Antiga Quinta de Santa Maria , situa-se em pleno
Parque Arqueológico do Vale do Côa, estendendo os seus 200 hectares pelas
freguesias das Chãs e Muxagata, na margem esquerda deste rio, ladeada pelo
quadrante noroeste pela mar
Porém, depois da plantação da vinha, passou apenas a
constar no registo predial de um dos termos, no de Muxagata.. No entanto, os
marcos que fazem a delimitação, inserem a maior parte da sua
superfície no termo de Chãs, cujo acesso e escoamento dos seus produtos tem sido
feito por caminhos desta freguesia .- E a lei até é bem clara
quando às definições do seu enquadramento.
Eu, próprio, Jorge Trabulo Marques, e meu primo, Joaquim Manuel Trabulo, autor do livro Por Veredas do Vale do Côa, em Outubro de 2000, apresentamos uma exposição acerca dos limites territoriais da Freguesia de Chãs, ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento, que nos deu parecer favorável, só que, depois não houve vontade política por parte da câmara municipal.
As imagens foram fotografadas ainda no tempo da pelicula,
já lá vão alguns anos mas o cenário repete-se em cada inicio da estação
outonal, com os seus tons matizados de dourados esmaltes, que se espelham
por toda a extensa geometria das vinhas, numa vasta e maravilhosa composição de
encantamento romântico e nostálgico, naquela que é a concha mais larga do vale
do Côa e que chegou a correr o risco de ser submersa, caso não tivessem sido
descobertas as antiquíssimas gravuras em diferentes núcleos de placas de xisto.
Sim, grande parte desta quinta – a sua maior extensão – estaria hoje
encoberta por uma enorme albufeira, porém, com a decisão da UNESCO de elevar as
gravuras do Vale do Côa à categoria de Património da Humanidade, a Quinta de
Ervamoira teve o privilégio de se converter na primeira quinta vinhateira a
usufruir desse título
Pessoalmente bati-me pela salvação do importantíssimo
património arqueológico, mas, sobretudo. pela integridade do vale, mesmo
antes de sua descoberta, porque, com a construção do projetado pântano,
também iriam ficar submersas muitas das minhas mais recuadas e
belas memórias
Pois prendem-me às margens e ao leito deste
rio, memórias inesquecíveis. um amor quase ilimitado - Por ali
caminhei, muitas vezes, em criança, e até lá dormi umas quantas vezes, na casa
da Quinta (hoje museu do sitio), no tempo das debulhas, que duravam várias
semanas, ou quando o meu pai ali ia crestar os cortiços que lá tínhamos, junto
à horta, uma herança do meu avô paterno, deixada a todos os filhos. A terra não era da
família, mas ali perdurou, como rendeiros, durante mais de dois séculos.
ERVAMOIRA – NOME DE ERVA DANINHA E DO TITULO DE UM
ROMANCE – Comprada pela Casa Ramos Pinto – Na fase pós 25 de Abril quando
muitos proprietários se desfizeram das suas herdades, receando que fossem
nacionalizadas
A antiga Quinta de Santa Maria, nome da imagem na capela que ali
existia, era propriedade de duas irmãs e dos seus filhos, que detinham a
herança desde há mais dois séculos, em cujas ladeiras apenas se faziam
sementeiras de cereais. Foi comprada, na década de 70, por José
António Ramos Pinto Rosa, herdeiro da linhagem da Casa Adriano
Ramos-Pinto, empresa de Vinho do Porto constituída em meados do
século XIX
Apelidou-a de Ervamoira - E o nome de Quinta de Santa Maria foi depois
aproveitado para um restaurante de provas dos vinhos da
mesma empresa., entre os quais se conta os vinhos das Duas Quintas e Barca
Velha
O nome foi transportado do romance de uma escritora francesa (de
apelido Chantal), que chamou para título o nome de uma erva daninha, que,
embora se debruce sobre questões ligadas à produção histórica do Vinho do
Porto, na região demarcada do Douro, nada tem a ver com a o passado desta
quinta e daqueles que a cultivaram ao longo de mais de duzentos nos, tendo-a
convidado para apadrinhar o titulo do seu romance ao nome de mais uma das suas
propriedades..
.A prioridade da compra caberia a um ramo da minha família, ou seja à minha
primeira Aldina Marques e ao seu marido, José Sobral e filhos, que ali
continuaram como caseiros, após o falecimento do meu tio Antoninho da Quinta, o
mais velho dos irmãos, a quem coube a continuidade de
caseiro, da gestão e do cultivo da quinta.
José Sobral confessou-me que o cultivo dos cereais estava já em decadência,
em vias de desaparecimento no concelho, por via da importação externa dos
cerais e não esperava que as encostas pudessem vir a ser desbravadas para
cultivo da vinha, pelo que apenas veio aceitar continuar como feitor da
mesma.
José António Ramos Pinto Rosas, convidou o sobrinho,
João Nicolau de Almeida, após a sua formação de Enologia em Dijon,
na França, e, com a sua colaboração vai realmente revolucionar a produção de
vinho de consumo e de vinho generoso, graças à introdução de novos
alinhamentos de valados e castas adaptadas ao solo e ao microclima de cada
encosta ou colina da Ervamoira e das outras quintas que
empresa fora adquirindo ou que possuía no concelho de Foz Côa e na
região do Douro. Afirmando-se como uma referência na região demarcada do
douro, como vinhos como o da Barca Velha, entre outros. .
