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sábado, 28 de outubro de 2023

Nos Correios de Chãs- Foz Côa - Lena Pereira –Exemplar percurso profissional e artístico de vida - 36 anos solitária à frente dos correios da aldeia -

                         Jorge Trabulo Marques - Jornalista - Video com entrevista


A sua enorme paixão pelas flores e bordados, o seu inato gosto pelo desenho, pela arte Naïf, fez descobrir, em Lena, dotes artísticos que não imaginava possuir. E também a terapia para ocupar o tempo livre, amenizar a solidão e curar uma pequena depressão, que chegou a ter numa certa fase da sua vida. E, através desta sua descoberta, poder ser ainda mais útil a quem a procura para dela receber uma palavra amiga de reconforto 

Nos seus 26 anos, que já leva ao serviço da Estação dos Correios,  26 dos quais a desempenhar também o trabalho de  Carteira: -  a ter também que palmilhar as ruas e calçadas para deixar a correspondência nas caixas da residência de cada família, em mão pessoal ou debaixo da porta. -Ou mesmo ter que ali voltar mais vezes se não houvesse outra forma de a deixar e ter a certeza que seria recebida.

É pois esta a impressão que recolhi de mais este casual diálogo com a minha conterrânea, cujo marido, desde há muitos anos, faz constantes viagens de Portugal a França, levando e trazendo emigrantes e as suas famílias, fazendo de cada longa viagem, também um grande e penoso desafio – Direi mesmo, mais de que o oficio de motorista, um verdadeiro sacerdócio, misto de generosidade e paixão.  Sem dúvida, um casal exemplar, trabalhador e amigo do povo da sua aldeia, solidário e dedicado ao seu torrão natal. Daí merecer, pois, toda a aminha estima e admiração. Os meu abraço de parabéns pelo seu aniversário comemorado neste 26 de Outubro.      

A sua enorme paixão pelas flores e bordados, o seu inato gosto pelo desenho, pela arte Naïf, fê-la descobrir dotes artísticos que não imagina possuir. E também a terapia para ocupar o tempo livre, amenizar a solidão e curar uma pequena depressão, que chegou a ter numa certa fase da sua vida. E, através desta sua descoberta, poder ser ainda mais útil a quem a procura para dela receber uma palavra amiga de reconforto.

O seu primeiro emprego foi em Lisboa. Que abandonou numa altura em que o seu pai faleceu para vir dar apoio e carinho a sua mãe. E foi então que passou a trabalhar nos correios. Onde também andou a distribuir o correio de porta em porta, durante 26 anos

Sendo também seu conterrâneo, é, pois, com muito agrado e renovado prazer que aqui recordo o registo do amável diálogo que partilhámos juntos ao balcão do interior do edifício da Estação dos Correios, construído em 1955-56, pela junta de freguesia sob a presidência de Joaquim Manuel Trabulo, meu saudoso tio, irmão de minha saudosa mãe   

No passado mês de Agosto, estando na aldeia a passar uns dias de repouso e de veraneio, ao deslocar-me ao adro da igreja, onde se situa aquele edifício, e sabendo já do seu excecional talento artístico, achei que era chegado o momento de saber como descobriu a sua faceta artística, tão surpreendentes dotes – Isto, porque, a outra, a profundamente generosa, solidária e humanista, tanto no seu oficio como na vida social e religiosa, em toda a aldeia é sobejamente reconhecida e admirada.

E lá a encontrei junto ao balcão, que, desde segunda a sexta, é o seu habitual pouso, seu posto de trabalho, desde há mais de três décadas, enfeitado com os garrafões, garrafas e frascos que pinta ramalhados de lindas flores, que é um regalo admirar e ter como enfeite em qualquer lar  Confessou-me que descobriu o seu jeito pela pintura por um mero acaso. Por via do seu gosto das flores, pelo desenho e pelos bordados 

– Diz ter começado a pintar por uma pequena brincadeira, pois tudo o que aprendeu no uso dos seus pincéis foi, instintivamente, através da sua própria descoberta, visto não ter tido qualquer curso artístico: - é simplesmente uma autodidata, que desenvolveu a sensibilidade artística, através da grande paixão que lhe infunde a beleza das flores, que depois transporta para antigos garrafões, fora de uso e de vulgares frascos de vidros que traz de casa ou que vai encontrar no caixote do lixo e os aproveita, até porque, ao lado do edifício dos correios, encontram-se alguns desses contentores.


