Jorge Trabulo Marques - Jornalista e antigo aluno da Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento
Oportunidade de convivo, com atuais e antigos alunos e de Professores e alunos a mostrarem os trabalhos do ano-letivo e o melhor que a quinta produziu - A instituição assinala a abertura do evento às 21h00 de 3 de junho, com o Grupo de Bombos de Santiago da Carreira, Sons dos Claustros e Mridangam Band.
No dia seguinte, há missa na capela da escola, às 11h00, e animação do Rancho Folclórico de S. Martinho do Campo. A tarde contará também com o anúncio dos premiados do Concurso de Arranjos Florais e com a atuação musical de José Morais Silva.
O Concurso de Arranjos Florais, com os trabalhos entregues estarão expostos no Salão Nobre da Escola. - Bem como uma exposição e mercado de produtos da Escola e da Associação de Antigos Alunos da Escola
Hortas e campos bem cuidados, caminhos limpos, alunos sorridentes, mostrando, com os seus professores, o melhor do que fizeram ao longo do ano letivo - A Festa das Rosas, além de convívio e diversão, em boa parte é isso mesmo: servir de montra e de abertura à comunidade - Alguns fontanários estavam secos, mas esse problema prende-se com obras e reparações dos mesmos.
- Nesse aspeto, parece que nada mudou. O som continua a ecoar da mesma maneira, como se o seu eco, além de medir o tempo, em todas as gerações que o escutaram, o quisesse eternizar.
Entretanto, na impossibilidade de transpor o velho portão de madeira da Escola, entrei numa das portas da Igreja, ao lado .
Estavam abertas, porque era a hora da missa. E não resisti de ir dar uma olhadela àquele vetusto friso de claustros, que emolduram um pátio em forma de quadrilátero, ao centro do qual existe um fontanário - Que quadro mais silencioso e conventual!... A bem dizer, só se ouvia a água a cair das suas cascatas e os esvoaçar das pombas, que ali vão beber. – Oh, e também os cânticos da missa, coisa mais mística e solene, como há muito não ouvia ao dar os meus passos sobre aquelas desgastadas pedras tumulares!
I
Os últimos dias de Maio dias de Junho são longos e, às 21 horas, já não há sol mas ainda existe muita claridade. Quando ali cheguei, por volta das oito e meia, vindo da parte alta da cidade, o ambiente era sereno, ainda não muito concorrido, dir-se-ia, relaxante, com um grupo de alunos sentados em volta de um pelourinho, outros, ex-alunos,entre eles ou com amigos e familiares, convivendo e esperando, calmamente pela hora da entrada - As frondosas árvores que por existem, sobretudo, em tempo quente, perfumavam e suavizam a atmosfera. A igreja, aquela hora, mergulhava em silêncio - O mesmo sucedia, ao lado, com o edifício do Museu Abade Faria, no piso de cima, e, no rés do Chão, adega e queijaria da Escola Agrícola - De volta e meia o portão da Escola abria-se mas as entradas eram muito restritas.
Curiosamente, momentos antes, chegava a Diretor Carlos Frutuosa – Estava distraído e é precisamente a delegada da Associação dos Pais dos alunos, com quem conversava, que me diz: “olhe, acabou de chegar, o Sr. Diretor. Vá falar com ele para o deixar entrar” – Assim fiz, a que ele acedeu amavelmente, dando-me o prazer de o acompanhar ao seu lado. Só que, lá dentro, mal transpus a porta, de imediato, uma voz me diz: “tenha paciência, só depois das nove”
– Julgo que o diretor nem se terá apercebido .Mas eu também não quis criar-lhe nenhum incómodo imprevisto, pelo que nem esperei que ele se apercebesse ou dissesse alguma coisa - A noite era de festa e ainda era uma criança - Que mais me fazia entrar uns minutos antes ou depois?!... Dir-se-ia que fora apenas o tempo de sair e me voltar a juntar com as simpáticas pessoas com quem agradavelmente dialogava.
- Finalmente, pude desfrutar desse privilégio. Já, por várias vezes, ali me desloquei mas nunca coincidiu com o calendário de uma das mais vivas e antigas tradições desta Escola. Mas eis que, – depois de tantos anos – lá voltei a reencontrar-me com a lindíssima festa que o Diretor Rossi - louco pelas rosas, tal como sua esposa – haveria de conceber.. Oh, e quanta memória me veio à lembrança!....
Video - Excerto da coreografia dos alunos da Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento, alusiva às viagens, aos grandes nomes da literatura nacional e mundial -- Antecedida por uma breve charge à polémica venda dos quadros de Miró - "35 milhões é muito dinheiro!" - Exibida na noite da Festa das Rosas, tendo como cenário um gracioso fontanário em granito, também ele coberto de rosas, ladeado pelos claustros, de antigo mosteiro beneditino -- Num local onde as rosas das mais diversas cores e matizes, faziam as honras da casa: isoladas ou em lindos raminhos ou mesmo em grinaldas, nos mais diversos e surpreendentes suportes -- Obviamente, ante a presença de centenas de pessoas, desde atuais a antigos alunos, corpo docente, pais e amigos, a muita gente da cidade de Santo Tirso ou vinda dos concelhos limítrofes ou até de mais longe, para se associar ao espírito da festa e celebrar as mais belas Rosas do Mundo, num evento bianual, com uma tradição que já conta mais de meio século, numa escola também ela centenária, com pergaminhos e com história digna de passado e de nome .