É recordado nas suas declarações, que, por volta dos anos 60, começou a
projetar a ideia de uma quinta modelo. Teria de ser bela para lhe encher a alma
de artista, mas igualmente moderna para acolher as inovações da ciência.
Durante anos, olhou minuciosamente os mapas militares à procura desse lugar de
destino. Um dia, decidiu visitar a encosta de Santa Maria e apercebeu-se de
que o lugar que procurava estava ali, no Douro Superior, a poucos
quilômetros da fronteira com a Espanha.
Os herdeiros eram vários – filhos de duas irmãs – e viviam longe desta
quinta, alguns dos quais em Lisboa. E a compra não se afigurava
fácil. Porém, com a revolução de Abril e a baldada reforma
agrária. gerou-se um ambiente de apreensão e
de instabilidade nas grandes herdades, tanto nas alentejanas como na
região do Douro. Os proprietários pensaram que poderiam ficar sem o
seu património a favor do Estado e decidiram desfazer-se dele,
receando perder tudo.
Foi também o que sucedeu à vizinha Quinta do Monte, outra propriedade de
mais de 300 hectares, igualmente servida unicamente pelos caminhos da freguesia
de Chas, tanto mais que havia a separa-las a Ribeira dos Piscos e sem qualquer
tipo de ponte, propriedade de produção de vinha, olival e amêndoa, distribuída
igualmente pelas áreas dos dois termos de Muxagata e Chãs, mas que ficaria
anexada somente a Muxagata, até porque era também a elite desta freguesia, com
as suas encostas dominadas por meia dúzia de famílias judaicas, às
quais viria juntar-se o chamado Padre Costa (dedicado à compra de
uvas e seu fabrico), que exerciam grande poder de influência na sede
do município
Enquanto em Chãs, antiga anexa de Longroiva, embora houvesse um membro da
maçonaria, o maior proprietário da aldeia mas estava mais voltado em
algara o seu domínio, apanhar propriedades de que a pensar no
coletivo da freguesia., tendo mesmo chegado a recrutar forças da
GNR para reprimir e prender um certo número de pessoas
por se terem ido manifestar junto à sua casa.
A Quinta do Monte era pertença da família Proença, também proprietários de
dois dos mais belos solares da minha aldeia, Chãs e que, por herança,
caberia a um filho médico que residia na cidade do Porto. Acabou por
ser vendida a um preço de saldo – Hoje o seu valor é indubitavelmente bem
maior.
MUSEU DE SÍTIO DA ERVAMOIRA NA ROTA DO IMPÉRIO ROMANO -
IMPORTANTE ACERVO HISTÓRICO DE DUAS DÉCADAS DE ESCAVAÇÕES.
Conhecido
hoje em todo o mundo pelo seu excecional conjunto de gravuras paleolíticas, o
Vale do Côa apresenta igualmente importantes ocupações humanas de diversas
épocas, nomeadamente do período romano e da Idade Média.
Desde os anos trinta que vários estudiosos se haviam apercebido da importância arqueológica deste vale. Porém, só em 1984, quando um feliz acaso põe a descoberto um sarcófago medieval, numa pequena colina da Quinta da Ervamoira, sobranceira ao Côa que ia a ser surribada, é que, os proprietários, alertados para o achado, decidem contactar dois arqueólogos do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia. Por isso, muito antes da famosa polémica gravuras-barragem se instalar, surge a primeira oportunidade científica de, nas margens deste rio, se começarem a desvendar alguns dos seus muitos e valiosos tesouros.
No
ano seguinte, em 1985, formam-se, então, os grupos de trabalhos sob a
orientação do arqueólogo e professor universitário, Gonçalves Guimarães, o
qual, desde logo, rendido ao fascínio do lugar, acabaria por dar
início a sucessivas campanhas de escavações, que não tardariam a desenterrar do
silêncio, séculos e séculos de história, pondo a descoberto importantes
vestígios de níveis romanos, tardo-romanos, paleocristãos, visigóticos e
medievais.
Segundo
este investigador “ao longo de dois mil anos, por ali
passaram soldados, carreteiros, funcionários, almocreves,
sacerdotes... romanos, visigodos, berberes, leoneses, portugueses... Os que iam
permanecendo lavravam os campos, acendiam a forja, teciam a lã, semeavam
centeio, plantavam a vinha e a oliveira, vivendo dependentes das grandes
mudanças lá longe, mas em convivência pacífica com a Natureza.”
Para
Gonçalves Guimarães, “a Estação arqueológica da Quinta da Ervamoira tem
ocupação confirmada desde o século III d.C., sendo no entanto as
suas principais estruturas e espólio tardios, datados da primeira
metade do século IV, do tempo dos imperadores Constantino e Constante II.
Trata-se de uma mutatio (estação de muda), com taberna e
outros serviços de apoio que controlava a passagem a vau da via que atravessava
o Côa em direcção a Callabria. Com a queda de
Roma em 410 e o consequente desmembramento do Império
Romano a partir das invasões bárbaras, transformou numa pequena villa
rustica “, conclui o investigador
São,
pois, algumas dessas ruínas romanas e medievais que podem ali ser observadas,
através de visitas guiadas, na área das escavações ou aos vestígios que se
encontram expostos no diversificado espólio do Museu de Sítio - Sem dúvida, uma
valiosa oferta turística que, integrada num complexo agro-turístico-cultural,
vem diversificar e enriquecer aquele que é já considerado como Património da
Humanidade
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