OS CORREIOS NAS ALDEIAS - Acabam por ser também centros sociais de solidariedade, de amizade, de informação e de convívio

As aldeias vão-se despovoando, as velhas mercearias e os fornos comunitários desapareceram e o abastecimento dos produtos alimentares é feito por vendedores ambulantes – Resta um ou outro café e a velha estação dos correios – Edifício este, que, nenhum dos escassos habitantes, mesmo que não seja para levantar correio ou lá deixar uma carta ou fazer um telefonema, nem por isso, uma vez ou outra, deixará de ali entrar para ter uns momentos de convívio com a mulher mais bem informada das vidas pessoais de toda a aldeia: dos que emigram e dos que ficam ou partem para a eternidade. 

 Com as escolas fechadas, associações extintas, que mais existe de serviço público nas aldeias?... Senão a antiga estação dos correios? - Além do lar de idosos, com as suas cozinhas e centros de dia, o edifício da junta de freguesia ou a residência paroquial. 

E tem sido graças ao suporte autárquico, que se vão mantendo – Isto, porque, depois da venda da fatia de leão dos CTT à gula privatizada, quem teve de suportar as estações não lucrativas passaram a ser as autarquias - Onde o serviço, apesar de tudo, é mais eficiente e sociável. Enquanto, segundo noticias, no sector privatizado “Os Correios de Portugal são uma das empresas nacionais com mais reclamações” 

Na verdade, toda a gente, desde o fundo do povo ao alto da praça da capela, por todas as ruas, quelhas, avenidas e estradas por onde se estende a aldeia, conhece a sua profunda disponibilidade e entrega para com a família e o próximo . 


O gosto amável e carinhoso em dialogar com todas as pessoas que se dirijam junto ao seu balcão, seja de que idade forem, mas sobretudo com os mais idosos, alguns dos quais longe dos seus queridos filhos, emigrados em França ou noutras paragens, ruídos pela saudade, que só os podem abraçar durante o curto período de férias do pino do Verão, quando regressam ao torrão natal: a todos os rostos que a procuram, a Lena tem sempre uma palavra amiga de reconforto, de terapia e de solidariedade. 


A ARTE DÁ SENTIDO À VIDA – Seja ela qual for - Desde que exercida com talento, paixão e amor  De facto, a arte da pintura artística é também uma boa terapia para elevar o espírito, o transcender e amenizar a solidão e, em cada artista, além do que a observação e a experiência pessoal da sua vida, lhe transmita e possa em si reconhecer, há também outros aspetos inatos ou do domínio do subconsciente que lhe poderão escapar, antecedentes que ignore mas que felizes ou furtuitos acasos da vida, vêm a revelar. É o caso de Helena. 

Em tudo na vida há sinais de mistérios que palpitam, tal como as nossas pulsações ou batidas do coração mas, que, mais das vezes, deles não nos apercebemos conscientemente ou transcendem a nossa compreensão. E arte da pintura artística é também uma boa terapia para elevar o espírito, o transcender e amenizar a solidão. E, em cada artista, além do que a observação e a experiência pessoal da sua vida, lhe transmita e possa em si reconhecer, há também outros aspetos inatos, tesouros ocultos do domínio do subconsciente que lhe poderão escapar, antecedentes que ignore. 

Sim, há que aproveitar o milagre da vida e dos sentidos, antes que esta nos possa escapar. No caso, de Helena Maria, pelos vistos, estão no íntimo do seu coração, na riqueza da sua alma, espantosas virtudes que não alcançam a fama dos que através dela são privilegiados a se alcandorar às manchetes dos jornais ou imagens televisivas, no entanto, persiste uma beleza de simplicidade que não passa despercebida a um atento observador. 

É pois esta a impressão que recolhi de mais este casual diálogo com a minha conterrânea, cujo marido, desde há muitos anos, faz constantes viagens de Portugal a França, levando e trazendo emigrantes e as suas famílias, fazendo de cada longa viagem, também um grande e penoso desafio – Direi mesmo, mais de que o oficio de motorista, um verdadeiro sacerdócio, misto de generosidade e paixão. Sem dúvida, um casal exemplar, trabalhador e amigo do povo da sua aldeia, solidário e dedicado ao seu torrão natal. Daí merecer, pois, toda a aminha estima e admiração. Os meu abraço de parabéns pelo seu aniversário comemorado neste 26 de Outubro.


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