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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Mulheres cavadeiras de aldeias de Foz Côa - O tempo em que se vergavam à espada de sol a sol

                                                Jorge Trabulo Marques - Jornalista

Esse  era um outro tempo: em que se lavravam todos os bocadinhos - Hoje, há recurso ao trator e a uma agricultura mais mecanizada - Mas há que não esquecer os rostos, sobretudo das mulheres,  daqueles dias duroa da geira de sol  a sol pelas ladeiras do  vale do Côa 

Mulheres trabalhadeiras vergadas à enxada pró pão de cada dia! Por colinas e ladeiras de Muxagata, cavando e lavrando a vinha. Sulcando o xisto onde a raiz da videira vai buscar o melhor elixir. O tempo já é frio, mais de invernia e despedida à aguarela outonal Mesmo assim, ao cansaço do vergar a espinha, ainda escapa sorriso Sob o seio de claríssimas nuvens, irradiando divino fulgor, encanto! Suaves e íngremes ladeiras, sulcadas desde as mais remotas eras! Por hábeis artistas do Paleolítico, na Ribeira dos Piscos de outrora! Douradas e lindas terras da minha avó materna, a Maria Morgado! Percorridas por rebanhos de gado, onde férteis hortas, havia! Desde os primores do belo tomate, ao repolho, à fava e à ervilha!  - Mas tudo é já memória do passado, pra saudade e tristeza minha! 

Resta-nos  o perfume da giesta, da amendoeira, do freixo e amieiro, do rosmaninho, sabugueiro, salgueiro, choupo, hortelã brava! Do cheiro da flor da oliveira, pereira, macieira e mato rasteiro! Assim como o belo canto da passarada, o trinado da cotovia, a inconfundível sonoridade da perdiz e do poético rouxinol do piar agourento do mocho, do corvo, do grifo e da águia ao soturno noitibó, quebrado pelo repetitivo rolhar mole da pomba nos pombais e o cantar adormecido da rola nos olivais. – Tudo esses abertos espaços, sob amplo teto místico e puro do ar, quando ali volto, ainda me prendem e fascinam mais o meu olhar

Tu, idosa mulher que pegas no rosário e imploras tuas orações
quando te sentes esquecida,
desprezada ou mais deprimida.
Sim, quando as rugas dos anos te votam mais
ao esquecimento.
Ó Nª Srª do dia e da noite acalentai seus
doridos corações!
Tu, oh mãe e avó que a idade marginaliza ao
solitário sofrimento:
por que razão, mesmo exposta à luz da rua,
estás tão pensativa?...
Anteverás, que o chão da nossa aldeia, já
não é o de antigamente
O despovoamento galopeia
e a memória esvoaçará
nas futuras gerações.
Por isso, velhinha amiga,
sei que a dor e o luto da tua pesada cruz,
esmorecem as tuas forças, mas nem assim
deixaarás de rezar a Jesus…


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