Jorge Trabulo Marques - Jornalista
Esse era um outro tempo: em que se lavravam todos os bocadinhos - Hoje, há recurso ao trator e a uma agricultura mais mecanizada - Mas há que não esquecer os rostos, sobretudo das mulheres, daqueles dias duroa da geira de sol a sol pelas ladeiras do vale do Côa
Mulheres trabalhadeiras vergadas à enxada pró pão de cada dia! Por colinas e ladeiras de Muxagata, cavando e lavrando a vinha. Sulcando o xisto onde a raiz da videira vai buscar o melhor elixir. O tempo já é frio, mais de invernia e despedida à aguarela outonal Mesmo assim, ao cansaço do vergar a espinha, ainda escapa sorriso Sob o seio de claríssimas nuvens, irradiando divino fulgor, encanto! Suaves e íngremes ladeiras, sulcadas desde as mais remotas eras! Por hábeis artistas do Paleolítico, na Ribeira dos Piscos de outrora! Douradas e lindas terras da minha avó materna, a Maria Morgado! Percorridas por rebanhos de gado, onde férteis hortas, havia! Desde os primores do belo tomate, ao repolho, à fava e à ervilha! - Mas tudo é já memória do passado, pra saudade e tristeza minha!
Resta-nos o perfume da giesta, da amendoeira, do freixo e amieiro, do
rosmaninho, sabugueiro, salgueiro, choupo, hortelã brava! Do cheiro da flor da
oliveira, pereira, macieira e mato rasteiro! Assim como o belo canto da
passarada, o trinado da cotovia, a inconfundível sonoridade da perdiz e do
poético rouxinol do piar agourento do mocho, do corvo, do grifo e da águia ao
soturno noitibó, quebrado pelo repetitivo rolhar mole da pomba nos pombais e o
cantar adormecido da rola nos olivais. – Tudo esses abertos espaços, sob amplo
teto místico e puro do ar, quando ali volto, ainda me prendem e fascinam mais o
meu olhar
Nenhum comentário:
Postar um comentário