos e ladeiras de menores declives e encostas e que terão de ser depois carregados sob a albarda das bestas ou em simples carroças ou carros de bois, mais das vezes puxados por burros ou machos
Por isso, de quando em vez, rostos por tão estafados, que mal disfarçam o esforço do seu desgaste ou a sua dor, sob o teto cinzento e infinito dos céus, lá vão fazendo uma ou outra breve pausa , erguendo a vara ao seu lado ou levantado o costado, aquecendo as mãos nalguma fogaz fogueira ateada por alguns ramos da oliveira ou de palhas e vides da videira, cavaqueando soltas palavras de antigas memórias, apreensões dos muitas canseiras e sacrifícios do dia a dia ou dando graças a Deus por mais uma jornada que a terra do chão acastanhados mas sagrado, lhes ofereceu. .
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