No nosso roteiro pelos diversas mostras da Festa das Rosas, na Escola Profissional Agrícola, Conde São Bento, em Santo Tirso, passámos também pela sala de transformação dos cereais em pão. E fomos gentilmente recebidos pela Profª. Ana -- Que ali mostrava e dava a saborear algumas das habilidades operadas pelos seus alunos. Sim, havia sorrisos e havia pão - Sobretudo, gostosos pedacinhos, de vários tipos de pão, alguns condimentados com ervas aromáticas. Mas não era uma padaria nem uma sala de panificação mas de transformação. Uma variante dos cursos dos Técnicos de Produção Agrária -- Que consiste em aplicar conhecimentos fundamentais do processo produtivo (preparação e transformação de produtos agroalimentares e respetivo embalamento) assim como de tecnologia específica do subsector agroalimentar (princípios de funcionamento e de programação, conservação e manutenção, riscos e regras de segurança
Oh, e quanta memória não ressuscitou do fundo do tempo!
Pois era impossível deixar de associar o verde daquele formoso arquipélago ao de Santo Tirso – Há, realmente, algo em comum: não apenas pelo nome dos santos mas também pelos seus verdes intensos.
Por outro lado, deparei também com um excelente conversador, outro apaixonado pelo mar, tal como eu! Que, em companhia de seu pai, um antigo comandante da Marinha, viajou pelas sete partidas dos oceanos. Um jovem, na casa dos trinta, que, embora não sendo aluno, gostou de fazer companhia a um grupo de alunos, seus amigos, que trouxeram para ali uma maquineta, pronta a fotografar e dar a foto na hora! – Um artefacto tecnológico que fez as delícias da rapaziada – Aliás, a todas as idades: desde os pequerruchos aos mais graúdos, que não paravam de disprar e de soltar risadas e risotas frente à misteriosa objetiva.
Entrava-se já pela madrugada....E, como àquela hora, já muita gente não deixara de fazer o gosto às bilhas de cerveja, espumosa e fresquinha, pronta a sair diretamente para o copo, ali mesmo ao estender de uma mão, ou ir até “taverna” do vinho da Escola, pois, não é que este amigo queria saber – e lá tive eu que lhe explicar – e com muito gosto - como é que eu – a “seco” – lograva alguns momentos de levitação.
Foi preciso telefonar ao meu amigo, Dr. Jorge Castro Lopes – que, às duas da manhã, seguia um acesso debate na TSF – para lhe confirmar como é que eu, um dia, levei de vencida uma aposta que fizera com ele: ao encontrar-se comigo na minha aldeia, de abalada e já noite, ao dizer-lhe que ia peregrinar, até de madrugada, lá pelos penhascos do maciço dos tambores, perguntando-me se não tinha medo de andar sozinho por aquelas fragas, por aqueles cinzentos enigmáticos morros, respondi-lhe, em jeito de brincadeira, que não só não recava a noite, como até era capaz de voar de fraga em fraga, qual ave noturna dos tempos pré-históricos.
E, como quem não quer a coisa, vou de apostar com ele: - eu por atalhos, e ele com o jeep pela estrada, era capaz de chegar à sua frente, ao cruzamento com a EN102, que percorre, longitudinalmente, o vale sobranceiro ao planalto, lá ao fundo da ribeira – ele, 4km por estrada, e eu atalhando por antigos caminhos romanos, cheios de silvas, que já caiaram em desuso. Pedi-lhe que esperasse apenas cinco minutos. Ainda hoje, não sei porquê, venci a aposta. Se isto é levitar, eu naquela corrida, mais de que correr ou saltar, levitei e voei.
E assim terminou a noite, contando histórias fantásticas a um amável jovem portuense, que, enquanto me ouvia, não despegava de rir, com a mesma avidez que levava o copo de cerveja à boca.
Já lá vai quase meio século, que partia para a Ilha do meio do Mundo. No meu tempo, 1959-63 – oh, e há quanto tempo não foi! –, os claustros enchiam-se de mesas e os alunos serviam as pessoas que nos visitavam. Gravitava tudo em torno dos belos ramos de rosas, seus enfeites e da ceia – Uma ceia à maneira antiga, onde o caldo verde (muito apetitoso) era servido em pequenas tigelinhas de barro vidrado. E o vinho verde da Escola. No final, dividiam-se as gorjetas. Que davam muito jeito, pois ali não havia meninos ricos. Agora, as refeições eram servidas no refeitório – Também lá estive, e confesso que gostei, e até senti uma comoção que me encheu os olhos de lágrimas (mas muito íntimas, muito para dentro de mim) ao lembrar-me daqueles velhos tempos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário